Convento da Ordem Terceira da Penitência / Convento e Igreja do Menino Deus

IPA.00004801
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura religiosa, barroca. Convento da Ordem Terceira de São Francisco. Trata-se de um dos primeiros exemplos de edifício religioso do início do séc. 18 a evidenciar uma opção pela planta composta por octógono irregular e rectângulo justapostos. Evidencia igualmente uma opção pelos materiais nobres que se traduz na utilização dos mármores em alternância cromática, importantes elementos introdutores de ritmo na leitura dos alçados internos.
Número IPA Antigo: PT031106340037
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Terceiros

Descrição

Planta longitudinal composta por um octógono irregular - resultante do chanframento dos ângulos de um quadrado - e por um rectângulo (capela-mor), sendo o conjunto coberto por telhado de estrutura piramidal a várias águas. Na fachada principal a E. da igreja, integralmente de cantaria, podem reconhecer-se 3 corpos, separados por pilastras salientes, constituindo-se os laterais como bases do lançamento de 2 torres que não chegaram porém a elevar-se para além do limite superior do corpo central. Em altura reconhecem-se claramente 2 níveis separados por um friso saliente. No piso térreo observam-se, em cada um dos corpos laterais, após a marcação de um embasamento, 2 janelas quadradas sobrepostas, com emolduramento de cantaria ostentando motivos decorativos curvilíneos relevados. No corpo central acede-se ao portal principal, que se abre a eixo, por uma escadaria de 2 lanços que se desenvolvem paralelamente ao plano da fachada e convergem diante da porta. O portal principal apresenta-se ladeado por dupla coluna de ordem coríntia e encimado por 2 volutas que efectuam a articulação com um janelão rectangular, por sua vez sobrepujado de um óculo que interrompe o friso separador de níveis. No 2º andar deste alçado principal podem observar-se, em cada um dos corpos laterais, uma janela quadrada idêntica às anteriormente referidas. No corpo central abrem-se 3 nichos, sem estatuária, 2 deles apresentam-se coroados por frontões curvos ladeando o central encimado por frontão triangular. Superiormente o edifício é rematado por cornija de cantaria. INTERIOR: 8 capelas em arco de volta inteira, encimadas por tribunas com vãos iluminantes, abrem-se nas paredes animadas pela alternância de mármores polícromos e separadas por pilastras quebradas, com caneluras e possuem retábulos de talha e obras de pintura atribuídas a André Gonçalves (1692 - 1762) - a partir de desenhos de Vieira Lusitano (1699 - 1783), Inácio de Oliveira Bernardes (1695 - 1781) e André Rubira. No corpo da igreja distinguem-se ainda 2 púlpitos de madeira. O tecto apresenta uma pintura executada por João Nunes de Abreu (m. 1738) e Jerónimo Silva, segundo desenho de Vitorino Serra (m. 1747), em "trompe l'oeil", com quadraturas, formando arcos, cornijas, modilhões, reunidos por festões e que convergem para um painel central, onde se desenvolve a Glorificação de São Francisco", junto à Corte Celeste. Nos ângulos, a Temperança, Justiça, Força e Prudência. Na capela-mor, coberta por abóbada de aresta, destacam-se: o retábulo de cantaria de concepção arquitectónica e albergando um trono de talha dourada no vão central; as duas estátuas de mármore representando São Domingos (lado do Evangelho) e São Francisco (lado da Epístola), atribuídas a João António Bellini de Pádua; e ainda, nos muros laterais, telas de Vieira Lusitano e de André Rubira representando " São Francisco despojado dos hábitos seculares" e " O trânsito de São Francisco ". A sacristia, de planta quadrada, apresenta um lavabo de brecha da Arrábida e lioz, e é coroada por um zimbório alto, no centro da cúpula semicircular.

Acessos

Largo do Menino Deus

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 5 046, DG, 1.ª Série, n.º 268 de 11 dezembro 1918 / Incluído na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128)

Enquadramento

Urbano, adossado, destacado pela posição de remate e de domínio altimétrico do Largo do Menino Deus

Descrição Complementar

As capelas têm as seguintes invocações: São Miguel, São José, Santa Ana e São Francisco (do lado da Epístola); Santa Clara, Santa Isabel, Santo António e Nossa Senhora da Assunção (Evangelho).

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Patriarcado de Lisboa, auto de entrega de 28 Setembro 1942

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Custódio Vieira (séc. 18); João Antunes (atr., 1711); João Frederico Ludovice (1711). ESCULTOR: João António Bellini (1745-1748). PINTORES: André Gonçalves (1692 - 1762); André Rovira (1711); Francisco Vieira de Matos (1711); Inácio de Oliveira Bernades; João Nunes de Abreu (1730); Jerónimo Silva (1730); Vitorino Manuel da Serra (1711, 1730). RESTAURADORES: Junqueira 220 (1998).

Cronologia

1710 - aquisição de um terreno em São Tomé do Castelo, para a construção da igreja; 1711, 04 julho - lançamento da primeira pedra da igreja, para instalação da Ordem Terceira de São Francisco, então muito distante, situada em São Francisco de Xabregas, tendo-se edificado paralelamente as dependências conventuais e um hospital em terrenos adquiridos a João António de Alcáçovas; atribuição da planta a João Antunes; as obras foram dirigidas por João Frederico Ludovice (1670 - 1752) e Custódio Vieira (c. 1690 - 1744); oferta da imagem do Menino Deus pela abadessa da Madre de Deus, Cecília de Jesus; pintura de telas por André Rovira; pintura de telas por Francisco Vieira de Matos, vulgo Vieira Lusitano, pintura do teto perspetivado por Vitorino Manuel da Serra; 1719 - a comunidade religiosa já se encontrava no local, ainda que o edifício não se encontrasse pronto; 1730 - pintura da zona central do teto da igreja por Jerónimo da Silva, em parceria possível com João Nunes de Abreu, concebido por Vitorino Manuel da Serra; 1736 - inauguração do templo, com a presença da Família Real; 1738 - início da construção de um hospital em terreno contíguo; 1745 - 1748 - feitura da escultura de São Francisco por João António Bellini, de Pádua (SALDANHA, 2012, p. 27); 1751 - conclusão da obra do hospital; séc. 18, meados - pintura da Virgem da sacristia; 1755, 1 novembro - o terramoto causa poucos danos na igreja, pelo que a mesma funcionou como sede de várias paróquias cujos templos haviam sido destruídos (Santo André, São Tomé e a Sé); 1758, 18 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco José Caldeira, é referido que o prior de São Tomé tem a chave do sacrário e celebra os rituais pelos defuntos da Irmandade, pelo que recebe, anualmente, 70$000; 1836 - a demolição da igreja de São Tomé, implica a passagem da sede da paróquia para a igreja do Menino Deus; 1837 - a igreja passa também a ser sede da paróquia do Salvador; 1847 - um incêndio danifica muito o edifício, mas não atingindo a igreja de forma significativa, tendo a recuperação sido efetuada com base na atribuição de um subsídio estatal, dada a escassez de recursos económicos da comunidade religiosa que ainda subsistia; os irmãos recolhem-se no Convento de Xabregas; séc. 20, início - o templo pertence à Confraria dos Escravos do Menino Deus e à do Senhor do Penedo; 1910, 05 outubro - na sequência da República, a igreja é encerrada; parte do património móvel foi saqueado e disperso; 1942 - a igreja permanece fechada aguardando-se a sua reabertura para breve; 1945 - instalação de uma comunidade de religiosas de São José de Cluny nas dependências conventuais, que zelam pelo templo; 1969, fevereiro - estragos provocados pelo sismo; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário e de mármore, madeira pintada e dourada

Bibliografia

ALMADA, Carmen Olazabal e FIGUEIRA, Luís Tovar, Igreja do Menino Deus - conservação e restauro das pinturas do tecto, paredes e esculturas, in Monumentos, n.º 10, Lisboa, DGEMN, 1999, pp. 80-85; ALMEIDA, D. Fernando de, (coord. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa - Tomo 1, Lisboa, 1973; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. I, Livro 2, Lisboa, s.d.; BERGER, Francisco José Gentil, Lisboa e os Arquitectos de D. João V, Lisboa, 1994; CAEIRO, Baltasar Matos, Os Conventos de Lisboa, Lisboa, 1989; CASTRO, João Baptista de, Mappa de Portugal, Tomo III, Lisboa, 1763; BIRG, Manuela, (org. de), João Antunes Arquitecto 1643-1712, Lisboa, 1988; BONIFÁCIO, Horácio M. P., Menino Deus, Igreja do, in PEREIRA, José Fernandes, (dir. de), Dicionário de Arte Barroca em Portugal, Lisboa, 1989; CARVALHO, A. Ayres de, D. João V e a Arte do Seu Tempo, Vol. II, Lisboa, 1962; CERQUEIRA, Cruz, As Pinturas do Menino Deus, Os Temas e os seus Autores, in Olisipo, nº 4, Lisboa, 1938; COSTA, António Carvalho da (Padre), Chorografia Portugueza, Lisboa, 1712; COUTO, António do, A Igreja do Menino de Deus, Lisboa, 1941; CRISTINO, Ribeiro, Estética Citadina, Lisboa, 1923; DINIZ, F. Blanc, A Igreja do Menino Deus. Algumas Especulações à Volta do seu Modelo Geométrico, in Vértice, nº 3, Lisboa, 1988; Intervenção de conservação e restauro Igreja do Menino Deus, Reabilitação Urbana 01, Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, Junho 2005; MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés-a-Lés, Vol. IV, Lisboa, 1968; MACHADO, José Alberto Gomes, André Gonçalves - pintura do Barroco português, Lisboa, Editorial Estampa, 1995; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974; Monumentos, n.º 9 e n.º 12, n.º 15-16, Lisboa, DGEMN, 1998 e 2000-2002; MOURA, Carlos, (dir. de), O Limiar do Barroco, in AAVV, História da Arte em Portugal, Vol. 8, Lisboa, 1986; PEREIRA, Gabriel, A Igreja do Menino Deus, in Boletim da Real Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses, Tomo IX, 4ª série, nº 6, Lisboa, 1901; PEREIRA, Luis Gonzaga, Monumentos Sacros de Lisboa em 1833, Lisboa, 1927; PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura Barroca em Portugal, Lisboa, 1986; SALDANHA, Sandra - «Estatuária Barroca - o longo ciclo de Setecentos». in Invenire - Revista dos Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, julho-dezembro 2012, n.º 5, pp. 24-30; SANTOS, Reynaldo dos, Oito Séculos de Arte Portuguesa, Vol. II, Lisboa, s.d.; SEQUEIRA, Gustavo Matos, A Igreja do Menino Deus, in Belas-Artes, 2ª série, nº 3, Lisboa, 1951; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003; SILVA, J.H. Pais da, Páginas de História da Arte, Vol. II, Lisboa, 1986; SILVEIRA, Ângelo Costa, Igreja do Menino Deus, in Monumentos, n.º 10, Lisboa, DGEMN, 1999, pp. 76-79; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. II.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

DGEMN: 1933 / 1934 - Obras de conservação, designadamente reparação de paredes, limpeza de telhado e restauro de cantarias; 1934 / 1935 - Obras de beneficiação de paredes no interior, sacristia e portaria, reparação do telhado; 1942 - obras de beneficiação; 1943 - obras de restauro; 1946 - obras de restauro; 1948 - obras de ampliação; 1956 - limpeza de fachadas e diversas obras de reparação; 1969 - trabalhos de consolidação; 1970 / 1971 / 1973 / 1976 - obras de conservação; 1978 - obras de beneficiação no interior; 1981 - obras de conservação e reparação; 1988 - reparação das coberturas; 1996 - conservação, beneficiação e reparação das fachadas N. e O., paredes do coro-alto, entrada e sacristia; impermeabilização do terraço da Igreja; limpeza e desobstrução do dreno na fachada N.; renovação da instalação eléctrica na Igreja e sacristia; 1997 / 1998 / 1999 - recuperação da cobertura da igreja; desobstrução, impermeabilização, drenagem e acessibilidade a um canal de escoamento das águas pluviais; impermeabilização da fachada posterior; limpeza das cantarias da fachada principal; refechamento de juntas; impermeabilização das cornijas e terraço; reparação dos vãos e colocação de redes, para impedir a entrada de pombos; feitura de novo pavimento de madeira do coro; reboco e pintura das paredes exteriores e interiores; impermeabilização da cúpula da sacristia e reparação da escadaria de acesso; restauro do guarda-vento, limpeza de pedras e dos armários da sacristia; renovação da instalação eléctrica; restauro das pinturas do tecto da igreja, com limpeza das telas, consolidação e fixação; consolidação da estrutura de madeira; a obra foi levada a cabo pela firma Junqueira 220; 1999 / 2000 - restauro das telas da capela-mor; World Monuments Found Portugal / DGEMN: 2001 - "restauro de dois painéis da Capela - Mor: o de "São Francisco despojado dos hábitos seculares" e o de "São José e da morte de São Francisco", financiado pelo World Monuments Fund; CML: 2004 - restauro e conservação dos retábulos e pinturas da igreja.

Observações

Autor e Data

Eva Antunes e Paula Noé 1987 / Teresa Vale e Carlos Gomes 1995

Actualização

Ângelo Silveira 2002
 
 
 
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