Colégios dos Meninos Órfãos / Colégio de Jesus / Recolhimento do Amparo

IPA.00006477
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura educativa, barroca e rococó. Recolhimento da Companhia de Jesus de planta irregular, constituido por articulação de corpos, com pátios interiores. Fachada principal rasgada por um portal neo-manuelino com algumas semelhanças formais aos da Igreja da Madalena, Igreja de Chelas e Igreja da Madre de Deus. Na fachada voltada para o pátio um portal rococó encimado por brasão de armas de D. José. Escadaria com paredes revestidas com painéis de azulejos figurativos, azuis e brancos, barrocos, com temática do Antigo e Novo Testamentos.
Número IPA Antigo: PT031106530154
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Assistencial  Recolhimento    

Descrição

Planta irregular, composta por vários corpos paralelepipédicos, longitudinais e transversais, envolvendo pequenos pátios irregulares, organizados segundo um eixo NO.-SE.. Massa de dominante verticalista de volumes articulados. Coberturas exteriores diferenciadas em telhados de 4 águas e terraço. Fachada principal a O., de 4 pisos, o 1º centrado por um portal em arco polilobado com os segmentos rematados por florões, sobre colunelos de bses e capitéis facetados decorados com cordão, entre 2 portas de moldura rectangular, a da dir. adaptada a janela; encima o portal um janelão de sacada, com guarda de ferro, inscrito numa moldura em arco pleno sobre pilastras e decorado no fecho com uma estrela; sobre cada uma das portas laterais uma cornija remata o 1º piso na qual assentam 2 pares de pilastras de ordem toscana que se elevam à altura os 3 pisos seguintes, as periféricas formando cunhais e as centrais dividindo a fachada em 3 panos, sendo os laterais, mais estreitos, vazados por janelas de moldura rectangular, as do 3º e 4º piso de sacada, e no pano central 2 janelas semelhantes mas de maior vão; remate em platibanda sobre cornija proeminente e coroada por gradeamento interrompido por pequenos pilares no eixo das pilastras. INTERIOR: A porta da esq. dá acesso a um corredor que conduz a um pátio interior rectangular, calcetado e preenchido com 3 canteiros de árvores, enquadrado por 4 corpos: 2, opostos, com fachadas de 4 pisos marcados por janelas rectangulares, 1 corpo lateral com varandas corridas de ferro, envidraçadas, igualmente com 4 pisos, e diante deste outro corpo de piso único com 2 portas e 1 janela em arco rebaixado; na fachada do corpo principal, voltada a O., abre-se um portal em arco rebaixado inscrito noutro pleno, com bandeira decorada, sobre pilastras e encimado por pedra de armas com brasão real envolvida por moldura curvilínea e cornija de segmentos curvos rematada por pequeno conopial; por este portal acede-se a um átrio rectangular abobadado de berço, cujas paredes são revestidas de azulejos de composição figurativa, em azul e branco, compondo três painéis alusivos a Abraão e Isaque; na parede E. um arco pleno sobre pilastras, superiormente inscrito num frontão e com pedra de fecho estriada, conduz a escadaria de 8 lanços e 9 patamares abobadados de berço e aresta, cujas paredes são igualmente revestidas por painéis de azulejos com temática do Velho Testamento (6 primeiros lanços e patamares) e Novo Testamento (nos seguintes). Ao nível do 3º piso há outro pátio interior com alguns arbustos e árvores no qual se abre uma passagem com escadas sob túnel abobadado que conduz a outro pátio com uma fonte de mármore cujo espaldar é revestido por um painel de azulejos representando o Menino Jesus ladeado por 10 crianças que transportam cântaros.

Acessos

Rua da Mouraria, n.º 64

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986 *1 / Incluído na Zona de Proteção da Capela de Nossa Senhora da Saúde (v. IPA.00003033)

Enquadramento

Urbano. Integra a periferia do casco antigo do bairro da Mouraria. Adossado e circundado por edifícios de 3 e 4 pisos. Frontaria à face do passeio antecedida por 4 frades de pedra. Defronte da Igreja de Nossa Senhora da Saúde (v. PT031106310178).

Descrição Complementar

AZULEJO: Átrio e escadaria com revestimento azulejar de composição figurativa, em monocromia, azul em fundo branco, formando silhares recortados na parte superior e ilustrando, em 41 painéis, temas do Antigo Testamento (32 painéis) e do Novo Testamento (9 painéis). Uma inscrição inserida em cartela na parte superior de cada um dos painéis identifica os temas representados. Todos os painéis são delimitados por motivos ornamentais arquitectónicos e vegetalistas, tendo na parte inferior cartela formada por frutos diversos e enrolamentos de folhagem. 1. Átrio: 3 painéis com cenas do Antigo Testamento: Painel de 21,5 (na parte mais alta) x 19 azulejos; inscrição: SACRIFICIO DE ISAAC. Painel de 21,5 (na parte mais alta) x 35 azulejos; inscrição: BENÇÃO DE ISAAC A SEU FILHO JACOB. Painel de 21,5 (na parte mais alta) x 36 azulejos; inscrição: VITÓRIA DE ABRAÃO EM HOBA. Primeiro patamar: 3 painéis com cenas do Antigo Testamento: Painel de 16,5 (na parte mais alta) x 13 azulejos; inscrição: SONHO DE JACOB. Painel de 16,5 (na parte mais alta) x 13 azulejos; inscrição: NASCIMENTO DE JOSÉ DO EGIPTO. Escadaria de acesso ao primeiro andar: dois painéis de 14 (na parte mais alta) x 22 azulejos; Painel (à esquerda de quem sobe) com inscrição: ÓDIO DOS IRMÃOS DE JOSÉ; painel (à direita de quem sobe) com inscrição: JOSÉ VENDIDO NO EGIPTO. Segundo patamar: 2 painéis de 16,5 (na parte mais alta) x 13 azulejos com as seguintes inscrições: 1º painel: FIDELIDADE DE JOSÉ DO EGIPTO; 2º painel: CASTIGO DE DEUS A FARAÓ; Escadaria de acesso ao terceiro andar: 2 painéis de 13,5 (na parte mais alta) x 22 azulejos; painel (à esquerda de quem sobe): inscrição: POR INTERCESSÃO DE MOISÉS CONVERTE DEUS A ÁGUA SALGADA EM ÁGUA DOCE; painel (à direita de quem sobe): inscrição: NAUFRÁGIO DE FARAÓ E DE TODO O SEU EXERCITO PROSSEGUINDO O POVO DE ISRAEL. Terceiro patamar: 2 painéis de 16,5 (na parte mais alta) x 22 azulejos com as seguintes inscrições: 1º painel: ORANDO MOISÉS NO MONTE VENCE JOSUÉ AOS AMALECITAS; 2º painel: FRUTO DA TERRA DE PROMISSÃO.

Utilização Inicial

Assistencial: recolhimento

Utilização Actual

Assistencial: centro de dia / Residencial: edifício / Segurança: posto da Polícia da Segurança Pública (PSP) / Desportiva: clube desportivo

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 13 / 16 / 18 /20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1273 - fundação do primitivo Colégio para meninos orfãos, pela Rainha D. Brites, mulher de D. Afonso III; 1549 - D. Catarina fundou-o de novo e reformou-o, a instâncias do padre catalão Domence, com a designação de Colégio dos Meninos Orfãos e sob invocação de Nossa Senhora de Monserrate, destinado a albergar 30 meninos pobres que recebiam instrução que os preparava para as missões religiosas de África e do Brasil; 1570 - realiza-se a 1ª procissão de Nossa Senhora da Senhora da Saúde, cuja imagem se guardava no Oratório do Colégio; 1661 - a imagem de Nossa Senhora da Saúde é transferida para a então capela de São Sebastião, que lhe ficava quase defronte, a partir de então designada por Capela de Nossa Senhora da Saúde; sé. 17 - toma o nome de Colégio de Jesus, por aí existir uma confraria do Menino Jesus; 1754 - obras mandadas executar por D. José, por o edifício se encontrar em mau estado; 1755, 01 novembro - o terramoto provoca muitos estragos no edifício arruinando parte do núcleo construído no ano anterior, tendo sido posteriormente restaurado; 1758 - o Colégio foi confiscado à Companhia de Jesus, passando a ser administrado pelo Tribunal da Mesa da Consciência; 10 setembro - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco da freguesia de São Cristóvão, Joaquim Salter de Mendonça, é referido o Recolhimento do Amparo, que ficou com a capela da igreja bastante danificada, assim como a fachada principal, na sequência do terramoto de 1755; 1814 - instala-se o Recolhimento do Paraíso para mulheres e o Colégio dos Meninos Orfãos é anexado à Casa Pia da Correcção da Corte, instalada desde 1812 no Desterro; 1834 - o edifício é ocupado pela Sede da Sociedade Farmacêutica e por um estabelecimento comercial no piso térreo, após o Recolhimento do Paraíso ter sido transferido para o Convento do Grilo; 1859 - a abertura da nova Rua da Palma implicou a demolição de uma Ermida dedicada a Nossa Senhora da Guia, tendo a sua imagem sido recolhida no oratório do antigo Colégio, que passou desde então a ser conhecido como "Ermida da Senhora da Guia" ou do "Amparo", denominação que perdurou até 1885; 1907 - o edifício deixou de ter a função de Ermida, tendo a imagem sido transferida para a Igreja da Madalena e o imóvel passou para a Federação de Associações de Socorros Mútuos; 1910 - após a implantação da República instalaram-se várias associações, a Comissão Central das Juntas de Freguesia, repartições de serviços públicos e uma esquadra de polícia, o que levou à realização de várias obras, alteração do pátio interior e transformação de uma das portas da fachada principal em janela; 1975 / 1979 - Os azulejos do átrio e escadaria estão em muito mau estado, e alguns partidos e retirados, e as paredes deterioradas; 1980 / 1994 - o edifício foi ocupado pela Junta de Freguesia do Socorro, Dispensário Materno-Infantil da Mouraria, Montepio dos Ferroviários, INATEL, Cofre de Previdência das Forças Armadas, esquadra da P.S.P. o Depósito do Tribunal de Contas e pelo o Centro de Saúde do Castelo; 1990 - infiltrações de águas pluviais, que inundam certas dependências e o andar inferior; 2003, 30 Dezembro - foi dissolvido o Montepio Ferroviário; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Estruturas autoportantes.

Materiais

Cantarias de calcário, alvenaria mista rebocada, ferro, azulejo, madeira, vidro, telha.

Bibliografia

ALMEIDA, Fernando de, (dir.), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Tomo I, Lisboa, 1973; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livro III, Lisboa, s.d.; ARAÚJO, Norberto de, Arquivo Pitoresco, Semanário Ilustrado, vol. V, Lisboa, 1862, pp. 357-358; Comissariado Geral das Comemorações, Inatel, Braga, 2005; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974; O Colégio dos Meninos Órfãos na Mouraria, V Centenário do Nascimento de São Francisco Xavier, 1506-2006; PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal, vol. I, Lisboa, 1924; SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994, pp. 290-291.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSARH, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DREL/DEM, DGEMN/DREL/DRC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1949 - obras para evitar infiltrações de água no balneário do ginásio; 1975 / 1976 / 1977 / 1978 - preservação dos painéis de azulejo que decoram as escadas de acesso aos vários pisos do edifício; 1989 / 1990 - obras de beneficiação na fachada principal e coberturas; limpeza de painéis de azulejo; remodelação da instalação eléctrica da escadaria; 2005 - Instalação dos contadores de gás que conduziram a abertura de buraco na fachada principal entre as portas e posterior substituição dos blocos de pedras; arranjo da porta de madeira (moradores).

Observações

*1 - DOF: Antigo Colégio dos Meninos Órfãos, Recolhimento do Amparo.

Autor e Data

João Silva 1992 / Lina Oliveira 2004

Actualização

Lina Oliveira 2005
 
 
 
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