Jardim da Casa de Recarei / Jardim da Quinta do Alão
| IPA.00022877 |
Portugal, Porto, Matosinhos, União das freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões |
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Jardim de caracterização estilística seiscentista, barroca e revivalista. Jardim de uso privado. A figura central do chafariz com tanque em losango, existente na zona do séc. 18, é semelhante à encontrada no jardim da preguiça da Quinta da Boa Viagem (v.IPA.00003501). A rara amaoreira-do-papel aparece também no jardim do Campo Grande e no Campo Mártires da Pátria, em Lisboa, e no jardim da quinta de Nossa Senhora da Aurora, em ponte-de-Lima, da mesma época. Recarei é talvez o mais bem preservado jardins português do séc. 17 conservando em muito bom estado toda a estrutura de condução de água, lago, muros, alegretes e bancos. Este tipo de estrutura típica do jardim seiscentista português existe, na maioria dos casos, fragmentada ou descrita em documentos. O jardim transparece toda a sua grandeza no privilégio apreciar o perfume, as cores variadas, texturas e todo o seu traçado inigualável e excepcionalmente bem mantido. Os elementos arquitectónico-escultóricos introduzidos por Nicolau Nasoni no séc. 18 conferem ainda ao jardim um carácter artístico relevante. É também de salientar a antiguidade de muitas das espécies existentes no jardim, como as camélias, o teixo ou a magnólia, plantadas de origem. A casa de fresco apresenta as paredes interiores pintadas de azul, mantendo a cor forte de origem. A amoreira-do-papel existrente na zona do séc. 18 é raramente utilizada em portugal. |
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Número IPA Antigo: PT011308040062 |
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Registo visualizado 3534 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Espaço verde Jardim Jardim Barroco
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Descrição
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Planta rectangular, dividida em duas áreas por muro de granito correspondentes à zona antiga e a outra mais recente. percorríveis no sentido E. / O. por caminho sob latada de glicínias. ZONA ANTIGA: constituída por três zonas rectangulares, percorridas por uma alameda central, comunicando com a latada. A primeira, do séc. 17, tem ao centro um chafariz de tanque octogonal com repuxo central, cercado por bancos ladeados por alegretes. A do meio, da mesma época, apresenta quatro tabuleiros de desenho simétrico de parterres de buxo talhado formando canteiros preenchidos com herbáceas ou arbustos coloridos (salvias, cravos, poligonum, bordo, etc). A última, do séc. 18, tem um desenho assimétrico de canteiros de buxo talhado onde abundam árvores exóticas. Ao centro, chafariz com tanque em forma de losango com putto sobre golfinho e segurando numa das mãos, um búzio servindo de bica e noutra o brasão da família Alão. Nesta zona, adossada ao muro que limita o jardim a N., e alinhada com as duas outras peças de água da alameda, existe uma fonte, com alto espaldar recortado em que a água sai em duas quedas sucessivas para uma taça. Na parte posterior do espaldar adossa-se depósito de água para abastecimento da rega e a ornamentação do jardim. A E., no seguimento da fachada da casa, o muro está trabalhado desenhando as costas de um banco que lhe está adjacente. Nesta zona, existem outros bancos e mesas para estadia. Junto ao muro que limita a zona antiga, a O., está construída uma casa de fresco quadrangular com cobertura em coruchéu e pináculos nos ângulos. No interior, com paredes pintadas de azul, fonte ornamentada com figura humana policromada, que deita água por uma bica para taça encastrada na parede. Num dos lados, a parede é ligeiramente recuada em forma de nicho com um banco encaixado e noutro abre-se janela recortada sobre a zona antiga do jardim. No muro que separa a zona antiga e recente, existe um nicho confrontante com outro localizado no muro oposto, tendo cada um deles uma escultura feminina seiscentista, representativas da Bondade e da Felicidade *2. Entre a casa de fresco e o nicho do muro rasga-se janela com vista para a zona recente, onde existem duas alamedas que se cruzam no centro em chafariz com tanque circular e repuxo central. Um outro caminho, lateral, estende-se paralelamente à alameda central, desde a janela rasgada no muro limite até ao portão com saída para a Via Norte. São assim definidos seis grandes canteiros com diversas espécies exóticas ou autóctones num jogo colorido. |
Acessos
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Rua da Mainça, 204 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 5/2002, DR, 1ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002*1 |
Enquadramento
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Zona densamente industrializada e praticamente rodeada de grandes vias de circulação rápida. Estas construções emparedam visual e sonoramente a quinta quase atingindo fisicamente o limite da mesma. O jardim desenvolve-se a O., junto à fachada posterior da casa (IPA.00004961), e tem acesso por uma passagem ao nível do primeiro piso da mesma, ao lado da capela, após passar o terreiro que existe em frente à entrada principal do edifício. Na proximidade, localiza-se o Mosteiro de Leça do Balio (v. IPA.00004968). |
Descrição Complementar
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"Tendo a arte de conceber uma composição vegetal com o privilégio de um terreno fértil e um clima ameno, os donos e os jardineiros de Recarei souberam trabalhar com este material vivo, e conseguir conciliar a intervenção do Homem com a Natureza, sentindo o crescer das plantas aos longo dos anos, das várias estações e do ritmo diário do sol" (CASTEL-BRANCO, 2002: 52). |
Utilização Inicial
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Recreativa: jardim |
Utilização Actual
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Recreativa: jardim |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Nicolau Nasoni (casa de fresco, fontanário e nichos com esculturas da Bondade e Felicidade). |
Cronologia
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Séc. 15 - Primeira referência à Casa, que pertencia a Lopo Camelo e sua mulher Inês Coelho e cuja bisneta, Maria Nunes Camelo, casou com Aleixo Alão de Morais; séc. 17 - Cristóvão Alão de Morais, neto de Aleixo Alão de Morais, toma posse da casa e é responsável por grande parte da qualificação da propriedade; 1662 - Cristóvão Alão de Morais casa com D. Joana Teresa de Carvalho, irmã colaça dos reis D. Afonso IV e D. Pedro II, permitindo que, após a sua morte, a viúva recebesse uma tença em reconhecimentos dos serviços por si prestados à nação, mantendo-se, deste modo, a propriedade; séc. 18 - a quinta é adquirida por um inglês, que amplia a ala da casa que une a capela à parte antiga; construções dos elementos de Nicolau Nasoni; séc. 19 - a propriedade é comprada por Nunes de Matos e, finalmente, pelos actuais proprietários; séc. 20 - construção da zona recente do jardim, pelo actual proprietário, substituindo o pomar e a horta. |
Dados Técnicos
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As três zonas da parte antiga do jardim são divididas por pequenos socalcos sustentados por muros de suporte com um acesso de três degraus cada um, minimizando o declive do terreno. A água provém de pelo menos quatro minas e corria em caleiras a céu aberto atravessando e regando por gravidade todo o jardim desde a fonte adoçada ao muro até ao socalco de cota inferior. |
Materiais
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INERTES: granito na maior parte dos elementos constituintes do jardim (muros, bancos, peças de água, caleiras). VEGETAL: árvores - ácer (Acer sp), amoreira-do-papel (morus papyrifera),araucárea (Araucarea bidwilii), camélia (Camelia japónica), feto arbóreo (Sphaeropteris cooperi), lagestroemia (Lagaestremia indica), magnólia (Magnolia grandiflora), teixo (Taxus baccata); arbustos - azálea (Azalea sp), buxo (Buxus semperviriens), noveleiro (Viburnum opulus), rododendro (Rhododendron ponticum), Rosa (Rosa sp),; herbáceas -alegria-do-lar (Impatiens oliveri), cravo (Dianthus caryophillus), salvia (Salvia splendens); trepadeiras - glicínias (Wisteria Sinensis). |
Bibliografia
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ARAÚJO, Ilídio, Arte Paisagista e Arte dos Jardins em Portugal, Lisboa 1962; BRANCO, Cristina, Jardins com História, INAPA, Lisboa 2002; CARITA, Hélder e CARDOSO, Homem, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, Circulo de Leitores, 1990; FARIA, F. Godinho, Monografia do Concelho de Bouças, S/1, 1899; GAIO, Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Braga, 1942; MORAIS, C. Alão, Pedatura Lusitana, T. III, Vol. II, Porto, 1943-48; MOREIRA, A. L. e NOBREGA, V. O., Pedras de Armas do Concelho de Matosinhos, Matosinhos, 1960; PINHO BRANDÃO, Domingos, e outros, A obra de Nicolau Nasoni, Porto 1987; REIS, Sousa, Cristóvão Alão de Morais, in Panorama n.º 123 e 127, Lisboa, 1844; VICTOR, Mário, Alão de Morais, Porto, 1928. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN / DSID, Arquivo Pessoal de Ilídio de Araújo (IAA); Proprietário |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Nada a assinalar |
Observações
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A quinta situa-se dentro do território medieval Villa Recaredi, nos arredores do Porto. O actual proprietário, é detentor de todo o arquivo da casa e da família Alão que lhe foi legado pelo descendente da família Alão que vendeu a propriedade no séc.18. *1 - Casa de Recarei, incluindo os jardins do século XVII e os elementos escultóricos atribuídos a Nicolau Nasoni; *2 - As cabeças das duas imagens foram cortadas durante os motins relacionados com a "Monarquia do Norte". Visitável mediante marcação com o proprietário. |
Autor e Data
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Pereira de Lima 2004 |
Actualização
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