Monumentos 13: Sé de Viseu e envolvente
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Dossiê: Sé de Viseu e envolvente
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Setembro 2000, 24x32 cm, 176 pp. (<2Kg.)
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A Catedral de Viseu
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Alexandre Alves
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O edifício da Catedral de Viseu, construído nos séculos XIII e XIV, é, estruturalmente, um edifício dionisino, que deve o seu aspeto atual às inúmeras obras nele realizadas ao longo dos séculos. A sua fachada principal, flanqueada por duas imponentes torres, foi construída no estilo maneirista apresentando um retábulo de três andares. A planta forma uma igreja-salão de três naves divididas em três tramos e um transepto. No seu interior salientam-se: a abóbada de nós da cobertura da nave e a abóbada do coro-alto, traçada por João de Castilho; os retábulos e as talhas; e ainda a imagem de Nossa Senhora do altar-mor, padroeira da catedral, feita em pedra de Ançã no início do século XIV. Destacam-se, ainda, no conjunto da catedral, o cadeiral do coro-alto e o claustro jónico, ambos encomendados durante o bispado de D. Miguel da Silva.
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A arquitetura da Sé-Catedral de Viseu
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Carlos Ruão
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Exteriormente, a catedral é um edifício românico, pesado e fortificado. Porém, interiormente, possui uma luminosidade e uma sumptuosidade enormes, que só o gótico consegue traduzir. Curiosamente, a documentação e a informação sobre a história arquitetónica deste edifício são escassas. O edifício não constitui o que se poderia apelidar de um monumento tipicamente manuelino, tal como não se poderá designá-lo como um modelo rígido do estilo gótico. Na verdade, todos os acrescentos feitos ao longo dos séculos conferiram ao edifício da Sé um certo caráter híbrido. No claustro vemos ainda o traço do arquiteto Francesco de Cremona, a refletir o que de melhor existe em termos renascentistas.
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O claustro renascentista da Sé de Viseu: proporção, linguagem, significado
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Ana Soares Machado, Luís Leite e Saúl Fino
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A igreja e o claustro da Sé desenham entre si relações geométricas que articulam o corpo, o espaço e a proporção dos seus elementos definindo-os e conferindo, simultaneamente, forma ao sentido simbólico do claustro. As suas arcadas elevam-se sobre um pequeno muro e definem-se como corpo, na expressão reforçada dos seus cantos. A sua definição arquitetónica axializa a quadra aberta da praça e determina as galerias como espaço de percurso em volta, contido, medido por elementos arquitetónicos, conformado na sua circularidade, pela especificidade das soluções angulares. Na perfeição da sua disposição e da sua composição, a obra renascentista das arcadas tematiza a continuidade de uma caminhada no tempo da vida, e o modo da sua abertura ao centro, um espaço aberto à “cúpula do céu”.
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O retábulo-mor da Catedral de Santa Maria de Viseu
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Maria de Fátima dos Prazeres Eusébio
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O imponente retábulo integra-se num conjunto de obras de talha (quatro retábulos colaterais, dois púlpitos e um cadeiral) enformado pela gramática do barroco joanino, através do qual o cabido, no período de Sé Vaga (1720-1741), perspetivou imputar uma profunda metamorfose na espacialidade interna do templo supremo da diocese, em prol da criação de uma ambiência divina, capaz de capitalizar a emotividade dos fiéis no processo de interiorização da fé.
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Vasco Fernandes e a Sé de Viseu: os retábulos ao “modo de Itália” e a troca de predelas originais
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Dalila Rodrigues
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Os cinco retábulos que Vasco Fernandes pintou para a Sé de Viseu, na década de trinta do século XVI, por encomenda do bispo D. Miguel da Silva, são emblemáticos do seu génio criativo e da sua sensível viragem estética no sentido da matriz italiana. A relação entre o espaço e a pintura estrutura-se aqui num tempo de longas durações, permitindo evocar o contexto da criação e a história da receção. Confirmada a perda da relação original, entre os painéis de grandes dimensões e os mais pequenos, é possível, a partir de critérios iconográficos e estético-formais, antecipar uma proposta de reorganização: além de pontuais acertos, avança-se com a ideia de uma troca entre a predela original do célebre retábulo São Pedro e a do Baptismo de Cristo
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Espaço e tempo na acrópole de Viseu
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João L. Inês Vaz
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Na primeira parte do artigo faz-se uma história das escavações em Viseu, denunciando-se a especulação em que se têm baseado todas as afirmações sobre a antiguidade da cidade. A segunda parte é uma síntese das quatro campanhas de escavação realizadas na Praça de D. Duarte/Rua das Ameias entre os anos de 1988 e 1991. Tecem-se considerações sobre a necrópole e a estrutura arquitetónica da basílica alto-medieval descoberta nessa altura e são revelados, pela primeira vez, alguns pormenores relacionados com os três esqueletos encontrados na necrópole fronteira à basílica. O espólio encontrado nesta escavação merece considerações genéricas finais pela sua importância para o estabelecimento de uma cronologia da ocupação do espaço da acrópole de Viseu.
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A acrópole e a cidade
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Sérgio Fernandez
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Embora as marcas da presença romana em Viseu tenham grande visibilidade, a acrópole, onde se localiza a Sé, constituirá, desde a Idade Média, um elemento central, gerador do desenvolvimento urbano da cidade. O polo em torno do qual se estruturam organicamente as vias mais antigas, contidas durante muito tempo no perímetro da muralha iniciada por D. Afonso V, afirmar-se-á, igualmente, como centro cultural de grande projeção no século XVI. O século XVIII confirmará a importância da cidade alta, cujo perfil se redesenha com a construção da Igreja da Misericórdia. Assiste-se, desde então, ao progressivo preenchimento, mais racionalizado, de novas zonas. Novas acessibilidades são criadas e entre elas destaca-se a do caminho-de-ferro, no fim do século XIX. Hoje, o espaço urbanizado envolve a antiga cidade, prolongando-se por vastas extensões. Um outro limite, estabelecido por uma via de circulação, deixará perceber, através das suas diversas entradas, a existência de um sistema radial que vai promovendo renovados crescimentos.
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A judiaria de Viseu
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Isabel Monteiro
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Integrada no núcleo antigo da cidade, na encosta rochosa da Sé, possivelmente desde os séculos X ou XI, a judiaria situa-se num emaranhado de ruas e ruelas, sendo as principais a Rua da Triparia (hoje Rua das Ameias), a Rua Nova (atual Rua Augusto Hilário) e a Rua da Judiaria. A comuna dos judeus de Viseu aumentou o número dos seus membros com a chegada dos judeus castelhanos nos finais dos séculos XIV e XV, passando a ter uma importância significativa na economia da região. A sua Carta de Privilégio foi concedida em 1433, pelo rei D. Duarte.
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Museu de Grão Vasco: uma existência múltipla
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Alberto Correia
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O atual edifício do Museu de Grão Vasco foi construído, a partir de 1593, para seminário e paço episcopal. No século XIX, abandonado por aquelas instituições torna-se pertença do Estado, que ali instala diversos serviços. Em 1916, é criado por decreto do Governo o Museu de Grão Vasco e instalado, inicialmente, em dependências da Sé, que mais tarde ocupará aquele edifício designado também como Paço dos Três Escalões. O museu integra a obra de Grão Vasco, a mais singular coleção de pintura portuguesa do século XVI, um conjunto de imaginária gótico-renascentista e barroca, mobiliário dos séculos XVIII e XIX, etc. O discurso expositivo que privilegiara a qualidade intrínseca dos objetos traduzido de forma mais neutra (pintura de Grão Vasco) ou mais emotiva (pintura naturalista) ganhará linguagens novas após as importantes obras de requalificação.
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Projeto de remodelação do Museu de Grão Vasco
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Eduardo Souto Moura
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O projeto de remodelação do Museu de Grão Vasco, cujo edifício é considerado um dos mais emblemáticos de Viseu, pretende preservar, no essencial, a sua identidade exterior. Dadas as deficientes condições térmicas no interior, substituir-se-ão caixilharias e algumas janelas que dão para o claustro serão entaipadas, no telhado colocar-se-á uma nova estrutura metálica, do conjunto do edifício apenas no auditório funcionará um novo sistema de ar condicionado, mantendo-se no geral a temperatura ambiente a que as diversas coleções já estão habituadas, e construir-se-ão novas escadas que vão estabelecer uma nova relação entre a entrada e os restantes pisos. No exterior do claustro, o pavimento de betão será substituído por lajedo de pedra.
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A Misericórdia de Viseu
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Maria Luísa Amaral Varela de Freitas
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Neste artigo sobre o atual edifício da Misericórdia de Viseu analisa-se o monumento sobre diversas perspetivas, com particular destaque para a descrição formal do frontispício. Salientam-se as influências de Nasoni e André Soares e, ainda, as muito evidentes semelhanças com o solar barroco, em especial com alguns exemplares da região. Através da análise da construção do primitivo edifício conclui-se que a praça da Sé de Viseu, com a sua atual feição barroca, terá sido delineada no século XVI.
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Uma corte beirã: D. Miguel da Silva e o Paço de Fontelo
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Rafael Moreira
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D. Miguel da Silva tornou-se bispo de Viseu a mando do rei D. João III, sendo “forçado” a abandonar a sua longa embaixada em Roma, donde trouxe para Viseu alguma experiência e saber no campo das artes e cultura. Como modo de atingir os seus objetivos trouxe consigo um arquiteto do Vaticano: Francesco de Cremona. Verdadeiro patrono tardo-quinhentista português, D. Miguel procurou adaptar o Paço do Fontelo, transformando-o numa villa renascentista, apesar do argumento de que ficou aquém das expectativas, pois o conjunto edificado assemelha-se mais a uma vulgar casa-torre do Portugal da Idade Média. A principal intervenção do cremonês limitou-se a uma adaptação, ampliando a área social, erguendo a capela e os jardins. Depois das vicissitudes por que passou nas diversas ocupações de que foi alvo, o conjunto do Paço do Fontelo renasce hoje como sede da Comissão Vitivinícola Regional do Dão.
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Projeto do Castelo de Leiria
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Luís Miguel Correia
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Ainda que durante a sua longa existência o castelo tenha dominado toda a cidade a partir do alto da colina, esta proeminência limitou-se a ser muitas vezes uma mera silhueta no horizonte, que os leirienses se habituaram a ver, mas não a usar. O lugar já existe, e os objetivos da intervenção vêm criar ou inventar a restante paisagem, capaz de resolver todo o conjunto de fragmentos formais e espaciais, conferindo-lhes um caráter uno. No seu conjunto a proposta de intervenção pretende reforçar a noção de continuidade na história e numa memória coletiva, procurando assegurar um diálogo o mais perfeito possível entre os diversos espaços do castelo, cujo fim seja a identidade e a unidade com a cidade e os seus habitantes.
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João Manuel Bairrão Oleiro
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Adília Alarcão
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A autora deste artigo sobre Bairrão Oleiro, tendo sido sua discípula e colaboradora, presta aqui uma homenagem póstuma ao seu mestre, apresentando uma breve descrição do seu longo percurso profissional. Salientado o grande contributo do homenageado nas áreas da investigação, salvaguarda e conservação do património, bem como a sua personalidade única e qualidades intelectuais, demonstradas ao longo de toda a sua vida.
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Intervenções da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
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Maria Fernandes, Laura Figueirinhas, Belbetões/Pedramalba e José Maria Lobo de Carvalho
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As intervenções realizadas na Sé de Viseu ao longo do século XX foram influenciadas por duas diferentes abordagens que determinaram o aspeto físico e estético do monumento. A Sé foi restaurada (segundo os princípios da escola francesa), até cerca de meados dos anos sessenta, mais de acordo com critérios estéticos do que físicos, com o objetivo de devolver ao monumento as características ao gosto do estilo gótico. A partir de 1965, a Sé foi alvo de intervenções de conservação (sob os princípios das escolas italiana e anglo-saxónica), já não tão preocupadas com problemas estéticos, mas centradas principalmente na limpeza de elementos físicos causados pela humidade e erosão. Este processo, entre restauro/conservação, apesar de decorrer em simultâneo na Europa, foi adaptado à realidade portuguesa. Assim se explica o facto de a Sé se apresentar atualmente com características novas e antigas.
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Intervenções no centro histórico
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Gonçalo Byrne, Álvaro Siza e Luísa Maria Brito e Cunha
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As intervenções no centro histórico de Viseu incluem: a reabilitação da Cava do Viriato, um testemunho da cultura ancestral que urge evidenciar e conservar, dado constituir um exemplar único e simbólico da arqueologia e património de Viseu; a reabilitação do velho Mercado 2 de Maio, uma área a necessitar da preservação do seu valor arquitetónico, depois de desativado em 1992, e da sua substituição pelo novo mercado municipal; e a remodelação das instalações da Polícia de Segurança Pública — Comando Distrital de Viseu, onde se procuraram preservar o mais possível as caraterísticas estruturais e materiais do edifício.
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O Jardim da Manga, Coimbra: obras de conservação e beneficiação
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Francisca Joana Martorell e Lúcia Pessoa
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O templete do Jardim da Manga foi mandado edificar por D. João III, no primeiro terço do século XVI, durante as reformas realizadas por frei Brás de Braga, governador da Ordem dos Crúzios do Mosteiro de Santa Cruz. Primitivamente inserido no claustro da enfermaria do mosteiro, do qual existem apenas as reminiscências das alas oriental e ocidental, a que correspondem os edifícios dos CTT e da Direção Regional dos Edifícios e Monumentos do Centro (DREMC), respetivamente, está atualmente integrado no domínio público autárquico. A intervenção foi realizada na sequência de um protocolo entre a DREMC e a Câmara Municipal de Coimbra, tendo por objetivos a conservação do conjunto arquitetónico, a reorganização do espaço envolvente e a beneficiação exterior do edifício, escadarias e iluminação pública.
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Capela de São Pedro de Varais
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Lídia Costa, Quadrifólio, Luís Fernando de Oliveira Fontes e Francisco M. S. de Sande Lemos
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Esta pequena capela rural, no sopé da serra de Arga, foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1950. Construída no século XIII sobre restos da antiga ermida alto-medieval, possui um traçado românico tardio. Se nos paramentos exteriores as cantarias têm representados elementos decorativos de um estilo muito simples, no interior encontram-se vestígios de pinturas murais do século XVI, bem como um retábulo de “estilo nacional”. Os trabalhos de conservação e reabilitação realizados integraram-se no âmbito do Protocolo de Colaboração no Domínio do Itinerário Românico da Ribeira Minho, celebrado em 1998, entre diversas instituições, os quais consistiram em: desentaipamento das portas laterais e da rosácea da fachada principal; limpeza dos paramentos exteriores; tratamento das caixilharias e vãos in(ex)teriores; arranjo dos espaços exteriores, nomeadamente dos pavimentos, e instalação de um sistema de drenagem perimetral. Em 1999, foram convidadas empresas especializadas para procederem à reabilitação da rosácea e das pinturas murais.
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Revestimentos em alvenarias antigas
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Maria Goreti Margalha
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Os revestimentos são parte integrante do nosso património construído. As várias épocas e gostos sobrepuseram cores e técnicas, muitas vezes relacionadas com a sucessiva reutilização dos edifícios, tornando a intervenção ao nível das superfícies dificilmente reversíveis. De acordo com as tendências atuais, é fundamental assegurar a autenticidade das intervenções, procurando preservar o mais possível e evitar a remoção das argamassas originais.
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