Igreja de Nossa Senhora do Rosário
| IPA.00033587 |
Angola, Cuanza-Norte, Cambambe, Cambambe |
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Igreja de construção seiscentista, de planta retangular composta por nave e capela-mor contrafortadas, interiormente com iluminação axial e unilateral, tendo adossado torres sineiras e, à fachada direita, corpo retangular. Fachada principal harmónica, já sem o remate primitivo, mas percorrida por cornija e rasgada por portal de arco abatido e aduelas de tijolo, tal como todos os outros vãos, com a torre sineira esquerda derruída e a direita de três registos, acedida posteriormente. A fachada lateral esquerda é rasgada por porta travessa e janelas e na direita o corpo adossado tem porta a N. e janelas laterais; na fachada posterior, com contrafortes de ângulo, abre-se janela. Exteriormente caracteriza-se pelas linhas sóbrias, com possantes contrafortes, sobretudo os posteriores dispostos de ângulo, semelhantes aos que surgem na Igreja Paroquial de Massangano ou Igreja de Nossa Senhora da Vitória (v. IPA.00035179). No interior a nave possui coro-alto, de que só subsistem os grossos pilares de sustentação, batistério no sub-coro, do lado do Evangelho, capelas laterais confrontantes e duas colaterais, ladeando o arco triunfal, de estrutura semelhante, sóbria e talvez do período da fundação da igreja, em alvenaria rebocada e pintada, com arcos de volta perfeita sobre pilastras, tendo no interior nicho à face de igual modinatura, exceto o colateral da Epístola, que tem perfil curvo. Na capela-mor a parede testeira tem retábulo-mor barroco, em alvenaria rebocada e pintada, de planta reta e três eixos, com tribuna entre dois nichos, sobre portas de acesso à zona posterior. Este destaca-se pela sua estrutura e elementos decorativos, mais eruditos, com os eixos definidos por colunas torsas e estípites assentes em plintos e consolas. A ausência de cantaria na região leva a que a estrutura das capelas, retábulos e arco triunfal sejam de alvenaria com reboco relevado e pintado, a imitar cantaria, de que subsistem ainda vestígios significativos e relevadores da sua anterior riqueza decorativa. |
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Número IPA Antigo: AO910604000005 |
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Registo visualizado 698 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja
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Descrição
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Planta retangular composta por nave e capela-mor, mais estreita e da mesma altura, tendo adossado corpo retangular em eixo, duas torres sineiras quadrangulares ladeando a frontaria, e à fachada lateral direita corpo retangular. Volumes articulados, sem coberturas, mas que, atendendo à pendente das estruturas, deveriam ser de duas águas na igreja e de uma no corpo adossado. Fachadas em alvenaria de pedra aparente, com alguns vestígios de reboco e rasgadas por vãos de arco abatido com aduelas de tijolo. Fachada principal virada a N., percorrida por cornija, que se prolonga para a torre direita, sobre o qual se elevam elementos de alvenaria de pedra, formando falsos merlões. É rasgada por portal de arco abatido sobre os pés direitos. As torres sineiras dispõem-se no alinhamento da frontaria, a esquerda derruída e apenas quase ao nível do arranque e a direita de três registos marcados por cornijas. Fachada lateral esquerda com grande contraforte de esbarro no topo da nave, que é rasgada por porta travessa e janela, abrindo-se uma outra na capela-mor. Na fachada lateral direita, a torre sineira possui no primeiro registo pequeno vão em arco e acesso posterior por porta; o corpo adossado é rasgado por porta virada a N. e por duas janelas de peitoril a O.. A fachada posterior, com possantes contrafortes de esbarro dispostos de ângulo, é rasgada por janela. No INTERIOR as paredes da nave são seccionadas em dois registos por cornija e lateralmente terminam também em cornija. Em frente do portal dispõem-se dois grossos pilares de sustentação do antigo coro-alto, que era acedido por porta no lado da Epístola, a partir da torre sineira; na zona do sub-coro, abre-se, no lado do Evangelho, o vão do antigo batistério, em arco de volta perfeita, interiormente com falsa abóbada de berço sobre cornija. Lateralmente, entre a janela da nave e a porta travessa, existem duas capelas laterais, confrontantes, uma de cada lado, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, interiormente rebocadas e pintadas de branco, possuindo na parede fundeira nicho à face em arco de volta perfeita sobre pilastras. Em frente, têm altar paralelepipédico, em alvenaria de pedra. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras, entre duas capelas colaterais, inicialmente dedicadas de São Miguel e a Santo António. Capela-mor com as paredes terminadas em cornija. Na parede testeira, sobre supedâneo com acesso por degraus centrais, possui retábulo-mor em alvenaria de pedra, rebocada e pintada, de planta reta e três eixos, definidos por duas colunas torsas exteriores, assentes em plintos paralelepipédicos e consolas, e duas estípites, sobre consolas, que sustentam o remate em arco de volta perfeita, de várias arquivoltas. Ao centro possui tribuna, em arco, sobre a qual se desenvolve o remate da estrutura, que alberga cruz latina em ferro; nos eixos laterais surgem nichos, em arco de volta perfeita e com mísula frontal, encimando as portas, de verga reta, de acesso ao corpo posterior e à tribuna. Altar paralelepipédico em alvenaria de pedra. O pavimento integra lápide sepulcral, inscrita. O corpo adossado é seccionado interiormente em dois e tem acesso pelo exterior e pela nave. |
Acessos
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Cambambe; EN 120 que liga o Alto Dondo a Huambo, por Quibala, a cerca de 8 km do Alto Dondo, pela entrada no perímetro controlado da Barragem de Cambambe |
Protecção
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Classificado como Monumento Nacional, Estado Português, Portaria n.º 67, Boletim Oficial n.º 20 de 30 maio 1925 |
Enquadramento
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Rural, isolado, junto à margem direita do Rio Cuanza, no interior da Fortaleza de Cambambe (v. IPA.00020043), onde também se ergue o antigo Edifício da Feitoria, e do perímetro controlado do Complexo Hidroelétrico da Barragem de Cambambe. Implanta-se adaptado ao declive do terreno, com adro frontal, delimitado por muro, acedido por rampa central. A cerca de 250 m para OSO. situa-se a Pousada do Complexo Hidroelétrico de Cambambe (v. IPA.00033088) e a 1250 m para SO. a Barragem de Cambambe. |
Descrição Complementar
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Junto à igreja existe lápide de cantaria, partida em três, com a inscrição "RUÍNAS DA ANTIGA / IGREJA DE / NOSSA SENHORA / DO ROSÁRIO PADRO- / EIRA, DO PRESÍDIO / SÉC. XVII". As capelas colaterais têm estrutura semelhante, em arco de volta perfeita sobre pilastras, interiormente possuindo, o do lado do Evangelho, um outro arco de volta perfeita sobre pilastras, e o da Epístola, nicho em arco de volta perfeita sobre pilastras, interiormente de perfil curvo. A lápide existente no pavimento da capela-mor tem a seguinte inscrição: "AQUI JAZEM / OS RESTOS MORTAES / DE / ANTÓNIO DE MOURA SOARES E ANDRADE / QUE NASCEO E, 13 DE OUTUBRO DE 1786 / E FALECEO EM 2 DE MAIO DE 1846 / FOI CAZADO / COM / D. MATHILDE DA SILVA TEIXEIRA / A QUAL EM SIFNAL DE GRATIDÃO / E SAUDADE / LHE MANDOU ERIGIR ESTA CAMPA / PARA ETERNA LEMBRANÇA". |
Utilização Inicial
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Religiosa: igreja |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: Estado angolano |
Afectação
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Época Construção
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Séc. 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1603 - o governador Manuel Cerveira Pereira conquista Cambambe; 1604 - construção da primeira fortificação pelas forças portuguesas, no contexto da conquista e penetração em território angolano através do rio Cuanza; Manuel Cerveira Pereira fixa um presídio em Cambambe, 1607 - data da construção da igreja; documento refere a paróquia ou vigairaria de Cambambe, uma das mais antigas de Angola, tenho o cura 60$000 de rendimento; 1609 -1620 - o 3º bispo do Congo, D. Fr. Manuel Batista Soares, visita Cambambe; 1625 - o governador-geral, Fernão de Sousa, pede para Lisboa que se resolvesse se é ao bispo, cabido e vigário geral que compete prover os vigários dos presídios de Muxima, Massangano, Cambambe e Ambaca; séc. 17 - António de Oliveira de Cadornega escreve que os portugueses puseram "a esta fortaleza e presídio a invocação da Mãe de Deus Senhora do Rosário, edificando-lhe casa, igreja bastante em grandeza, onde a Senhora é patrona, com mais duas confrarias nos altares colaterais de S. Miguel e Almas e do nosso Santo Português, as quais confrarias servem os moradores daquele presídio, fazendo-lhe suas festividades com dispêndio de suas fazendas, tendo seu capelão, que o é também da infantaria, com sua ordinária da real fazenda de sua Alteza"; 1640 - no relatório para a Santa Sé sobre a visita "ad limina" de D. Francisco do Soveral, consta a Igreja de Cambambe que é designada "ecclesia sub titulo Nostrae Dominae do Rosário"; 1691 - remodelação da igreja aquando da reconstrução da fortaleza onde se insere; as confrarias de Santo António e de São Miguel são servidas pelos moradores do presídio "com dispêndio de duas fazendas"; séc. 18 - feitura do retábulo-mor da igreja, em alvenaria; 1830 - 1841 - a paróquia ainda está regularmente provida de pároco, apesar de nesta época o clero ser muito reduzido; 1845 - segundo Lopes de Lima, Cambambe tem cerca de 500 cubatas e 4 casas feitas de pedra; 1846, 02 maio - data da morte de António de Moura Soares e Andrade, cavaleiro da Ordem de Cristo e major das Milícias da província de Angola, cuja mulher, Matilde da Silva Teixeira o manda sepultar na igreja; 1852 - a vila é habitada por soldados, oficiais e civis; 1857, 14 outubro - governador-geral Coelho do Amaral determina que a sede do concelho seja transferida do Alto de Cambambe para a feira do Dondo, na planície a jusante do Cuanza e na margem esquerda do Mucozo, e onde ocorriam os comerciantes de Massangano e de Muxima e as gentes da Quiçama e do Libolo; a paróquia, vaga já por alguns anos, acompanha a transferência; a povoação despovoa-se e a igreja e fortaleza são abandonadas; 1963 - aquando da visita a Angola do Presidente da República Portuguesa, Almirante Américo Tomás, o arcebispo de Luanda celebra missa no interior das ruínas da igreja. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista de pedra e tijolo aparente; lápides de bronze e cantaria; vestígios de reboco relevado e pintado. |
Bibliografia
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BATALHA, Fernando - Povoações Históricas de Angola. Lisboa: Livros Horizonte, pp 107-126; GABRIEL, Manuel Nunes - Padrões da Fé. As Igrejas antigas de Angola. Braga: Arquidiocese de Luanda, 1981; MATTOSO, José (dir.) - Património de Origem Portuguesa no Mundo, arquitetura e urbanismo: África, Mar Vermelho e Golfo Pérsico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010, p. 427-428. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: SIPA; Arquivo Histórico Ultramarino: Agência Geral do Ultramar |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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2014 - trabalhos de limpeza geral e de consolidação dos elementos construídos, pela empresa brasileira Odebrecht que trabalha no perímetro da barragem. |
Observações
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Autor e Data
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João Almeida (Contribuinte externo) e Paula Noé 2014 |
Actualização
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