Paço de Campo Belo
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Portugal, Porto, Vila Nova de Gaia, União das freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada |
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Arquitectura civil residencial, quatrocentista, quinhentista, maneirista, barroca, rococó e vernacular. Quinta composta por solar e dependências agrícolas vernáculas, integrando casas de assalariados, rodeada por grande jardim e mata. Solar do tipo "casa-torre", de planta ligeiramente irregular, em U, integrando capela longitudinal, de nave única, e torre quadrangular, em cada um dos braços. Da construção primitiva quatrocentista resta a torre, com reformas maneiristas ao nível das fachadas, e a ala que se lhe segue, profundamente remodelada no séc. 18, segundo o gosto barroco, tal como aconteceu com a outra ala, ambas percorridas superiormente por varanda corrida, alpendrada, suportada por colunata, posteriormente fechada, com acesso ao piso nobre por escadaria com arranque volutado, a terminar em alpendre. O corpo que faz a intersecção das duas alas, correspondente ao salão nobre, poder-se-á atribui ao último quartel do séc. 16, com chaminés cónicas nos ângulos, tal como o portal principal exterior, de verga recta, boleada encimado por pedra de armas e pináculos. A capela, de construção barroca, apresenta ao nível das fachadas já uma decoração rococó, com uso profuso de concheados associados a elementos fitomórficos e florais. Os jardim barroco é disposto ao longo da encosta, voltado à paisagem, em três patamares, como um anfiteatro, o superior com organização formal com canteiros de buxo e zona de estar com sebes de camélias topiadas, estatuária, bancos com pés volutados, conversadeiras e urnas e o inferior com zona de pomar de citrinos. No extremo da propriedade desenvolve-se densa mata, com acesso por caminhos que partem do jardim, alguns com latadas de vinha. As pilastras que dividem os panos da fachada principal da torre sobrepõem-se às ombreias das janelas, criando uma estreita composição vertical, com o simulação do prolongamento das molduras e união das janelas. A torre possui ao nível do remate altos pináculos a imitar torreões, procurando simetria com as originais chaminés cónicas do corpo do salão nobre, destacado em altura entre as duas alas. As chaminés que correspondem interiormente a quatro lareiras existentes nos cantos do salão nobre, terão sido inspiradas na forma das chaminés do Paço da Vila de Sintra (v. PT031111110006) (CARDOSO, 1983). O jardim alberga pormenores notáveis de camélias, algumas das quais, segundo a tradição, poderão ser as mais antigas da Europa, trazidas do Japão por um antepassado para a Casa de Campo Belo, no séc. 16 (CARITA e CARDOSO, 1998). |
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Número IPA Antigo: PT011317160009 |
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Registo visualizado 2424 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre Casa nobre Tipo torre
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Descrição
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Quinta composta por solar e dependências agrícolas, integrando casas de assalariados, dispostas em torno de pátio interior, grande jardim desenvolvido a O., S. e E. e mata a delimitar a propriedade, a S.. SOLAR de planta ligeiramente irregular, em U, integrando capela longitudinal, de nave única, e torre quadrangular, em cada um dos braços, respectivamente a E. e a O. Volumes articulados e escalonados de dominante horizontal, quebrada pelo verticalismo da torre. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas no corpo principal e capela e de quatro águas na torre e no volume de intersecção, existente no corpo principal, destacado em altura no ângulo SO., com coroamento chaminés cónicas, nos ângulos. Fachadas do rebocadas e pintadas a branco, excepto na torre em aparelho irregular à vista, com as juntas largamente preenchidas com cimento, de um, dois e três registos devido ao declive do terreno, rematadas por cornija sob beiral saliente, no corpo principal, e sob platibanda, vazada nos cunhais e encimada, no mesmo local por altos pináculos tronco-piramidais, vazados na base e encimados por bola, na torre. Fachada principal, a N., voltada a amplo pátio em calçada portuguesa, pontuada por desenhos de flores, onde é visível a articulação dos vários corpos, nomeadamente o principal com a capela e a torre, ambos em extremos opostos. Corpo principal formando ângulo recto, entre duas alas, de dois registos. O térreo apresenta, na ala E., dois arcos abatidos entaipados a albergar portas de verga recta e duas janelas gradeadas. A ala O. tem dois arcos abatidos que definem dois átrios, entre duas portas simples. Junto ao ângulo desenvolve-se escadaria de acesso ao piso nobre, com lanço recto, e arranque volutado, paralela à fachada da ala E., a terminar em alpendre com telhado sustentado por colunas três dóricas. Registo superior correspondendo a varanda corrida alpendrada, entaipada entre colunas dóricas, e aberta por janelas de dois batentes. Pano da torre de três registos, separados por cornija, com cunhais apilastrados, possuindo no registo térreo, porta de verga recta com a imposta das ombreiras reentrante e no segundo e terceiro registo, três panos divididos por pilastras que enquadram no pano central janela de sacada, sobrepondo-se às ombreiras, e nos laterais, óculo em capialço. Fachada lateral E. do corpo principal contígua à fachada posterior da capela e alteada em três registos, o primeiro avançado com esbarro superiormente, rasgado por três janelas gradeadas, o segundo com outras três janelas, e o último, com duas janelas de sacada e uma de peitoril, em arco abatido. A fachada lateral O. organizada em três panos desencontrados, o do extremo N., correspondendo à torre. Pano da extremidade S. com um registo, cunhais em cantaria, rasgado por duas janelas de peitoril. O pano intermédio, mais recuado, corresponde à ala O., e possui aparelho irregular à vista, com dois registos, no inferior porta e duas janelas gradeadas e no superior, três janelas, também gradeadas. Pano da torre cego. A fachada posterior, a S., voltada ao jardim, organiza-se em três panos, singularizados pelas cérceas e pelos telhados diferenciados, marcados e parcialmente ocultos devido ao declive do terreno. O pano da extremidade O., em ligeiro ressalto, corresponde à ala O., e apresenta o cunhal em cantaria, remate superior em unicamente em beiral e uma janela de verga recta. O pano intermédio, mais alto, corresponde à intersecção do corpo principal e apresenta duas janelas de sacada de verga recta ladeadas por duas estípides com bustos femininos, incrustadas no pano murário. O pano do extremo E., correspondente à ala E. é formando dois e três registos. Primeiro registo, no extremo E., com porta de verga recta, segundo registo com cinco portas de acesso ao jardim e duas janelas de peitoril, todas ladeadas por mísulas para suporte de vasos. Um friso em meia cana separa o último registo, ritmado por janelas de peitoril, com as molduras das ombreiras prolongadas e unidas ao friso. No extremo O. abre-se porta de acesso a patamar superior do jardim. Junto ao remate encontram-se argolas de ferro. INTERIOR não observado *2. CAPELA da invocação de Nossa Senhora da Conceição, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, com embasamento e cunhais apilastrados. Fachada principal orientada com cunhais decorados por flores e motivo concheado relevado, coroado por urnas com fogaréus, decoradas por concha, sobre altos acrotérios com motivo concheado. Remate em empena recortada encimada por cornija canopial coroada por cruz sobre acrotério. Portal recortado superiormente ricamente decorado por concheados que se unem a janelão gradeado, também recortado, com orelhas, encimado por pedra de armas dos Cernaches, envolvida por concheados. Entre a capela e o corpo do solar encontra-se estreito pano dividido em dois registos, separados por friso, rasgado por janela gradeada simples no registo térreo e por janela em arco abatido, no superior. Sobre o beiral ergue-se sineira recortada, enquadrada por pilastras, que suportam cornija, encimada por pináculos piramidais e cruz latina com resplendor. Fachada lateral da capela rasgada por dois janelões em arco abatido, gradeados, com remate em entablamento sob beiral. Fachada posterior da capela assente num alto embasamento, delimitada por pilastras encimadas por fogaréus, com remate em empena, com argolas de ferro, coroada por cruz latina sobre acrotério e rasgada por óculo quadrilobado. INTERIOR com cobertura em abóbada de berço, em talha policroma a dourado e azul, com marmoreados a castanho, decorada com caixotões pintados com santos, e florões na intersecção dos mesmos. JARDIM organizado em duas áreas, a primeira a N. a preceder a fachada principal, em torno do pátio calcetado, e a segunda, de grandes dimensões a S., em patamares ao longo da encosta voltada ao rio Douro, sustentados por muros de alvenaria. Área N. com caminho de ligação do portal exterior ao pátio, delimitado por canteiros de buxo com sucessão de camélias topiadas. No seguimento da fachada da torre, voltada a este caminho encontra-se fonte de espaldar rectangular integrada em muro rebocado e pintado de branco, delimitada por pilastras, com remate em cornija encimada por volutas e cruz ao centro. No espaldar surge bica carranca em forma de cabeça de leão encimada por nicho com imagem pétrea da Virgem. Tanque de faces côncavas. Área S. formada por três patamares em L. Patamar superior delimitado por muro com conversadeiras e urnas, com pequena área de jardim de buxo topiado em bola formando canteiro, pontuado por palmeiras, junto ao solar, que se liga a terraço, delimitado a O. por muro ritmado por bancos com pés volutados encimados por estatuária que surge integrada em alta sebe de camélias. Através do topo desta área tem-se acesso a zona com chafariz de tanque circular com taça central, rodeado por camélias de porte notável, que por sua vez é elo de ligação a caminho com latada de vinha que conduz à mata. Patamar intermédio relvado delimitado por gradeamento com piscina. Patamar inferior com zona de pomar de citrinos. Para S. estende-se vasta mata com árvores de grande porte. |
Acessos
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Rua do Rei Ramiro, n.º 25 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, destacado, na encosta S. do rio Douro, rodeado por diversas caves do vinho do Porto, destacando-se as do Graham's, e a E. da colina do castelo. Para SO. e S. prédios de habitação recentes. O imóvel implanta-se na extremidade N. de grande propriedade murada, com jardim e mata, com acesso principal por portal antecedido de rampa calcetada de ligação à R. do Rei Ramiro e por portal secundário, a O., também na mesma rua, delimitado por par de pilares, de ordem toscana, com decoração almofadada. O portal principal, rasgado em alto muro rebocado e pintado de branco, apresenta verga recta em meia cana, com inscrição na padieira e é rematado por estreita cornija, encimada por platibanda com pedra de armas dos Cernache, ao centro, e três pináculos piramidais superiormente. |
Descrição Complementar
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INSCRIÇÕES: Inscrição gravada na padieira do portal principal de acesso ao paço; granito; leitura: D. MARTIM VAZ DE CERNACHE SEXTO HERDEIRO DESTA CASA 1580. |
Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Residencial: casa |
Propriedade
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Privada: fundação |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 15 / 16 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 15, início - Construção da primitiva casa, da qual apenas resta a torre a ala O., no local onde a tradição diz ter existido o Paço do Rei Ramiro, por Álvaro Anes de Cernache *3, 1º Senhor de Gaia-a-Grande por doação de D. João I, em recompensa dos serviços prestados na guerra de 1383-1385; 1442 - falecimento de Álvaro Anes de Cernache, sendo sepultado na igreja do Convento de Corpus Christi (v. PT011317160025); sucede-lhe o seu filho Fernão Álvares de Cernache; 1475 / 1496 - entre estas datas terá morrido Fernão Álvares de Cernache, também sepultado na igreja do Convento de Corpus Christi, herdando o Paço de Campo Belo o seu filho Álvaro Anes de Cernache; 1580 - a casa é mandada incendiar pelo Duque de Alba como vingança por nela ter estado D. António, Prior do Crato *4, na sua fuga para o Norte; D. Martim Vaz de Cernache manda reedificar a casa, da qual resta o corpo de intersecção das duas alas, correspondente ao salão nobre e o portal principal exterior; nesta época a casa já dispunha de capela, situando-se junto à torre; séc. 17 - remodelação da torre; 1727 - Diogo Leite Pereira manda reedificar a capela, fazer importantes melhorias no corpo residencial e nos jardins; 1747 / 1751 - o Padre Luís Cardoso refere-se ao paço como "onde residiu o Rei Ramiro no temo dos Godos, e no seu mesmo Paço tem hoje a sua casa Diogo Francisco Leite Pereira, morgado de Campo Belo (...) tem Diogo Francisco Leite Pereira, fidalgo da Casa Real, e morgado de Campo Belo, que é Senhor Donatário de Gaia a pequena, como se diz no nº 2, na sua quinta onde reside uma torre antiga, que ainda conserva, do temo dos Godos..."; séc. 18, final - remodelação exterior da capela; 1887, 10 de Fevereiro - o Dr. Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão torna-se o 1º Conde de Campo Belo, pela relevância da sua carreira académica e pelo seu contributo científico na área da electrónica, tendo sido um dos precursores da transmissão de imagem à distância. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura dos edifícios, portais exteriores, elementos decorativos das fachadas, fontes, estátuas, bancos e muros de suporte dos socalcos, em granito; portas, janelas e tectos, em madeira; guardas das sacadas e do patamar intermédio, em ferro; coberturas em telha cerâmica de aba e canudo. |
Bibliografia
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CARDOSO, Luís, Dicionário Geográfico, ou notícia histórica de todas as cidades, vilas, lugares, e aldeias, rios, ribeiras, e Serras dos Reinos de Portugal e Algarve, com todas as coisas raras, que neles se encontram, assim antigas, como modernas, Lisboa, 1747-1751; MATTOS, Armando de, Álvaro Anes de Cernache na passagem do 550º aniversário da batalha de Aljubarrota, Museus Municipais e Biblioteca Pública de Gaia, IV, Vila Nova de Gaia, 1935; CARDOSO, Augusto Pedro Lopes, A Casa de Campo Belo, Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, nº 14, Porto, Maio de 1983; CONDE DE CAMPO BELLO, A Casa de Campo Bello: Cenaches, Senhores de Gaia-a-Grande, in História de Gaia, Fascículo nº 13, Vila Nova de Gaia, 1985; PACHECO, Helder, O Grande Porto, Lisboa, 1986, pág. 242; CARITA, Hélder, CARDOSO, Homem, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, 2ª edição, Amadora, 1998; CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com história, Lisboa, 2002. |
Documentação Gráfica
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IPPAR / DRP: Arquivo de Classificações, Processo DRP/CLS - 871 |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN / DSID |
Documentação Administrativa
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IPPAR / DRP: Arquivo de Classificações, Processo DRP/CLS - 871 |
Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - DOF: Paço de campo Belo, incluindo a capela e todo o seu conjunto circundante, nomeadamente os jardins. *2 - O salão nobre, correspondente ao corpo de intersecção das duas alas, possui tecto de masseira de madeira, com florões e quatro lareiras colocadas nos cantos, hoje em dia inutilizadas, restando apenas as chaminés cónicas (CARDOSO, 1983); *3 - Álvaro Anes de Cernache era filho de Fernão Álvares Vieira, aicaide-mor de Trancoso, foi escudeiro de Mem Rodrigues de Vasconcelos, chefe da "Ala dos Namorados" na Batalha de Aljubarrota e participou na conquista de Ceuta, em 1415, onde foi armado cavaleiro; *4 - possivelmente a designação de "paço" atribui-se a passagem e permanência de D. António Prior do Crato (CARDOSO, 1983). |
Autor e Data
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Isabel Sereno / João Santos 1994 / David Ferreira 2004 |
Actualização
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