Igreja Paroquial de Milharado / Igreja de São Miguel

IPA.00006371
Portugal, Lisboa, Mafra, Milharado
 
Igreja paroquial construída, inicialmente, no século 16, e reconstruída nos séculos 17 e 18, de feição maneirista e barroca. Integra-se no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero, galilé diante da fachada principal, estendendo-se por vezes ao alçado lateral, e por interior organizado segundo um esquema planimétrico básico, normalmente de nave única. Tal como acontece com muitos templos desta região, teve uma primeira construção tardo-medieval, apresentando ainda hoje alguns elementos da sua primitiva feição quinhentista, como sejam, o portal principal do templo, de verga reta, com elegantes colunelos e decoração vegetalista (composta por cachos de uvas, animais e cestaria), uma pia de água benta e um modilhão representando um busto humano. No entanto, a sua atual feição deve-se, a campanhas posteriores, tendo a mais importante ocorrido em início do século 17, que lhe conferiu o aspeto relativamente baixo, sóbrio, centralizado por pequena galilé. A sua decoração interior é maneirista, apresentando um teto de masseira em grandes caixotões decorados, as paredes murárias revestidas a silhar de azulejo quadrangular azul e branco, ritmadas pela abertura de dois arcos de volta perfeita sobre pilastras, que enquadram duas capelas laterais retabulares, e o arco triunfal em volta perfeita de mármore rosa. No centro da parede murária do lado do Evangelho encontra-se o púlpito seiscentista, circular, protegido com balaustrada de mármore, e a ele se acede através de uma portal de verga reta, onde se encontra inscrita a data de 1609. Do século 18, da reconstrução pós-terramoto datará a quadrangular torre sineira, bem como a empena da galilé, e, no interior os retábulos em talha dourada das suas capelas, laterais, colaterais e mor, o revestimento azulejar com padrão ponta de diamante dos muros da capela-mor e frontal de altar serão também setecentistas.
Número IPA Antigo: PT031109110023
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta poligonal composta pela justaposição escalonada de três corpos, um quadrangular (galilé) e dois retangulares (nave única e capela-mor), de um e dois registos, respetivamente, a que se adossam, a norte e a sul, pequenos corpos anexos, igualmente de um e dois registos. Adossada a norte, junto à nave, encontra-se, ainda, a sineira de secção quadrangular. Coberturas telhadas a duas águas, sendo a da sineira, em domo, em forma de pera, acantonado por um catavento de ferro. Fachadas rebocadas e caiadas a branco, percorridas por soco de cantaria. Fachada principal de orientação canónica, centralizada pelo corpo proeminente da galilé, de um só registo e um só pano rasgado por arco de volta perfeita, na sua fachada principal, sendo as laterais cegas. Apresenta empena curva alteada, animada por medalhão circular em baixo relevo, encimada por cruz em pedra, e com fogaréus nos acrotérios, que se desenvolve sobre platibanda saliente, decorada lateralmente por fogaréus. À sua esquerda encontra-se a sineira, de dois registos, separados por cornija saliente de cantaria, o primeiro é rasgado por pequenas frestas de iluminação, e o segundo, por quatro ventanas em arco pleno, sendo a virada a ocidente encimada por relógio em ferro de quadrante circular. A sineira articula em ângulo o pano esquerdo da fachada, rasgado por porta de verga reta e moldura de cantaria encimada por pequeno óculo. Sobre a cumeeira da galilé, em plano recuado, rasga-se um vão retilíneo com molduta de cantaria simples e servido de grade de ferro. À direita, articulando em ângulo com a galilé, encontra-se o último pano desta fachada, cego. Fachada lateral esquerda, de dois registos, desenvolve-se por dois panos, correspondentes aos corpos principais, o primeiro, capela-mor, é rasgado, ao nível do segundo registo por janela retilínea em capialço, tendo adossado, no primeiro registo, um pequeno anexo, com porta exterior de verga reta, orientada a norte. O segundo pano, nave, maior e mais saliente, é rasgado por porta transversa, de verga reta e moldura de cantaria, e três janelas retilíneas com moldura de cantaria, servidas por grades de ferro. Fachada lateral direita rasgada por pequenos vãos retilíneos com moldura simples de cantaria e grades de ferro. A fachada posterior, de empena triangular sobrepujada por cruz de pedra e rasgada por óculo, é delimitada por cunhais de cantaria, encimados por fogaréus nos acrotérios. INTERIOR: ultrapassada a galilé, acede-se ao interior do templo pelo portal manuelino de verga reta, emoldurado por duas arquivoltas, com ampla moldura interior entre elas, sendo a posterior de curvatura tripartida, definida por dois arcos laterais a pleno, que se ligam a um central, canopial, rematado por grinalda florida. Outras duas grinaldas partem desta arquivolta para o exterior, coroando verticalmente o conjunto e conferindo-lhe um aspeto simétrico. As bases e os capitéis, de perfil oitavado, são bem marcados e a moldura interior é amplamente decorada com cestos e cachos de uvas, tendo por base as hastes de uma videira, sendo estas composições tuteladas axialmente pela figura de um anjo. A igreja é de uma só nave, iluminada longitudinalmente pela janela que encima o portal de acesso, e pelo óculo da cabeceira da capela-mor, e lateralmente pelos vãos existentes na capela-mor. Adossado à face interna da fachada principal, eleva-se o coro-alto delimitado por guarda de balaústres de madeira e iluminado por pequena janela retangular. No acesso à nave, de notar a presença de uma pia de água benta, de taça circular decorada com três bustos de anjos e assente em mísula cónica invertida. Nave com teto de masseira em largos caixotões, de três faces, com pequenos ornatos pintados. Paredes murárias revestidas com silhares de azulejos, de padrão geométrico quadrangular, azuis e brancos, nas quais se abrem, por arcos de volta inteira sobre pilastras, duas capelas laterais com retábulos de talha dourada e frontais de azulejos do tipo ponta de diamante. No muro do lado do Evangelho, observa-se, ainda, o púlpito semicircular, com guarda de balaústres em mármore, apoiado em coluna de fuste liso. Ladeando o arco triunfal, em arco pleno de mármore rosa, observam-se duas capelas colaterais, com retábulos à face, em talha dourada, chanfrando os ângulos da nave, sendo o do Evangelho dedicado às Almas e o da Epístola a Nossa Senhora da Conceição. Capela-mor com cobertura em abóboda de berço e muros ostentando silhares de azulejos setecentistas tendo por temática a vida do santo do orago, sendo o retábulo, protobarroco, em talha dourada, de planta côncava e um só eixo, sendo o nicho central vazado por camarim albergando trono piramidal coroado por glória de anjos e serafins e delimitado por um par de pilastras e dois pares de colunas de capitéis coríntios e fustes decorados por enrolamentos de talha dourada. Remate composto por arquivoltas plenas cortadas por cinco aduelas. Sobre o banco, sacrário monumental. No adro encontra-se um cruzeiro, em calcário, em forma de cruz latina, com braços de perfil quadrado, assente sobre um plinto em cujas quatro faces se encontram esculpidos emblemas eucarísticos e alusivos à Paixão de Cristo. Todo o conjunto se eleva sobre três degraus.

Acessos

Largo de São Miguel, Milharado. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,948233; long.: -9,200383

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986 *1

Enquadramento

Urbano. Destacado, isolado por adro com cerca murada, insere-se no limite noroeste do pequeno aglomerado urbano, a sul do cemitério local, nas suas imediações encontram-se, a oriente, a Escola Básica do 1.º Ciclo e, a sul, a Junta de Freguesia.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 (conjetural) / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 16, primeira metade - data conjetural para a construção do primitivo templo, de que restam alguns elementos, como sejam o portal principal manuelino, hoje precedido pela galilé do templo, e, no seu interior, no acesso à nave, uma pia de água benta e um modilhão representando um busto humano, que originalmente estaria no exterior do edifício; 1609 - importante campanha de obras, cuja data permanece inscrita na porta de acesso ao púlpito; desta intervenção datam a sua feição externa, com a atual solução encontrada para a fachada principal, com o corpo central em forma de galilé, aberto a poente por arco de volta perfeita, encimado por empena curva decorada, e a interna, a nave única, com teto de masseira com caixotões pintados, com arco triunfal em arco de volta perfeita, duas capelas laterais igualmente enquadradas por arcos de volta perfeita e o púlpito; séc. 17 - cruzeiro do adro, sobre soco quadrangular de triplo degrau, com base cúbica decorada e cruz de arestas lisas sem decoração; 1748 - as paredes murárias da nave encontram-se revestidas a azulejo geométrico; 1755, 01 novembro - o grande terramoto destrói por completo a albergaria que, junto ao templo, acolhia os peregrinos; a igreja, contudo, não sofre muitos danos; 1760 - o visitador do arcebispado determina a reconstrução da albergaria, a sua omissão em relação ao templo, onde apenas determina a construção da grade do batistério, permite deduzir que este não se encontre muito danificado; séc. 18 - recebe novas campanhas de obras, desta altura datam os retábulos em talha dourada e o revestimento azulejar da capela-mor; edificação da torre sineira, cujo remate é posterior; 1960 - a igreja é completamente restaurada; 1983 - a paróquia executa várias obras de beneficiação no imóvel; 11 novembro - proposta de classificação do imóvel avançada pela Câmara Municipal de Mafra, a qual merece os pareceres favoráveis dos serviços técnicos do Instituto Português do Património Cultura; 1984, março - proposta de classificação homologada pela presidente do instituto e pela tutela; 1986, 03 janeiro - é classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 1/86, DR, I Série, n.º 2).

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Cantaria de calcário e de mármore, alvenaria mista, reboco pintado, azulejos, estuque, madeira pintada e dourada.

Bibliografia

AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, vol. 3; ASSUNÇÃO, Guilherme - Mafra. Efemérides do Concelho. Mafra: Comissão Municipal de Turismo, 1967; PEREIRA, Isaías da Rosa - Subsídios para a História da Diocese de Lisboa do Século XVIII. Lisboa: Patriarcado de Lisboa, 1980; LUCENA, Armando de - Monografia de Mafra. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1987; BASTOS, Fernando Pereira - Apontamentos Sobre o Manuelino no Distrito de Lisboa. Lisboa: imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990; LOPES, Flávio, (coord. de) - Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico, 1993; VILAR, Maria do Carmo - "Arquitetura e Escultura Monumental Manuelina na Região de Mafra". Boletim Cultural'2000. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2001, p. 77; VILAR, Maria do Carmo - "Carta do Património do Concelho de Mafra. 1. O Manuelino". Boletim Cultural'94. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1995, p. 317.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

PT DGPC: DGEMN/DSID / PT DGPC: DGEMN/DMRL

Documentação Administrativa

PT DGPC: DGEMN/DSARH / PT DGPC: DGEMN/DMRL

Intervenção Realizada

Observações

*1 - DOF: Igreja de São Miguel e cruzeiro do século XVII, no adro da mesma.

Autor e Data

Paula Tereno 2018

Actualização

 
 
 
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