Cerca do Convento da Arrábida

IPA.00023059
Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão)
 
Cerca conventual de caracterização estilística Franciscana. Conjunto de espaços (jardim, pátio, horta e pomar) associados à antiga habitação de uma comunidade religiosa. Características que traduzem uma atitude de vida franciscana: pobre, simples e funcional. A cerca do convento mantém grande parte da espiritualidade que caracterizou a sua origem despertando emoção e sentimentos de tranquilidade. Esta energia que emana é reflectida pelos seus espaços singulares, pela austeridade da sua arquitectura e pelo valor artístico e artesanal de peças como as estátuas de S. Pedro de Alcântara, de Santa Maria Madalena e de Frei Martinho de Santa Maria e outros elementos como os pequenos canteiros escavados nos muros onde se cultivavam plantas medicinais. São ainda de carácter particular as vistas obtidas sobre a Serra e o mar e toda a envolvente do local. A vegetação apresenta também características notáveis sendo de referir os Buxos seculares em porte de árvore, o Zambujeiro com cerca de 1000 anos e algumas das plantas que, para além de protegidas, estão em extinção
Número IPA Antigo: PT031512040081
 
Registo visualizado 1118 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Religioso  Cerca    

Descrição

A entrada na cerca é feita por um portão de ferro, num pequeno desvio da estrada. O caminho que vem desde o portão da entrada até à zona edificada do convento passa pelo portão do Santuário do Bom Jesus, à esquerda flectindo depois à direita até ao largo de entrada no convento. Neste largo encontra-se em posição elevada a estátua de São Pedro de Alcântara, ajoelhado defronte da cruz. A passagem estreita conduz até ao átrio da igreja passando pela estátua de Santa Maria Madalena, voltada de costas para o exterior e deitada com o cotovelo apoiado na bíblia e um crânio representativo da sabedoria na outra mão. Ao lado da porta de ferro da Igreja permanece uma estátua de Frei Martinho de Santa Maria com os braços em cruz e os pé a esmagar uma serpente (demónio), assente num globo. Passando por dentro da igreja é possível aceder ao jardim de São Pedro de Alcântara, junto à capela de Nossa Senhora da Piedade. Pelo jardim e através de uma escadaria de pedra tosca, alcança-se a esplanada do refeitório de onde se obtêm vistas singulares. A cerca inclui dentro dos seus muros três áreas definidas por três intervalos altimétricos com diferentes ocupações do solo. A zona mais alta é também a mais declivosa e está revestida por mata autóctone onde existem caminhos de ligação entre edificações que terminam em pequenos terraços. A Noroeste desta área situa-se o conjunto edificado da cela de Frei Agostinho da Cruz abrindo uma clareira na mata de onde se pode avistar o restante espaço da cerca. O segundo intervalo altimétrico, de declive menos acentuado apresenta a maior parte das edificações quer ligadas ao culto, quer de serviço. Nesta zona, os muros de suporte sustentam os cinco patamares aí existentes: um constituído pela Rua do Relógio, emparedada de um lado pelas celas, uma das quais contém um relógio de corda do séc. 18 e do outro pela rocha da serra onde estão escavados pequenos canteiros onde se cultivavam plantas medicinais; outro patamar é formado por um espaço fechado, o Terreiro de Santiago que dá acesso a várias celas, à livraria e às capelas Ecce Homo e de Nosso Senhor Crucificado; o terceiro compreende a esplanada do refeitório, com uma latada em que resta apenas a estrutura de madeira, e o terreiro junto à casa dos noivos, ambos com vista desafogada sobre a restante área da cerca e a sua envolvente; o quarto, incluído o Jardim de São Pedro de Alcântara, o adro e o Terreiro da casa dos alguidares; o último corresponde à rua de acesso à horta. Todos os patamares apresentam subdivisões responsáveis pela diversidade e dinâmica do espaço. O terceiro intervalo altimétrico, de declive menos acentuado é constituído pela zona agrícola da quinta estruturada em três socalcos suportados por muros e ligados por escadas. Em termos ideológicos e de acordo com as ideias da Ordem Franciscana, a que obedece toda a estrutura do convento, podem ser definidas duas zonas distintas: uma correspondendo ao Mundo do Sagrado e outra ao Mundo do Profano. A primeira inclui o cemitério o adro da igreja, onde se encontra a imagem de Frei Martinho de Santa Maria, e o jardim de S. Pedro de Alcântara constituído por canteiros de Buxo onde se insere vegetação igualmente perene. A segunda está associada ao lado prático da vida religiosa e compreende o terreiro ligado à casa dos noivos, o terraço adjacente à casa dos alguidares e a área de horta e pomar. Entre a zona junto à casa dos alguidares e a horta existe um sistema de armazenamento de águas residuais constituído por três tanques que podem, ainda hoje, alimentar o sistema de rega, caso necessário. A poucos metros do convento fica o Santuário do Bom Jesus, limitado por muros em forma octogonal ficando ao centro a capela também envolta por muros mas em forma circular. Do portão até ao centro existe um eixo, com o piso em seixo rolado preto e branco construído em dois patamares ligados por quatro degraus e ladeados por muretes. Antecedendo a entrada no círculo da capela a passagem é estreitada pela existência de dois muretes perpendiculares aos laterais e que estão revestidos a azulejo setecentista. Entre os dois muretes constitui-se um eixo menor ladeado por duas pequenas áreas com estátuas. Este pequeno eixo termina no portão com volutas que dá acesso à zona adjacente à capela. Aqui permanece o que resta do jardim barroco com quatro repuxos em frente a cada uma das portas da capela e enquadrados por caldeiras com Ciprestes. Fora do círculo da capela encontra-se ainda o jardim dos aromas, actualmente menos cuidado, onde predominam plantas autóctones aromáticas e / ou medicinais.

Acessos

Serra da Arrábida, EN 379-1, no sentido Setúbal-Azeitão

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1 / Incluído no Parque Natural da Arrábida

Enquadramento

Situado na encosta Sul da Serra da Arrábida. Tem vista sobre a Serra que desce até ao mar e é revestida de espécies autóctones e protegidas. A Poente, a Via Sacra constituída por sete capelas marca a linha de festo num efeito escultórico de silhueta recortada. É ainda envolto por outros elementos marcantes como o Convento Velho (integrando a Capela da Memória, a Capela de Santa Catarina e a pequena ermida do Bom Jesus), o Forte de Nossa Senhora da Arrábida (v. PT031512040069), sobre a Costa e o Praia do Portinho da Arrábida (v. PT031512040018)

Descrição Complementar

A descrição mais antiga do mosteiro foi redigida em 1728 por Frei António da Piedade: "subindo os que forem pelo mar e descendo os que caminham por terra, dirigindo-se por áspera vereda, chega-se a um lago onde se depara a entrada do Convento, ante a qual se ergue um penhaco, sobre a qual está uma cruz de pedra e defronte dela uma imagem de São Pedro de Alcântara, com os braços abertos para a cruz.

Utilização Inicial

Religiosa: cerca

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: fundação

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 13 / 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Frei Afonso da Piedade - concepção arquitectónica da capela do Bom Jesus

Cronologia

1250 - construção de uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Arrábida, na zona do convento; 1539 - 1542 - D. João de Lencastre, 1º Duque de Aveiro, patrocina a construção do convento e doa-o a Frei Martinho de Santa Maria, frade franciscano, que ai vai viver como ermita; 2ª metade de séc. 16 e 1ª do séc. 17 - o 2º e 3º Duques de Aveiro continuam a construção do convento; 1650 - o 4º Duque de Aveiro manda construir o santuário do Bom Jesus; 1729 - reedificação da capela do Bom Jesus; 1834 - os frades abandonam o convento; 1863 - o convento é comprado pelos Duques de Palmela; 1990 - o convento é comprado pela Fundação Oriente e adptado para fins culturais

Dados Técnicos

O terreno está transformado em terraços suportados por muros de alvenaria e tijolo para combater o acentuado declive. A água utilizada na cerca provém de quatro minas existentes na Serra e corre por caleiras de pedra sendo armazenada numa cisterna. Quando a cisterna do convento enche a água é bombeada manualmente para outra cisterna, a do Bom Jesus, com cerca de ½ milhão de litros de capacidade, sendo distribuída a partir daqui. Devido à natureza calcária da rocha local as caleiras têm que ser limpas frequentemente para combater a mineralização da água. As águas residuais podem ser recolhidas nos tanques de armazenamento.

Materiais

Material Vegetal: Laranjeira (Citrus sinensis), Limoeiro (Citrus lemon), Bergamota (Citrus bergamia), Buxo (Buxus sempervirriens), Zambujeiro (Olea europeia var Sylvestris), Cipreste (Cupresssus semperviriens), Romanzeira (Punica granatum), Damasco (Prunus armeniaca), Esteva (Cistus albidus), Alecrim (Rosmarinus officinalis); Inertes: na construção dos elementos constituintes dos diferentes espaços utilizou-se predominantemente calcário, tijolo, seixo rolado.

Bibliografia

DULCE, Perestrelo, A Serra da Arrábida e o seu Convento, Gráfica Santelmo, Lisboa, 1952; MEDANHA, Vitor, Convento da Arrábida - última passagem secreta entre a terra e o céu, in Correio da Manhã, 27/09/1983; CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins Históricos de Portugal - Projecto Piloto de Valorização Cultural e Turística , Ministério do Comércio e Turismo, Institituto Superior de Agronomia, 1995; QUINTELA, António et al, A Água no Convento da Arrábida, Actas do Simpósio Internacional de HidráulicaMonástica Medieval e Moderna, Fundação Oriente, 1996; MARQUES, Luis, O Convento da Arrábida e a sua envoçvente, Fundação Oriente, Lisboa, 1997; CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com História, INAPA, Lisboa, 2002; ANDRADE, Mariana C. R., Restauro e Preparação para Turismo Cultural do Convento da Arrábida, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 2003.

Documentação Gráfica

Fundação Oriente

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; Fundação Oriente

Documentação Administrativa

Fundação Oriente

Intervenção Realizada

Adaptação do convento a actividades culturais e turísticas

Observações

*1 - DOF: Toda a zona que rodeia o Portinho da Arrábida, incluindo o Conventinho e a Mata de Carvalhos. Conta-se que no jardim de São Pedro de Alcântara existiu uma laranjeira plantada pelo próprio S. Pedro de Alcântara; uma das capelas da via sacra foi demolida para passar a estrada tendo sido construída uma nova, desviada do local; em Julho decorrem as festas dedicadas a Nossa Senhora da Arrábida e até há poucos anos ainda era utilizada para a população, a cozinha do Convento; o vandalismo tem sido um problema constante sobretudo na invasão das capelas; o relógio de corda do séc. 18 foi oferecido por D. João V.

Autor e Data

Pereira de Lima 2005

Actualização

 
 
 
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