Monumentos 15: Convento das Comendadeiras de Santos-o-Novo, Lisboa
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Dossiê: Convento das Comendadeiras de Santos-o-Novo, Lisboa
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Setembro 2001, 24x32 cm, 176 pp. (<2Kg.)
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O Recolhimento de Santos-o-Novo das Comendadeiras de Santiago
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José Sarmento de Matos
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Santos-o-Novo é um dos melhores exemplares da arquitetura de transição do século XVI para o XVII, pela sua invulgar dimensão, qualidade, sobriedade e austeridade arquitetónicas. Guarda a evocação de uma das mais antigas lendas do cristianismo lisboeta (as relíquias dos Santos Mártires Máxima, Veríssimo e Júlia). O mosteiro, construído na zona oriental da cidade, durante o período filipino, pelo empenho de D. Cristóvão de Moura, enquanto vice-rei de Portugal, introduziu em Lisboa um exemplar de escala imperial, à semelhança de El Escorial, não tendo chegado, porém, a ser construído na íntegra, pelas dificuldades financeiras que tal projeto megalómano acarretava. Inscreve-se, todavia, na profunda campanha de construções que, nesta época, marcaram para sempre a imagem da cidade.
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O convento e as religiosas da Ordem de Santiago
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José Silva Ferreira Mata
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O Mosteiro de Santos-o-Novo, pertença das Donas da Ordem de Santiago, começou a ser construído em 1609, a partir de um antigo sonho do cardeal D. Henrique, o qual, durante o seu curto reinado, realizou um levantamento dos bens de todas as ordens religiosas, a fim de poder acudir às suas necessidades. Porém, o sonho do velho monarca só se tornaria realidade no período filipino, ainda que o edifício só viesse a ser completado em 1685, no reinado de D. Pedro II. O mosteiro tornou-se, assim, um símbolo da grandeza das suas Donas, bem como da longa existência da Ordem de Santiago, desde o nascimento da nacionalidade até à sua extinção.
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Os grandes programas arquitetónicos filipinos para as ordens militares e o Mosteiro de Santos-o-Novo
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Miguel Soromenho
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A dimensão do mosteiro obrigou à aquisição de propriedades confinantes, mas dificuldades orçamentais fizeram arrastar o projeto. Em planta, o cenóbio desenvolvia-se por dois grandes volumes correspondentes, nas bandas laterais do eixo central formado pela igreja, cada um deles organizado, presumivelmente, em torno de um claustro. Afinal, apenas um destes foi construído, esperando o templo quase um século para ser erguido, então já fora dos planos iniciais. Também a edificação da igreja é tardia e a sua actual orientação, muito pouco habitual, deve explicar-se por duas razões substanciais, certamente por sugestão das freiras: pelo abandono do plano inicial, que não consagrava a tradicional entrada lateral dos conventos femininos e a colocação do coro aos pés da igreja; pela tentativa consequente de alinhar na fachada nobre o corpo conventual e a entrada da igreja, no topo do caminho de acesso à grande mole edificada, mantendo o efeito cenográfico da longa cortina virada ao rio.
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O projeto inicial e o projeto final
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Paulo Santos Costa
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O Convento de Santos-o-Novo em Lisboa, da Ordem Militar de Santiago de Espada, insere-se numa série de campanhas de construções e reconstruções de edifícios conventuais levadas a cabo pela Contra-Reforma Tridentina. Porém, a sua história é atribulada e do facto se podem retirar algumas conclusões importantes para a sequência evolutiva da construção do complexo conventual. Santos-o-Novo é assim uma arquitetura simples, austera e funcional, que revela uma calma monumental exterior e interior. O convento, um dos maiores e mais importante conjunto do património religioso da capital, apesar de um terço do inicialmente projetado, continua com a sua monumentalidade a levantar questões aos investigadores, na tentativa de interpretar o projeto inicial, de escala grandiosa, previsto para as Comendadeiras Espatárias, pelo arquiteto Baltazar Álvares.
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A arte da talha
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Francisco Lameira
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A obra de talha dourada que ainda subsiste na igreja e em várias capelas do claustro do Convento das Comendadeiras de Santos-o-Novo, em Lisboa, constitui em si um testemunho particularmente interessante e que nos ilumina sobre uma realidade de esplendor vivida naquele cenóbio ao longo de três séculos de história, mais concretamente desde que começou a ser habitado, cerca de 1685, até à sua extinção no século XIX. Os exemplares remanescentes datam dos finais do século XVII e da primeira metade do século XVIII e constituem interessantes testemunhos da talha barroca.
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Azulejos e mármores embutidos
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José Meco
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O Convento de Santos-o-Novo possui interessantes decorações de azulejos, aplicados na igreja, em diversas capelas e em redor de algumas portas do claustro, formando espetaculares composições cenográficas. Os mais antigos, do final do século XVII, encontram-se na entrada e na Capela de Nossa Senhora da Encarnação. Outros azulejos barrocos e alguns rococós, aplicados ao longo do século XVIII, encontram-se nas restantes capelas e nas portas do claustro. Alguns azulejos rococós tardios, no coro, escada e salão no claustro superior, refletem estragos causados por um incêndio, em 1773. Na igreja destacam-se os painéis de azulejos barrocos, com cenas alusivas aos Três Mártires de Lisboa, e na capela-mor encontram-se notáveis revestimentos de mármores policromos com ornatos embutidos, do início do século XVIII.
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O antigo retábulo renascentista pintado por Gregório Lopes na Igreja das Comendadeiras Espatárias de Santos-o-Novo
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Vítor Serrão
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Neste artigo estudam-se seis tábuas do antigo retábulo-mor do Mosteiro das Comendadeiras de Santos-o-Novo, pintadas cerca de 1540 e recolhidas em 1911, por iniciativa de José de Figueiredo. Expostas no Museu Nacional de Arte Antiga, estas peças de alto nível plástico atribuídas a Gregório Lopes, pintor régio de D. João III e cavaleiro dessa ordem militar, constituem o único vestígio importante que nos chegou do segundo recolhimento de comendadeiras de Santiago que existiu em Lisboa.
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O património escultórico do Mosteiro de Santos-o-Novo: leitura de um rol de inventário
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Maria João Vilhena de Carvalho
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O património escultórico de Santos-o-Novo corresponde às três fases da história da casa das Comendadeiras da Ordem de Santiago. Composto por cerca de cinco dezenas de imagens religiosas, constitui um caso raro no panorama das casas monásticas femininas portuguesas, conservando-se ainda cerca de metade das existências inventariadas no ato final da extinção, em 1834, a grande maioria das quais albergadas in situ e ainda ao culto. A partir da leitura dos Autos de Inventário redigidos em 1894 procura reconstituir-se a composição do acervo de imaginária religiosa, no contexto da espiritualidade vivida no Mosteiro de Santos-o-Novo.
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A Capela de Nossa Senhora da Encarnação e o “barroco nacional” em Santos-o-Novo: leitura iconográfica e iconológica
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Patrícia Alexandra R. Monteiro
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A Capela de Nossa Senhora da Encarnação, verdadeiro exemplar de exuberância decorativa do estilo protobarroco tipicamente português, datada dos finais do século XVII, contrasta com a severidade do claustro. Os diversos elementos iconográficos, decorativos e estéticos, formam um todo na exaltação da Virgem, a quem a capela é dedicada. Localizada no claustro, mostra claramente o seu uso exclusivo pelas comendadeiras, as quais procuravam seguir os seus exemplos de virtude. Interiormente, as paredes da capela são decoradas com painéis de azulejo e pinturas que representam os passos da vida da Virgem, bem como talha dourada, e nos tetos pinturas de grotesco e imaginária, formando simultaneamente uma estética original e vernacular.
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A cerca e o jardim do claustro: dois espaços do nosso descontentamento
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Aurora Carapinha
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Partindo da hipótese de que a traça do Convento de Santos-o-Novo é da responsabilidade de Teodoro Frias, de Juan Herrera e de Baltasar Álvares integra-se o jardim do claustro e o desenho da cerca no ideário do jardim clássico filipino que se caracteriza pela inclusão plástica do tratamento da natureza, com a conceção espacial unitária, seguindo escalas graduais de transição desde a arquitetura até à natureza. Através da cartografia oitocentista de Lisboa procuram-se reflexos daquele ideário conceptual e as transformações que aqueles dois espaços sofreram ao longo do tempo.
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A Irmandade do Senhor dos Passos
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Jorge de Brito e Abreu
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A Irmandade do Senhor dos Passos de Santos-o-Novo, sediada no claustro deste mosteiro, foi fundada em 1705 por requerimento da prelada e donas comendadeiras do mosteiro e instituída por Breve de Benedicto XIV e Provisão de Abril de 1706 do prior-mor de Santiago, D. Francisco Lobo da Silveira. O culto do Senhor dos Passos era, no entanto, mais antigo como refere a petição inicial transcrita no Livro do Assento das Irmãs que incluía o Compromisso. Dividido em três partes, o Compromisso estabelece os principais preceitos da irmandade (governo espiritual, obrigações das oficiais e mordomas).
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A heráldica em torno do Mosteiro de Santos-o-Novo: do institucional ao social
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Nuno Campos
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O Mosteiro de Santos-o-Novo, o Recolhimento de Lázaro Leitão e o Palácio de Pancas-Palha são edifícios que, outrora, tiveram a sua importância social e cultural na zona de Santa Apolónia/Xabregas: o primeiro, pertença da ordem religioso-militar de Santiago de Espada, sob a alçada da Coroa; o segundo, uma obra social ligada, de certa forma, à Igreja, através do seu fundador, o principal da Sé de Lisboa, Lázaro Leitão; o terceiro, uma habitação nobilitada. Em todos eles estão patentes representações heráldicas que os identificam simbolicamente com os, então, seus proprietários e com conjunturas espácio-temporais.
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A Igreja de São Pedro de Rubiães
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Francisco Sande Lemos, Luís Fontes, Rute Palmeirão e Lídia Costa
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A Igreja Paroquial de São Pedro de Rubiães, classificada como Monumento Nacional, inscreve-se num espaço rural no Norte de Portugal. O templo apresenta uma planta orientada E/O, com nave retangular e abside quadrada, com cobertura a duas águas. A pequena sacristia é também de planta retangular. No topo noroeste da nave levanta-se a torre sineira. Em 1936/1937 a igreja sofreu uma intervenção de fundo efetuada pela DGEMN. Desde então foi várias vezes objeto de obras de conservação, incluindo instalações elétricas e sonoras.
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Centro de Interpretação e Informação de Vila Real: Parque Natural do Alvão, Instituto da Conservação da Natureza
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João Rapagão e César Fernandes
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O Centro de Interpretação e Informação do Parque Natural do Alvão ocupa dois imóveis da arquitetura civil de Vila Real, localizados na transição e articulação entre a vila velha e o centro histórico, no encontro entre a Rua Camilo Castelo Branco e o Largo dos Freitas. A ligação não defende a anulação da marcação das duas unidades que são, assim, mantidas e reveladas ao utente e visitante que percorre o equipamento. A modelação e a ordenação dos espaços e usos permitem, ainda, a sua evolução e a sua transformação futuras afirmando, assim, a flexibilidade da organização espacial e funcional. A opção defendeu, por último, a apropriação e a manutenção da imagem dos imóveis na identificação e caracterização do espaço público, defendendo os conceitos de unidade espacial e temporal.
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Intervenções da DGEMN
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Olga Moreira da Silva
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O edifício do Convento de Santos-o-Novo, outrora recolhimento para as “donas de bom nascimento”, preserva hoje de certo modo essa “ocupação”, pertencendo quer aos Recolhimentos da Capital através do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, quer à Residência Prof. Pinto Peixoto, através dos Serviços Sociais do Ministério da Educação. A DGEMN foi chamada a desenvolver um plano de intervenção global nesse edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público, com vista à sua conservação, melhoria e manutenção, assegurando a atual vivência deste magnífico exemplar da zona oriental de Lisboa. As obras já realizadas e as que se seguirão, destinam-se a resolver os problemas decorrentes da vetustez da construção e a reforçar a sua adaptação funcional, de forma criteriosamente ponderada, nas soluções arquitetónicas, nas técnicas construtivas e nos materiais empregues.
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O conjunto urbano da envolvente de Santos-o-Novo
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José Manuel Fernandes e Jorge Gaspar
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No âmbito do Programa VALIS (Valorização de Lisboa), no início dos anos noventa do século XX, o denominado Conjunto dos Barbadinhos (Igreja, Recolhimento, Museu da Água, Estação de Santa Apolónia, Palácio Pancas-Palha, Recolhimento de Lázaro Leitão, Convento de Santos-o-Novo) deveria constituir o núcleo do primeiro polo da renovação e reabilitação. Foi proposta uma série de intervenções desde o Poço do Bispo até Santa Apolónia, com a intenção de reforçar o conteúdo cultural da área ribeirinha, ao mesmo tempo que se enalteceria a memória da industrialização.
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Os arcos de um certo jardim: o Aqueduto de São Sebastião, em Coimbra
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Maria Fernandes
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A metodologia de inspeção e conhecimento preliminares diretos e a recolha paralela de elementos referentes ao objeto em causa são os procedimentos mínimos e a base indispensável para o futuro projeto de conservação. Dada a avançada degradação física em que se encontrava o monumento, procedeu-se à sua manutenção, consolidação e restauro, nomeadamente, à limpeza dos paramentos por via seca e por via húmida, aplicando, em ciclos intervalados, herbicida, escovagem e biocida. As juntas de alvenaria foram posteriormente fechadas com argamassa em cal aérea hidratada, areia e saibro de forma a aproximar-se da tonalidade da pedra. Preencheram-se diversas lacunas da alvenaria com argamassa ou com pedras idênticas às existentes. Nesta intervenção recuperaram-se de certa forma os trabalhos de manutenção que seguramente estas alvenarias conheceram em toda a sua existência. Resta garantir que a história não se repita e que o monumento não chegue de novo ao estado lastimável de abandono em que se encontrava.
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Ermida do Senhor Jesus da Boa Nova: intervenções recentes
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Júlio Teles Grilo
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Construída, com aval régio de D. João V, entre 1744-1748, a conceção desta ermida é atribuída ao arquiteto Manuel da Costa Negreiros. Apresenta influência “borrominiana”, com fachada de embasamento proeminente, frontão contracurvado, óculos elipsoidal e circular, fogaréus e pilastras duplas adossadas. É composta no seu interior por nave única quadrangular coroada por cúpula de pendentes e capela-mor de abóbada cruzada.
A intervenção efetuada retificou, ao nível das coberturas, situações anómalas existentes, repondo as características formais e técnicas do imóvel. Nas fachadas as cantarias foram lavadas com água nebulizada, consolidaram-se pedras fendilhadas e preencheram-se juntas e fissuras superficiais, as paredes foram picadas e efetuado novo encasque, emboço e reboco de cal e areia, com acabamento estanhado para caiar. A caixilharia dos vãos foi recuperada com madeira de casquinha e pintada a tinta de óleo. Os elementos de ferro foram igualmente tratados. No interior efetuou-se o mesmo tipo de recuperação em paredes, tetos, pavimentos e vãos.
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Real Fábrica do Gelo
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Fernando Severino Lourenço, Fernando-António Almeida e Victor Mestre
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Na história do gelo em Portugal, a Real fábrica do Gelo de Montejunto representa no século XVIII uma revolução na produção do gelo utilizado na conservação de alimentos, refrigeração de bebidas e produção de gelados, porém, a moderna tecnologia do frio ditou o encerramento da fábrica e o seu consequente abandono. Localizado numa zona densamente florestada, o conjunto fabril obedece a uma técnica de construção original, quer arquitetonicamente, quer de engenharia, que fazem da fábrica uma preciosidade única do nosso património, nomeadamente no campo da arqueologia industrial. A conservação e o restauro efetuados revelam um conjunto de ações que estão para além do projeto, tiveram por base pesquisa, experiência e ajustamentos permanentes ao projeto inicial. Conservar, restaurar, reabilitar é sempre intervir, mas acima de tudo é um ato de cultura que deve aperfeiçoar os processos para que as intervenções revelem "tempos de restauro" ocultos nas estruturas antigas e que devem ser estudados e integrados nas intervenções.
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Recuperação dos panos de muralha aluídos no Castelo de Portel
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José Filipe Cardoso Ramalho
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Portel obteve de D. Afonso III em 1261 licença para se fortificar. A construção do castelo prosseguiu no reinado de D. Dinis e seria concluída em 1510, por influência do duque de Bragança, D. Jaime, que encarregou o arquiteto régio, Francisco de Arruda, da obra. O Castelo de Portel, propriedade da Fundação da Casa de Bragança, tem sido objeto de várias campanhas de obras por parte da DGEMN. A presente intervenção teve como objetivo a recuperação e a reconstrução do pano de muralha aluído e do cubelo adjacente, efetuada através de processos e técnicas tradicionais de construção.
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