Monumentos 19: Sé do Funchal
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Dossiê: Sé do Funchal
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Setembro 2003, 24x32 cm, 168 pp. (<2Kg.)
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O sítio da Sé
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Rui Carita
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A colonização do arquipélago da Madeira na primeira metade do século XV serviu de modelo à restante colonização atlântica, tanto no aspeto político-administrativo, como na organização religiosa. Com a subida ao trono de D. Manuel I e a integração da Ordem de Cristo na Coroa, foi a então vila do Funchal sujeita a um plano urbanístico no sentido de a transformar numa cidade e, consequentemente, em sede de bispado, separando-a assim da jurisdição de Tomar. No Funchal levantaram-se então a câmara e o Paço dos Tabeliães, prontos em 1492; o Convento de Santa Clara, em 1496; a Sé-Catedral, iniciada em 1493 e cujas obras se arrastam para lá de 1514, data em que se acabava a torre; e o hospital e a alfândega, mandados levantar em 1508. No ano de 1508 o Funchal era elevado à situação de cidade e, em 1514, a sede de bispado dos descobrimentos portugueses, por ventura então o maior bispado que alguma vez a cristandade conheceu.
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A construção da Sé
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Nelson Veríssimo
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Foi por vontade do donatário do arquipélago da Madeira, D. Manuel, duque de Viseu, que se construiu no Funchal a igreja, elevada a Sé da nova diocese em 1514. Foi D. Manuel, graças ao seu empenho pessoal, quem granjeou fundos, provenientes do açúcar e dos têxteis, para a sua construção. Pêro Anes foi o mestre de carpintaria da Sé e Gil Eanes o seu mestre-pedreiro.
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A ordem de uma "geral maneira" de edificar
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Marta Oliveira
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A construção da Sé, no limiar do século XVI, define a nova centralidade da vila do Funchal, que adquire a qualidade urbana de cidade e se torna a sede do primeiro bispado dos domínios das ilhas do Atlântico, da África oriental e das Índias. Dimensionada na equiparação com algumas das sés principais do reino, segundo um desígnio maior do rei, a obra é, na realidade, uma edificação comum que segue um modelo conhecido e experimentado, desde o gótico, na variação das circunstâncias locais. Uma arquitetura de simplicidade essencial, em que a forma mostra o princípio da estrutura e explica a viabilidade da sua repetição. Mas também, uma conceção inovada de valores do espaço interior e de princípios de desenho da arquitetura, de simetria e de proporção, segundo a figura do corpo humano, que partilha alguns aspetos comuns com a obra contemporânea da igreja dos Jerónimos, em Lisboa.
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Los grabados de Van Meckenem en la Catedral de Funchal
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Rafael Cómez
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As ilhas portuguesas da Madeira e dos Açores, tal como as ilhas espanholas Canárias, apresentam uma variedade de gótico tardio, misturada com elementos mudéjares, a que poderíamos chamar de “gótico atlântico”. Neste artigo pretende-se assinalar a presença das gravuras de Israhel Van Meckenem na ornamentação da arquitetura religiosa da Madeira. A sua prolífera produção teve repercussões nao só na Alemanha, como em Espanha, em Portugal e as suas colonias. No Funchal temos o exemplo no exterior da Sé, na fachada principal, em que estamos na presença da obra gráfica de Van Meckenem. Através da decoração do portal principal da catedral, podemos comprovar que a orla vegetal, e as suas fantásticas personagens e animais, herdeiros das iluminuras góticas impressas em libros, advêm da imaginação de Van Meckenem.
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A face interior da porta: um exemplo da importância da carpintaria mudéjar
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João Lizardo
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O verso da porta principal da Sé exibe um conjunto de incisões que formam um desenho de entrelaçados tipicamente mudéjar e semelhante àquele que domina o tramo central do teto da nave principal. Deve ser realçado o cuidado que foi posto no traçado deste desenho, que deverá ser contemporâneo do que foi feito para a cobertura, datando, portanto, dos inícios do século XVI. Embora sejam conhecidas portas com decoração deste estilo, as mesmas apresentam características que não constam da funchalense, sendo provável que neste caso se trate do reaproveitamento posterior de elementos que teriam outra finalidade e que refletem a importância da carpintaria mudéjar na ilha.
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Estrutura e decoração dos tetos de alfarge
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Lina Maria Marrafa de Oliveira
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Devido à sua dupla valorística em termos artísticos, os tetos de alfarge que cobrem as naves e o transepto da Sé do Funchal, devem ser valorizados tanto sob o ponto de vista arquitetónico e estrutural, como do ponto de vista ornamental e iconográfico, desde a decoração temática vegetalista, até, e sobretudo, à decoração de grutescos. Por esse motivo o artigo incidirá sobre os grutescos que cobrem os referidos tetos, no que diz respeito à sua localização, descrição e pesquisa de fontes iconográficas, e, também sobre a execução técnico-artística da cobertura de madeira.
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O retábulo-mor da Igreja Grande do Funchal
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Luís M. Teixeira
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Obra de grande porte, o retábulo preenche toda a parede fundeira por detrás da antiga banqueta do altar e parte dos muros das ilhargas da abside poligonal. No pano central sobrepõem-se nichos profundos, o inferior enquadrando o sacrário, os outros destinados a albergar imaginária, estando o do registo superior ocultado com uma pintura em tela. Embora aparente um razoável estado de integridade, o retábulo sofreu várias alterações ao longo dos quase cinco séculos da sua existência.
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Apontamentos acerca do cadeiral
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Maria Manuela Correia Braga
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A Sé do Funchal dispõe de um dos raros cadeirais do reinado de D. Manuel I. É uma estrutura arquitetónica ímpar, apresentando caraterísticas de obra de transição do tardogótico para a Renascença. A iconografia presente no cadeiral madeirense mostra um vastíssimo conjunto de referências. O espírito moralizador de tradição escolástica faz-se acompanhar por um gosto humorístico, que confunde os sentidos das imagens que muito livremente os artífices iam colocando pelos locais de menor destaque com a plácida anuência do clero. Existem ainda referências à atividade da ilha e congrega um elevado número de exemplos exóticos em franca referência ao momento histórico que se vivia.
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Os autores do retábulo e cadeiral (1514-1516)
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Rafael Moreira
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O problema da autoria do cadeiral e do retábulo-mor da Sé do Funchal não é um problema menor, ao contrário do que se possa pensar. Não se trata apenas de “colar” um nome a uma obra sem paternidade; trata-se de uma questão complexa que levanta o tema dos modos de atuação das equipas de artistas, nacionais e estrangeiros, da circulação de novidades formais e tipológicas na época manuelina, e das próprias opções estilísticas e estéticas promovidas pela política artística do Venturoso (1495-1521).
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A azulejaria
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Rafael Salinas Calado
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O magnífico edifício da Sé, erigido no início do século XVI, recebeu desde a origem algumas, embora poucas, decorações azulejares que correspondem a várias épocas e obedecem a vários programas decorativos. O emblemático coruchéu, que remata superiormente a torre sineira, forma uma elegante pirâmide de base quadrangular e tem as quatro faces exteriores revestidas, numa altura de setenta e três peças cerâmicas, por azulejos de cores lisas vidrados em cinco esmaltes diferentes e organizados segundo um singelo padrão enxaquetado. No interior da igreja, na Capela do Amparo, pode ver-se nas primitivas paredes laterais um belo silhar seiscentista, constituído por azulejaria de um tipo de desenho pseudo-enxaquetado que só se conhece na Madeira.
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Epigrafia e iconografia na Igreja de Santa Maria Maior do Funchal
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Filipa Gomes do Avellar
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No pavimento da Sé do Funchal existem atualmente dezanove tampas sepulcrais: quinze com epígrafes gravadas diretamente na pedra, três com as inscrições cinzeladas em lâminas de bronze e embutidas, e uma tampa sepulcral com duas inscrições: uma gravada na pedra, outra embutida, mas desaparecida. As epígrafes distribuem-se pelo nártex, naves, transepto norte e capela-mor. Todas as inscrições são de caráter funerário e balizam-se cronologicamente entre o século XVI e XIX, sendo os textos, portanto, em letra gótica e em capital quadrada. A avaliar por este espólio epigráfico e de acordo com informações documentais podemos imaginar que existiam muitas mais inscrições. Neste artigo faz-se a análise iconográfica de cinco tampas sepulcrais escolhidas pelo seu programa iconográfico específico.
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A pintura mural no pátio de acesso à Sala do Cabido
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Joaquim Inácio Caetano
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A pintura mural no pátio de acesso à Sala do Cabido da Sé do Funchal encontra-se caiada e a sua atual localização exterior deve-se à demolição de duas paredes da sala que antecedia a referida Sala do Cabido. Datável de meados do século XVIII, faz parte, conjuntamente com as pinturas da guarita do baluarte norte do Palácio de São Lourenço e do jardim da Quinta das Cruzes, ambas recentemente restauradas, de um grupo de pinturas atribuíveis, pelas semelhanças que apresentam ao nível formal e técnico, ao mesmo artista. São pinturas que recorrem aos jogos de planos de modo a criar um efeito ilusionista, com grande influência da escola italiana da época. É mais um caso de identificação de pinturas atribuíveis ao mesmo pintor, mostrando que a pintura mural não deve ser analisada como obra fortuita de pintor itinerante.
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Sé do Funchal: intenções e intervenções
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Ângelo Costa Silveira
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A Sé do Funchal será marcada pelas intervenções dos Monumentos Nacionais durante todo o século XX. Desde os anos trinta, com a demolição de um quiosque da fachada norte e de algumas casas anexas à torre, até à demolição da Casa dos Capelães, já nos anos quarenta. O novo desenho do adro ficaria definido em meados dos anos cinquenta. Ao longo dos anos oitenta assinalaram-se patologias de infestação de madeiras e entradas de águas, o que motivou a intervenção da DGEMN, uma vez mais, no sentido de proceder a tratamentos anti-xilófagos e também de consolidação de cantarias. A partir de 1997, realizou-se o restauro da capela-mor, da Capela do Santíssimo Sacramento e procedeu-se à impermeabilização das coberturas de todos os anexos da igreja. Ontem, como hoje, os trabalhos não estão concluídos.
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Degradação e patologias da pedra natural
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João Baptista Pereira Silva e Celso de Sousa Figueiredo Gomes
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Este artigo resulta de um estudo realizado entre 1997 e 2003 sobre a degradação da pedra vulcânica usada na construção da Sé do Funchal. Antes de se ter procedido ao estudo das patologias que afetavam as cantarias, procedeu-se à identificação dos tipos litológicos da pedra natural. Depois, fez-se a análise dos produtos de alteração por DRX, o que permitiu identificar um conjunto de minerais secundários presentes nas cantarias, os quais foram responsáveis pela degradação das mesmas.
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Da Sé ao casino: o eixo histórico de crescimento do Funchal
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José Manuel Fernandes
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É sobre a etapa histórica do crescimento urbano do Funchal, entre a Sé manuelina e o seu núcleo contemporâneo, desenvolvido à roda do casino que este artigo se debruça. O eixo estruturante da cidade, de facto, desde o provecto e genérico bairro de Santa Maria do Calhau, passando pelo núcleo da Sé, avançando por São Francisco e rematando modernamente na longa Avenida do Infante, sempre se orientou na direção nascente-poente, como que acompanhando um simbólico movimento solar, ao longo da costa atlântica da ilha. Procurou-se neste texto dar uma visão de síntese, em sequência do evoluir histórico-urbano da cidade, destacando esta clara definição, gradual no tempo e no espaço, de um eixo principal e estruturante.
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Conservação preventiva da Sala do Cabido
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Eva Carrasco Dellinger
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A nascente da cabeceira da Sé-Catedral do Funchal encontra-se um edifício anexo, de dois pisos, no qual se inserem, hoje, a sacristia maior, o cartório e as salas do Cabido. Numa das salas, antigamente ocupada por pertences de vários cónegos, instalou-se o gabinete de trabalho de conservação preventiva da Sé. As obras de arte nela existentes não ficaram indiferentes ao clima quente e húmido da Madeira e foram-se, com o tempo, deteriorando. Em 2001-2002, a sala foi objeto de obras de conservação, pois já havia infiltrações ao nível dos tetos, paredes e janelas. Também os objetos aí existentes (pinturas, livros, documentos) foram alvo de degradação devida à ação da humidade e ao ataque de insetos, tendo-se procedido à sua conservação.
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São Salvador de Bravães e a cronologia da pintura mural portuguesa da Idade Média
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Luís Afonso
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O estudo que aqui apresentamos, relativo às pinturas murais de Bravães e a algumas pinturas da sua órbita, constitui uma prova clara do quanto há ainda por fazer no domínio da historiografia da pintura mural portuguesa dos séculos XV e XVI. Apesar de termos a felicidade de todos os anos continuarem a surgir novos conjuntos de pinturas murais da época em causa, a verdade é que o estudo dos exemplares já descobertos continua maioritariamente por fazer. De facto, no caso de Bravães foi preciso esperar sete décadas para que pudesse ser lida uma simples – mas decisiva – inscrição. Até agora inédita, a data de 1501 existente nas referidas pinturas constitui um estímulo para o aprofundamento da investigação nesta área específica da arte portuguesa e constitui também um importante alicerce para estabelecer a cronologia de outras pinturas murais realizadas na região norte do país.
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Análise do comportamento da Ponte da Lagoncinha
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Cristina Costa, António Arêde e Aníbal Costa
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A análise do comportamento estrutural de construções antigas, em particular as constituídas essencialmente por alvenaria de pedra, tem vindo a assumir relevo crescente no contexto da preservação do património arquitetónico cultural dos monumentos nacionais. Neste âmbito, aborda-se no presente artigo a metodologia seguida para caracterizar o estado da Ponte de Lagoncinha, o qual se baseou, numa primeira fase, na inspeção visual e na pesquisa histórica sobre a estrutura e, numa fase posterior, na modelação numérica e na realização de ensaios experimentais, cujos resultados permitiram avaliar o comportamento estrutural do monumento.
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Convento de Santa Clara do Funchal
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Victor Mestre, Marília Carvalheira, Maria José Guedes, Carmen Olazabal Almada e Luís Tovar Figueira
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Este artigo é sobre a conservação preventiva, mas também sobre o conceito de património e a ética da conservação. O conceito de património está sempre em evolução. A cultura da conservação preventiva é sobretudo um comportamento cívico, sobre um bem coletivo, praticado por todos os que têm ações diretamente sobre esse bem. O Convento de Santa Clara, no Funchal, ilustra o paradigma da conservação e restauro do património arquitetónico madeirense. Foram efetuadas obras de restauro em 1990 ao nível da cobertura e do teto, tendo havido o cuidado de deixar alguns elementos decorativos entalhados originais como testemunho. Em 1998 procedeu-se a mais uma intervenção, na Capela de São Gonçalo de Amarante, desta vez ao nível do conjunto retabular, que se encontrava em péssimo estado. Efetuou-se ainda uma outra intervenção no teto da Capela da Ressurreição neste mesmo convento.
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