Quinta de Santa Júlia de Loureiro

IPA.00014020
Portugal, Vila Real, Peso da Régua, Loureiro
 
Arquitectura agrícola, oitocentista. Quinta de produção vitivinícola implantada em encosta, de solos de xisto de declives não muito acentuados, numa sub-região de clima um pouco mais húmido relativamente ao resto da Região Demarcada, apresentando diversos tipos de armação do terreno vitícola, correspondentes a diferentes épocas (vinha pós-filoxérica e em patamares), com zonas de jardim, horta e mata. Núcleo construído localizado em local estratégico, elevado, dominando a propriedade, e em zona privilegiada sobre o vale do Douro, em arquitectura rural vernacular articuladas por pátios, escadas e caminhos e edifícios habitacionais, integrando capela numa das alas, de influência erudita, neoclássica.
Número IPA Antigo: PT011708050029
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta    

Descrição

Quinta implantada em monte, com declives acentuados e ondulantes e solos cascalhentos de xisto. As VINHAS, de baixo porte, plantadas em fiadas conduzidas por arames sustentados por poios ( esteios ) de xisto, estão armadas sobre socalcos de xisto pós-filoxéricos, de largos muros ligados por escadas embutidas, nas zonas envolventes do núcleo construído, que apresentam um declive médio; nas zonas mais afastadas do núcleo construído parcelas de vinha plantada em patamares, sustentados por taludes de terra, em terraços estreitos, com uma a duas fiadas de bardos por patamar; estas áreas apresentam bordaduras de oliveira e árvores de fruto. O perímetro da quinta é marcado por ciprestes e oliveiras, havendo pontualmente árvores de grande porte, como uma araucária e duas tílias centenárias do pátio central, que evidenciam a propriedade na paisagem. A antiga entrada na quinta, junto ao centro de vinificação, é marcada por um ALAMEDA de tílias. A quinta possui JARDIM fechado por portões de ferro, dividido em três espaços distintos. O 1º, junto à fachada S. da casa do proprietário, sobre terraço rectangular, suportado por calço de xisto, com guarda de ferro, organiza-se em canteiros de buxo anão de diferentes formatos. Nos canteiros tópias, em formas geométricas e de animais, japoneiras anãs e flores de jardim: roseiras, narcisos, nérios. No muro E. está adossado caramanchão com banco de pedra, havendo passagem para outro socalco onde está instalada a piscina. O 2º espaço ajardinado, imediatamente a O. do 1º, adjacente ao pátio O. da casa, é formado por uma composição rectangular de buxo anão, centrada por um buxo mais alto, talhado em formas circulares. Os cantos são rematados por triângulos em buxo, plantados com roseiras, entre outras flores de canteiro, e árvores de pequeno porte como japoneiras e cicas. Vasos de plantas pontuam o conjunto. O topo N. tem um pequeno espelho de água; o S. bancos de madeira e ferro e pequena estátua de São Pedro, em granito; o E. tem muro divisório coberto por trepadeiras e 2 frondosas japoneiras. A O., em cota inferior, o 3º espaço, divido em 4 parcelas por pequenos muros de buxo, cada uma delas plantada com árvores de fruto ou horta. Ao centro o buxo é mais alto e trabalhado, tal como em alguns recantos, onde forma pequenos assentos para repouso dos visitantes. Do lado N., embutida nos altos muros, fonte quadrangular. Para S. uma zona mais baixa, separada da composição central de buxo por socalco rematado por muro com floreiras e frades de granito trabalhado, remanescentes do gradeamento primitivo. Todo o jardim está bastante arborizado: japoneiras, magnólia, loureiros, azevinho, ácer branco, etc. O seu muro de sustentação é acompanhado por uma vinha em latada. No topo E. desta parte baixa situa-se uma ESTUFA, adossada ao socalco, com paredes de vidro, telhado de acentuada inclinação de beiral decorado por lambrequim de ferro. No limite O. da propriedade estende-se a MATA da quinta, constituída por castanheiros, sobreiros, pinheiros, eucaliptos e espécies exóticas, pontuada por pequenas construções: casa de chá, coberto da lenha. No centro da quinta fica o NÚCLEO CONSTRUÍDO, fechado por portões de ferro, composto por diversos edifícios adaptados ao desnível do terreno, com coberturas diferenciadas em telhados de 2, 3 e 4 águas, articulados por pátios, escadas e caminhos. Abrindo-se para o pátio central, ergue-se a CASA DO PROPRIETÁRIO, de planta em L, composta de 2 corpos e capela no extremo de um deles, com 2 ou 3 pisos, de volumes articulados. Fachada principal voltada a N., com ala de 2 pisos, tendo escada paralela à fachada N., de 1 lance e guardas de granito duplas rematadas por volutas, com patim superior alpendrado, de tecto em caixotões entalhados, sustentado por fino pilar; acesso ao 2º piso por porta de 2 batentes, com moldura de fecho saliente unida a cornija angular por concha. No patim inferior banco de granito com espaldar de azulejo, sobrepujado por janela de batentes, de moldura quadrangular lisa, com fecho saliente e lacrimal estilizado. Sob o alpendre, vão em arco pleno, ladeado por 2 pilastras, acede ao 1º piso. Na continuação do volume do alpendre, a fachada é rasgada por 2 janelas circulares com molduras trabalhadas. A E. desta ala, ergue-se a capela, de planta longitudinal, simples, com orientação N. / S., pilastras nos cunhais e fachadas rematadas por friso e cornija e cruz nas empenas. A fachada principal, a N., terminada em frontão triangular, com fogaréus nos cunhais, tem portal de verga abatida, com fecho decorado por motivo vegetalista, sobre duplas pilastras molduradas, friso de losangos e frontão triangular interrompido, tendo o tímpano decorado por estrias em meia-cana e grinalda; sobrepuja-o pequena mísula, cornija, rosácea oitavada, motivo geométrico, florão e cornija. No tímpano, pedra de armas. Na fachada E. abrem-se 2 janelões. A ala perpendicular, com fachada a E., de 3 pisos, organiza-se de forma simétrica em função do eixo criado por fonte, sobrepujada por 2 janelas ovais, que marcam a escada interior; de cada lado abrem-se , no 1º piso, pequena janela de 2 batentes, com caixilhos de quadrículas muito pequenas, que se repetem em todas as aberturas desta fachada, e, à esquerda, porta de acesso à cave; no 2º piso 2 janelões de 2 batentes e 2 janelas de guilhotina com moldura rematada por concheado, e, no 3º, 5 janelas de guilhotina. No topo desta ala, em plano recuado e ao nível do 2º piso, varanda alpendrada, de tecto em caixotões, assente sobre 4 colunelos. Sob o alpendre abrem-se, lateralmente, porta de 2 batentes, com almofadas muito salientes e ferragens trabalhadas, e a E. 2 portas iguais, intercaladas por 1 janela de guilhotina e sobre ele 2 janelas de guilhotina. A fachada N. tem 2 janelas de guilhotina no 1º piso e 1 no 2º. A fachada voltada a O. é dominada por alpendre servido por escada de 2 lanços e 2 braços acedendo à zona de serviços; fenestração regular com vãos sobrepostos formados por janelos losangulares com frisos de granito na base e topo, janelas de batentes e janelas de varandim à face, com venezianas, abertas no 2º piso, e janelas de guilhotina e janelos losangulares no 3º. A fachada voltada a S., sobre o jardim, de 2 pisos, é dominada por escada central de 2 lanços e guardas de ferro, adossados à parede, coroada em empena no centro da qual se rasga óculo. O patim, com 2 portas de batentes envidraçados, é coberto por pala metálica, forrada a madeira, com lambrequim recortado; no vão da escada, sob o patim, bica de água. Fenestração mais irregular no 1º e 2º pisos, com janelas de sacada, com grade igual às guardas da escada. INTERIOR: a ala principal é ocupada por espaços habitacionais ( salas, escritórios, quarto ), unidos por escada e organizados por corredor lateral, com tectos de estuque trabalhado e de madeira entalhados, em masseira, em caixotões e em camisa e saia. A ala prependicular destina-se a quartos de empregados, cozinhas, copa e sala, é organizado nos 2º e 3º pisos por corredor central; destaca-se a COZINHA de dentro, com banca e bica de granito, e a cozinha de fora, lajeada a xisto com amplo saial de lareira e roda. A CAPELA apresenta coro-alto, tribuna com crivo de madeira no lado da Epístola, e teia em balaustrada de madeira separando a zona do retábulo em talha dourada e policromada; tecto de abóbada de esquife, em estuque pintado e decorado com elementos fitomórficos e brasão do visconde de Gouveia. Adossada à fachada O. da ala perpendicular, ergue-se a CASA DO CASEIRO, de planta retangular, com orientação S. / N., evoluindo em 2 pisos, o inferior amplo e o superior reorganizado e ocupado pelo refeitório dos trabalhadores, lavandaria e cozinha de apoio. A O. está adossado o ESCRITÓRIO DO CASEIRO, de planta quadrangular e 1 piso com porta a S. Em frente à capela, do outro lado do terreiro principal, fica a OFICINA VINÁRIA, de planta rectangular, com orientação O. / E., de 2 pisos interiormente desencontrados tendo no 1º a adega, com tonéis de madeira, e no 2º a casa dos lagares, com 3 lagares e 1 lagareta de granito. A oficina vinária tem, na fachada O., de embasamento pintado a negro, emoldurados a granito, 3 portões, o central mais elevado, intercalados por janelas gradeadas com verga em arco abatido, sob as quais estão colocados bancos de granito com espaldar de azulejo em tapete; a N. possui escada de ligação ao caminho de cima, para o qual se abre a fachada E., ritmada por 2 portões de madeira. Adossado à fachada O., edifício de planta quadrangular, de 2 pisos, albergando o CENTRO DE ENGARRAFAMENTO, a garagem e o LABORATÓRIO, também de 2 pisos e com o mesmo tipo de fenestração da casa do proprietário. Adossado a S. está o CENTRO DE VINIFICAÇÃO, que ocupa as antigas cavalariças. Junto da entrada que serve a casa dos lagares, estende-se a eira, fechada, e outras construções de apoio à actividade agrícola, como os CARDENHOSA, o FRUTEIRO, cobertos, arrumos, etc.

Acessos

EN.600, fl. 126

Protecção

Enquadramento

Rural. Integrada na Região Demarcada do Douro, na sub-região do Baixo Corgo, a de maior concentração das vinhas, por motivos históricos e pelas suas características edafo-climáticas, com solos pouco declivosos, de xisto, e clima mais húmido. Situa-se na zona tampão do Alto Douro Vinhateiro, classificado como Património Mundial pela Unesco (v. PT011701040033). Implanta-se junto à Igreja Paroquial de Loureiro e Capela de Santo António, num dos montes sobranceiros à cidade da Régua e ao rio Douro. Todo o seu perímetro, atravessado pela EM, é bordado com ciprestes, sempre alternados por oliveiras, o que a demarca da paisagem envolvente.

Descrição Complementar

A sala de jantar da casa do proprietário tem 4 armários de canto, 2 dos quais falsos, funcionando como portas para outras dependências. A capela possui retábulo de planta recta e 3 eixos, definidos por colunas estriadas suportando três arcos de volta perfeita escalonados, rematado em frontão triangular interrompido. O brasão da capela é esquartelado, com a coroa de conde, representando: Mesquita, Vasconcelos, Serpa e Pimentel. Pavimento do corpo em grandes lajes de granito e soalho. O coberto da lenha e outras construções foram remodeladas, funcionando como casas de turismo.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Agrícola e florestal: quinta

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Instituto florestal (jardim)

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1682 - referida como quinta de São Gião num emprazamento feito pela Comenda de Moura Morta a Matias Correa, casado com Maria de Mesquita Pereira; séc. 17, finais - fica na posse da família Mesquita e Vasconcelos (onde se mantém até ao séc. 19) por casamento de Luísa Pereira Coelho Cerqueira de Mansilha com o Capitão-mor de Gouveia, José Inácio de Mesquita e Vasconcelos; séc. 19 - o 1º visconde de Gouveia alarga a quinta comprando terras em redor; 1863 / 1864 - o 2.º visconde de Gouveia realiza obras de vulto na casa: aumento da fachada S. e construção parcial da capela, obras iniciadas pelo 1º visconde; 1866 - construção da frasqueira; 1867 - conversão da adega da casa em ala habitacional; 1867 / 1868 - plantação de jardins e mata; 1921 - encomenda de azulejos para espaldar do banco adossado à fachada; 1986 / 1987 - construção da garagem e sala de provas; 1994 - construção da piscina.

Dados Técnicos

Paisagem: terraceamento da área agrícola através de muros de xistos e de taludes de terra. Núcleo construído: sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paisagem - inertes: xisto aparelhado e taludes de terra; pavimentos de xisto e granito; vivos: vinha; árvores de fruto, oliveiras, carvalhos, araucárias, ciprestes, japoneiras, arbustos, etc. Núcleo construído: paredes de granito e xisto aparellhados, contrafortadas nos cunhais e ombreiras; rebocos interiores e exteriores de cal; cobertura revestida a telha portuguesa de barro, sobre armação de asnas de madeira; caixilharias de madeira pintada; embasamentos exteriores e molduras dos vãos de granito ou pintados a negro; tectos de estuque lavrado e de madeira em masseira, camisa e saia, caixotões e entalhados; pavimentos de madeira e lajes de xisto; portões e grades em ferro forjado pintado.

Bibliografia

CARVALHO, Manuel, Guia do Douro e do Vinho do Porto, Porto, 1995; DIVISÃO de Protecção e Vigilância dos Ecossistemas Florestais e Inspecção Fitossanitária, Árvores Isoladas, Maciços e Alamedas de Interesse Público, Lisboa, 1995; FAUVRELLE, Natália - Quintas do Douro: As arquitecturas do vinho do Porto, Porto, 2001; LIDELL, Alex, PRICE, Janet, As Quintas do Vinho do Porto, Lisboa, 1995; MONTEIRO, Manuel, O Douro, Porto, 1911.

Documentação Gráfica

AFQSJL; CD: Arquivo Cadastral; CEVRD: Arquivo Cadastral

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; AFQSJL

Documentação Administrativa

AFQSJL; IVP: Arquivo Cadastral

Intervenção Realizada

Proprietário: séc. 20, anos 80 - renovação das vinhas; consolidação de várias casas da quinta, adaptando-as a turismo rural, e capela; construção de WC, aquecimento central e solar, canalizações, piscina, laboratório e centro de vinificação.

Observações

*1 - Pensa-se que os tectos entalhados do hall e alpendre teriam vindo de outro local para serem colocados na capela, mas que, talvez pelas suas dimensões, tenham sido aproveitados para aqueles locais. Segundo tradição familiar, o balcão teria vindo da Quinta do Sol, antiga propriedade da família no mesmo concelho. *2 - Cerca de 1/3 da produção vinícola é para vinho do Porto, sendo a restante para vinho de mesa, comercializado com o nome da quinta.

Autor e Data

Natália Fauvrelle 2001

Actualização

 
 
 
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