Paço dos Duques de Bragança / Residência Oficial do Presidente da República / Museu
| IPA.00001139 |
Portugal, Braga, Guimarães, União das freguesias de Oliveira, São Paio e São Sebastião |
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Arquitetura residencial, medieval e revivalista. Paço de fundação medieval, de planta quadrangular, formada por quatro alas dispostas em torno de um pátio central, integrando capela ao centro da ala posterior e quatro torreões nos ângulos. Tenta reproduzir o modus vivendi da nobreza europeia que, para alguns autores, seria inspirada em modelos de residências fortificadas, italiana, flamenga e francesa *5. Segundo Custódio Vieira da Silva, são evidentes as semelhanças formais e construtivas entre o Paço dos Duques de Guimarães e o Paço dos Reis de Maiorca, em Perpignan, na organização do espaço em torno de um pátio interior com capela no centro do corpo oposto à entrada principal e as alas laterais a albergar as dependências maiores; assim como, o recurso às janelas retangulares cruzetadas, de influência francesa, difundida em diversos palácios a partir do séc. 14. Apresenta ainda semelhanças com o Paço Ducal de Barcelos (v. PT010302140002), com obras quase simultâneas e também mandado construir por D. Afonso, nomeadamente nas janelas retangulares cruzetadas, nas altas chaminés que coroam os remates e nas coberturas de grande inclinação e remates em ameias, que possuía originalmente como é visível no desenho de 1509 de Duarte de Armas. O interior organiza-se em torno de um amplo pátio, percorrido por galerias em arco apontado no piso térreo e em colunata no piso superior. Fronteira à entrada principal e ao nível do andar nobre surge a capela, com portal em arco apontado, de arquivoltas sobre colunelos, e rasgada na parede testeira por dois grandes vãos em arco apontado, de três lumes e bandeiras decoradas com motivos de desenho flamejante, e com vitrais figurativos que iluminam o espaço de decoração neo-medieval. A ligação entre os pisos faz-se por escadas de caracol nos torreões e escadas de lanços nas quatro alas. Estas organizam-se em amplas salas comunicantes, algumas com lareira em pedra e tetos revestidos a madeira. Paço medieval de grande dimensão, bastante transformado pela ação dos vários intervenientes que o ocuparam ao longo dos tempos, já que teve a construção iniciada em 1420 e prolongada até finais do séc. 15, início do séc. 16, altura provável em que se elevou o número de pisos e se fez o remate em ameias, posteriormente devoluto e ocupado como quartel, entre o início do séc. 19 e 1935, altura em que se começa a desenhar o projeto de restauro da DGEMN. Constitui um exemplar de arquitetura civil único no país, onde a monumentalidade se associa ao conforto que a época exigia, como é visível pelo grande número de lareiras de aquecimento coroadas por altas chaminés em tijolo, mesmo a capela já possuía aquecimento, nas laterais do corpo virado a NE. com as duas longas chaminés adossadas; pelas inúmeras escadas de serviço e pelas condutas de escoamento das águas pluviais inseridas nas paredes. É de destacar a influência das construções militares na fachada posterior, com dois pequenos balcões fechados nos corpos laterais da capela e dois corridos nos torreões, todos sustentados por mísulas escalonadas, que se procurou reproduzir no pano central da fachada principal com balcão corrido. A grandeza dos paços construídos em Guimarães e Barcelos pelo Duque de Bragança e sobretudo a dimensão e o lugar central ocupado pela capela no de Guimarães reforça a importância que a casa de Bragança detinha, competindo com o próprio monarca. O Paço sofreu uma das maiores e mais profundas obras de restauro, levada a cabo pela DGEMN, sob a orientação do arquiteto Rogério de Azevedo *6, com o objetivo de recriar um modelo tipológico de residência nobre europeia, dos séculos 15 e 16, dotando o paço de uma simetria que não existia originalmente ao nível das fachadas, dos quatro torreões, ainda que a planta original confirme o tratamento igual que todos os muros apresentam até um determinado nível, indicando que o paço foi idealizado como um grande quadrilátero; no coroamento de ameias em todos os muros (coroamento que foi baseado no achado de um único exemplar primitivo datado do séc. 16), na forte pendente das coberturas e na organização do espaço interior em galeria no primeiro piso e a sua correspondente térrea, em todas as faces, apesar das respetivas fundações apenas conservarem os orifícios correspondentes ao encaixe das vigas de suporte do pavimento da galeria nas três faces, excetuando a do corpo principal. Aliás, a fachada principal foi a mais intervencionada, pois era a que detinha os dois pisos menos elevados e não possuía torreão no lado esquerdo; em contrapartida, a ala menos alterada, não só ao nível dos volumes, como de fachadas, foi a posterior, porque era a mais bem conservada até à altura do restauro. O projeto de restauro do Paço foi planeado como um todo, até mesmo a sua decoração foi um processo estudado para o qual se constituiu uma Comissão de Mobiliário com a atribuição de recriar o ambiente das residências nobres, com peças de mobiliário e obras de arte do séc. 17 e 18, utilizadas com uma intencionalidade político-ideológica, nomeadamente visível na iconografia dos vitrais *7 e no brasão que coroa o portal da capela. |
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Número IPA Antigo: PT010308340013 |
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Registo visualizado 14444 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Residencial senhorial Paço senhorial
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Descrição
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Planta quadrangular, formada por quatro alas dispostas em torno de um pátio central, integrando capela ao centro da ala posterior e quatro torreões nos ângulos. Possui volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas nas galerias do pátio e de quatro águas nos restantes corpos, de pendente acentuada, com trinta e seis chaminés, em tijolo, e quatro guaritas cilíndricas cilíndricas nos ângulos interiores dos torreões, com cobertura em coruchéu piramidal. Fachadas de três pisos, em alvenaria ao nível do piso térreo e em cantaria de granito, de aparelho isódomo nos restantes, possuindo gárgulas entre os panos murários, sendo estes rasgados por vãos de diferente dimensão e modinatura, alguns protegidos por gradeamento, e com remates em ameias com chanfro decoradas por flor-de-lis. Fachada principal virada a NO., de disposição simétrica, com pano central recuado, e remate destacado por um balcão corrido, suportado por mísulas trilobadas, com caminho de ronda que une as pequenas guaritas, dispostas junto aos ângulos dos torreões. Piso térreo rasgado por portal em arco apontado de aduelas marcadas, encimado por mísulas que pertenceriam a um alpendre e dez pequenas frestas retilíneas, em cada um dos pisos superiores abrem-se seis janelas de verga reta de cruzeta; os corpos laterais torreados são rasgados por vãos de verga reta, de forma assimétrica; no torreão da esquerda, uma fresta e uma janela de cruzeta por piso; no torreão da direita, cinco frestas e uma janela de cruzeta por piso. Fachadas laterais, de disposição simétrica com pano central mais baixo. A fachada lateral NE. é percorrida por mísulas que teriam sustentado um alpendre corrido, e por friso de cantaria saliente, encimada por quatro vãos quadrangulares, em cada um dos panos, sendo estes em capialço e sobrepujados por pingadouro; ao nível do piso térreo a fachada é ritmada por dezoito frestas retilíneas, no pano central, é rasgada por vão de arco apontado e ladeada por janelas de verga reta, de cruzeta, gradeadas, uma do lado esquerdo e três do lado direito; os torreões apresentam no último piso três janelas de verga reta de cruzeta encimados por friso de cantaria saliente. A fachada lateral SO. apresenta, no pano central do piso térreo portal em arco apontado com aduelas marcadas precedido por escadaria de lanços retos opostos com guarda plena em cantaria, sobrepujada por onze frestas retilíneas desalinhadas; no piso superior abrem-se cinco janelas de verga reta, de cruzeta, sobrepostas por janelas jacentes retilíneas; a organização dos vãos nos dois torreões é idêntica, sendo rasgados por fresta retilínea e janela de verga reta de cruzeta, gradeada, ao nível do piso térreo e por três janelas de verga reta de cruzeta em cada um dos pisos superiores. Fachada posterior virada a SE., de cinco panos, o central, correspondente à capela, mais destacado e rasgado por três janelas de verga reta de cruzeta, encimadas por dois janelões de arco apontado, divididos em três lumes com bandeiras decoradas com motivos de desenho flamejante, integrando vitrais figurativos; é ladeado por dois corpos mais recuados de dimensões diferentes; o do lado esquerdo, maior, possui no extremo esquerdo portal de arco apontado, de aduelas marcadas, com acesso por escada adossada de um só lanço e guarda plena de cantaria, sendo encimado por quatro pequenos vãos retilíneos e sobrepujado por dois vãos em volta ligeiramente apontado também de aduelas marcadas; no piso superior duas janelas de verga reta de cruzeta e balcão fechado coberto por telhado de uma água, suportado por mísulas quadrilobadas e rasgado por duas janelas retilíneas; um pouco mais elevado, rasga-se pequeno vão retilíneo, em capialço; o do lado direito apresenta ao nível do piso térreo, no extremo direito, portal em arco apontado, com aduelas marcadas, encimado por fresta retilínea e, a ladear o portal, três pequenos vãos de verga reta; é sobrepujado por dois vãos em arco de volta ligeiramente apontada, de aduelas marcadas, e, no piso superior, surge janela de verga reta de cruzeta e um balcão idêntico ao anterior, fechado e coberto por telhado de uma água, suportado por mísulas quadrilobadas e rasgado por duas janelas retilíneas, sendo este encimado por pequeno vão retilíneo, em capialço. Os torreões, ao nível do último piso, apresentam balcões corridos, suportados por mísulas quadrilobadas, encimados por três vãos retilíneos; no torreão do lado esquerdo rasgam-se quatro janelas de verga reta de cruzeta, duas por piso, e quatro frestas retilíneas; no torreão do lado direito abre-se uma janela de verga reta de cruzeta, um vão quadrangular em capialço e cinco frestas retilíneas de dimensão diferenciada. INTERIOR com amplo pátio retangular, pavimentado a lajes de granito com acesso direto através do portal da ala NO.. Possui as alas definidas por vãos em arco apontado, rasgados na caixa muraria, de granito aparente, de seis tramos nas alas NO. e SE. e de quatro tramos nas laterais NE. e SO., no piso superior, por vãos arquitravados, sustentados por colunas toscanas; e no último piso, a ala NO. apresenta-se rasgada por sete janelas de verga reta de cruzeta e na ala SE. por quatro balcões apoiados em mísulas trilobadas, sendo dois de menor dimensão, cobertos por pequeno telheiro de uma água e dois corridos, rasgam-se ainda de forma assimétrica seis pequenos vãos retilíneos em capialço, encimados por friso saliente. A organização é marcada, no piso térreo, por inúmeras salas separadas por estreitos corredores perpendiculares às fachadas, onde se localizam as áreas de receção do visitante e de serviços; na ala da fachada principal insere-se uma caixa de escadas de quatro lanços, em granito e um elevador. As salas são contíguas e exibindo paredes em granito, pavimento em laje de cantaria no primeiro piso e mosaico cerâmico no superior, tetos de madeira com o travejamento à vista, alguns apresentando pinturas vegetalistas. O piso superior, correspondente ao percurso museológico é marcado pelos amplos salões, com lareiras de pedra, nomeadamente, o Salão de Banquetes e o dos Paços Perdidos, de grande pé direito, com teto do tipo quilha de barco invertida, em madeira de castanho. Na ala SE., rasga-se ao centro uma tribuna enquadrada por grande arco de volta perfeita, apoiado nas colunas de pedra, com capitéis lisos, coberta por estrutura em madeira, de duas águas. Fronteiro à tribuna, e numa posição elevada, rasga-se o portal da capela, enquadrado por quatro arquivoltas em arco quebrado, com a arquivolta exterior envolvida por friso decorado por elementos geométricos em ponta de diamante, que assentam em quatro colunas de mármore e capitéis com decoração vegetalista, encimado por brasão do 1º Duque de Bragança, sendo precedido por escadaria; a ladear a capela surgem salas contíguas *2. CAPELA de nave única com pavimento e teto de madeira com o travejamento à vista, e presbitério mais elevado, demarcado por guarda de madeira vazada por arcos polilobados, ladeado, a toda a altura das paredes, por tribunas de madeira de dois registos, encimadas por cornija e abertas por arcaria trilobada flamejante com guarda de madeira plena. Na parede testeira, altar paralelepipédico de madeira, encimado pelas janelas de desenho flamejante; onde surge, em posição elevada, peanha com a imagem da Virgem. Sobre o portal de verga reta, coro-alto, estreito, de madeira, com guarda vazada, com acesso aos balcões da fachada exterior e de ligação aos corredores das restantes alas. O último piso da fachada principal está destinado á residência oficial do Presidente da República, composto por cinco quartos de dormir com instalações sanitárias privativas, encaixados por duas suites nos extremos da ala, correspondentes aos torreões. |
Acessos
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Rua Conde D. Henrique |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136, de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 170, de 23 julho 1955 *1 / Incluído na Zona Especial de Proteção do Núcleo Urbano da Cidade de Guimarães (v. PT010308340101) |
Enquadramento
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Urbano, isolado, a meia encosta do Monte Latito, ocupando uma posição sobranceira ao burgo medieval amuralhado de Guimarães. No interior das muralhas (v. PT010308340016), com ligação à Rua Santa Maria, eixo medieval que unia os dois núcleos urbanos, o Mosteiro (Vila Baixa) e o Castelo (Vila Alta), nas imediações da Porta Freiria, já desaparecida. Implantado em terreno de acentuado declive, é envolvido por parque arborizado, onde se erguem outros monumentos; na cota mais alta, a NE:, o Castelo (v. PT010308340011) e a Igreja de São Miguel do Castelo (v. PT010308340006), e na cota mais baixa, fronteiro à fachada E., a Capela de Santa Cruz (v. PT010308340046). O conjunto é delimitado por vias urbanas, com exceção, a SO., onde o limite é traçado por muros que o separam de construções vizinhas, nomeadamente a Igreja e Convento do Carmo (v. PT010308340052); possuindo, diversos caminhos pedestres, rampas e escadas rampeadas, de patim largo. O espaço fronteiro à fachada principal do Paço apresenta um amplo passeio central pavimentado a cubos graníticos com guias formando quadrícula, ladeado por espaços relvados; próximo, ergue-se o monumento a D. Afonso Henriques (v. PT010308340204). |
Descrição Complementar
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VITRAIS da capela com representação, do lado esquerdo, de D. Afonso Henriques, o Conde de Barcelos, D. Constança, e do lado direito, D. Filipa de Lencastre, D. João I e D. Nuno Álvares Pereira. Superiormente, surgem as armas dos Bragança e dos Lencastre, Santo António, São Francisco, o Crucificado, São Jorge, Nossa Senhora da Oliveira e Santiago. |
Utilização Inicial
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Residencial: paço senhorial |
Utilização Actual
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Residencial: residência oficial / Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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DRCNorte, Decreto-Lei n.º 114/2012, DR, 1.ª série, n.º 102 de 25 maio 2012 |
Época Construção
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Séc. 15 / 16 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETOS: Alberto da Silva Bessa (1948); Francisco de Azeredo (1965); Joaquim Areal (1942); Luís Benavente (1955); Mário Barbosa (1947); Mestre Antom (atr. 1420); Rogério de Azevedo (1936). ARQUITETO PAISAGISTA: António Viana Barreto (1957). CARPINTEIROS: Afonso Anes (1490); João Domingues (1490). ESCULTOR: Manuel Ventura Teixeira Lopes (1958). PINTORES: António Costa (1943); António Lino (1958). |
Cronologia
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1420 - início de construção do paço, data associada às cláusulas do contrato do segundo casamento entre Conde de Barcelos, D. Afonso, filho bastardo de D. João I e D. Constança de Noronha, no regresso de missões diplomáticas nas cortes de França, Veneza, Aragão e Castela; segundo alguns autores, o projeto é entregue ao mestre francês Antom *3; 1438, 31 janeiro - data provável de ocupação do Paço; 1442 - o Paço estaria ainda em construção, quando o regente D. Pedro aqui se hospedou e conferiu a seu meio-irmão o título de 1º Duque de Bragança; 1461 - as obras do Paço param após a morte de D. Afonso; sucede-lhe o seu filho D. Fernando I, 2º Duque de Bragança; no Paço continua a residir a viúva, D. Constança de Noronha, continuando a receber as rendas de Guimarães, o Paço é utilizado como uma espécie de local de acolhimento de doentes e necessitados; 1464 - é concedido o título de 1º Conde de Guimarães, pelo Rei D. Afonso V, a D. Fernando II, filho do Duque de Bragança; 1475 - o título de Conde de Guimarães é renovado por D. Afonso V, para Duque de Guimarães; 1478, 1 abril - falecimento do 2º Duque de Bragança, sucedendo-lhe o seu filho D. Fernando II, 3º Duque de Bragança, que terá impulsionado a continuação das obras no Paço; 1480, 26 janeiro - falecimento de D. Constança de Noronha; 1483 - o Duque D. Fernando II é acusado de traição ao Rei D. João II, tendo todos os bens da Casa de Bragança sido confiscados, tornando-se o Paço, propriedade da Casa Real; por ordem do Rei, o Paço continuou a ter obras de manutenção, como o atesta a contratação de um carpinteiro; 20 junho - falecimento do Duque D. Fernando II; 1490, 20 dezembro - carta dando conta da renúncia do carpinteiro João Domingues, em favor do seu genro Afonso Anes, após a sua nomeação para as obras do paço, pelo Rei D. João II; 1496 - os bens da Casa de Bragança são novamente restituídos ao Duque D. Jaime I e confirmada a doação dos padroados de Guimarães, o que vem comprovar a tese de Custódio Vieira da Silva que teria sido D. Jaime, 4º Duque de Bragança, a construir o terceiro piso do Paço da fachada posterior, interligando os dois torreões que ladeiam a Capela; séc. 16, início - o Paço é encerrado, devido à deslocação do Paço Ducal para Vila Viçosa (v. PT040714030009); 1536, 21 agosto - o ducado de Guimarães é dado no dote de casamento a D. Isabel, irmã do Duque D. Teodósio; 1611, 20 outubro - as freiras clarissas pedem que lhes seja dada pedra da cerca do Paço para arranjos no seu mosteiro; 1616 - início do processo de degradação do Paço com a doação de Guimarães ao castelhano D. Diogo da Sylva e Mendonza, durante a Dinastia Filipina; 1666 - os frades capuchos receberam autorização do Rei D. Afonso VI e do 10º Duque de Bragança, para utilizarem pedra das paredes interiores do Paço para a construção do Convento da Piedade; 31 de janeiro - a Câmara insurge-se contra o facto de se estar a arruinar o Paço; 4 fevereiro - auto de vistoria e avaliação do Paço pela Casa da Câmara para informar o Rei da urgência e necessidade das obras de conservação do Paço*4; a Câmara propõe dar dinheiro aos frades capuchos e ceder a pedra da barbacã do Castelo de Guimarães, em troca da pedra do Paço; 1667, a 30 julho - através de requerimento da Câmara é pedido ao juiz de fora para averiguar quem roubava a pedra junto á porta de Santa Cruz " que se vai arruinando e dos Paços pelo prejuízo que se segue à fortificação dos muros e obra real dos mesmos Paços dos Duques"; 1672, 26 novembro - é notificado Pedro Vaz de Sampaio, mestre pedreiro, para consertar a porta do Paço, repondo com juntadoiros, visto que ela estava já arruinada; 1692 - o Padre Torcato Peixoto de Azevedo refere nas suas Memórias, que o Paço nunca foi concluído; séc. 18 - o Padre António Caetano de Sousa menciona que o Paço inicialmente havia sido guarnecido por rico mobiliário, tapeçarias, uma biblioteca e diversas antiguidades vindas de fora do reino; 1706 - o Padre António de Carvalho da Costa refere, na sua Corografia Portuguesa, que o Paço não havia sido terminado; 1761, 29 dezembro - documento transcrito em 1900 por Albano Bellino, com a medição do paço em planta e alçados, respetivas confrontações, sem referência alguma ao pátio central; 1771 - o Frei Manuel da Mealhada refere-se ao inacabado Paço dos Duques; 1807 - a parte habitável foi coberta de telha pelo Almoxarife Jerónimo de Matos Feijó, instalação do Quartel do Regimento de Infantaria 20; 1819, 8 janeiro - conclusão de diversas obras; 1880, 30 dezembro - foi considerado monumento histórico de 2ª classe pela Real Associação de Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses; 1881 - o Padre António José Ferreira Caldas refere-se ao Paço, como estando arruinado e a servir de quartel, tendo passado por lá passado diversos regimentos e batalhões; é feita uma descrição do que existia, nomeadamente o grande pátio interior, a fachada principal só com um piso, e as laterais e posterior mais elevadas, o portal da capela, os cachorros que suportariam as galerias do pátio, os janelões flamejantes da capela e as diversas chaminés de tijolo; 1886 - Vilhena Barbosa faz uma nova descrição do Paço, mencionando os cachorros da fachada lateral NE. que suportariam uma alpendrada; 1914 - Mariano Felgueira lança a ideia de expropriação da zona envolvente ao Castelo, Capela de São Miguel e Paço dos Duques para a construção de um parque; 1933, 26 setembro - o Director-Conservador do Museu Alberto Sampaio, Dr. Alfredo Guimarães pede ao Dr. Oliveira Salazar que visitasse o arruinado Paço, dando-se assim início ao processo de reconstrução do edifício; 1935, 31 dezembro - o Quartel Militar abandona o Paço; 1936 - o arquiteto Rogério de Azevedo apresenta o projeto de restauro, referindo que as obras ainda não tinham começado por falta de dotação orçamental, faltava ainda a decisão relativamente a alguns pormenores de fachadas e claustro e o programa definitivo para a organização espacial, na altura pretendia-se instalar no edifício os serviços culturais da Câmara Municipal (museu, biblioteca e arquivo); 1937 - início dos trabalhos mais urgentes, sob a orientação do arquiteto Rogério de Azevedo; 1939 - o pátio interior do Paço foi objeto de vários estudos, por parte do arquiteto Rogério de Azevedo, tendo sido adotado o da construção de uma escada monumental no centro do pátio de acesso à capela; 1940 - Rogério de Azevedo abandona a direção da obra; a escada monumental está em construção; a estátua de D. Afonso Henriques é transferida para o local atual, por decisão do Governo e da Câmara; 1942 - o arquiteto Joaquim Areal continua os trabalhos iniciados no Paço e pede autorização para efetuar uma viagem de estudo a Espanha, esta não é autorizada; 1943 - novo pedido de viagem de estudo por parte do arquiteto Joaquim Areal, em que alega dificuldades para a solução dos tetos e outras decorações, para a qual teve a contribuição do pintor António Costa para os motivos decorativos dos tetos e de Guilherme Camarinha para o estudo dos vitrais da capela, mas este último não é aprovado superiormente; são trazidas do Mosteiro de São Miguel de Refojos (v. PT010304140002), em Cabeceiras de Basto, as grades do adro, para reaproveitamento de material nos restauros do paço; 1948 - o arquiteto Alberto da Silva Bessa assume a direção dos trabalhos do Paço; demolição da escada monumental; 1953 - o General Craveiro Lopes usou o Paço para atos oficiais, nas comemorações do 1º Centenário da elevação de Guimarães a cidade; 1954 - após visita ao paço, o ministro das obras públicas determina que se acelerem as obras e se execute o estudo final para as coberturas e para a residência presidencial, dá autorização para que se efetue a viagem de estudo; 1955 - o arquiteto Luís Benavente faz a viagem oficial à região do Loire, com o objetivo de estudar os seus palácios e apresenta o programa final para o Paço, nomeadamente para as coberturas, claustro e interior da capela; visita oficial do General Craveiro Lopes com o seu homólogo brasileiro João Café Filho; 1956 - as soluções propostas pelo arquiteto Luís Benavente são aprovadas pelo ministro Arantes e Oliveira; 1957 - execução de arranjo paisagístico da envolvente do Castelo, Igreja de São Miguel e Paço dos Duques, de forma a valorizar os monumentos e construir o parque público, segundo o projeto do arquiteto paisagista António Viana Barreto; o arquiteto Mário Barbosa apresenta estudo para as tribunas da capela; 1958 - elaboração de estudos para a execução do brasão para o frontão da capela do paço pelo escultor Manuel Ventura Teixeira Lopes e para a execução dos vitrais da capela pelo Pintor António Lino; 1959 - é nomeada uma Comissão de Mobiliário para dotar os espaços do Paço de mobiliário e decoração apropriada à sua funcionalidade de residência presidencial e museológica; 24 Junho - inauguração do Paço como Residência Oficial da Presidência da República; 26 agosto - inauguração como Museu; 1960 - o monumento foi aberto ao público, faltando ainda a execução de alguns trabalhos; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 1993 - abertura ao público da sala-museu José de Guimarães; 2007, 29 março - o imóvel é afeto ao Instituto dos Museus e Conservação, I.P. pelo Decreto-Lei n.º 97/2007, DR, 1.ª série, n.º 63. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura de cantaria, frisos, cornijas, ameias, mísulas, balcões, guardas, gárgulas, escadas, elementos decorativos e pavimentos interiores em granito; betão armado na estrutura, tetos e pavimentos; gradeamentos das janelas em ferro; portas, janelas, coberturas, pavimentos interiores, mobiliário, coro-alto, estrutura da tribuna e bancos da capela em madeira; chaminés em tijolo de burro; diversos pavimentos interiores em mosaico cerâmico; vitrais e vidros simples nas janelas; coberturas em telha. |
Bibliografia
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AZEREDO, Francisco de - Casas senhoriais portuguesas: roteiro da viagem de estudos do IBI. [s.l.]: Internationales Burgen Institut, 1986; AZEVEDO, Rogério de - Despropósito a propósito do Paço dos Duques de Guimarães: Epístola ao Sr. Dr. Alfredo Pimenta. Porto: Livraria Fernando Machado, 1942; Azevedo, Rogério de - O Paço dos Duques de Guimarães: preâmbulo à memória do projecto de restauro. Porto: Livraria Fernando Machado, 1942; BARBOSA, Ignácio de Vilhena - Monumentos de Portugal historicos, artisticos e archeologicos. Lisboa, 1886; BELINO, Albano - Archeologia christã: descripção historica de todas as egrejas, capellas, oratorios, cruzeiros e outros monumentos de Braga e Guimarães. Lisboa: Empreza da Historia de Portugal, Sociedade Editora, 1900; BASTO, Sónia - "Paço dos Duques de Bragança". Revista Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, outubro 2013, nº 33, pp. 132-141 (e-book); BRITO, Maria Mónica - "Paço do Duques de Bragança em Guimarães: alguns vetores de leitura". Revista Monumentos. Lisboa: Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, outubro 2013, nº 33, pp. 74-87 (e-book); BRITO, Maria Mónica Carrusca Pimenta de - Paço dos Duques de Bragança em Guimarães: Metamorfoses da imagem na época contemporânea. Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Restauro. Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2003; CACHADA, Armindo Guimarães - Guimarães: roteiro turístico. Guimarães: Zona Turismo de Guimarães, 1992; Câmara Municipal de Guimarães, 1666, Livro 1, p. 132. Arquivo Municipal de Guimarães, São Miguel do Castelo, 1761, Maço nº 228, doc. 49; Chicó, Mário Tavares - A arquitectura Gótica em Portugal. 3ª ed . Lisboa: Livros Horizonte, 1981; COSTA, António Carvalho da - Corografia Portugueza e descriçam topografica do famoso Reyno de Portugal... Braga: Typ. de Domingos Gonçalves Correia, 1868. Tomo 1; Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian: Francisco Caldeira Cabral e a primeira geração de arquitectos paisagistas, 1940-1970. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003; FORTE, Joaquim - Encontrada no castelo estrutura edificada. Jornal de Notícias Minho. (18 de Jan. 2004), p. 8; Gil, Júlio - Os mais belos palácios de Portugal. Lisboa : Verbo, 1992; Guimarães do passado e do presente. Guimarães: Câmara Municipal de Guimarães, 2009; GUIMARÃES, Alfredo - Tapeçarias. Revista Prisma. Nº 4 (1938); Instituto dos Arquivos Nacionais-Torre do Tombo - Luís Benavente: Arquitecto. Lisboa: IAN/TT, 1997; LEMOS, Rui - Paço dos Duques de Bragança vai entrar em obras. Diário do Minho. (22 jan. 2007); Paço dos Duques de Bragança, Guimarães. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. (Dez. 1960). Vol. 102; Patrimonia: identidade, ciências sociais e fruição cultural. Cascais: P.A.P.C.F.T., 1996; Relatório da actividade do Ministério dos anos de 1957 e 1958. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1959, 1 vol.; Relatório da actividade do Ministério dos anos de 1959. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1960, 1 vol.; Relatório da actividade do ministério no ano de 1962. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1963, 2 vol.; SILVA, José Custódio Vieira da - Paços medievais portugueses. Lisboa: IPPAR, 1995; Tesouros artísticos de Portugal. Lisboa: Reader's Digest, 1988; TOMÉ, Miguel - Património e restauro em Portugal: 1920-1995. 1ª ed. Porto: FAUP Publicações, 2002. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DREL, DGEMN DRML, DGEMN/DSMN, DGEMN/CAM, DGEMN/DSID; Arquivo pessoal António Viana Barreto; Exército Português: Direção de Infra-Estruturas/GEAM: Projeto SIDcarta |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSID, DGEMN/DREML, SIPA |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/CAM; DGEMN/DSARH; DGEMN/DSMN |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1937 / 1938 / 1939 / 1940 / 1941 / 1942 / 1943 / 1944 / 1945 / 1946 / 1947 / 1948 / 1949 / 1950 / 1951 / 1952 / 1953 / 1954 / 1955 / 1956 / 1957 / 1958 / 1959 - diversas obras de restauro e reconstrução: demolição de construções realizadas na época em que o Paço esteve adaptado a quartel; aquisição e demolição do casario circundante ao Paço e do que se encontrava adossado à muralha contígua à fachada posterior; conclusão da fachada principal e da voltada ao castelo a partir do primeiro piso; recalcamento profundo dos alicerces das paredes exteriores do Paço; consolidação de paredes e elevação dos seus coroamentos; arranjo das cantarias das janelas e construção dos mainéis em falta; execução e encastramento de todos os pavimentos vigados de betão armado nas caixas primitivas; construção do pátio, incluindo arcarias e galeria superior, segundo os elementos encontrados; construção de adarves, varandins e ameias; execução das chaminés em falta correspondentes às diversas lareiras existentes; cobertura dos pavimentos de betão com mosaico cerâmico; execução das armações dos telhados em madeira de carvalho e sua cobertura em telha idêntica à que foi encontrada nas escavações; revestimentos de todas as vigas e tetos de betão armado com madeira de castanho; arranjo geral da capela, incluindo execução de tribunas e vitrais; construção de portas, portadas, caixilhos das janelas; execução de vitrais, armados em chumbo e sua colocação nos caixilhos das janelas; instalação dos serviços de cozinha, copa e monta-pratos de comunicações; execução das redes de saneamento, distribuição de água, eletricidade e pára-raios; montagem de instalações sanitárias; execução de uma rede de canalizações exteriores para escoamento das águas pluviais dos jardins; ajardinamento dos terrenos envolventes do edifício; arranjos interiores do Paço: seleção de mobiliário e peças de arte, datadas sobretudo do séc. 17 e 18 para decoração dos espaços; 1960 - conclusão das obras de restauro; 1961 / 1962 - instalação elétrica e rede de águas quentes e frias; DGEMN / CMG: 1962 - iluminação exterior do Paço; 1963 - trabalhos de esgotos das águas pluviais dos telhados do corpo S.; reparação dos telhados; 1965 - trabalhos diversos de adaptação no torreão NE. para habitação do Conservador; reparação dos telhados; beneficiações interiores e eliminação de focos de térmitas; 1966 - montagem do elevador; continuação da desinfestação de madeiras; limpeza e enceramento de tetos e portas, instalação elétrica; 1967 - reparação de coberturas; abertura e tratamento do rasgo nas paredes para a manga de cheiros e trabalhos complementares; construção de apanha-fumos na cozinha; 1969 - pintura das dependências destinadas ao Conservador; conservações diversas; instalação elétrica; 1970 - conservação interior e exterior em diversas zonas do Paço; tratamento antitérmitas; conservação e restauro de vitrais; instalação elétrica; 1971 / 1972 - continuação de conservação interior e exterior; 1975 - reparação ligeira do telhado da ala nascente do claustro; 1977 - reparação de caleiras e vitrais; colocação de marcos de água; 1978 - reparação de caleiras e vitrais; conservação das instalações elétricas e rede de águas quentes e frias; 1979 - reparação de vitrais, coberturas e pinturas interiores; 1980 - desinfeção de tetos e reparação de coberturas; 1982 / 1983 - conservação diversa; 1985 / 1986 - beneficiação de canalizações e obras de pintor; IPPAR: 1992 - recuperação de coberturas; recuperação de caixilharias exteriores; 1996 / 1999 - reparações gerais, obras de conservação e desinfestação, recuperação e restauro das janelas e vitrais e remodelação da ala residencial; 2006 - recuperação e valorização do Paço dos Duques: levantamentos topográficos e arquitetónicos, projeto e produção de sinalética interior, instalação da loja e remodelação da zona de acolhimento; restauro do património móvel e integrado; 2007 - reparação e reforço das portas exteriores; obras de reparação exterior e envolvente. |
Observações
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*1 - Trata-se de uma Zona Especial de Proteção Conjunta do Castelo de Guimarães (v. PT01030834011), Igreja de São Miguel (v. PT01030834006) e Paço dos Duques de Bragança (v. PT01030834013). *2 - antigas dependências do Duque e da Duquesa. *3 - em 1460, foi testemunha de um aluguer de uma casa feita pelo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, um Mestre de Pedraria Antom, sendo esta a única referência a este arquiteto. *4 - a comissão de avaliação da Casa da Câmara fez-se acompanhar pelos Mestres Pedreiros, Gonçalo Vaz de Sampaio e Pedro Lopes e pelo Arquiteto António de Andrade. *5 - ao nível de influência construtiva, este Paço, teve várias opiniões, para Rogério de Azevedo a existência de um pátio interior formado pelo quadrilátero regular revela uma influência italiana, para Ilídio Araújo essa mesma razão leva-o a afirmar que segue os moldes flamengos, para Custódio Vieira da Silva é indiscutível a relação com a transformação que em França, as residências régias e da nobreza estavam a sofrer, os castelos começavam a adaptar-se a residências com um maior número de divisões e maior conforto. *6 - desde o início que esta intervenção foi fortemente criticada, primeiro por Marques da Silva, no Jornal Noticias de Guimarães, em 1934: "completar o que se não conhece, inventando, é atentar contra a arte, contra a verdade histórica"; mais tarde, em 1942, Alfredo Pimenta escreve no Correio do Minho, onde critica a solução dos telhados e a sua aleatória imagem de ascendência nórdica, acrescenta ainda que o critério de reconstituição do edifício, considerado um exemplo único no país, o deveria impossibilitar de um restauro por analogia. *7 - os vitrais da capela foram realizados por António Lino, após a rejeição do primeiro projeto de Guilherme Camarinha. |
Autor e Data
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Sónia Basto 2013 |
Actualização
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