Cerca do Antigo Convento dos Carmelitas Descalços da Província de Portugal / Mata Nacional do Buçaco
| IPA.00007004 |
Portugal, Aveiro, Mealhada, Luso |
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Paisagem cultural - cerca conventual. Microclima particular que favorece o desenvolvimento luxuriante da vegetação, em que inúmeras espécies atingem um desenvolvimento notável, estabelecendo um contraste significativo com a envolvente (menor diversidade favorecida pela monocultura). Apresenta uma das melhores e mais majestosas colecções dendrológicas da Europa (Paiva, 1987). Há uma integração na paisagem do património edificado como elemento ao serviço de um programa religioso, revelando simultaneamente quer na traça arquitectónica como nos materiais utilizados, um estilo austero, simples e rústico, sendo características as decorações com embrechados de quartzo branco e jorrá negra, revestimentos de cortiça, pavimentos calçados com seixos e cantarias em aparelho tosco. Este foi o único deserto do género que existiu em Portugal. Julga-se que a composição do edificado e sua distribuição, se processa segundo o que se passava na Cidade Santa de Jerusalém (Varela, 2004). |
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Número IPA Antigo: PT020111040014 |
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Registo visualizado 2583 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Religioso Cerca
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Descrição
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1. CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA - 1.1. ELEMENTOS GEOMORFOLÓGICOS: Relevo: A serra do Buçaco (de morfologia estreita e alongada) estende-se de NW para SE (11 km). As cotas de maior altitude encontram-se numa área relativamente plana junto à porta do Telégrafo da cerca do Buçaco (568 m). A partir deste local, a altitude decresce para SE em direcção ao vértice geodésico de Peniceira Grande (com 440 m de altitude) e para NW (onde se encontra a cerca do Buçaco). A cerca que delimita a mata corresponde à linha divisória de águas (sobretudo a S e a E da cerca). A altitude intra-muros decresce de SE na porta do Telégrafo (560m) para NW na porta do Luso (235m). O relevo muito acidentado é marcado por um vale profundo (vale dos Fetos), onde encaixa um afluente da ribeira da Vacariça. A S deste vale existe uma pequena plataforma, relativamente plana onde se encontra o hotel. Declives: Os declives são muito elevados na mata do Buçaco. Os mais acentuados variam entre 25º e 70º, localizando-se principalmente na área adjacente ao muro que vai desde a porta da Cruz Alta até à porta das Lapas, inflectindo desta para NE (para a vertente N do vale dos Fetos). Por outro lado os menores declives localizam-se: junto ao hotel do Buçaco; próximo da porta do Telégrafo; no fundo do vale dos Fetos e em rechãs; junto às portas do Luso e Coimbra (com valores que rondam os 0 e 5º de inclinação). Exposição de Vertentes: As vertentes encontram-se principalmente expostas a N e NW. A margem N do vale dos Fetos, designada por Costa do Sol, constitui uma das excepções pois exposições a S/SW propiciam uma maior radiação solar. Rede hidrográfica: A principal linha de água (afluente da ribeira da Vacariça) nasce junto à porta do Sula (a E), encaixa no vale dos Fetos (com orientação SE - NW - SW), atravessando grande parte da mata e por fim passa junto à porta das Lapas a W. As restantes nascentes e linhas de água ou desaguam neste colector principal ou encontram-se canalizadas e convertidas em fontes. Este recurso também é aproveitado para o abastecimento nas estufas, jardins, casas de guarda e hotel. Geologia: Formações datadas entre as Eras do Pré-câmbrico (período do Proterozóico Superior - com inicio há 2500 M. a.) ao Mesozóico (período do Cretácico - inicio há 145 M. a.). Nas duas principais falhas encaixam as linhas de água do vale dos Fetos (a N) e do vale do Carregal (a S). A primeira falha (a N) passa aproximadamente, pela porta do Serpa, para S até ao vale dos Fetos e deste inflecte novamente para N, até à porta da Rainha, delimitando o Complexo Cristalofílico (mais antigo) do período do Proterozóico (vertente N do vale dos Fetos). A segunda falha (a S) é, na realidade, um prolongamento da primeira, que se subdivide junto à porta do Serpa e inflecte para SE (paralelo à cerca), passando junto à ermida do Calvário até à porta do Telégrafo (aproximadamente). Esta falha delimita duas unidades geológicas: a área de Metarenitos do período do Ordovícico inferior (com inicio há 510 M. a.), que vai desde a porta das Lapas até à porta da Cruz Alta e a unidade de Conglomerados e Arenitos do período do Cretácico, situada entre a porta da Cruz Alta e a porta do Telégrafo. Entre estas duas falhas encontram-se Conglomerados, Arenitos e Pelitos, datados do período do Carbónico Superior (com inicio há 363 M.a.), abrangendo uma faixa central da mata, entre a porta do Sula, passando pelo Palace-Hotel até à porta do Luso (Sequeira, 2004). Solos: Os solos dividem-se em litólicos húmicos e não húmicos de baixo pH (4/5). Os quartzitos correspondem de uma forma geral a solo litólico húmico. O substrato geológico da cerca sofre uma intensa meteorização física. A acção química é reduzida pelo que os solos são geralmente pouco profundos e dependendo da rocha mãe, variam entre uma textura média a grosseira (solos pedregosos associados a afloramentos rochosos). Na Costa do Sol (parte N da cerca) é mais fácil encontrar um solo mais espesso (cor clara), com fraca agregação e acompanhado de cascalho e pequenos calhaus. Na envolvência da Cruz Alta, o solo apresenta uma maior agregação, material mais grosseiro e pH mais baixo (cor escura). 1.2. CLIMATOLOGIA : A serra do Buçaco caracteriza-se por um microclima ameno, húmido e temperado (Paiva, 1987). Segundo dados recolhidos na estação climatológica do Buçaco (entre 1926-42), os maiores valores de insolação registam-se nos meses de Junho, Julho e Agosto (224, 276 e 221 horas mensais respectivamente) (Santos, A. 1993). A temperatura máxima média regista-se em Agosto (cerca de 27º C), ocorrendo em Janeiro a temperatura mínima média (cerca de 5º C). Durante 67 dias ocorrem temperaturas superiores a 25º C e somente durante 4 dias são inferiores a 0º C. A amplitude térmica anual é por isso relativamente baixa. Embora as ocorrências de neve, saraiva e granizo sejam raras, entre Novembro e Março ocorrem cerca de 20 dias de geada. A humidade relativa apresenta valores entre 71% (Agosto) e 88% (Novembro), relacionando-se directamente com a presença de vegetação. A evaporação média anual é de 800 mm, sendo mais intensa no Verão (quando o déficit de saturação é maior). De modo inverso, a precipitação distribui-se pelos meses de Outono e Inverno, registando-se no Verão os meses secos. Os valores de precipitação oscilam entre Agosto (20 mm) e Dezembro (225 mm), num total médio anual de 1500 mm. Ainda que a incidência de nevoeiros seja constante ao longo do ano a sua maior frequência coincide com os meses mais quentes (de Junho a Setembro), ocorrendo nas áreas de maior altitude, sobretudo durante a noite e o início das manhãs (devido à sua natureza orográfica). Os ventos sopram predominantemente de NW e de SE. 1.3. VALORES BIÓTICOS: Flora: Na mata do Buçaco, a vegetação autóctone já dispunha de características únicas (com uma baixa diversidade e um porte pouco frondoso), restando alguns vestígios desta floresta junto à Cruz Alta. Na floresta primitiva o predomínio seria de carvalhos (Quercus), pontuados por castanheiros (Castanea sativa), aveleiras (Corylus avellana), azereiro (Prunus lusitanica), entre outras. Embora seja difícil determinar o ano da introdução de espécies exóticas, diversos registos indicam que precede a fixação dos Carmelitas Descalços (1628). Introduzido no inicio do sec. 17, o cedro-do-Buçaco (Cupressus Lusitanica) originário da América central (México) é a espécie mais emblemática da mata devido à sua adaptação (encontra-se um exemplar de 1644 junto à ermida de São José). Algumas espécies exóticas presentes na mata: Araucariáceas - pinheiro-de-bunya (Araucária bidwillii), pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia), araucária-colunar (Araucaria columnaris), pinheiro-de-damara (Agathis robusta); Pináceas - pinheiro-bravo (Pinus pinaster), pinheiro manso (Pinus pinea), pinheiro-da-casquinha (Pinus sylvestris), pinheiro negro (Pinus nigra), pinheiro das Canárias (Pinus canariensis), pinheiro do himalaia (Pinus roxburghii) e várias espécies de abetos; Taxodiáceas - Sequóias (Sequoia sempervirens e Sequoiadendrum); espécies lenhosas de Portugal - o aderno (Phillyrea latifolia), o medronheiro (Arbutus unedo), o folhado (Viburnum tinus), loureiro, (Laurus nobilis), torga (Erica arborea), azevinho (Ilex aquifolium), pereira brava (Pyrus bourgaeana) (Paiva, 2004). Fauna: Em 1905, Seabra realizou um inventário da fauna da mata, onde identificou 23 espécies de mamíferos, 80 de aves, 10 de répteis, 9 de anfíbios, 5 de peixes, 22 de moluscos e 134 de borboletas. Destaca-se a ocorrência da lontra (Lutra lutra), e da salamandra-de-cauda-comprida (Chioglossa lusitanica) espécies raras no contexto ibérico e europeu (Paiva, 1987). Sistema de vistas: O coberto arbóreo, diversificado e abundante, reduz naturalmente o sistema de vistas. No entanto, o relevo acidentado favorece em locais de maior altitude a observação da mata e da envolvência. A Cruz Alta (um dos sítios de maior altitude na mata), assim como o Passo de Caifás localizam-se no topo de vertentes com um elevado declive, possibilitando uma vista privilegiada para W, em direcção ao Luso, Vacariça, Mealhada e Pampilhosa, onde se destacam alguns elementos dominantes na paisagem, como: a linha-férrea, algumas vias rodoviárias, o povoamento disperso por toda a área envolvente, o rio Cértima, as manchas de vegetação circundante e as serras do Caramulo e da Boa Viagem. As capelas de Santo Antão, Sepulcro e Calvário estão também localizadas em vertentes com declive acentuado. Destes locais consegue-se observar o Palace-hotel do Buçaco, destacando-se a vegetação da mata pela sua diversidade em contraste com a vegetação circundante (monocultura). 2. CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS ANTRÓPICOS - 2.1. PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO: A mata é contornada por um muro composto por 11 portas. As portas de Coimbra (assim designadas por se encontrarem orientadas para esta cidade), edificadas no século 17, constituíam a antiga portaria do convento, que com a Porta da Rainha (a NE) perfazem as entradas mais antigas da mata. As portas de Sula (a NE), da Cruz Alta (a SE), do Luso (a NO), das Ameias (a mais próxima das Termas do Luso), das Lapas, do Serpa (a N), dos Degraus, de São João e do Telégrafo (a SE), edificadas entre os séculos 19 e 20, têm características arquitectónicas distintas das primeiras, resultantes da época e objectivo da sua construção. As portas de Coimbra, da Rainha e de Sula têm ambas estruturas em arco com embrechados. Por outro lado destacam-se a porta dos Degraus e a de São João, pequenas e modestas entradas na mata (tal como seria a do Telégrafo). Somente as portas das Ameias, da Rainha e da Cruz Alta, comunicam com a rede rodoviária exterior (EN 234, 235 e 336), sendo permitido o acesso pedonal nas restantes. A porta do Telégrafo e das Lapas encontram-se actualmente encerradas. As casas dos guardas da mata, edificadas no fim do séc. 19 início do séc. 20, apresentam uma estrutura tipológica semelhante, decorrente do facto de serem do mesmo autor. O convento e o palácio (v.PT0201111040006 e PT020111040001), localizados no centro da mata, estão rodeados por jardins de buxo, geometricamente desenhados, pontuados por lagos, fontes e pérgulas. A via-sacra (v. PT0201111040006) representa o percurso efectuado por Jesus Cristo para o calvário e a sua crucificação. Na mata do Buçaco o paralelismo com Jerusalém é evidente, principalmente, na relação das capelas espalhadas pela mata e a morfologia do terreno. O passo do Horto inicia um percurso (2840 m de comprimento e 105 m de ascensão) cuja dificuldade é gradualmente acentuada até ao Sepulcro, sendo no entanto, compensado pelo enquadramento cénico deste último passo. Os passos são geralmente de planta quadrangular de fachadas simples e coberturas em telha de forma piramidal rematadas por pequena cruz e ornatos singelos. Ainda no século 17 são construídas onze ermidas (v. PT0201111040006) possuidoras de oratório, sacristia, espaço para repouso e casa de fogo para aquecimento e preparação de refeições, campanário com sineta, bem como pequenos jardins com alegretes e uma cisterna. As capelas devocionais estão um pouco por toda a área da mata mas situam-se quase sempre na proximidade de uma fonte que a abastecia de água para serviços domésticos e rega do jardim (Araújo, 1962). A decoração das edificações, na maioria das vezes, reflecte-se na utilização de embrechados, nos quais é empregue uma mistura de seixos, quartzo branco, jorrá negra e conchas, que nas ermidas representa o cenário da Caverna de Elias (Varela, 2004). Também foram sendo inseridas na paisagem várias fontes, aproveitando o elevado número de nascentes e linhas de água existentes no Buçaco. Estas construções eram, como todas as restantes, dedicadas aos santos da devoção carmelítica. Dos fontanários e lagos destaca-se a Fonte da Samaritana, de planta rectangular e coberta por abóbada semi-circular e a Fonte Fria composta por uma escadaria com dez lances e igual número de patamares, que termina num pequeno lago. Ainda se encontram com estilos arquitectónicos distintos a Fonte de Santa Teresa, a do Carregal, a de São Silvestre e a de São Elias. No vale dos Fetos localiza-se o lago Grande. Os cruzeiros são também um elemento marcante na paisagem, destacando-se o cruzeiro da Cruz Alta pela sua arquitectura, posição geográfica e altitude, que propicia um sistema de vistas privilegiado, tornando-o no miradouro mais conhecido de toda a mata. Os restantes cruzeiros são: o cruzeiro do Marquês da Graciosa (no centro Oeste da mata, isolado entre a porta das Lapas e a porta do Serpa); o cruzeiro do convento (em frente do mesmo, no centro da mata) e o cruzeiro das portas de Coimbra (num largo junto a esta porta). 2.2. OUTROS ELEMENTOS ANTRÓPICOS: O turismo, alicerçado no elevado valor ecológico e cultural da mata, constitui a principal actividade aqui desenvolvida. Decorrente deste facto a população é flutuante, exceptuando os guardas florestais e respectivas famílias, que residem nas casas de guarda da Feteira e do Forno do Tijolo. Entre a porta da Rainha e as portas das Ameias e do Serpa uma via principal atravessa a mata, passando junto ao Palace-hotel e à ribeira do vale dos Fetos. A avenida do Mosteiro, que liga o convento às portas de Coimbra, destaca-se não só por ser uma das vias mais antigas na mata, mas também por ter um declive quase nulo. Uma densa rede de trilhos e caminhos de pé-posto percorre a mata. Destes realçam-se: o percurso da Via-sacra (v. PT0201111040006) entre o passo do Horto, localizado a NE. do Palace-hotel, e o passo do Sepulcro, junto à Cruz Alta; e o trilho que vai da porta das Lapas até à Fonte Fria, paralelo à ribeira do vale dos Fetos (que lhe concede um enquadramento cénico notável). Ao longo deste percurso elementos como a Fonte Fria, os lagos Grande e Pequeno e a ribeira proporcionam um espaço de elevado conforto bio-climático, aliado a um coberto vegetal exuberante, que proporciona áreas de sombras, óptimas para o retiro e lazer. Os restantes trilhos estabelecem a ligação entre as capelas, fontes e cruzeiros, dispersos pela mata e as portas/casas de guarda. |
Acessos
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EN 234, Mealhada - Mortágua; EN 235, Luso - Penacova. A 19 Km de Coimbra. |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional / ASA - Área de Sensibilidade Arqueológica, Decreto n.º 5/2018, DR, 1.ª série, n.º 10/2018 de 15 junho 2018 *1 / RAU - Restrições Arquitetónicas e Urbanas, Portaria n.º 44/2018, DR, 2.ª série, n.º 13 de 18 janeiro 2018 |
Enquadramento
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A Mata do Buçaco está situada entre os paralelos 40º 22' 52,8'' e 40º 22' 08,6'' N e os meridianos 8º 22' 36'' e 8º 21' 31,5'' O. Localizada no extremo NO da serra do Buçaco, a Mata é circundada por um muro de 5.074 m de extensão (área de 104 ha) e uma altura média de 2,5 m. O comprimento máximo é de 2000 m entre a porta do Luso e a porta do Telégrafo e a largura é de 830 m entre a porta da Rainha e a porta de Coimbra. A ligação entre a mata do Buçaco e a rede viária exterior efectua-se pelas portas do Serpa, da Rainha e da Cruz Alta através da EN 234 (Praia de Mira/Mealhada/Cerca do Buçaco/Santa Comba Dão/Mangualde) que na Mealhada liga à A1 e em Santa Comba Dão ao IP3. A porta das Ameias liga ao IP3 através da EN 235 (Penacova/Cerca do Buçaco/Anadia), que próximo do Luso liga à EN 336 Águeda / Buçaco / Pampilhosa). Integra o Perímetro Florestal da Serra do Buçaco e beneficia da proximidade das estâncias termais do Luso e da Curia. No coração da Mata do Buçaco destaca-se o Palace Hotel do Buçaco (v. PT02011104000) e o Antigo Convento de Santa Cruz do Buçaco e Via Sacra na Mata do Buçaco (v. PT020111040006). |
Descrição Complementar
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A ARTE PAISAGISTICA DO BUÇACO: O relevo da serra do Buçaco, bem como a sua vegetação e abundância de água fizeram deste o local eleito pela Ordem dos Carmelitas descalços, para fundarem o seu ermitério, em 1628 (Araújo, 1962). Este lugar evocava a memória de Palestina Bíblica, mais precisamente do Monte Carmelo, que se encontra relatado nas crónicas como um paraíso na terra, repleto de flores, árvores e frutos (Varela, 2004). Segundo o P.e Carvalho da Costa e acerca desta ordem..." Em as constituições destes religiosos há um capítulo que lhes manda que tenham um convento, onde se guarde a vida cenobítica e juntamente vida eremítica, para evitar os inconvenientes que tem uma e outra separadas". Dois anos mais tarde foi erguido um convento (v. PT020111040006), envolto por um muro de grandes dimensões, fechando o ermitério sobre si mesmo, modificando significativamente a paisagem. A ligar a Porta de Coimbra ao convento foi construída uma avenida ladeada por quatro capelas (Araújo, 1962). Em meados deste século é construída a Via-sacra (v. PT020111040006). Ao longo deste percurso também se encontram representações de importantes referências da Jerusalém bíblica, como disso constitui exemplo as Portas de Siloé. Mais tarde ergueram-se construções que albergavam a vida eremítica afastada da comunidade, sendo de salientar a plantação de pequenos jardins nas suas imediações, ladeados por muros com alegretes, o que nos demonstra uma a dedicação desta ordem à estética da paisagem (Andresen e Marques, 2004). As necessidades em água levaram à existência de uma grande profusão de fontes, que alimentavam as 11 ermidas já existentes e os seus jardins. Tal como a maioria do restante edificado são ornamentadas com embrechados (Araújo, 1962). A situação de algumas capelas e ermidas demonstra bem a importância dada pelos carmelitas à contemplação da natureza, localizando-as em locais estratégicos, tirando partido das vistas. Ainda segundo o P.e Carvalho da Costa, " para que o sítio do deserto seja sempreaprazível e apto para a oração, será obrigado o prior a pôr de novo cada ano árvores silvestres…" (Araújo, 1962). Este excerto testemunha o empenho desta ordem na florestação dos seus ermitérios, o que era no caso do Buçaco uma necessidade, já que este local tinha sofrido um violento incêndio no verão de 1630. Esta arborização foi efectuada de uma forma criteriosa, não só no que diz respeito à biodiversidade (além das espécies indígenas foram também introduzidas espécies exóticas), como à sua localização na paisagem (maior densidade em locais de estadia). Como afirma Ilídio de Araújo "Algumas espécies estranhas à região eles aí introduziram, não ao acaso ou com critério errado como posteriormente se fez, mas com exacto sentido estético e perfeito conhecimento da Arte e da Natureza (Araújo, 1962). Com a extinção das ordens religiosas (1834) a cerca fica praticamente ao abandono, sendo descrita, vinte e dois anos mais tarde pelo Administrador Geral das Matas do Reino como uma mata abandonada, com o edificado em ruínas, coberto de silvas, com os caminhos obstruídos, e o sistema de condução de águas destruído, sendo precisas grandes obras para lhe devolver o aspecto que tinha tido até à expulsão da Ordem dos Carmelitas Descalços. A partir de 1856 a gestão da mata do Buçaco passa para a Administração Geral das Matas do Reino. Neste ano começam as obras de restauro e são feitos os primeiros esforços de rearborização. Vingava o espírito oitocentista em que se procuravam concretizar paisagens românticas de celebração da natureza, representadas em pinturas - o pictoresco. É segundo este espírito que se recolhem do estrangeiro uma quantidade representativa de novos dados relacionados com interesse pela diversidade das plantas e pela arte de fazer paisagem. A introdução de sementes e plântulas de espécies exóticas, provenientes do Jardim Botânico de Coimbra está de acordo com o espírito da época. Estas novas correntes são visíveis neste excerto do "Relatório Acerca da Arborização geral do Paíz" (1868). A mata do Buçaco é um exemplo bem frizante de uma vegetação luxuriante e que prova que n'aquella região tudo é possível à cultura florestal...as essências folhosas também ali crescem muito bem, sobre tudo o carvalho; e ultimamente bastantes espécies exóticas se têem ensaiado nos viveiros, muitas das quaes já hoje povoam a mata, onde parecem aclimatar-se perfeitamente (Andresen e Marques, 2004). Foi ainda este espírito que levou mais tarde (1888) Ernesto de Lacerda, Administrador do Buçaco, aos viveiros Gand e Angers, em Paris, donde importou uma valiosa colecção de sementes e plantas ornamentais (Santos, 1993). O interesse da família real marcou profundamente o futuro da mata do Buçaco, sendo visitado em 1852, pela rainha D.Maria II, o rei consorte D. Fernando II (criador do Parque da Pena - Sintra) e pelos príncipes D. Pedro e D. Luís. Em 1877, seria também visitado pela mulher de D. Luís, rainha D. Maria Pia de Sabóia e seus filhos, D. Carlos e D. Afonso. Após a visita de D. Maria Pia, o Buçaco foi alvo de obras de restauro na Fonte fria, procedeu-se à construção do chalet e de uma queda de água (a cascata junto à fonte de S. Silvestre) e supõem-se que, também de vários lagos e de uma feteira (Andresen e Marques, 2004). Dez anos após a sua visita, D. Maria Pia pretende fazer do antigo ermitério, que constituía por si só uma paisagem de estilo romântico (Andresen e Marques, 2004), um grande parque (tentando recriar os princípios da Pena no Buçaco). Numa intenção inovadora, encomenda à firma G. Roda e Figli um projecto, que contemplava edificações para lazer e desfrute do parque, como pavilhões, um restaurante, um quiosque, gaiolas para pássaros, um aquário para peixes, grutas para animais selvagens e um jardim inglês a executar na proximidade do convento que contava também com um jardim formal com o desenho de uma rosácea. Previa ainda um embelezamento da Fonte Fria e da Fonte do Carregal. Este projecto não foi no entanto executado, sendo construído entre 1888 e 1907 um hotel ao estilo Neo-manuelino, de Luigi Manini, cuja arquitectura foi inspirada na Torre de Belém e nas arcadas do Mosteiro dos Jerónimos (Santos,1993). A construção deste hotel implicou a destruição de parte do convento, rompendo com a sua escala. Foi então construído um jardim formal, junto ao palácio, inspirado na proposta por G. Roda e Figli. O Buçaco adquiriu assim um cariz turístico expresso na citação de Suzanne Chantal..." Foi desde logo uma moda. Ia-se ao Buçaco para ver e ser visto. Tanto mais agradável quando é certo que era elegante ir às águas (Luso e Cúria)...quando o tempo o permitia, o serviço (do hotel) fazia-se na 'floreira' aberta sobre os jardins e a mata. ...(na cerca) organizavam-se passeatas, burricadas ou em trem até à cruz alta...Os jardineiros trabalhavam os buxos novos. Uma glicínea enrolava-se nos arcos de pérgola em forma de meia lua...nas noites de luar, uns aventuravam-se, a pé, até às portas de Coimbra" (Andresen e Marques, 2004). Actualmente a sua fruição como espaço turístico, reflecte a riqueza qualificativa das intervenções efectuadas no seu passado.Do património cultural da Mata destaca-se a Via-Sacra. Este conjunto de capelas constitui mais do que uma representação alegórica do percurso de Jesus Cristo desde o Horto até ao Calvário, a sua implantação procura recriar na paisagem os últimos passos de Jesus antes da crucificação transmitindo a ideia do penoso percurso. Deste modo a localização das capelas foi criteriosamente escolhida, considerando não só a orografia do Buçaco, mas também as características da sua localização em Jerusalém ou arredores (por exemplo a relação entre o grupo escultórico do passo de Cedron e a Barroca do Jordão). Assim, nos últimos Passos, à medida que o sofrimento de Cristo aumenta, também se torna mais difícil ascender ao Passo seguinte (localizados na área de maior altitude da mata). A edificação da Via-Sacra também beneficiou do espaço da Mata, no sentido em que foi possível adicionar mais 5 Passos aos tradicionais 14, além de outros elementos simbólicos (tais como as Portas de Siloé e a Varanda de Pilatos). INSCRIÇÕES: PORTAS DE COIMBRA:1. Inscrição com a tradução da bula do Papa Gregório XV gravada numa lápide; moldura de 12,5cm, apresenta-se lascada inferiormente; sinal com 6 cm de diâmetro; sulcos das letras pintados a sépia; calcário; Dimensões: 125,5x181,5; Campo Epigráfico: 160x104; Tipo de Letra:librária do séc. 17 com algumas iniciais capitais quadradas; Leitura: GREGÓRIO PAPA XV Para perpétua memória O procurador geral de Carmelitas Descalços da Congregação de Espanha nos fez saber que a dita congregação em todas as províncias têm uma Casa de Ermo na qual os religiosos se dão à oração e contemplação e para que este pio instituto mais crescesse e se evitassem perigos e escândalos se precavia nas constituições da dita ordem não pudessem entrar mulheres em o sítio assinado por clausura das ditas casas. Porém como o dito procurador desembargou para que isto mor se guarde em que lhe demos oportuna providência. Nós querendo condescender com os desembargadores do dito procurador e absolvendo-o pelas presentes letras de qualquer excomunhão. Inclinado às suplicas que em seu nome se nos fez para que as mulheres de qualquer estado ou condição que sejam se não atrevam ou presumem entrar no sítio assinado por clausura das ditas casas de autoridade apostólica o proíbimos sob pena de excomunhão maior lat. set.. A qual incorrerão assim as ditas mulheres como todos aqueles que de qualquer modo as introduzirem não obstante quaisquer constituições apostólicas em contrário. Queremos que a cópia da presente se exponha em uma tábua à entrada das ditas casas onde possa ser vista. Dada em Roma em Santa Maria Maior debaixo do anel do pescador a XXIII de Julho de MDCXXII. Loco (sinal ) Sigilli . Henri de la Plumi. 2. Inscrição com a tradução da bula do Papa Urbano VIII gravada numa lápide; moldura de 11,5 apresenta-se lascada; sulcos das letras pintados a sépia; sinal com 6,5 cm de diâmetro; calcário; Dimensões: 129x179,5; Campo Epigráfico: 110,5x160; Tipo de Letra:librária do séc. 17 com algumas iniciais capitais quadradas; Leitura: URBANO PAPA VIII PARA PERPÉTUA MEMÓRIA Querendo Nós quanto no senhor podemos atender a conservação e retenção das árvores do convento de Santa Cruz do Bussaco, de Carmelitas Descalços, do bispado de Coimbra, e fazer especiais graças e favores ao prior e mais religiosos dele absolvendo-os sob para o efeito das presentes de quaisquer sentenças de excomunhão etc. Proibimos sob pena de excomunhão ipso facto incorrendo, que daqui em diante nenhuma pessoa de qualquer autoridade que seja, se atreva sem licença expressa do prior que ao tempo for do dito convento, a entrar na clausura dele para efeito de cortar árvores de qualquer casta que sejam ou fazer outro dano. Não obstante quaisquer constituições apostólicas ou do convento e ordem dita em contrário. Mas queremos que a cópia desta proibição se conserve fixada nas portas do convento, ou em outro lugar patente a todos. Dada em Roma em São Pedro sob o anel do pescador em 28 de Março de 1643 ano 20 de nosso pontificado. Loco (sinal ) Sigilli. M.A. MARALDUS. 3. Inscrição comemorativa da reconstrução da porta gravada numa lápide ovalada colocada ao centro a encimar as inscrições 1 e 2; moldura em resalto: 5; nos sulcos das letras são visíveis restos de tinta de cor sépia; dois traços horizontais separam o texto; Dimensões: 45x59,5; Campo Epigráfico: 36x50,7; Tipo de Letra: capital quadrada do séc. XIX; Leitura:FUNDADA MDCXX REFORMADA 1831 E RESTAURADA EM 1866; FONTE FRIA: Inscrição comemorativa da reconstrução da fonte, gravada numa lápide colocada na parede à direita do arco; sem moldura nem decoração; calcário; Dimensões: 20,5x30,5; Tipo de Letra: capital quadrada; Leitura: POR INICIATIVA DO CONSELHEIRO RODRIGO DE MORAIS SOARES, DIRECTOR GERAL DO COMÉRCIO E INDÚSTRIA NO MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, SE RECONSTRUIU ESTA FONTE, SENDO ADMINISTRADOR GERAL DAS MATAS DO REINO O CONSELHEIRO ERNESTO DE FARIA, E ENCARREGADO DAS OBRAS DO BUCAÇO O ENGENHEIRO INSPECTOR DE FLORESTAS JOÃO MARIA DE MAGALHÃES. ANO DOMINI(= DO SENHOR) 1866. |
Utilização Inicial
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Religiosa: cerca |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Direcção-geral das Florestas - Direcção Regional da Agricultura da Beira Interior / Privado (Sociedade de Hotéis Alexandre Almeida, Lda) |
Época Construção
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Séc. 17 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Convento: Frei Alberto da Virgem (arqtº.); Palace - Arquitectos: Luigi Manini (cenógrafo), Nicola Bigaglia, Manuel Joaquim Norte Júnior; José Alexandre Soares; Desenho técnico: Henrique Eugénio de Castro Rodrigues |
Cronologia
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Séc. 6 - desde esta data a serra do Buçaco pertenceu ao Mosteiro dos Beneditinos da Vacariça, povoação situada a 5 Km do Buçaco; 1094 - o mosteiro da Vacariça passa a pertencer ao Bispado de Coimbra; 1628 - D. João Manuel, Bispo Conde da Cidade de Coimbra, doa aos Carmelitas Descalços da "Província de Portugal" as matas e terras chamadas Bussaco; início da edificação do deserto/convento do Buçaco. Introdução das primeiras árvores exóticas; 1630 - conclusão das principais obras e a abertura das Portas de Coimbra, a então Portaria da Mata. Após o incêndio do Verão, que varreu quase todo o bosque, os monges dedicaram-se a um intenso trabalho de arborização. A ordem tinha como obrigação manter, conservar e valorizar a flora original. 1634 - D. Bernarda Lacerda testemunha através de um seu poema, a existência de espécies como: Acer pseudoplatanos, Juniperus communis, Fraxinus angustifolia, Quercus robur, ou Quercus pyrenaica, Ulmus glabra, Cupresus sempervirens stricta, Laurus nobilis, Populus alba, Sambucus nigra, Amygdalus communis. 1638/46 - fundação da Ermida de Nossa Senhora da Expectação; 1641 - fundação da Ermida de São José; 1643 - A mata era permanentemente saqueada pelo povo, o que só se evitou com uma bula de excomunhão decretada pelo papa Urbano VIII, contra quem, sem licença expressa do Prior, danificasse o arvoredo da Mata de Santa Cruz do Buçaco. Outra bula papal (de Gregório XV, datada de 1622) sentenciava também a pena de excomunhão para as mulheres (independentemente da condição social) que entrassem numa Província dos Carmelitas Descalços, ou para aqueles que as introduzissem. Estas medidas contribuíram para a preservação deste espaço e o seu progressivo engrandecimento. A referida arborização, da qual fazia parte a introdução tanto de espécies indígenas "como novas espécies, nos sítios mais indicados para tal," foi levada a cabo com " exacto sentido estético e perfeito conhecimento da Arte e da Natureza" (Araújo, 1962). 1646 - fundação da Ermida do Santo Sepulcro; 1650 - fundação da Ermida de São João do Deserto; 1651 - fundação da Ermida de São Miguel; Séc. 17 (meados) - por ordem de Manuel Saldanha, reitor da Universidade de Coimbra é instalada na mata, uma Via-sacra constituída por várias cruzes a assinalar os Passos (Andresen e Marques, 2004). 1684/1704 - edificação ao longo da av. do Mosteiro das Capelas de São João da Cruz, São Pedro, Santa Maria Madalena e fonte Samaritana. E ainda Santo Antão e as 20 Capelas dos Passos (1695) sob a égide do Bispo-Conde D. João de Melo; 1693 - contrariando a Bula Papal é aberta uma passagem no local da porta da Rainha para D. Catarina de Bragança, regressada de Inglaterra. Por dificuldades atmosféricas a visita não se concretizou, tendo os monges entaipado a porta; 1704 - a Porta da Rainha é reaberta para passagem de D. Pedro II, voltando a ser fechada depois da visita; 1721 - Fr. João do Sacramento, na sua Crónica dos Carmelitas Descalços, elaborou um novo inventário das riquezas vegetais da cerca (Andresen e Marques, 2004) e testemunha que "a vegetação da mata tinha readquirido e talvez ultrapassado, mercê da protecção dos monges, o antigo esplendor." (Araújo, 1962); 1803 - Link, botânico e mineralogista, publicou as suas impressões sobre a sua visita a Portugal (que ocorreu entre 1797 e 1798) onde se referiu ao Buçaco do seguinte modo " Uma densa floresta envolve o convento; belas árvores ensombram os atalhos que serpeiam em todos os sentidos, levando-nos ora a uma capela, ora a um cruzeiro, ora a um santuário oculto entre a folhagem; musgo espesso e sempre verde tapeta o chão e os troncos das árvores; pequenos riachos rebentam da rocha e logo se perdem entre as moitas, e por toda a parte ciprestes majestosos e seculares, agrupados pitorescamente, pinheiros marítimos de altíssimo porte e carvalhos ancestrais coroados de hera..." (Andresen e Marques, 2004); 1810 - abertura da Porta da Cruz Alta para a passagem das tropas da Guerra Peninsular, que provocaram elevados danos no Buçaco; 1831 - restauro da portaria (Portas de Coimbra); 1832 - reedificação da fonte de Santa Teresa; 1834 - extinção das Ordens Monásticas e a nacionalização dos seus bens; foi último prior do convento Fr. António de Santa Luzia que acabou por ficar como arrendatário da mata e do convento; 1837 - o administrador geral do distrito de Coimbra, Manuel Joaquim Fernandes Tomás, encarregou oficialmente Fr. António de Santa Luzia da guarda e conservação do convento e mata, podendo solicitar o apoio que julgasse necessário às autoridades do concelho; 1838 - o governo exclui o convento e a mata do Buçaco da lista dos bens nacionais a vender; 1841 - restauro da Cruz Alta, promovido pelo governo civil de Coimbra; 1850 - Tomás d' Aquino Martins da Cruz, governador de Coimbra, enviou para o Buçaco uma guarda permanente de veteranos encarregues do policiamento de toda a área, tendo sido estabelecido um regulamento para o efeito; 1852 - reabertura da porta da Rainha, anteriormente entaipada, para a passagem da rainha D. Maria II; 1855 - Direcção Geral dos Próprios Nacionais transfere a Mata do Buçaco e todo o seu património para a Administração Geral das Matas do Reino; 1856 - J. Martins Coutinho foi designado Capelão-Administrador. Ao longo deste período de abandono (1834-56), a mata degradou-se consideravelmente. A partir desta data iniciam-se então as obras de restauro, como a reparação da cerca e a reflorestação de algumas clareiras, com o objectivo de proporcionar melhores condições para o desenvolvimento harmonioso da vegetação (através do desbaste, de novas plantações e da introdução de numerosas espécies arbóreas); 1858 - o Conselheiro Rodrigo de Morais Soares (chefe da Repartição de Agricultura) fica incumbido da tarefa de dirigir o enriquecimento arbóreo da mata. A plantação de inúmeras espécies exóticas provenientes do Jardim Botânico de Coimbra é bem sucedida, sendo a mata valorizada. Efectuam-se outras obras de conservação e restauro: os caminhos passam a ser ladeados por cedros do Buçaco (naturalizadosdesde o século 17) e é construída a estrada que liga a fonte Fria à porta do Luso e ao convento. Os escassos recursos financeiros para a gestão e a ocorrência de algumas tempestades causaram graves prejuízos. A administração do local foi entregue ao Padre Maurício José Pimenta, simultaneamente administrador e capelão; 1863 - restauro da ermida do Sepulcro; 1865/66 - construção da Porta de Serpa; 1866 - remodelações na Porta de Coimbra; intervenções na Fonte Fria; reconstrução da fonte do Carregal; restauro da ermida de Nossa Senhora da Conceição; 1872 - com uma nova orgânica das matas do reino, a Mata do Buçaco fica abrangida por um regime especial e sob a dependência directa do Administrador Geral das Matas. Em meados desta década existiam cerca de 135 espécies exóticas na mata. Alargada e restaurada a Porta de Sula; a Porta da Rainha adquire a actual forma; 1875/77 - destruição de algumas edificações anexas à portaria da mata; 1877 - encomendado projecto para a construção de um palácio e para a transformação da mata num parque romântico; 1878 - reforma da Fonte da Samaritana; 1881 - intervenção na Fonte Fria; 1884 - demolição da Ermida de Santa Teresa, para dar lugar a um chalé; 1886 - Ernesto Augusto de Lacerda é nomeado administrador da mata; 1887 - inúmeras obras de valorização realizam-se nesta época como a construção da cascata junto à fonte de São Silvestre, o Jardim Novo, que ladeia o convento, o arruamento do vale dos Fetos e a construção do lago Grande. Evocando a utilidade pública, foram expropriadas várias propriedades particulares (15 ha), passando a ser de 104 hectares a área da mata; encomenda de projecto, não concretizado, a G. Roda e Figli, de Turim com o objectivo de transformar o ermitério buçaquino em parque, segundo a aspiração de D. Maria Pia; contrato realizado entre o Estado e o Mestre Rafael Bordalo Pinheiro, para execução de 86 figuras representando a vida de Cristo e destinadas às capelas do Buçaco (actualmente no Museu das Caldas da Rainha); 1888 - introdução dos fetos arbóreos (Balantium antarcticum). Em vez de se construir a residência régia prevista, deveria erguer-se um edifício destinado a servir de hotel, chamado por Emídio Navarro "Palácio do Povo"; 1888/1900 - construção da Porta das Ameias; 1889 - por portaria de 18 de Julho do ano anterior começam os trabalhos para preparação do palácio real, projecto de Luigi Manini, tendo sido demolido parte do convento carmelita, o refeitório e as hospedarias; 1890 - construção da Porta do Luso; 1893 e 1897 - o reflorestamento das clareiras é interrompido devido à edificação dos edifícios anexos ao Convento. 1898 - a Mata passou a constituir uma "Série Artística" (D.G. nº 290 de 26 /12/1898). 1900/20 - construção da Porta das Lapas, actualmente encerrada; 1910/20 - período em que se plantaram mais árvores na mata. 1916 - Dalgado inventaria nesta época cerca de 15 000 novas árvores plantadas. A flora do Buçaco reunia já 400 espécies indígenas e mais de 300 exóticas. (Paiva, 1987) 1920 - é nomeado um novo administrador: o Regente florestal José de Melo de Figueiredo. Ao longo desta década a mata é devastada por inúmeros temporais e por um incêndio. 1922 - surge a Comissão de Iniciativa de Luso-Buçaco; 1938 - o Prof. António Costa Mota (sobrinho) esculpiu alguns conjuntos em barro para simbolizar os passos; 1941 - um ciclone provocou a destruição geral, cerca de 5400 árvores de grande porte ficam prostradas. Nos anos seguintes foi considerável o esforço para plantar mais árvores de modo a minimizar os estragos (Santos, A. 1993); 1943, 18 agosto - classificação do Palácio como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 32.973, DG, 1.ª Série, n.º 175; 1950/90 - a Mata Nacional do Buçaco perdeu cerca de 30% das espécies introduzidas (Santos, A. 1993); 1996, 06 março - redenominação da classificação para a tornar mais abrangente, pelo Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56; 13 maio - Declaração de Retificação corrigindo a designação de Palacete para Palace, Declaração de Retificação, n.º 10-E/96, DR, 1.ª Série-B, n.º 127; 997 - a gestão da Mata Nacional do Buçaco é atribuída à Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral; 2017, 27 junho - publicação do anúncio de projeto de decisão relativo à reclassificação como conjunto de interesse nacional/monumento nacional (MN) do Palace Hotel do Buçaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e tudo o que nela se contém de interesse histórico e artístico, em conjunto com o Convento de Santa Cruz do Buçaco, em Anúncio n.º 95/2017, DR, 2.º série, n.º 122. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes em alvenaria de pedra argamassada e rebocada com coberturas am abóbada e / ou estruturas de madeira revestidas com telha (capelas, ermidas e fontes) / Estrutura autoportante (fontes); muros de suporte com paredes autoportantes em alvenaria seca ou alvenaria de pedra argamassada. |
Materiais
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Inúmeros exemplares do designado Cedro do Buçaco (Cupressus lusitanica) com 35 a 40 metros de altura. Sequóias americanas, eucaliptos, pinheiros e carvalhos. Fetos vários, grande variedade de exóticas. Imóveis: Estruturas de alvenaria de pedra argamassada e rebocada; coberturas em abóbada e estruturas de madeira com telhas; estrutura em material pétreo; estrutura autoportante em alvenaria seca e alvenaria de pedra argamassada. |
Bibliografia
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ARAÚJO, Ilídio, Arte paisagista e arte dos jardins em Portugal, vol. 1, Lisboa, Direcção Geral dos Serviços de Urbanização, 1962; CORTESÃO, Jaime, Portugal, a Terra e o Homem, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, Fevereiro, 1987; Luso no Tempo e na História 1937 a 1987, Junta de Freguesia de Luso e Junta de Turismo de Luso-Buçaco, 1987; Luso-Buçaco, Junta de Turismo de Luso e Buçaco, Guia Turístico do Norte, lisboa, 1987; AMARO, Neves, SEMEDO, Énio, ARROTEIA, Jorge, Aveiro - do Vouga ao Buçaco, Novos Guias de Portugal, Lisboa, 1989; MACHADO, Manuel Ayres Falcão, Buçaco no Passado e no Presente, Coimbra, 1990; SANTOS, Álvaro M. M., Caracterização da Mata Nacional do Buçaco, Anadia, 1993; Guia Expresso - O Melhor de Portugal, vol. 2; SANTOS, J. J. Carvalhão, Novo Guia Histórico do Buçaco, Coimbra, 2002; ANDRESEN, T., MARQUES, T., Cerca do Bussaco. Uma paisagem entre o sagrado e o profano, in Monumentos 20, DGEMN, 2004; PAIVA, J., A relevante biodiversidade da mata, in Monumentos 20, DGEMN, 2004; SEQUEIRA, A., MEDINA, J., A mata do Buçaco e seu enquadramento geológico, in Monumentos 20, DGEMN, 2004; VARELA GOMES, P., O Deserto Carmelita do Buçaco: mapa breve da Cidade Santa de Jerusalém, in Monumentos 20, DGEMN, 2004; www.drabl.min-agricultura.pt Jan. 2004; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74851 [consultado em 21 outubro 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo; DGEMN: DSID, DREMC |
Documentação Fotográfica
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IHRU: Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo ; DGEMN/DSID, DREMC; UE |
Documentação Administrativa
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IHRU: Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo; DGEMN: DSID, DREMC; DRABL |
Intervenção Realizada
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DRABL: 2001 - reparação da Porta das Ameias; DGEMN: DREMC: 2003 / 2004 - recuperação e consolidação das Portas de Coimbra e reconstrução do muro de suporte; renovação da instalação eléctrica e recuperação das salas de atendimento do edifício onde funciona a secretaria da DRABL; reconstrução de parte dos muros de suporte do parque das merendas ou dos Leões; reparação das coberturas e paramentos da Fonte de São Elias e sistema de drenagem de águas. |
Observações
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*1: DOF: Conjunto denominado "Palace Hotel do Buçaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e tudo o que nela se contém de interesse histórico e artístico, em conjunto com o Convento de Santa Cruz do Buçaco". Anualmente, a 27 de Setembro, realiza-se uma procissão até ao monumento comemorativo da Batalha do Buçaco, junto da porta da Rainha. |
Autor e Data
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Carla Gomes, Luís Marques, Teresa Camara e Filipa Avellar 2004 |
Actualização
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Maria Fernandes 2005 |
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