Palácio Real do Sítio da Nazaré
| IPA.00007231 |
Portugal, Leiria, Nazaré, Nazaré |
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Palácio real construído no séc. 18 para acolher a corte aquando da sua deslocação ao Santuário da Nazaré, com planta retangular, composta por dois corpos desiguais, de pequenas dimensões. Apresenta fachadas de linhas sóbrias e recurso a uma linguagem seiscentista, de dois pisos, separados por friso, sendo o piso térreo destinado a pequenas lojas do Santuário e à cavalariça. São rasgadas por vãos retilíneos, as fachadas compridas com esquema de fenestração semelhante ao nível do andar nobre, correspondendo a janelas de varandim, encimadas por friso e cornija reta, e com guarda em ferro forjado, ainda que na fachada S., virada ao mar, os vãos tenham um ritmo mais apertado e tenham sido adaptados a janelas de peitoril, com colocação de pano de peito em cantaria. A fachada E. possui varanda alpendrada sobre pilares assentes em plintos e, até 1830, tinha acesso através de um passadiço, à praça de touros que era montada junto à fachada sul. O portal principal desenvolve-se no extremo da fachada comprida virada ao pátio, precedido por escada de cantaria, e o acesso ao interior é feito atualmente pela varanda alpendrada, por portal indistinto e descentrado, desconhecendo-se se este era o esquema inicial, visto saber-se que, em 1887, se fazia uma nova entrada para o palácio. O interior possui ao nível do andar nobre eixo longitudinal, marcado por corredor central, com dependências de ambos os lados, algumas das viradas a S. conservando decoração em estuques, executada em 1889, enquanto que outras, segundo fotografias antigas, possuíam as paredes revestidas a tecido. As salas viradas a norte são decorativamente mais simples. O piso térreo era subdividido em pequenas lojas, viradas para o largo de Nossa Senhora da Nazaré e para o pátio da Senhora, abobadadas na década de 1770 / 1780, encontrando-se atualmente muito adulterado em termos de vãos e de interior, devido a obras posteriores. A construção do palácio paralelo à igreja, que não tinha os dois corpos retangulares laterais, criava amplo pátio intermédio, fechado por alto muro com acesso por portal central, em arco de volta perfeita, ladeado por colunas que sustentavam arquitrave e tabela, entre pináculos. O muro integrava lojas, na continuidade e com esquema semelhante às do palácio, sendo a metade esquerda coroada por balaustrada igual à do palácio. |
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Número IPA Antigo: PT031011020017 |
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Registo visualizado 588 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre Casa nobre Tipo planta retangular com eixo interno longitudinal
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Descrição
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Planta retangular composta por dois corpos em eixo, o disposto a O. mais estreito, e criando pátio para S., vedado por alto muro. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de três águas, no corpo principal, integrando larga mansarda virada a N., e de duas águas no corpo O., rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com dois pisos, os do corpo principal separados por friso, e rasgadas por vãos retilíneos, moldurados. Fachada principal virada a E., com pilastras toscanas nos cunhais, terminada em cornija de massa, e de dois panos definidos por pilar central. É rasgada, no piso térreo, por vãos interligados pela verga, possuindo no pano esquerdo duas portas e quatro janelas jacentes, duas delas com pilar intermédio, e no pano direito por três portas e janelas jacentes num ritmo mais irregular; no andar nobre, desenvolve-se varanda alpendrada corrida, com arquitrave, pintada de branco, assente em pilares, sobre plintos paralelepipédicos, e com guarda de madeira em balaustrada plana. A fachada virada a N. é precedida, no ângulo NE., por escada de cantaria de acesso ao andar nobre, com amplo patamar e guarda em balaustrada, ritmada por acrotérios, comunicando diretamente para a varanda e um portal lateral. Esta fachada é rasgada, no piso térreo, por portas e janelas de peitoril ou jacentes, em ritmo alternado, uma das portas criando espaço concavo com caixa-multibanco, e, no andar nobre, pelos dois portais e seis janelas de varandim, encimadas por friso e cornija reta e com guarda em ferro forjado; no extremo, entre duas janelas, abre-se bífora de vãos jacentes. Sob o balcão da escada existe espaço rasgado por porta e janela de peitoril, sem moldura. As águas-furtadas terminam em empena reta, rematada em cornija de betão, tendo a N. duas janelas de peitoril. No corpo adossado, abrem-se cinco eixos de vãos, correspondendo no térreo a janelas de peitoril e um portal, e no segundo piso a janelas de peitoril, as duas centrais transformadas em janelas de varandim com guarda em ferro; à esquerda de uma destas janelas abre-se olho de boi. A fachada virada a S. é rasgada no primeiro piso por portas e janelas de peitoril ou jacente, e no andar nobre, num ritmo mais apertado, por janelas de varandim, encimadas por friso e cornija reta, mas adaptadas a janelas de peitoril com pano de peito em cantaria. A fachada O. do corpo principal é rasgada no segundo piso por portal sem acesso e três janelas de peitoril, sem moldura. INTERIOR: piso térreo com a zona virada a E. conservando as antigas lojas e o restante utilizado como cozinha e refeitório, com pavimento de madeira e lambril de madeira envernizada, escritórios e oficinas da Confraria. No andar nobre, o espaço é estruturado por corredor central a todo o comprimento do edifício, com lambril de madeira envernizada e pavimento cerâmico, seccionado por vários vãos amplos, com bandeira envidraçada. As salas dispostas à direita do corredor e viradas a N. são mais pobres a nível decorativo e do tipo de materiais empregues, enquanto as dispostas à esquerda e viradas a S. e ao mar, são mais ricas. Estas conservam decoração de estuques, a antiga sala de jantar nas paredes, onde formam apainelados retilíneos, alguns sobrepostos com colchetes, e no teto, com ampla moldura central recortada e decoração fitomórfica. As outras salas desta ala, apresentam estuques semelhantes, mas apenas intactos em metade dos tetos. A varanda alpendrada, acedida por três portas-janelas, diretamente pela escada a N. e com janela virada a S., possui silhar de azulejos de padrão, azuis e branco, pavimento em tijoleira e cobertura plana de madeira, pintada de branco, formando caixotões em losango, retangulares e facetados, com as molduras pintadas de cinzento. |
Acessos
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Sítio da Nazaré; Largo de Nossa Senhora da Nazaré |
Protecção
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Em estudo/ Incluído na Zona de Proteção do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré (v. IPA.00001538) |
Enquadramento
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Urbano, adossado, implantado no centro do núcleo populacional do Sítio, quase paralelamente à igreja do Santuário, com a qual criava pátio, fechado por alto muro e portal. O corpo posterior adossa-se em ângulo reto ao edifício do Hospital da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré (v. IPA.00007217), construído a O. entre o palácio e a igreja. Em frente da fachada E. desenvolve-se amplo largo, pavimentado a calçada à portuguesa, com faixas pretas e brancas onduladas, tendo ao centro o Coreto (v. IPA.00007216). A SE. ergue-se a Ermida da Memória e o Padrão alusivo à passagem de Vasco da Gama (v. IPA.00001433). Da fachada virada ao mar aprecia-se extraordinário panorama sobre o núcleo da Praia da Nazaré e, num plano elevado, o núcleo da Pederneira, de onde se destaca a Igreja da Misericórdia da Pederneira (v. IPA.00003310), tendo atrás o monte de São Bartolomeu e o fundo esbatido da serra de Albardos. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Residencial: paço real |
Utilização Actual
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Educativa: jardim de infância / Comercial: loja |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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MESTRES: José Maria Soares (1823); Paulo Almeida Nazaré (1779). PINTOR: Duartet José Coelho (1832). |
Cronologia
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Séc. 17, início - só nesta altura o Sítio tem condições de alojar os peregrinos que visitam o Santuário; 1677 - Pe. Matias da Conceição refere que a "igreja acompanhada do muy grandiosas cazarias e aposentos nobre"; 1718 - construção do palácio, pelo administrador da Real Casa de Nossa Senhora da Nazaré, D. Nuno Álvares Pereira de Mello, Duque de Cadaval, com o objetivo de acomodar a Família Real aquando da sua deslocação às festividades do Sítio; 1738 - Círio de Lisboa instala-se no palácio, devido à destruição das hospedarias dos romeiros *1; 1758- trabalham pedreiros e carpinteiros na obra da administração ou palácio real, vindo lajedo e 13 outras pedras; 1773 - aloja-se no palácio o provedor da comarca de Leiria; 1771, junho - vinda de lajes das pedreiras para lajear a varanda sobre as abóbadas; 1774 - continuação das obras no edifício; 1777 - obras na varanda da administração; 1779 - grandes obras na casa da administração sob a direção de Paulo Almeida Nazaré; 1781- construção de cozinha nova e acrescento do muro da cozinha; 1782 - grandes obras de transformação do palácio; 1784 - mobila-se a administração com 24 cadeiras; 1786 - compram-se mais 24 cadeiras em Leiria; 1787- vinda de mais 39 cadeiras para a administração; 1788 - feitura de lojas novas e a trapeira nas casas da administração; 1790 - durante a festa, ao se lançarem os foguetes da varanda, como era usual, houve fogo no palácio, provocando queimaduras em muito povo; compra de louças e vidros para o palácio; 1791 - faz-se a varanda de madeira para a administração e cavalariça nova; 1794 - compra de 24 cadeiras tripeças; 1796 - reforma ou faz-se de novo a cozinha; 1802 - vêm do Juncal 1682 azulejos para o palácio; 1806 - fornece-se o palácio de roupas e trem de cozinha; compra no Juncal de louça necessária para poder receber o Príncipe regente em agosto; 1807 - novas obras na administração e sobretudo na varanda, com colocação de pedras lavradas; construção de nova cavalariça; 1815 - está feito o corredor no palácio; 1818 - aquisição de louça de pó de pedra para o palácio; 1822 - alugam-se quatro camas para servirem nas festas; 1825 - alugam-se camas para o palácio; 1826 - o Círio de Lisboa aloja-se no palácio por ordem do rei; 1832 - compra de pratos; pintura do palácio, encarregando-se disso Duartet José Coelho; 1833 - ali existe um retrato de D. Miguel; 1837 - aumenta-se o mobiliário do palácio; 1841 - fornecimento de mobília e utensílios ao palácio; 1852, 29 maio - chega ao Sítio a família real vinda do Norte, pernoitando no palácio; 1853 - compra de um faqueiro de prata da Alemanha, por 14$000; 1858 - compra de mobílias para o palácio; 1878 - arrenda-se a casa sob a varanda do palácio; arrematação da construção da casa das berlindas, servindo ainda de cavalariças; 1887 - compra de mobiliário para o palácio; feitura de nova entrada para o palácio; 1889 - trabalhos de estuque no palácio e colocação de campainhas eléctricas; 1898, 14 novembro - raio cai na igreja e na sala rica do palácio; 1904 - decide-se que no palácio só se pode alojar a família real, governadores civis do distrito e ministros em exercício; 1907 - o mobiliário do palácio está em mau estado e em falta; 1914, 04 janeiro - venda da mobília do palácio; 1919 - arrenda-se o palácio para bailes; 1922 - utilização do palácio em festas e bailes de Entrudo. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura de alvenaria rebocada e pintada; placas e cornija de betão; pilastras, pilares, plintos, frisos, molduras dos vãos, guarda e panos de peito em cantaria calcária; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; pavimento cerâmico e de madeira; decoração em estuque; cobertura de telha. |
Bibliografia
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ALÃO, Manuel de Brito - Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2001; BOGA, Mendes (Pe.) - D. Fuas Roupinho e o Santuário da Nazaré. Porto: Tipografia do Carvalhido, 1988; PENTEADO, Pedro Manuel - Peregrinos da Memória: o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré: 1600-1785. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, 1998; PENTEADO, Pedro Manuel - Santuário da Senhora da Nazaré. Apontamentos para uma cronologia (de 1750 aos nossos dias). Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2002; SALAZAR, José de Almeida - Memórias da Real Casa de Nossa Senhora da Nazaré. 1841; Palácio Real (http://www.cnsn.pt/portal/index.php?id=1175), [consultado em 27-01-2014]. |
Documentação Gráfica
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Confraria de Nossa Senhora da Nazaré; Câmara Municipal da Nazaré |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGENM/DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
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Confraria de Nossa Senhora da Nazaré |
Intervenção Realizada
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PROPRIETÁRIO: 1757 - reparação da varanda da administração; 1770 - refaz-se o teto em abóbada das casas ou lojas sob a varanda da administração, por estar muito arruinado, levando 2050 tijolos; 1771 - trabalha-se nas abóbadas das lojas sob a varanda da administração; 1780, janeiro - feitura de portas e sua colocação; 1784 - fazem-se as abóbadas das lojas sob a varanda coberta, gastando 3450 tijolos e 175 tijoleiras para o xadrez da mesma varanda, vindas de Malpica e Pataias; a madeira para a obra vem de Mélvoa; 1786 - continuação das obras, cozendo-se a cal no forno da casa; vinda de pedra branca das pedreiras e madeira de Mélvoa; pintura das salas, portas, janelas, etc; abre-se na administração uma porta nova, fazem-se tabiques, caiam-se e limpa-se tudo para melhor receber e acomodar o rei e família real na sua visita; 1789 - continuação das obras, com vinda de madeira do Engenho, da Mélvoa, do Porto do Carro, da Marinha Grande para assoalhar os furtados, que antes estavam inúteis e sem uso; 1790 - compra de muita madeira: barrotes, soalhos e ripas na Mélvoa e Marinha Grande, vigas, etc, para as obras da casa; 1791 - continuação das obras, com compra de telha, tijolo, tijoleira e madeiras; 1793 - continuação das obras; 1796 - feitura de outras obras; 1798 - continuam as obras no palácio, vindo madeiras de Picamilho, Chão Pardo, Gaios, Mélvoa e Vale d'Água e mais 29 cerneiros do Engenho e 59 dúzias de soalho e 12 de ripas; 1804 - feitura de portas para as lojas e caixilhos para as janelas; 1806 - continuação das obras de conservação, virando os telhados; 1823 - José Maria Soares faz vários trabalhos no palácio; 1823 - reparação dos telhados; 1826 - vinda de quatro pedras para a varanda do palácio; 1827 - provável continuação de obras no palácio, com grandes despesas; 1828 - colocação de caixilhos e janelas em vãos; 1830 - ladrilha-se a cozinha; 1838 - obras no palácio, pondo-se rodapés na varanda e casas interiores, pintura das janelas e portas de baixo, colocação de grades de ferro em seis janelas; reboco da fachada do palácio; reparação dos telhados; feitura das cavalariças do palácio; 1835 - reutilização de tijolo das antigas chaminés das cozinhas do palácio nos melhoramentos do "poção"; 1839 - colocação de porta no palácio; 1841 - carpinteiro trabalha na varanda do palácio; 1856 - fabricam-se as lojas por baixo do palácio; 1859 - obras na trapeira; 1889 - vinda de pedra para as varandas; 1949 - reparações gerais no palácio por 11000$00; 1951 - reparações no palácio; 1953 / 1954 / 1955 / 1956 / 1958 - obras no palácio e varandas; substituição do vigamento de madeira do telhado por betão; 1966 - obras nos telhados. |
Observações
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*1 - O alojamento dos peregrinos que visitavam o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré era feito em casas particulares no Sítio, ou na vila Pederneira, nas moradias da Real Casa ou em tendas montadas, ao ar livre, junto às muralhas e nos pinhais próximos. Segundo o Pe. de Brito Alão, em 1628, os peregrinos ficavam nas casas dos romeiros, cerca de trinta pequenas habitações, de sobrado ou de terra batida, sob a responsabilidade do ermitão e que a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré disponibilizava. Para além destas, havia as casas grandes, as mais antigas e a que chamavam de paços, que tinham uma sala grande, onde se chegavam a recolher mais de cem pessoas, se não estavam ocupadas de fidalgos, para quem estavam particularmente dedicadas; tinham ainda duas câmaras e duas cozinhas, e, por baixo, lojas. Os romeiros de estatuto social mais elevado podiam instalar-se nas casas novas, sobradadas, sendo possivelmente as que ficavam próximo da sacristia e as mesmas onde se alojavam os clérigos e religiosos. Existiam ainda estrebarias e cocheiras onde os visitantes podiam recolher os seus animais. Por volta de 1722, as casas de romagem ou de hospedaria ficaram inutilizadas pelo fogo, e, apesar de reconstruídas com dois pisos, cozinha e estrebaria, tiveram curta duração, visto que uma violenta tempestade no dia 19 de novembro de 1724 as ter derrubado em grande parte, não voltando a ser reconstruídas. Sobre as suas ruínas re-edificam-se as casas de residência do reitor, palácio, casas de residência dos capelães dos confrades e ermitão. Ao que parece, só no séc. 19, o Círio da Prata Grande conseguiu comprar um edifício próximo ao terreiro do Santuário para instalar os seus romeiros. *2 - O Palácio Real possuía mobiliário de grande qualidade, faiança dos grandes centros produtores nacionais e ricos revestimentos têxteis. *3 - Existem registos das visitas régias de D. João VI acompanhado pelo Príncipe D. Pedro, de D. Miguel e da Rainha D. Maria I. |
Autor e Data
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Paula Noé 2014 |
Actualização
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