Jardim da Cerca do Mosteiro de São Simão da Junqueira

IPA.00022900
Portugal, Porto, Vila do Conde, Junqueira
 
Cerca conventual. Barroco. Jardins e claustro. A cerca mantém a sua estrutura e divisão de espaços consoante os usos iniciais apresentando um conjunto de muros que associados ao aqueduto constituem uma peça coerente e de valor intrínseco, única e insubstituível. A harmonia dos jardins e a conjugação dos vários espaços proporciona uma leitura contínua da cerca e a originalidade do desenho do buxo e dos chafarizes transmite uma vez mais a sua unicidade. Um outro aspecto muito marcante do espaço é o contraste de luz e sombras que a zona das tílias proporciona oferecendo relaxamento e uma espécie de pausa nas sensações mais surpreendentes das restantes áreas. É ainda de registar que o silêncio impera em toda a cerca soando apenas o murmúrio da água e da fauna local.
Número IPA Antigo: PT011316120075
 
Registo visualizado 2461 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Espaço verde  Jardim  Jardim  Barroco    

Descrição

No muro insere-se o portão de acesso que dá para o jardim percorrível por uma alameda entre canteiros de Buxo. Este espaço, de forma rectangular, é limitado à esquerda pelo edifício do Mosteiro e à direita por um muro, que funciona como miradouro sobre a envolvente e onde se inserem três namoradeiras decoradas com pináculos. O desenho criado à esquerda e à direita da alameda é diferente mas, em ambos os casos, é geométrico e o buxo dos canteiros exteriores é topiado com pirâmides cortadas e encimadas por esferas. Estes canteiros permitem aceder ao seu interior onde existem outros mais baixos e pequenos preenchidos, entre outras espécies, com ciprestes de porte colunar. A zona junto ao muro é ainda ornamentada por um tanque que tem um repuxo ao centro. A alameda termina num chafariz que jorra água por quatro bocas de figuras esculpidas numa esfera encimada por um pináculo de grandes dimensões. Termina, neste alinhamento, a fachada do edifício abrindo para a esquerda uma área arborizada com 13 tílias seculares. O compasso suficientemente apertado com que estão plantadas cria um tecto vegetal denso gerador de sombra e frescura que diferencia esta zona das adjacentes. Seguindo a fachada lateral do Mosteiro pode aceder-se por um portão trabalhado de ferro forjado, após a área das tílias, a outro local ajardinado atravessado ao fundo por um grande aqueduto que serve exclusivamente o Mosteiro. Este jardim é constituído por buxo talhado em grandes canteiros que compreendem outros desenhados em quadrículas de duas filas, e que, por sua vez albergam no seu interior uma nova estrutura quadriculada de canteiros com um Buxo de grande porte ao centro. Os três tipos de canteiros são alternados por alinhamentos de esferas, também de buxo talhado. À direita da entrada para este jardim existe um caminho murado que dá acesso às antigas zonas agrícolas em cada lado do arruamento. Este termina numa alameda que lhe é perpendicular e separa a cerca dos campos agrícolas, também estes murados e onde persistem macieiras e pereiras.

Acessos

Junqueira, Estrada de Famalicão para Guimarães

Protecção

Categoria: MIP - Conjunto de Interesse Público, Portaria n.º 315/2014, DR, 2.ª série, n.º 92 de 14 maio 2014 *1

Enquadramento

A cerca situa-se numa zona plana, antecedida por um largo, junto à estrada, que tem ao fundo a igreja paroquial da Junqueira, e é atravessada por um aqueduto (v. PT011316120151). É adjacente a terrenos urbanizáveis também ligados ao mosteiro. Tem vista ampla sobre os campos de milho vizinhos.

Descrição Complementar

"Aquele portão entreaberto, o silêncio, o lugar ermo, se não aproveitasse seria tolo ou encaminhado. Empurrou um pouco o portão, cautelosamente, e espreitou para dentro. O muro afinal não era um muro, mas um estreito corpo de edifício assente sobre a abóbada da entrada. Agita-se o coração do viajante, ele sabe, que é o primeiro a adivinhar estas coisas, e como se repente tivesse entrado num sonho, já entrou, já lá está dentro, numa rua ampla que separa dois jardins diferentes, um à esquerda, no pé do grande edifício que deve ser o antigo Mosteiro, e o outro à direita, todo recortado em estreitíssimas áleas de buxos cortados, e certamente aparados de fresco. O outro jardim está a um nível superior, tem umas balaustradas, algumas árvores de médio porte (...). Avança mais uns passos pela álea central, tem de apressar-se porque a noite vem aí e dá com um amplo espaço arborizado, árvores baixas de larga copa que formam um tecto vegetal a que quase se chega com um braço. O chão está coberto de folhas, uma espessa camada que rumoreja sob os passos. (...). Avança mais, passa um arco de um muro e na luz quase última, vê um largo terreno com árvores de fruto, um aqueduto ao fundo, ervas bravas, caminhos empedrados, platibandas, roseiras transidas." (SARAMAGO 1999:70).

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 11 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Deconhecido.

Cronologia

1072 - 1082 - Construção do mosteiro, tendo como patrono D. Areas, arcediago de Braga. 1181 - D. Afonso Henriques doa ao Mosteiro as terras que haviam pertencido a D. Paio Guterres e confere a carta de couto ao mosteiro; séc. 12 / séc. 16 - É habitado pelos monges agostinhos; 1595 - o mosteiro é integrado na Congregação de Santa Cruz de Coimbra; 1770 - O Papa Clemente XIV, com o beneplácito de D. José I e do Marquês de Pombal, extinguiu o convento, sendo a propriedade adquirida pela família do Dr. João Rebelo de Carvalho, última pessoa singular detentora da mesma; 1975, 31 janeiro - Despacho do Secretário de Estado da Cultura e Educação Permanente de Homologação do convento como Imóvel de Interesse Público, incluindo então o Mosteiro, jardins, fontes, claustro e fonte; 2003 - A propriedade é comprada pela RAR imobiliária que dá início a um projecto turístico no mosteiro e habitacional nos terrenos adjacentes.

Dados Técnicos

A água utilizada na cerca provém de minas existentes no exterior da propriedade entrando na mesma por um aqueduto de dimensão relativamente grande.

Materiais

Material Vegetal: buxo (Buxo sempervirirens); cipreste (Cupressus semperviriens); tília (Tilia cordata); glicínia (Wisteria sinenesis). Inertes: granito.

Bibliografia

SARAMAGO, José, Viagem a Portugal, 18ª edição, Caminho, Lisboa, 1999. CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com História, INAPA, Lisboa 2002

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - DOF.: Mosteiro de São Simão da Junqueira, jardins, fontes, claustro e fonte. *2 - Existe uma lenda segundo a qual, no tempo das cruzadas, um cruzado deixou a sua mulher no convento e, no regresso, ajoelhando-se aos seus pés, apercebeu-se da presença de um chapéu de um cavalheiro muito galante em cima da cama. O culpado perdeu a cabeça e converteu-se num fantasma sedutor que deambula melancolicamente sempre que uma jovem mulher habita aquele quarto.

Autor e Data

Pereira de Lima 2004

Actualização

 
 
 
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