Casa e Quinta da Bonjóia

IPA.00005549
Portugal, Porto, Porto, Campanhã
 
Casa abastada construída no séc. 18, em estilo barroco, de planta quadrangular, integrando torre numa das fachadas, constituindo uma obra inacabada, à semelhança da Casa da Prelada. Existe na concepção do edifício a definição de um eixo de simetria, tendo sido realizado apenas a ala poente do imóvel. Na fachada nascente são ainda visíveis, arranques, aberturas e as fundações de toda a ala este. Na definição dos espaços exteriores, existe uma extensa balaustrada de remate de um muro de suporte de 98.40 m de comprimento por seis metros de altura. Esta foi a forma encontrada de definir um terraço a S. da Casa, interrompido por uma escada tipicamente nasoniana, localizada exactamente no eixo de simetria da habitação. Outras afinidades estilísticas podem ser referidas entre a Casa de Bonjóia e a da Prelada e do Palácio do Freixo como a coincidência da presença de torres na resolução dos cunhais. Na organização do espaço interior é clara a sobreposição de dois eixos compositivos sobrepostos: um eixo no sentido E. - O. e outro N. - S., princípio de organização empregue por Nasoni no Palácio do Freixo. Estes princípios compositivos eram caros a Nasoni e traduzem o seu espírito barroco na busca de estabelecer a ideia de espaços infinitos definindo fortes eixos visuais. Não é estranho que Robert Smith (1966) no estudo sobre a vida e obra de Nicolau Nasoni tenha atribuído esta Casa como da sua autoria e talvez uma das suas últimas obras
Número IPA Antigo: PT011312030091
 
Registo visualizado 1097 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Casa abastada  

Descrição

A Casa de planta centralizada, com um torreão a SO encontra-se incompleta traduzindo-se apenas na ala O., visto que da ala E. são apenas visiveis as suas fundações. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de 4 águas e tipo tesoura nas águas furtadas. A fachada voltada a N. apenas de um piso mais um de águas-furtadas recuadas, tem quatro janelas rematadas superiormente por frontão interrompido por vieira num desenho semelhante duas a duas. A porta principal no extremo esquerdo é rematada por um grande arco de volta perfeita em pedras rusticadas. A fachada voltada a S., com um torreão no remate SO., tem 3 pisos devido ao desnível do terreno. Possui também uma porta de acesso ao exterior cujos elementos decorativos repetem os do alçado oposto. No piso superior e exactamente no alinhamento desta abertura situa-se uma outra porta de acesso a uma varanda com balaustrada em granito. O torreão eleva-se de mais um piso relativamente ao volume da Casa, ultrapassando ligeiramente o acrescento executado posteriormente onde se situam os quartos do imóvel. Os vãos do torreão repetem as molduras em granito trabalhado à semelhança das do alçado N. e S. Até no piso intermédio existe uma varanda idêntica à já referida com duas portas voltadas para o Douro. A fachada mais empobrecida é a voltada a E., por o imóvel estar incompleto, tendo apenas uma janela no 1º piso e uma porta em arco no r/c. O alçado orientado a O. é caracterizado por uma maior simplicidade no tratamento das molduras dos vãos ( remates rectilíneos ) exceptuando-se as do torreão. O piso acrescentado retira a unidade e simplicidade da cobertura em telhado do imóvel. Apenas o torreão com cobertura de quatro águas e urnas nos cunhais mantém a caracterização original. A organização do espaço interior é baseada em dois eixos compositivos sobrepostos: - um eixo no sentido E. - O. ao nível do r/c, definido por um corredor de 2.70 m de largura em toda a extensão da casa que coincidiria com a chegada das carruagens; - um eixo no sentido N. - S. no 1º piso que une a entrada da casa a N. com uma varanda a S., percorrendo uma sequência de salas. A esta rigidez de concepção contrapõe-se o aspecto dinâmico da escadaria em granito de diversos patamares que liga o r/c ao 1º piso. Apenas nalgumas salas houve a preocupação de dar uma forma específica a cada tecto.

Acessos

Campanhã, Rua da Bonjóia, n.º 185

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-FL/2012, DR, 2.ª série, n.º 252, de 31 dezembro 2012

Enquadramento

Urbano. Quinta implantada numa plataforma elevada, com um morro abrupto a N. Situa-se a N. do Palácio do Freixo, com a entrada principal pelo nº 185 da R. de Bonjóia. Os limites actuais da Quinta são assim definidos a N. pela R. de Bonjóia, a E. pela Estrada da Circunvalação, a S. por um Muro encimado por uma balaustrada de granito e a O. por um pequeno morro ocupado por uma Mata. A entrada principal da quinta insere-se no muro limite da propriedade voltado a N. e faz-se por um portal armoriado encimado pela pedra de armas de D. Lourenço de Amorim Gama Lobo. Entre o portal brasonado e a Casa da Bonjóia, edifício isolado e adossado a um socalco voltando-se sobre o vale do Douro numa clara afirmação volumétrica sobre a paisagem, insere-se um jardim donde se salientam cinco palmeiras.

Descrição Complementar

A solução de adaptar a Casa aos desníveis do terreno originou na definição do terraço a S. um monumental muro de suporte rematado por uma balaustrada em granito. Exactamente no eixo de composição da planta da Casa no sentido N. - S. este muro sofre uma interrupção para encaixe de uma escadaria dupla apoiada num grande nicho em forma de arco.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: edifício residencial

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Nicolau Nasoni (atr.). MESTRE PEDREIRO: Miguel dos Santos

Cronologia

1759, 21 março - Escritura onde o opulento fidalgo D. Lourenço de Amorim Gama declara pretender edificar um Palácio na sua Quinta de Bonjóia; posteriormente a casa e quinta passou a D. Maria da Natividade Guedes Portugal e Meneses, casada com Francisco Brandão de Melo, da Casa da Torre da Marca; 1894 - Coube por partilhas ao conselheiro José Guedes Brandão de Melo; Séc. 19 - Acrescento de um piso na cobertura para instalação de quartos; 1921 - por morte do conselheiro, a casa e quinta passou para seus filhos em partes iguais; a coproprietária, D. Maria José Mimoso Brandão de Melo, adquiriu aos irmãos as respetivas quitas - partes, ficou dona da totalidade da quinta; 1935 - vendeu-a ao Dr. Abílio Augusto Mendes de Carvalho, o qual viria a falecer em 1940; 1987, 18 de dezembro - Despacho de abertura do processo administrativo relativo à classificação; 1990, 4 de janeiro - parecer do Conselho Consultivo do IPPC a propor a classificação como IIP; 1991, 21 de novembro - após reclamação, novo parecer do do Conselho Consultivo do IPPC a propor que se mantenha a homologação; 1992, 20 de janeiro - despacho de confirmação do Secretário de Estado da Cultura; 2009, 25 de junho - nova proposta da DRCNorte para a classificação como IIP; 2009, 15 de julho - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR, I.P.; 2010, 29 de setembro - parecer da SPAA do Conselho Nacional de Cultura. a propor a classificação como CIP e delimitação da respetiva ZEP; 2012, 9 de maio - parecer da SPAA do Conselho Nacional de Cultura a propor a alteração da categoria de classificação para MIP, de acordo com o proposto para casos análogos; 24 setembro - publicação de anúncio n.º 13453/2012, com o projeto de decisão relativo à classificação como MIP a Casa e Quinta da Bonjóia e respetiva ZEP.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores de alvenaria de granito rebocadas; pavimentos em soalho de madeira e em lajeado de granito; paredes interiores rebocadas com acabamento a estuque; tectos estucados e em masseira; Cobertura em estrutura de madeira revestida a telha de barro tipo "lusa" ou aba e canudo; caixilharias em madeira pintada; varandas e guardas em granito.

Bibliografia

COSTA, Pe. Rebelo da, Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto, Lisboa, 1945; FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e, Notícias do Velho Porto: Ainda a Quinta da Bonjóia, O Tripeiro, VI Série, Ano II / nº 7, Porto, Julho 1962, pp. 193 - 194; MACHADO, Coronel Alberto de Sousa, A propósito da Quinta de Bonjóia, O Tripeiro, VI Série, Ano II / nº 7, Porto, Julho 1962, pp. 194 - 196; FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e, Notícias do Velho Porto: A Quinta de Bonjóia, O Tripeiro, VI Série, Ano II / nº 2, Porto, Julho 1962, pp. 33 - 34; SMITH, Robert C., Nicolau Nasoni, Arquitecto do Porto, Lisboa, 1966; QUARESMA, Maria Clementina de Carvalho, Inventário Artístico de Portugal. Cidade do Porto, Lisboa, 1995.

Documentação Gráfica

IPPAR: 82 / 3 (27)

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

IPPAR: 82 / 3 (27)

Intervenção Realizada

Observações

Dada a localização do imóvel na cidade, a sua concepção e alguns elementos decorativos, não excluem a possibilidade de Nicolau Nasoni ser o seu autor. Também o fidalgo Dom Lourenço de Amorim Gama Lobo era então o Prior da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo. Por outro lado o período de construção desta Casa corresponde a uma fase activa deste arquitecto, podendo integrar-se esta obra no grupo de intervenções construídas extramuros do Porto, que pela sua imponência volumétrica destacavam-se na paisagem. Se porventura esta Casa tivesse sido completada estaríamos perante um palácio com uma área superior à do Palácio do Freixo. Julga-se que o piso acrescentado para a instalação dos quartos se deve ao facto de estarmos perante uma obra inacabada. Possivelmente a razão que levou à não conclusão desta Casa terá originado uma grande secura no tratamento e acabamento dos espaços interiores.

Autor e Data

Isabel Sereno 1994

Actualização

 
 
 
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