Castelo de Soure
| IPA.00002708 |
Portugal, Coimbra, Soure, Soure |
|
Castelo construído no séc. 11, entre 1065 e 1091, por D. Sesnando, alvazil de Coimbra, e reformado pela Ordem do Templo, pouco depois de lhe ter sido doado, em 1128, e ainda no terceiro quartel do séc. 12, numa importante zona de fronteira entre o território cristão e muçulmano, que permitia controlar a via romana que, saindo de Olisipo (Lisboa), se dirigia a Aeminum (Coimbra) e daí a Bracara Augusta (Braga). A doação de Soure aos Templários revela preocupação com a defesa da cidade de Coimbra, que se tornaria a capital do reino até 1255, e desempenhou um papel fundamental no processo da Reconquista do Mondego, formando linha com os castelos de Germanelo (Rabaçal), de Santa Olaia, Miranda do Corvo (os dois últimos já desaparecidos), Montemor-o-Velho, Penela e Lousã. Ao contrário da maioria das fortificações desta linha de defesa avançada de Coimbra, que são roqueiras, o castelo de Soure foi implantado em terreno plano. Segundo Mário Barroca, o castelo apresentava inicialmente uma planta retangular irregular, possivelmente sem torres nem cubelos, com porta relativamente ampla, rasgada ao nível do piso térreo, que possuía também seteiras retilíneas, ainda visíveis a nascente e a sul. Os paramentos da face interior desta fase revelam os apoios do segundo piso sobradado, a área residencial, que é rasgado por vãos de diferentes épocas, tendo a nascente três ajimezes proto-românicos ou até posteriores, com os arcos geminados ornados com friso de pontas de diamante, e a sul um outro entaipado. Estes ajimezes, pela singela gramática decorativa e pela tipologia dos pequenos capitéis dos mainéis centrais, podem ser estilisticamente atribuídos à segunda metade do séc. 11, ou seja, à época de D. Sesnando. A segunda fase construtiva ocorreria após a sua transformação em casa-mãe dos Templários, consistindo na construção de, pelo menos, duas torres flanqueando a frente sul, a mais desprotegida e virada ao rio, a subsistente a sudoeste, parcialmente apoiada na espessura da muralha pré-existente, e a de sudeste demolida no séc. 19, mas cujos vestígios ainda são visíveis na estereometria da muralha leste, e no vão, que lhe dava acesso. A torre subsistente, com alambor nas três faces, inovação arquitetónica introduzida pela Ordem, desenvolve-se em três pisos, com zona térrea maciça, e acesso sobrelevado, por porta reaproveitando um ajimez, com friso de folhas de videira entre dois encordoados, cujos caules deveriam sair, de um cantaurus religioso que ocupava o mainel desaparecido. Para Mário Barroca (1990, p. 120), este ajimez parece obedecer aos cânones estéticos visigóticos, mas tem dúvidas se não será um exemplar posterior, moçárabe, da primeira metade do séc. 11, como sugere Carlos A. Ferreira de Almeida. O caráter sacro da iconografia do ajimez, reforçada pelas duas patenas crismalis, indicia ser proveniente de uma estrutura religiosa, possivelmente do Mosteiro de Soure, arruinado em 1116, quando a povoação foi incendida pelos habitantes, e reaproveitado no castelo depois de 1128 *4. Para Mário Barroco, a terceira fase resultou na construção da torre norte, por volta de 1175, que ele pensa ser a de menagem. Esta tem alambor na face nascente, tal como o pano de muralha, cujo ângulo é bastante possante, e junto à qual se desenvolveria exteriormente outra estrutura, conforme denota o aparelho. No último piso da face interna subsistente abre-se vão em arco ultrapassado, moçárabe, onde se construiu posteriormente um balcão. Após a extinção da Ordem do Templo, o castelo foi integrado na Ordem de Cristo, passando a funcionar como paço do comendador. Na transição do séc. 15 / 16, foi reformado por D. Manuel, datando desse período o portal apontado e biselado da torre sudoeste, que daria acesso a construções desenvolvidas exteriormente à fortificação, bem como a janela mainelada com conversadeiras, a poente. |
|
Número IPA Antigo: PT020615090003 |
|
Registo visualizado 6431 vezes desde 27 Julho de 2011 |
|
|
|
Edifício e estrutura Edifício Militar Castelo
|
Descrição
|
Planta retangular irregular, no sentido norte - sul, composta por muralhas, a estreitar para sul, e por duas torres quadrangulares, uma a sudoeste, desenvolvida para o exterior, e outra a nordeste, desenvolvida para o interior e sem a face ocidente. As estruturas são em alvenaria ou cantaria de calcário, de aparelho irregular, tendo as muralhas paramentos aprumados e as torres alambor, nenhuma delas já sem remate. A face virada a oriente possui pano de muralha denunciando dois registos, sendo o inferior rasgado por quatro seteiras retilíneas e, no extremo direito, por porta de acesso ao castelo, em arco de volta perfeita, com moldura interior e intradorso em cantaria, protegido por porta metálica. Ao nível do segundo piso, abrem-se, em ritmo desalinhado dos inferiores, cinco vãos, desiguais, com moldura em cantaria. Correspondem, no extremo esquerdo, a antiga porta, de verga reta, seguido de ajimez, já sem mainel, de vão retilíneo, possivelmente de uma janela de varandim, uma fresta retilínea e um ajimez, com mainel; os ajimezes têm o arco sublinhado por um friso de pontas de diamante e o mainel com capitel vegetalista. Ao pano de muralha segue-se a estrutura da torre sudoeste e do ângulo da muralha, bastante possante, ambos com alambor. As muralhas norte e sul encontram-se maioritariamente ocultas pelas construções adossadas e a virada a ocidente está derruído quase até meio, com o aparelho muito irregular e sem vãos. A torre sudoeste apresenta alambor nas três faces exteriores e três pisos, o inferior sobrelevado, e com os paramentos terminados em parapeito ameado, sendo rasgada por vãos de tamanhos diferenciados e de distribuição assimétrica. Na face norte abre-se, no registo inferior, porta em arco apontado, com moldura em cantaria biselada, no intermédio, seteira descentrada, e, no superior, porta em arco apontado. Na face ocidente abre-se, ao centro do segundo registo seteira e, no superior, janela conversadeira retilínea, mainelada, com mainel facetado assente em plinto interrompendo a guarda plena de cantaria, e superiormente com bandeira, entaipada. A face sul tem o primeiro registo rasgado por fresta e dois orifícios quadrangulares, o segundo por uma seteira, à direita da qual se desenvolve cornija de cantaria até ao cunhal, de apoio a antigas construções, e, o último, por uma janela central em arco apontado e biselado, e um quadrangular; à esquerda, existem vestígios de um outro vão, em arco apontado, atualmente entaipado. No INTERIOR, desenvolve-se pátio central, atualmente arrelvado, com passadiço, em calçada à portuguesa, desde o portal de acesso até à muralha ocidente. Os paramentos revelam espessuras diferentes entre os vários pisos, sendo mais largos ao nível do térreo. O pano norte da muralha é rebocado e pintado, abrindo-se superiormente duas seteiras. A torre nordeste, tem a face virada a sul rasgada superiormente por vão em arco ultrapassado, sobre os pés direitos, com duas mísulas de sustentação de um possível balcão, e, inferiormente, seteira. O pano sul da muralha, constituindo parede meeira com o edifício do Turismo, é rasgado inferiormente por seteira retilínea, protegido por vidro, e, ao nível do segundo piso, por um ajimez, já sem mainel e, junto à torre, por vão retilíneo, entaipado. A torre sudoeste na face virada a oriente e ao pátio, tem rasgada ao nível do primeiro piso, sobrelevado, porta com verga reaproveitando um ajimez, decorado com um friso de folhas e cachos de uvas estilizadas e de desenvolvimento simétrico, entre dois encordoados, e tendo na vertical, em cada extremidade, patenas crismalis; superiormente, abre-se amplo vão retilíneo com molduras em cantaria. No interior da torre a divisão em três pisos é marcada por igual número de ressaltos, sendo os inferiores em aparelho irregular e o superior, rebocado. |
Acessos
|
Soure, Rua Alexandre Herculano; Rua do Parque; Largo do Castelo; Largo do Adro. WGS84 (graus décimais): lat.: 40.056947; long.: -8.626103 |
Protecção
|
Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 37 366, DG n.º 70 de 05 abril 1949 |
Enquadramento
|
Urbano, flanqueado, inserido no vale baixo do Mondego, a poucos quilómetros a sul da cidade de Coimbra, numa pequena colina, na confluência do rio Anços e Arunca. Implanta-se numa zona de vales férteis, com a vila desenvolvida a norte do castelo, e tendo inicialmente, junto da frente oriente, a antiga Igreja de Santa Maria de Finisterra, assinalada por alguns vestígios arqueológicos que documentam a planimetria de três naves, separadas por colunas, e identificadas por lápide, em cantaria, com a inscrição "STA. MARIA DE / FINISTERRA / MEMÓRIA DA IGREJA / DO SÉC. XV / C. M. S. / S. R. A. S. C. / G. T. L. / 1985 - 1986". As frentes norte e sul têm adossadas construções, a última pertencente ao antigo edifico do Tribunal, depois GNR e, atualmente, Museu e Turismo de Soure. A ocidente do castelo existe espaço multiusos e parque de estacionamento. No interior do pátio, junto à porta de acesso, existe lápide em bronze, inserida em moldura com pé de cantaria, com a seguinte inscrição: "SOURE / SEDE DA ORDEM DO TEMPLO / 1128 - 1147 / HOMENAGEM AOS TEMPLÁRIOS, NA PRESENÇA DO SEU / GRÃO - MESTRE UNIVERSAL, S.A.E. DON FERNANDO / PINTO DE FONTES, DA GRÃ - PRIORESA DE PORTUGAL, / S.A.S. D. MARIA DA GLÓRIA PINTO DE SOUSA E DO / PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SOURE, / DR. JOÃO GOUVEIA. / COMENDADORIA DE COIMBRA, RAINHA SANTA ISABEL / 13 DE JUNHO DE 2003". |
Descrição Complementar
|
|
Utilização Inicial
|
Militar: castelo |
Utilização Actual
|
Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
|
Pública: municipal |
Afectação
|
Sem afetação |
Época Construção
|
Séc. 11 / 12 / 16 |
Arquitecto / Construtor / Autor
|
ARQUEÓLOGOS: Artur Manuel de Castro Côrte-Real (1986); Gina Maria Mendes Dias (2002-2003); Maria da Conceição Lopes (1986); Maria João de Sousa Neves (2003); Maria Teresa Gil Lopes Ferreira Calado (2003); Miguel Jorge Gomes Tavares de Almeida (2002-2003). CONSTRUTOR CIVIL: Manuel de Jesus Cardoso (1944-1945). |
Cronologia
|
Séc. 11, primeiras décadas - fundação de um mosteiro em Soure pelo presbítero João e seus irmãos Sesnando, Ordório e Zalama; 1043, 04 setembro - os irmãos Sesnando, Ordónio e Zalama decidem doar o cenóbio de Soure ao Mosteiro da Vacariça; 1064 - depois da reconquista de Coimbra pelo monarca leonês Fernando o Magno, o mesmo confia o governo do territorium de Coimbra, que ia de Lamego e São Martinho de Mouros até à foz do Douro, acompanhando o curso deste rio, e a sul, até onde as forças cristãs conseguissem alargar o domínio, a D. Sesnando Davides, moçárabe que se distinguira como conselheiro do rei; 1065 - 1091 - provável construção da primeira fortificação de Soure, por D. Sesnando; 1111, junho - o Conde D. Henrique e D. Teresa concedem foral a Soure, dando vários privilégios à população do concelho com o objetivo de atrair e fixar povoadores, nomeadamente isentando-os do pagamento de alguns encargos, mantendo, em geral, os impostos mais baixos do que em Coimbra, benefícios fiscais aos grupos de cavaleiros (militares) e peões, e exigindo aos habitantes que "guardem" os campos, fazendo depender a guarda do castelo de D. Henrique; 1116 - quando as forças almorávidas comandadas por Ali Ibn Yusuf investem sobre o vale do Mondego, destruindo Miranda do Corvo e o castelo de Santa Eulália (junto a Montemor-o-Velho), a população de Soure incendeia a vila e o castelo, destruindo os meios de subsistência e inviabilizando a utilização da fortificação pelas forças muçulmanas como apoio a outras operações militares, e refugia-se na cidade de Coimbra; 1122, 03 novembro - D. Teresa doa ao conde galego Fernão Peres de Trava o castelo de Soure, juntamente com o de Santa Eulália e a vila de Quiaios, em troca do Castelo de Coja; 1123, 10 outubro - o bispo de Coimbra, D. Gonçalo Pais, entrega a Igreja de Soure aos presbíteros e irmãos Martinho e Mendo Arias, com a obrigação destes a reconstruírem, visto o templo ainda estar destruído "...ecclesiam qui ibi jacebat destructa"; à frente do castelo está D. Gonçalo Gonçalves, um nobre da região de Coimbra, que já fora mordomo de D. Teresa, em Viseu (1117-1123), e senhor da Terra de Lafões (1117-1122); 1128, 19 março - numa altura em que a fortificação ainda estaria arruinada ou bastante danificada, D. Teresa concede à Ordem do Templo o Castelo de Soure ("... meorum castello scilicet quod Saurium...") e seu termo, encravado entre os territórios de Montemor-o-Velho e Coimbra, desconhecendo-se claramente os seus limites, mas constituindo uma zona fulcral para a defesa desta cidade *1; Soure torna-se assim a primeira sede dos Cavaleiros do Templo em Portugal, anteriormente instalados em Fonte da Arcada, Minho, os quais, reforçam a defesa do castelo, construindo, pelo menos, duas torres flanqueando a frente sul; 1129, 13 março - confirmação da doação de Soure e do seu território à Ordem do Templo, por D. Afonso Henriques; 1144 - nova incursão muçulmana, comandada por Abu Zacharia, vizir de Santarém, que leva elevado número de prisioneiros, nomeadamente o presbítero Martinho Arias, que morre no cativeiro entre 1145 e 1147, alcançando a fama de santo, e ficando conhecido por São Martinho de Soure; 1147 - data da posse definitiva de Soure após a conquista de Santarém por D. Afonso I; 25 outubro - com a conquista definitiva de Lisboa, o território de Soure usufrui certa paz; 1147 - 1150 - no texto da vida de São Martinho de Soure, encomendado por D. Mendo Arias e redigido nesta data por Salvador, monge de Santa Cruz, refere-se que o castelo de Soure teria sido erguido pelo Alvazil D. Sesmando no tempo de Afonso VI de Leão, ou seja, entre 1065, ano em que Afonso VI assume a coroa, e cerca de 1091, ano da morte de D. Sesnando; séc. 12, meados - o castelo de Germanelo (Rabaçal), junta-se à linha de defesa avançada de Coimbra, constituída pelos castelos de Soure, de Santa Olaia, Miranda do Corvo (os dois últimos já desaparecidos), Montemor-o-Velho (v. IPA.00002593), Penela (v. IPA.00001597) e Lousã (v. IPA.00001200), sendo a partir de então Soure, terra de fronteira (Finis Terra), local de lutas constantes entre muçulmanos e cristãos, mantendo-se assim até à última década do século; 1160 - 1169 - Soure deixa de albergar a a sede dos Templários em Portugal, a qual é transferida para Tomar; séc. 12, 3º quartel ou 4º quartel (c. 1175) - reforma do castelo de Soure pela Ordem do Templo, conforme aponta ou denuncia a introdução do alambor na estrutura, com a construção da torre nordeste, com alambor; 1190 - 1191 - data do último cerco muçulmano a Coimbra; séc. 12, finais - séc. 13 - Soure perde a sua importância estratégica e militar com o progressivo avanço da fronteira de Portugal para o sul; 1217, dezembro - confirmação do foral de Soure por D. Afonso II e D. Urraca; 1231, 10 dezembro - constituição da comenda de Soure, da Ordem do Templo; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; 18 agosto - sentença atribui a posse das vilas e castelos de Soure, Ega e Redinha a D. Dinis; 1308, 23 junho - D. Dinis toma posse das vilas e castelos de Ega, Redinha e Soure; 30 junho - carta de posse pela qual D. Dinis tomara as vilas e castelos de Ega, Redinha e Soure, que lhe foram julgadas por sentença; 1309, 27 novembro - sentença definitiva em que são julgados pertencer ao rei as vilas e castelos de Ega, Redinha e Soure, bem como Pombal; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 24 junho - D. Dinis entrega a vila, o castelo e a igreja de Soure à Ordem de Cristo, constituindo-se como cabeça de comenda; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; na 1ª ordenação da Ordem estipula-se que, quem entre os freires fosse o comendador de Soure, teria de entregar 1100 libras anuais para a ajuda do sustento do convento de Cristo e 130 libras ao comendador de Cáseval; 1326, 16 agosto - quando D. João Lourenço procede à 2ª ordenação da Ordem de Cristo, determina-se que em Soure haja um comendador cavaleiro e mantenha consigo um cavaleiro freire, "guisado de cavalo e darmas, e de, em cada huum ano, ao studo de Coinbra mil duzentas libras… e esse comendador de Soyre aia as rendas desse logo do temporal e do spiritual, e paresse aos encarregos"; ou seja, Soure deixa de contribuir para o convento da Ordem e para a Comenda de Cásevel; 1335 - D. Afonso IV manda restituir à Ordem de Cristo o direito de confirmação dos juízes nomeados pelo concelho de Soure; 1347, 01 agosto - confirmação do foral de Soure por D. Afonso IV; 1383 - 1385 - durante a crise de sucessão, a povoação e o seu castelo tomam partido pelo Mestre de Avis; séc. 15, finais - séc. 16 - reforma do castelo por D. Manuel, nomeadamente na torre sudoeste, com abertura de amplas janelas; 1508, 08 março - Tombo da comenda de Soure; o castelo já não tem valor militar ou estratégico, está adaptado a aposentadoria do comendador, com a torre de menagem "derribada"de lado e entulhada e com uma outra torre também entulhada *2; 1513, 13 fevereiro - concessão de Foral novo por D. Manuel; 1837 - extinção das comendas, passando os seus bens para os Próprios Nacionais; venda de duas torres por João Ramos Faria ao Conde de Verride, João Lobo Santiago Gouveia; 1880 - moradores dinamitam a torre sudeste que ameaça ruir; 1930, década - inscrição do castelo na matriz predial urbana da freguesia de Soure, sob o artº. 7º, a favor dos herdeiros do Conde de Verride (95/96 avos) e de dois herdeiros de João Maria Santiago Gouveia Lobo Prezado, (1/192 avos cada) *3; 1940 - aquando do ano das Comemorações Centenárias, a Câmara negoceia com o proprietário do castelo, João Lobo de Santiago Gouveia, Conde de Verride, a entrega do imóvel, procedendo depois ao seu despejo e limpeza; no mesmo ano, o Dr. João Maria Presado, poeta, deputado e diplomata, oferece o Castelo à Câmara Municipal de Soure, mas a oferta não é legalizada; 1965, 15 fevereiro - a Direção de Serviços de Monumentos Nacionais do Centro notifica Santiago Prezado para proceder a obras no edifício; 19 fevereiro - Santiago Prezado responde "(...) e por isso, com satisfação minha, faço ao Município de Soure a pertença deste Castelo."; 28 fevereiro / 29 março / 23 abril - contactos entre a Câmara e Santiago Prezado no sentido de se realizar a escritura pública de alienação do imóvel; 1973, 05 novembro - data marcada para colocação do castelo em hasta pública por dívida dos seus proprietários ao Grémio da Lavoura local, tendo por base de licitação o valor de 60.480$00; a hasta pública acaba por não se realizar devido à hipoteca ter sido libertada à última hora, encontrando-se o imóvel em mau estado; 2000, depois de - os herdeiros de Santiago Prezado inscrevem a seu favor o prédio, na proporção de 1/192 avos para cada um; 2003 - colocação de lápide no interior em homenagem dos Templários, na presença do seu grão-mestre universal, D. Fernando Pinto de Fontes, da grã-prioresa de Portugal, D. Maria da Glória Pinto de Sousa, e do presidente da Câmara de Soure, Dr. João Gouveia; 2004, 10 março - data da escritura em que passa, definitivamente, a propriedade do Castelo para a posse do município de Soure. |
Dados Técnicos
|
Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
|
Estrutura em alvenaria de pedra calcária; molduras dos vãos em cantaria calcária; ajimezes em calcário de Ançã; porta em estrutura metálica. |
Bibliografia
|
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - «Arte da época visigótica». In História da Arte em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, vol. II; ALMEIDA, D. Fernando de - Pedras Visigóticas de Soure. Separata da Revista Ethnos. Lisboa: Editorial Minerva, 1966, vol. V; ALMEIDA, J. - Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: s.d.; BARROCA, Mário Jorge - «A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar Portuguesa do século XII». In Portvgália. Porto: 1997, nova série, vol. XVII-XVIII, pp. 171-209; BARROCA, Mário Jorge - Contribuição para o estudo dos testemunhos Pré-Românicos de Entre Douro-e-Minho. 1. Ajimezes, Gelosias e Modilhões de Rolos.» In Actas do Congresso Internacional IX Centenário da dedicação da Sé de Braga. Vol. 1, Braga: Tipografia Barbosa & Xavier, 1990, pp. 101-145; BARROCA, Mário - «Do castelo da Reconquista ao castelo Românico (Séc. IX a XII)». In Portugália. Porto: 1990 - 1991, vol. XI - XII; BARROCA, Mário Jorge - «Os Castelos dos Templários em Portugal e a organização da defesa do Reino no sec XII». (file:///C:/Users/apnoe/Downloads/188818-254786-1-PB%20(2).pdf), pp. 213-227; BORGES, Nelson Correia - «Lucêncio Bispo de Conímbriga e as origens do Mosteiro do Lorvão». In Conímbriga. Coimbra: 1984, n.º 23; BRANCO, José. Barbosa Canaes de Figueiredo - Castelo - Apontamentos a'cerca da Villa de Soure. Lisboa: Typographia da Academia Real de Sciencias, 1851; CAMPOS, Correia de - Monumentos da Antiguidade Árabe em Portugal. Lisboa: 1970; Castelo de Soure (http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=sitios.resultados&subsid=57861&vt=124850), [consultado em 31 março 2016]; Castelo de Soure (http://www.castelosemuralhasdomondego.pt/website/castelo-de-soure), consultado em 31 março 2016]; Castelo de Soure (http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70361/), [consultado em 31 março 2016]; CORREIA, Vergílio - Inventário Artístico de Portugal. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1953, vol. IV; D. Manuel I, a Ordem de Cristo e a Comenda de Soure, V Centenário da subida ao trono de D. Manuel. Catálogo da Exposição. Soure: Câmara Municipal de Soure, 1996; DIAS, Pedro - Visitações da Ordem de Cristo de 1507 a 1510. Aspectos Artísticos. Coimbra, Coimbra Editora, Lda, 1979; «Estudantes de várias nacionalidades reconstroem o Castelo de Soure». In Diário de Coimbra. Coimbra: 12 agosto 1969; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas do Val do Mondego. Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2006, vol. 3; LARCHER, J. - Castelos de Portugal. Coimbra: 1935; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1880, vol. 9; MORGADO, Isabel - Soure uma mui antiga terra da Estremadura. Soure: Câmara Municipal de Ourém, 1996; MOTA, Santos - «Valor histórico-cultural do castelo de Soure». In Livro do Congresso. Primeiro Congresso sobre Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: Património XXI - Associação Portuguesa para a Protecção e Desenvolvimento da Cultura, 1982, pp.166-168; OLIVEIRA, Nuno Villamariz - Castelos Templários em Portugal [1120-1314]. Lisboa: Ésquilo, 2010; PERES, Damião - A gloriosa história dos mais belos castelos de Portugal. Barcelos: Portucalense Editora, 1969; PERES, Damião - A gloriosa história dos mais belos castelos de Portugal. Barcelos: Portucalense Editora, 1969; (http://templariosportugueses.blogspot.pt/2010_03_01_archive.html), [consultado em 31 março 2016]. |
Documentação Gráfica
|
DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMCentro/DM |
Documentação Fotográfica
|
DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMCentro/DM |
Documentação Administrativa
|
DGPC: DGEMN:DSID (PT DGEMN:DSID-001/006-0620/1, PT DGEMN:DSID-001/006-0620/2, PT DGEMN:DSID-001/006-0620/3), PT DGEMN:DSARH-010/257-0010, PT DGEMN:DSARH-010/257-0007, PT DGEMN:DSARH-010/257-0008, PT DGEMN:DSARH-010/257-0009) |
Intervenção Realizada
|
DGEMN: 1944, 14 fevereiro - portaria concede à DGEMN a comparticipação de 5.000$00 para obras de restauro do castelo de Soure; pequenas obras de recuperação, pelo construtor civil Manuel de Jesus Cardoso; novembro - suspensão das obras por se ter esgotado as verbas concedidas; 1945, 10 março - portaria concedendo 10.000$00 para obras no castelo; as obras de restauro são realizadas pelo construtor Manuel de Jesus Cardoso e consistem na: demolição de paredes de alvenaria argamassada, picagem de rebocos em paredes em elevação, alvenaria com argamassa hidráulica em enchimento e fundações, limpeza de cantaria e tomadas de juntas, assentamento de cantaria de aparelho liso em portas, janelas e ombreiras, em substituição da existente, e cantaria lavrada em motivos de portas e janelas; 24 novembro - suspensão das obras por se ter esgotado a verba concedida; 1949 / 1950 - data do projeto da Câmara para alargamento da Rua da Vitória; 1969 - grupo de estudantes dinamarqueses, holandeses, ingleses e franceses, integrados no I Campo Internacional de Trabalho do Centro Universitário de Coimbra, passam o verão a trabalhar no castelo para a sua reconstrução e adaptação a pousada universitária; 1985 - obras de consolidação e limpeza, com consolidação da torre norte junto à porta do castelo, reposição de silhares no rombo da torre, aproveitamento de silhares existentes, reforço com betão ciclópico e refechamento de juntas; limpeza de cantarias no lado externo da muralha nascente, com escova e arame e refechamento de juntas com argamassa de cimento e cal; intervenção no coroamento das muralhas de modo a possibilitar, tratamento do arranque de restos de muralhas arruinadas; 1985 / 1986 - consolidação da torre norte e limpeza do lado externo da muralha nascente; coroamento das muralhas (impermeabilização); tratamento do arranque de restos de muralha; restauro da porta principal; trabalhos arqueológicos de pesquisa; IPPC: 1985, outubro - novembro - trabalhos arqueológicos nas imediações do castelo, permitindo a deteção de 20 sepulturas da antiga necrópole da Igreja de Nossa Senhora de Finisterra, quer sarcófagos, sepulturas, sepulturas constituídas em pedra, ou simples covas abertas na terra, em 5 níveis de enterramentos e sem quaisquer materiais no interior, bem como alguns muros, cuja finalidade, não fora definível; 1986, julho - continuação dos trabalhos arqueológicos de emergência iniciados no ano anterior, da responsabilidade de Maria da Conceição Lopes; 1986, agosto - outubro - trabalhos arqueológicos no castelo, da responsabilidade de Artur Manuel de Castro Côrte-Real, com definição das estruturas arquitetónicas da antiga Igreja de Finisterra, bem como a compreensão da utilização do adro com espaço de enterramento; DGEMN: 1998 - obras de consolidação na torre sul e muralhas adjacentes; IGESPAR: 2002 / 2003, janeiro - acompanhamento dos trabalhos de escavação manual e mecânica, realizados no âmbito da obra de construção das piscinas municipais e edifícios anexos na Zona de Proteção do castelo, pelos arqueólogos Gina Maria Mendes Dias e Miguel Jorge Gomes Tavares de Almeida; tal permitiu a identificação de um muro em alvenaria e vestígios de um pavimento em opus signinum, da época romana; do despejo intencional de desperdícios, provavelmente ocorrido durante a Idade Moderna, de telhas de distintas épocas, contendo também fragmentos de recipientes cerâmicos; 2003 - sondagem arqueológica aquando da construção das piscinas e edifícios anexos na Zona de Proteção do Castelo de Soure, por Gina Maria Mendes Dias, Maria João de Sousa Neves, Maria Teresa Gil Lopes Ferreira Calado e Miguel Jorge Gomes Tavares de Almeida; são então identificados um conjunto de estruturas defensivas medievais associadas ao castelo, parte da necrópole medieval e moderna de Nossa Senhora de Finisterra e estruturas habitacionais de época moderna. |
Observações
|
*1- A falta de uma delimitação clara da zona doada estaria na origem de um apócrifo, forjado no séc. 13, com a pretenda data de 29 de marco de 1128, esclarecendo os limites territoriais doados. A doação do território refere o castelo de Soure "(...) por seus termos antigos e novos, como se divide, e parte pelo porto de Arias e parte pela Fonte de Monte Mouro, e pela Barreira de Covieiros, e pela terra de Azoia águas vertentes a Carzo pelo termo de Cavalar, pelas comiadas de Alcobia e de hi a cabeça do Farreo, e pelo rosto da cabeça de Bevero, pela serra Barca, por São Filipe até o porto de Arias como descem as águas destes termos ao Mondego". Dá o castelo com "seus ermos cultivados, e por cultivar com todos os seus direitos ao dito castelo pertencentes, com todas as suas coisas do sobredito castelo, ou lugar por uso e costume a mim haviam sido dadas". *2 - No Tombo dos bens da Ordem de Cristo na vila de Soure, descreve-se que, "(...) Dentro na dicta villa e junto da egreja de nossa senhora tem a hordem huu castello e apousentamento de casas nesta maneira: logo huu Reçebimento a que entram per huu portal grande com suas portas. honde estaa huua escaada com seu mainel todo de pedraria bem obrado per que sobem a huua salla que tem huu bom portal de pedraria e huua janella d assentos contra o leuante e huua grande chamjnee ao norte e junto della outra janella e contra o ponente tem huua cozinha terrea. Na dicta salla tem huua escaada de madeira com seu mainel per que sobem pera estas cameras. a saber. duas oliveladas e huua encanjçada de dous sobrados com suas logeas per baixo e outra camera encanjçada que estaa sobre o portal principal da igreja de nossa senhora. de fronte da dicta salla e cameras estaa huua torre de menagem derribada de huua banda atee o meyo honde he entulhada. E junto della huuas paredes d outra torre também entulhada. Em huua das sobreditas cameras oliuelladas estam duas janelas d assentos. huua . a saber. ao sul e outra ao ponente e huua chaminee ao norte. e outra camera tem outra chaminee assim contra o norte. Todas estas casas de fundo a çima estam mujto bem repairadas de todo quanto lhes faaz mester e todo quasi de nouo feito aa custa d'el rey nosso senhor e som as ditas cameras ameadas a rredor". Entre o castelo e a Igreja a Ordem possuía ainda outras construções, nomeadamente, um pardieiro que foi celeiro em que se punham as rações das terras, partindo a norte com o campanário, a sul com a igreja de Santa Maria, ao levante com o adro e a poente com serventia da igreja; uma casa grande de celeiro, sobradado, que entesta a norte com a torre e ao sul com pardieiro da Ordem; um pardieiro que foi estrebaria e outros pardieiros; uma adega, junto à torre e partindo a sul com a dita torre e dos outros lados com ruas públicas; uma casa que fora cozinha da Ordem e então havia sido transformada em quatro casas dos pobres de São Mateus; os açougues, e outros. *3 - O castelo encontra-se inscrito na matriz predial urbana da Freguesia de Soure sob o art.º 7.º e descrito na Conservatória Predial sob o nº 17553. É descrito como uma "casa com fachada caiada, de pedra, conhecida por Ruínas do Castelo, sito na vila de Soure, a confrontar do norte com Afonso Abrantes e outros, do sul com Tribunal Velho, do nascente com o Largo do Paraíso e do poente com estrada. Tem a superfície coberta de 206 m2 e a superfície descoberta de 284 m2. O rendimento coletável é de 3024$00. Pertence a herdeiros do Dr. João Maria Santiago Gouveia Lobo Prezado". *4 - O autor Nuno Villamariz Oliveira aponta ainda a hipótese da configuração longilínea do castelo resultar "duma transformação do primitivo mosteiro, sobretudo devido à quantidade de materiais reaproveitados, o que pode indicar que, no tempo de D. Sesnando, a reforma efetuada terá sido feita com o remanescente desse edifício religioso - que poderia, por razões de ordem prática ter sido recuperado para as funções do castelo ou estar localizado na sua envolvente próxima". |
Autor e Data
|
Paula Noé 2016 |
Actualização
|
|
|
|
|
|
| |