Jardins da Quinta de São Sebastião / Jardins da Quinta de São Sebastião da Pedreira / Jardins da Quinta do Roxo

IPA.00010421
Portugal, Lisboa, Lisboa, Lumiar
 
Arquitectura residencial. Testemunhos de vários estilos, desde o renascentista, passando pelo barroco, apresentando também reminiscências do romântico e do neoclássico.
Número IPA Antigo: PT031106180643
 
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Registo

 
Espaço verde  Conjunto de espaços verdes        

Descrição

Propriedade de planta trapezoidal, murada entre as orientações S.-SO.-NO., com acesso por dois portões que enquadram a fachada principal da casa, sobre a Estrada do Lumiar. No seu extremo nascente encontra-se uma urbanização recém construída ao longo de encosta orientada a NO., acompanhando o limite da propriedade até ao seu extremo N. O restante espaço é ocupado por jardins, desenvolvendo-se em dois patamares intervalados por caminho de cota intermédia. Existe um terreiro em frente às fachadas posterior e poente da casa, separado do PRIMEIRO PATAMAR de jardim por murete ou degraus ladeados de ambos os lados por elemento escultórico, num caso um par de urnas, noutro um par de esfinges. O próprio terreiro apresenta um desnível vencido por escadas implantadas no sentido NE-SO, enquadradas no nível superior por dois leões em pedra. Neste terreiro situam-se: no extremo NE., junto ao limite da referida urbanização, taça hemisférica decorada por ramadas assente sobre pé galbado ornado por elementos fitomórficos encimado por anel e pequena coluna; a nascente da casa principal um poço oitavado revestido a azulejo; em frente ao extremo E. da casa um tanque de planta rectangular alimentado por bica com carranca, ambos em pedra; a SO, separada por bosquete do limite da propriedade, uma composição constituída por dois bancos em cantaria adoçados a murete revestido a azulejo dos princípios do século 20 em padrão 4x4 com motivo fitomórfico que enquadram painel figurativo recortado do séc. 18. Ao centro, entre os dois bancos e adossado ao painel, encontra-se antiga pia baptismal com taça gomeada em cantaria. Ainda no terreiro encontra-se plantados frente à casa dois ciprestes (Cupressus sempervirens)e um cupressos (Cupressus lusitanica). Junto ao portão poente, a S. da referida composição, encontra-se um alinhamento de seis ciprestes (Cupressus sempervirens). No extremo SO. da propriedade, integrado em muro de separação da propriedade vizinha, especificamente neste local rebocado e pintado, capeado a cantaria, encontra-se nicho em cantaria em arco de volta perfeita, assente em pilastras toscanas com abóbada de concha assente em mísula. Ainda no primeiro patamar, frente ao referido terreiro, situa-se um relvado onde estão plantados dois exemplares notáveis de plátanos (Platanus orientalis) junto ao elemento de separação dos dois espaços. Ao fundo, junto ao muro de suporte do primeiro patamar, situa-se uma piscina rectangular e zonas de estadia pavimentadas nos seus topos NE. e SO., ladeadas por quatro ciprestes (Cupressus sempervirens). A piscina, com cerca de 10 x 16 metros, é revestida a azulejo policromado, apresentando ponto de alimentação de água integrado em elemento escultórico representando leão, em cantaria *2. Entre o primeiro e o segundo patamar existe um CAMINHO DE COTA INTERMÉDIA orientado a N, protegido por pérgula, assente em esteios de pedra sobre murete, situando-se no seu extremo poente uma Casa de Fresco de planta quadrada com cobertura em abóbada, que comunica com o exterior através de quatro arcos abatidos, inserindo-se em dois destes banco em cantaria adoçado a painel figurativo recortado. Neste ponto, convergem dois caminhos com o caminho intermédio: um caminho com cerca de dois metros de largura, em terra batida, sob pérgula, que acompanha os limites poente da propriedade até ao seu extremo SO. e um outro caminho longitudinal, com cerca de quatro metros de lado, pavimentado a calçada portuguesa, com três lances de escadas, rematado a NO. por largo com canteiro onde estão plantados dois grandes ciprestes O muro de suporte do primeiro e com lago pentagonal adoçado ao muro de suporte, junto à zona de estadia a SO. da piscina. No pavimento deste largo encontra-se representada uma rosa-dos-ventos, em tons de rosa, cinzento escuro e branco. Este caminho é atravessado por outro caminho transversal que conduz a poente por lance de escadas a um elemento escultórico, situado a uma cota inferior, em pedra, representando Neptuno, e nascente por outro lance de escadas ao relvado, localizado a uma cota superior. Estes caminhos são ambos ladeados bilateralmente por murete com cerca de 60 centímetros, revestido a azulejo policromado com motivos fitomórficos*1. O SEGUNDO PATAMAR situa-se cerca de quatro metros abaixo do primeiro, intercalado a meia altura deste pelo CAMINHO DE COTA INTERMÉDIA. Este patamar tem acesso por escadas no seu extremo E. junto à piscina, e perto do seu extremo SO., ou seja, da casa de fresco, conduzindo a um pátio. Este segundo patamar, de planta triangular, apresenta os vértices orientados a E., a N. e O.. Neste último vértice localiza-se o referido pátio, situando-se junto ao muro de suporte, sob a casa de fresco, várias gaiolas*3. A partir da segunda metade da distância compreendida entre este e o vértice N. situa-se uma casa de recreio, de planta rectangular, situada paralelamente ao lado do triângulo. Por trás do pavilhão situam-se duas laranjeiras (Citrus sinensis) com grande porte*4. Frente á casa e encaixado neste vértice, situa-se um lago também de formato aproximadamente triangular, já que as suas margens são curvilíneas, envolto em relvado*5. Em relação á rede de caminhos deste patamar estes acompanham os seus limites, excepto no lado O.-N. em que o caminho, em terra batida e protegido por pérgula, termina a meio do seu comprimento, sendo cortado por um outro, de posição ortogonal, sobrelevado, protegido por estrutura construída e pavimentado a calcário, com duas escadas de ligação à zona do lago, uma das quais em posição central com corrimão em balaustrada. Entre esta estrutura e a zona do lago existem vária árvores de médio porte, tais como o feixo (Fraxinus angustifolia), a ameixeira brava ( Prunus cerasifera) e arbustos como o loendro (Viburnum tinus).Este caminho cujo topo E. é assinalado por dois leões em pedra, esmagando o mundo a seus pés, sobre colunas quadrangulares converge num outro, em calçada portuguesa que liga a zona fronteira do lago ao extremo E. deste patamar ladeado por choupos - brancos (Populus alba) e ciprestes (Cupressus sempervirens) *6. No muro de suporte situado entre o caminho de cota intermédia e o segundo patamar encontra-se dois chafarizes integrados em carrancas que debitam água para duas fontes de espaldar em cantaria, flanqueada por duas pilastras no centro das quais fica uma bica em forma de carranca que verte para tanque rectilíneo de bordos simples. Estas fontes enquadram dois nichos monolíticos com figura esculpida no mesmo bloco de pedra representando santo franciscano.

Acessos

Estrada do Paço do Lumiar

Protecção

Incluído na classificação do Paço do Lumiar (v. IPA.00021768)

Enquadramento

Urbano. Propriedade em encosta orientada a NO, apresentando a sua fachada principal sobre a Estrada do Paço do Lumiar, que no local percorre a linha de cumeada, estendendo-se os terrenos da quinta quase até ao vale. Confina com o Edifício Oitocentista no Largo de São Sebastião nº 9-11 (v. PT031106180784). Situa-se muito próxima no "Conjunto de Paço do Lumiar", classificado pelo IPPAR.

Descrição Complementar

EDIFÍCIO: casa de recreio em edifício de planta rectangular simples, com cobertura de telhado de duas águas, com fachada principal virada a SE, marcada por colunata dórica que sustentam frontão triangular com o tímpano ornado. É flanqueada do por duas dependências com acesso por portas de verga recta. A sala central apresenta pinturas morais decorativas com perspectivas de paisagens e cenas de género (Passeios, caçadas, galeões) e apresenta pavimento em pedra calcária de cor branca, rosa e preta em rosácea central; ESTATUÁRIA: Neptuno sobre coluna, resguardo por muro de pedra solta que vai subindo em altura para o enquadrar até cerca de três metros, culminando numa coluna na mesma técnica construtiva donde jorra uma cascata, sobre zona pedregosa alagada, toda esta composição em pedra calcária, existindo anexa uma gruta construída também em pedra solta; ESTRUTURA: de planta rectangular sobrelevada, aberta no topo E. com acessos por escadas laterais no topo O. e a meio, adaptando-se ao desnível do terreno. É ladeada por muretes e balaustradas, onde assentam colunas toscanas que sustentam a cobertura em abóbada de berço abatido com pinturas. Nos topos a estrutura remata em entablamento e frontão triangular. Muretes revestidos a azulejo padrão policromo e integram conversadeiras.

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Raul Lino (1920). ARQUITECTO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Telles (1970).

Cronologia

Séc. 16 - foi erguida a ermida de São Sebastião, num local solitário; séc 16 e 17- a existência da ermida deu motivo à construção de alguns imóveis nas suas imediações, ficando implantada numa zona nobre do Paço do Lumiar. A sua situação no eixo principal da zona do Paço, na Estrada do Lumiar permitiu-lhe desde sempre uma situação de privilégio, servindo de local religioso de frequência; séc. 17, finais do primeiro quartel - intervenção do capitão Estevão Soares de Albergaria nesta ermida, comprovada pela presença da sua lápide sepulcral, localizada no local de honra, o corredor central da ermida, ostentando o seu brasão, distinção reservada aos principais beneméritos e suas famílias; 1644 - data da morte de Estevão Soares de Albergaria; Séc. 18 - construção da primitiva quinta, referência a uma casa senhorial construída por D. João V donde emergiu um maravilhoso cenário de jardim com estátuas, fontanários, pequenos lagos, azulejaria em muros e muretes, poço, pátio e dependências anexas, sendo a casa é referida pela população local como tendo sido residência real, pertença do rei D. João V, considerando a presença das armas reais , que se encontram na fachada posterior do edifício principal; 1715 - data inscrita num banco no jardim do palácio, existente ainda em finais do séc. 20, em azulejaria barroca, cujo espaldar representava uma cena galante entre D. João V e Madre Paula do Convento de Odivelas; 1826 - Data da carta mais antiga encontrada, sobre o Paço do Lumiar, onde se lê a existência de uma edificação naquele local, embora ocupe uma área inferior à actual; 1836 - a propriedade é descrita como rústica e urbana, composta de: casa de habitação, jardim, tanque, chão para horta, vinha, árvores de fruto, pomares de espinho, poço, almácega, pátio com casa de criação, abegoaria, adega, lagar de cantaria com peso e vara, abrangendo uma área de dois ha; séc 20, 2º quartel - constam como proprietários os irmãos Maria Margarida, Agostinho José, Maria Elisa, Maria da Conceição e Maria Teresa Vaz de Azevedo e Silva Bom de Sousa Roxo, menores de idade, por isso representados pelos seus pais, Luiz Fernando de Sousa Roxo e D. Maria Amélia Vaz Monteiro de Azevedo e Silva Bom de Sousa Roxo; 1920 - Significativas obras de reconstrução orientadas pelo arquitecto Raul Lino, ainda na posse destes proprietários; Venda da propriedade a Emílio Augusto Teixeira de Lemos e a sua mulher, D. Maria Vaz de Monteiro Marques de Lemos; 1965 - a propriedade surge no nome de D. Simone Henriette da Silva Braga Correia Leite, que realizou importantes obras de beneficiação e restauro; 1970 - Projecto de execução de remodelação do jardim, posteriormente realizado pelo Arquitecto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, contratado pela D. Simone S. B. C. Leite; 1979 - a firma S.I.N.I.A. (Sociedade Geral de Investimentos para o Comércio e Industria, S.A.R.L) adquire a propriedade; 1986 - a Associação para a Investigação e Estudo das Ciências é a proprietária; 1993 - a quinta pertence ao Partido Comunista Português; 1999 - a propriedade é comprada pela actual proprietária, Espaço Lumiar - Investimentos Urbanos Lda.

Dados Técnicos

Terreno de encosta modelado em patamares, que terminam necessariamente em caminhos desenhados segundo as curvas de nível.

Materiais

Vegetais - árvores: cipreste (Cupressus sempervirens), cupresso (Cupressus lusitanica), plátano (Platanus orientalis), feixo (Fraxinus angustifolia), ameixeira -brava ( Prunus cerasifera), choupo - branco (Populus alba. Arbustos: loendro (Viburnum tinus); Inertes - Pedra: estatuária, degraus, alvenaria: muros, elementos construídos, terra: caminhos em terra batida.

Bibliografia

ARAÚJO, Ilídio, Quintas de Recreio, Bracara Augusta, Vol. XXVII, fac. 63(75), Braga, 1973; CABRAL, Francisco Caldeira, A Árvore em Portugal, Lisboa, Guide-artes gráficas, LDA., 1999; CARAPINHA, Aurora,TEIXEIRA, José de Monterroso, A Utopia e os Pés na Terra, Lisboa, Instituto Português de Museus, 2003; FERREIRA, Rosa, LEMOS, Fernando, Nova monografia do Lumiar, Lisboa, Junta de freguesia do Lumiar, 2008.

Documentação Gráfica

IHRU: Arquivo Pessoal Gonçalo Ribeiro Telles

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Mutilação da quinta no início deste século, da responsabilidade da firma proprietária.

Observações

*1 - Os muros de suporte do primeiro patamar, presentemente tapados por taipais talvez pela proximidade com a zonas das obras relativas à construção de referida urbanização, encontravam-se revestidos a azulejos neoclássicos, representando cenas marítimas, galantes e campestres, envoltas por molduras rocócó, ou conjugados com azulejos azuis e brancos; *2 - Num passado próximo existiam várias estruturas construídas que se perderam tais como: junto ao relvado do primeiro patamar existia estatuária , como uma alegoria de jardim, um São Miguel, uma produção da Fábrica das Devesas com a inscrição A. A. Costa & Cª e diversas outras como as alegorias às artes, às estações do ano, e aos continentes, oriundas da mesma fábrica; *3 - neste pátio perfilavam-se, além das referidas gaiolas, os anexos destinados aos animais domésticos, e, separados por portão em madeira frestada, um espaço destinado aos animais domésticos de grande porte; *4 - Estas duas laranjeiras sugerem a localização de um primitivo pomar de espinho, sempre existente neste tipo de quintas; *5 - localizavam-se aqui alinhadas, três esculturas em pedra, representando figuras femininas, envoltas por esvoaçantes panejamentos; uma a olhar para o espelho, outra inspirando o perfume de rosas, sustentando no outro braço um ramo das mesmas e uma terceira segurando com uma mão nas pregas do vestuário, levando o dedo indicador da outra mão aos beiços: *6 - Este caminho conduzia até uma encruzilhada, onde se descia para um portão N. de entrada na propriedade, perto do qual se encontrava a casa do guarda, cercada, por muro baixo revestido a azulejos de cercadura pombalinos azuis e brancos com rodapé marmoreado manganês. Existia também um portão de serviço virado para a antiga Estrada Militar onde se iniciava um percurso que ligava à extremidade S. da quinta, acompanhado por um muro alto ao longo do qual se alinhavam oliveiras. Continuando o percurso, seguindo um logradouro que se localizava a O., chegava-se a um espaço onde se integrava numa concavidade do muro, um conjunto constituído por um banco com espaldar onde se encontrava encrostado um brasão em alto-relevo. Mais acima, no canto superior esquerdo da propriedade, localizava-se em frente a um alto muro, um banco de planta circular com painel de azulejo recortado, em tons de azul a branco, com friso a acompanhar as linhas exteriores, e a composição central envolta numa moldura onde se salientavam motivos barrocos, com representação ao centro em tons mais esbatidos, de uma monja, que estendia os braços a uma personagem masculina, tendo ao fundo um arco do interior de uma sala de um edifício com um cadeirão com as armas reais representadas no espaldar. Debaixo desta representação tinha inscrita a data de 1915. Em frente a este banco situava-se um tanque barroco de planta octogonal, sendo envolvidos por frondoso arvoredo.

Autor e Data

Teresa Camara 2008

Actualização

 
 
 
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