Jardins do Palácio Nacional de Belém

IPA.00023868
Portugal, Lisboa, Lisboa, Belém
 
Arquitectura recreativa. Jardim integrado em quinta de recreio renascentista. Grutas renascentistas (grotto), na varanda do palácio, na casa de fresco, em fontes. Sistema de vistas ímpar sobre o rio e proximidade que permite utilizá-lo como via de transporte e comunicação; A Quinta de Belém (que inclui palácio e jardins) situa-se sobre o Complexo Vulcânico de Lisboa, de constituição basáltica, o que permitiu que, no dia do terramoto de 1755, esta permanecesse intacta, a par do Palácio Fronteira, em Monsanto; Zona de grande riqueza em água, proveniente das nascentes de Monsanto, que corre pela encosta da Ajuda; Segundo a "Carta de Padrão" de venda, sobre o Jardim de Buxo, de 1726, "[...] no fim do mesmo jardim um pombal em forma de teatro, no centro do pombal uma cascata com um Hércules dominando a hida de sete cabeças, ornado tudo em vários meios corpos de mármore"; Segundo FIGUEIREDO, 1924, "Estes terrenos têm bastante água, sendo o manto basáltico um dos melhores reservatórios das proximidades de Lisboa, devido à grande porosidade do basalto, mesmo do mais compacto, e aos leitos das marcas alternando com camadas impermeáveis."; Analogia com quintas de construção contemporânea da Quinta de Baixo, como Quinta da Bacalhoa, em Vila Fresca de Azeitão ( 1528 ), Quinta da Penha Verde, em Sintra ( 1542 ), que seguem os cânones do Renascimento italiano e a memória viva do encontro entre Oriente e Ocidente; Grandes semelhanças com obras do final do séc. 15 em Itália, como a Villa Medici, em Fiesole: Segundo CASTEL-BRANCO, 2005, "Tanto em Belém como em Fiesole a casa abre sobre um terraço esculpido na encosta, graças a um muro de suporte que assenta sobre outro terraço. Para os rematar e ligar as pérgulas, escadarias e balaustradas respeitam um desenho geométrico segundo o qual se planeou o jardim em simultâneo com a casa - troços contrastantes com os do fim da Idade Média, em que o jardim era cercado de altos muros, traçado orgânico adaptado a construções anteriormente construídas"
Número IPA Antigo: PT031106321147
 
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Registo

 
Espaço verde  Jardim        

Descrição

Unidade cercada e alimentada por água, vinda de várias Nascentes e Minas da encosta da Ajuda. Conjunto do palácio e dos jardins ocupa uma área de 2.5 ha. O jardim fronteiro do palácio presidencial tem bustos de mármore, um tanque e uma escada que liga ao jardim de baixo. Grandes pinheiros mansos ensombram os canteiros de buxo. Neste jardim, canteiros cortados por caminhos simétricos e três lagos centrais. Numa das zonas mais amenas do jardim e de onde se tem melhores vistas, encontra-se a Casa de Fresco (5 x 5 m, aprox.), decorada e revestida a azulejo do séc. 18 e tem fonte em que o nicho é revestido a pedra irregular. Uma plataforma saliente no eixo do jardim tem uma mesa em pedra maciça. Varanda do palácio estende-se por toda a fachada S. e é ladeada por duas escadarias de pedra com grades de jaspe. Por baixo da varanda, uma gruta e uma fonte. A poente, o pátio dos Bichos *1, com tanque e figura em mármore e ao fundo um teatro, composto por uma cascata central com estátua de Hércules sobre Hidra. Em frente composição de dois corpos com a mesma altura, abrindo-se para cada lado, pórticos formados por três arcos, tendo em cada esquina um nicho com estátuas sobre uma peça de água. O Jardim da Cascata está implantado sobre terraço implantado a partir de muro de suporte, em parterre ladeando a parte poente, na parte posterior do edifício principal *2. Azulejos da varanda apresentam novamente temática de Hércules *3.

Acessos

Praça Afonso de Albuquerque

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 19/2007, DR, 1.ª série, n.º 149 de 03 agosto 2007 *1

Enquadramento

Sistema de vistas sobre o rio Tejo. Vista sobre o rio e a margem direita, a encosta da Trafaria. A N. a encosta da Ajuda, virada a S.. Solo rico e profundo com origem nos basaltos. Temperaturas médias anuais de 16,9 ºC, com reduzidas amplitudes térmicas - 11, 6 ºC - devido à proximidade do mar. A pluviosidade média é de 731 mm.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Secretaria Geral da Presidência da República

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

João Pedro Ludovice (obras após o terramoto de 1755) / Giuseppe Gaggini II (Escultura - Hercules, etc - séc. 18) / José Malhoa e Columbano Bordalo Pinheiro (1886) / Carrilho da Graça / João Gomes da Silva

Cronologia

1559 - construção da quinta de Belém, por encomenda de D. Manuel de Portugal, incluindo casa, jardim e terrenos; 1580 - primeira imagem do Palácio e dos Jardins de Belém; 1640 - D. João Telo de Menezes, 1º conde de Aveiras e vice-rei da Índia, investe nos jardins, nomeadamente através da construção de um lago, um terraço, fontes, casa de fresco e estatuária vinda de Itália; 1680 - a quinta passa para o Morgado dos Cortes-Reais, designando-se o conjunto dos 4ha por Quinta de Baixo; 1726 - D. João V compra a Quinta de Belém ao Conde de Aveiras e melhoramentos e ornamentos com numerosas obras de arte, bem como chegada à quinta de animais exóticos; a par desta compra, outras famílias fidalgas começam a adquirir quintas naquela zona da cidade; a quinta toma o nome de Casa Real de Campo de Belém; 1728 - D. João V compra também quintas contíguas, como a Quinta do Conde de Óbidos, a Quinta de Calheta, a Quinta da Praia e a Quinta do Correio-mor, com vista a implementar um projecto em toda a encosta, a ser realizado pelo arquitecto italiano Juvarra; 1754 - D. Maria Ana de Áustria falece no palácio; 1755, 1 Novembro - terramoto; o palácio permanece intacto, onde está hospedado o rei D. José e família real; séc, 18, década de 60 - fica pronta a Real Barraca, erguida onde depois se construiu o palácio da Ajuda, sendo residência real; 1787 - inicio das obras de construção do Picadeiro Real, por iniciativa do infante D. João, futuro rei D. João VI; 1780 - construção dos viveiros de pássaros; 1794 - incêndio que destrói a Real Barraca e obriga a nova mudança, para o Palácio de Queluz; 1834 - início do reinado de D. Maria II, passando a família real a utilizar novamente o palácio com frequência; D. Maria encomenda novo traçado, mais naturalista, para o jardim, propriedade então com 7.5 ha, mantendo os núcleos de intercepção dos caminhos, anulando todos os eixos e criando curvas e lagos de formas naturalizadas, ao estilo "Landscape Garden"; 1862 - compra de "fogo" para os festejos do aniversário da rainha D. Maria Pia; 1886 - o príncipe D.Carlos casa com D. Maria Amélia de Orleães, passando a viver na Quinta de Belém; campanha de obras com intervenção de José Malhoa e Columbano Bordalo Pinheiro; séc. 20, primeira década - construção de um novo edifício na quinta, o anexo, para albergar visitas de Estado; 1903 - o anexo é estreado pelo então rei de Espanha, Afonso XII; 1905 - inauguração do Museu dos Coches, fruto de adaptação do Picadeiro Real, por iniciativa de Rainha D. Amélia; 1908 - a quinta passa a pertencer oficialmente à Fazenda Nacional; 1911 - instala-se no palácio a Secretaria Geral da Presidência da República e residência oficial do Presidente; 1914 - instalação do Museu Agrícola e Colonial no Palácio dos Condes de Calheta, no pátio das Vacas; 1940 - exposição do Mundo Português, que alterou fortemente a envolvente do palácio e da Quinta de Belém; criação do Jardim Colonial, utilizando terrenos da quinta.

Dados Técnicos

Cantaria; Muros de suporte

Materiais

Material Vegetal: figueira-benjamim (Ficus benjamina); plátano (Platanus x hispanica); laranjeira (Citrus sinensis); árvore-do-gelo (Brachychiton populneus); tília prateada (Tilia tomentosa); araucária-colunar (Araucaria columnaris); nespereira (Eriobotrya japonica); sumauma (Chorisia speciosa); limoeiro (Citrus limon); jacarandá (Jacaranda mimosifolia); pinheiro-manso (Pinus pinea); buxo (Buxus sempervirens);

Bibliografia

Carta de padrão de venda do Palácio de Belém (transcrição do manuscrito original depositado no Museu da Cidade), 1726; BECKFORD, William, Itaçy with sketches of Spain and Portugal, Paris, Baudry´s European Library, 1834; RIBEIRO, Mário de Sampaio, As quintas reais do lugar de Belem, Anais das Bibliotecas, Museus e Arquivo Histórico Municipais, nº 15, 1935; DENIS, M. Fernando, portugal pittoresco ou descripção histórica deste reino, Lisboa, Tip. de L.C. da Cunha, 1846-1848; BARBOSA, Ignácio de Vilhena, Palacios Reaes, Archivo Pittoresco, vol.4, Lisboa, 1861; BARBOSA, Ignácio de Vilhena, O Palácio de Belém, Archivo Pitttoresco, vol.5, Lisboa, 1862; O Casamento de S.A. o Príncipe Real D. Carlos de Bragança, O Ocidente, vol.9, nº270, 21 Jun 1886; ALMEIDA, Rodrigo Vicente de, Belém: apontamentos literário-histórico-arqueológicos, O Archeólogo Portuguez, Vol.18, 1913; Os cumprimentos ao Chefe de Estado no dia 1 de Janeiro, Ilustração, nº194, 16 Jan, 1934; BRITO, Nogueira de, Roteiro Ilustrado de Lisboa e arredores, Lisboa, Guia de Portugal Artístico, 1935; BENARUS, Adolfo, O casamento do Rei D.Carlos. O Palácio de Belém, residência predilecta dos condes de Aveiro, Diário de Lisboa, 10 de Dez. 1937; ARAÚJO, Norberto, Peregrinações em Lisboa, Livro 9, Lisboa, Pareceria António Maria Pereira, 1938; ARAÚJO, Norberto, Inventário de Lisboa, Lisboa, CML, 1945; SOUSA, António Caetano de, História genealógica da Casa Real Portuguesa (ed. Maria Lopes de Almeida e César Pegado), 12 vols., Coimbra, Atlantida, 1946-1955; CARVALHO, Aires de, D.João V e a arte do seu tempo, Vol.2, s.l., Ed. de Autor, 1962; SARAIVA, José António, O Palácio de Belém, Lisboa, Editorial Inquérito, 1985; BARETTI, Giuseppe, Cartas de Portugal (trad. Maria Eugénia Ponce Leão), Coimbra, Separata da Revista da Universidade, Vol.21, 1970; CARITA, Hélder, Trafado da grandeza dos jardins em Portugal ou da originalidade e desaires desta arte, Lisboa, Edição dos Autores, 1987; ATAÍDE, Maia, Monumentos e edifícios notáveis do Distrito de Lisboa, vol.5, Tomo 3, Lisboa, Assembleia Distrito, 1988; BOUZA ALVAREZ, Fernando, Cartas de Filipe I a sus hijas, Madrid, Akal Ediciones, 1988; BOWE, Patrick, SAPIEHA, Nicolas, Jardins de Portugal, Lisboa, Quetzal, 1989;GIL, Júlio, Os mais belos palácios de Portugal, Editora Verbo, Lisboa, 1992, p.186-191: AAVV, Monumentos, Lisboa, DGEMN, nº4, 1996; FREITAS, Eduardo de, Lisboa: CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, Pelas freguesias de Lisboa: Lisboa ocidental: São Francisco Xavier. Santa Maria de Belém. Ajuda. Alcântara, Lisboa, Câmara Municipal, Pelouro da Educação, 1996; CARVALHO, Mário de, Um jardim.museu, Expresso, 15 Fev. 1997; BRAGA, Pedro Bebiano, Leandro Braga e as artes decorativas, 1839-1897, Lisboa, Instituto da Comunicação Social, 1997; O Centro de Documentação e Informação: Palácio de Belém, Lisboa, Prototypo: máquinas engenhos artefactos, nº1, Jan. 1999; CASTEL-BRANCO, Cristina (dir.), Jardim Botânico da Ajuda, Lisboa, Associação dos Amigos do Jardim Botânico, Livros Horizonte, 1999; CACHÃO, M., Geologia Augusta: património, geologia urbana e cultura, in I Seminário sobre o Património Geológico português: Comunicações, Lisboa, Instituto Geológico e Mineiro, 1999; VALE, Teresa Leonor M., Escultura Italiana em Portugal no século XVII, Lisboa, 1990-1991; GASPAR, Diogo, et alli, Do Palácio de Belém, Museu da Presidência da República, Lisboa, Outubro 2005;

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - DOF: Palácio Nacional de Belém e todo o conjunto intramuros, nomeadamente o Palácio, os jardins e outras dependências, bem como o Jardim Botânico Tropical, ex - Jardim - Museu Agrícola Tropical. *1- no Pátio dos Bichos coleccionava-se, no designado "Pombal", raras espécies de aves exóticas vindas do Oriente; por cima das luxuosas gaiolas, jaulas para anomais selvagens embutidas no muro de suporte sobre o qual assenta o parterre; Antes o conjunto ocupava c. de 4 ha (ao invés dos 2.5 ha que hoje ocupa); *2 - estátua de Hércules com bastão e três maçãs na mão do jardim das Hespérides que se encontrava no Jardim da Cascata, está hoje no Jardim-Museu Agrícola Tropical, isolada e fora do contexto. Este jardim ocupa terrenos que, na sua origem, foram o Jardim da Quinta de Baixo, o Jardim da Quinta do Meio (comprada ao Conde de Calheta) e parte do Jardim da Quinte do Duque de Aveiro, o todo perfazendo 7.5 ha; *3 - Azulejos da varanda, com a temática de Hércules, com origem desconhecida e variada, foram adaptados aos espaçoes entre as janelas, com recortes para possibilitar encaixe na esquadria comum a todos os painéis;

Autor e Data

Luísa Estadão 2005

Actualização

 
 
 
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