Quinta do Bom Retiro

IPA.00014095
Portugal, Viseu, Tabuaço, Valença do Douro
 
Arquitectura agrícola, de encosta. Quinta de produção vitivinícola implantada em solos de xisto de declives acentuados, numa região de clima seco, apresentando diversos tipos de armação do terreno vitícola correspondentes a diferentes épocas: vinha pré e pós-filoxérica, em patamares e ao alto, possuindo ainda zonas de jardim, pomar, horta, mata e olival. Núcleo construído localizado em local estratégico, dominando a propriedade e o vale do rio Torto, junto a um lugar, com edifícios de arquitectura rural vernacular articuladas por pátios e escadas.
Número IPA Antigo: PT011819170066
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta    

Descrição

Quinta implantada em monte com declives bastante acentuados e solos cascalhentos de xisto. A sua área e alguns caminhos possuem bordaduras de oliveira e de árvores de fruto, que compartimentam a paisagem. A VINHA, de baixo porte, plantada em fiadas de tamanho e número variável, conduzida por arames sustentados por poios ( esteios ) de xisto, cria uma paisagem fortemente geometrizada pelas parcelas com diferentes orientações e pelos caminhos de ligação. Está em grande parte mecanizada, com patamares, sustentados por taludes de terra, em terraços estreitos, com uma a duas fiadas de bardos por patamar, e vinha ao alto, plantada segundo as linhas de maior declive. Restam três zonas de vinha em socalcos: duas de muros pré-filoxéricos ( anteriores à segunda metade do século 19 ), uma na parte mais alta da quinta, junto da entrada de Valença, e outra junto ao rio, caracterizadas por muros baixos e estreitos, pouco espaçados, com terraços em plano horizontal, que albergam uma a duas fiadas de vinha; e uma de muros pós-filoxéricos ( construídos a partir de finais do século 19 ), situada na encosta junto aos cardenhos, caracterizada por muros largos e altos, cujas paredes criaram um novo traçado da encosta. Nas zonas limítrofes, a vinha é bordejada por pequenos OLIVAIS em socalcos e por zonas de MATO de flora arbustiva. A S. do núcleo construído encontramos uma área de vegetação mais densa, predominando os medronheiros, circundada por ciprestes. Estas árvores demarcam toda a zona SO., onde se estendem os diversos matos da quinta. Mais próximo do núcleo construído temos as zonas de POMAR, HORTA e JARDIM. Este último, em frente da fachada principal da casa do proprietário, envolvendo-a com tílias, olaias e árvores de fruto anãs. O jardim, de tipo francês, desenvolve-se num patamar rectangular abaixo da casa, centrado pela piscina, de planta cuidada, que serve de ponto de partida para o desenho em buxo de canteiros e caminhos, onde pontuam bancos, árvores de fruto, plantas aromáticas, roseiras, etc. Como continuação do jardim, pelo lado S., espraia-se num socalco uma avenida de palmeiras de pequeno porte. A N. uma praceta com lago rodeado de canteiros, onde desemboca a estrada calcetado de Casais do Douro, ao longo da qual se estendem a horta, o laranjal e o pombal, de planta circular e telhado cónico. O NÚCLEO CONSTRUÍDO divide-se em duas áreas pelo caminho público: a primeira, encostada à Quinta dos Serôdios, é composta pela casa do proprietário, casa do caseiro, escritórios e oficina vinária; a segunda, ligeiramente afastada, junto ao caminho para Valença, engloba os cardenhos, cozinha e refeitório para trabalhadores e construções adjectivas de apoio à actividade agrícola. Ambos os conjuntos têm edifícios adaptados ao desnível do terreno, com coberturas diferenciadas em telhados de 2, 3 e 4 águas, apresentando caiação que as destacam da paisagem, articulados por caminhos em terra, pátios e escadas. A CASA DO PROPRIETÁRIO, de planta rectangular, composta por três corpos justapostos, adaptados ao declive, apresenta pisos desnivelados, coberturas diferenciadas e fenestração regular na fachada principal, com janelas de batentes, algumas protegidas por gradeamento em peito de rola no primeiro piso ou venezianas no segundo. Do conjunto salientam-se o alpendre com tecto em masseira, sustentada por pilares de xisto, nas traseiras do primeiro corpo, e a varanda alpendrada da fachada principal, servida por escada de três lanços com corrimão rematado por voluta saliente e cobertura em masseira, sustentada por oito colunas toscanas. As molduras dos vãos, os embasamentos e pilastras são em cimento mimetizando xisto. Do interior, de planta funcional que incorpora espaços de produção como a ADEGA e a FRASQUEIRA, destaca-se o tecto da cozinha, em madeira, com sistema de iluminação indirecta. No pátio de cima ( fachada NO. da casa ), distribuem-se os edifícios de apoio à produção vinícola: os escritórios e o centro de vinificação. Os ESCRITÓRIOS, bem como um lagar de construção recente, foram colocados dentro dos velhos alpendres de arrumos que ladeavam o pátio. No topo direito do pátio, encostado à casa de habitação, ergue-se o CENTRO DE VINIFICAÇÃO, de planta rectangular, fachada marcada por largo portão e três janelões e albergando no interior as cubas de cimento e aço inoxidável. À esquerda deste conjunto segue-se outro pátio, fechado por portão de ferro, onde se ergue edifício de planta rectangular, orientada a SE. / NO, com vãos ritmados, alternando portas com janelos rasgados ao nível das vergas das portas, e cobertura de 4 águas, com três mansardas. O interior é ocupado pela CASA DO FEITOR e respectivo ESCRITÓRIO e pelos LABORATÓRIOS. Já fora deste espaço, um pequeno pátio acolhe edifício de planta quadrangular adaptada ao desnível do terreno, de dois pisos. Alinhado com a casa do proprietário apresenta, adossada à fachada N., escada de um lanço de acesso ao segundo piso. No primeiro piso, que se prolonga através de alpendre, funciona a OFICINA DO MECÂNICO e o superior foi arranjado para albergar convidados. Tem cobertura de 2 águas. No segundo núcleo de construções erguem-se os antigos CARDENHOS dos homens, de planta rectangular, orientada a NO. / SE., com fachada principal ritmada por pequenas janelas horizontais alternadas com uma porta, esquema repetido três vezes, corresponde a três espaços interiores amplos. Cobertura de 2 águas. Paralelo aos cardenhos, em patamar inferior, ornado por tílias, erguem-se a COZINHA de fora, com amplo saial de chaminé, o REFEITÓRIO dos trabalhadores e dependências de lavoura ( currais e galinheiros ). Mais abaixo estão dois TELHEIROS que servem de apoio aos trabalhos agrícolas.

Acessos

EN 222

Protecção

Incluído no Alto Douro Vinhateiro - Região Demarcada do Douro (v. PT011701040033)

Enquadramento

Rural. Integrada na Região Demarcada do Douro, na sub-região do Cima Corgo, dominada por extensas e contínuas áreas de vinha, com quintas de dimensões médias a grandes, por motivos históricos e pelas suas características edafo-climáticas, com solos acidentados, de xisto, e clima seco. Implanta-se a meia-encosta do vale do rio Torto, junto à Quinta do Bom Retiro Pequeno ou Quinta dos Serôdios (v. PT011819170069), sendo atravessada pelo caminho público que desce de Valença do Douro para o lugar de Casais do Douro, que dividiu algumas estruturas da Quinta, separadas por muros com portões de ferro. O acesso à quinta faz-se pelo referido caminho ou por outro, também público, murado e empedrado, que parte do Sarzedinho. O núcleo construído situa-se em cabeço de monte sobranceiro ao vale do Torto.

Descrição Complementar

Tecto da cozinha em pirâmide quadrangular, em madeira, rodeado por um friso de janelas horizontais. Adega com tonéis de madeira.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Agrícola e florestal: quinta

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Jacinto de Matos ( projecto dos jardins ), Arq. Arnaldo Barbosa ( remodelação da casa de habitação e centro de vinificação ); azulejos da Fábrica do Carvalhinho.

Cronologia

1760, década - João Henrique de Magalhães adquire várias propriedades na zona do Bom Retiro; 1790 - os vinhos tintos da quinta são incluídos na demarcação subsidiária de vinho de embarque; séc. 19 - as estruturas construídas entram em progressiva ruína; a Quinta do Bom Retiro Pequeno torna-se independente devido a partilhas; 1919 - aquisição da quinta pela firma Adriano Ramos-Pinto; 1920 / 1930, década - profunda remodelação da casa de habitação e demais construções; 1922 - início da plantação dos jardins, com projecto de selecção de plantas e desenho da Casa Hortícola de Jacinto de Matos, Porto, sendo algumas espécies provenientes dos EUA; 1926 - construção da ponte e da estrada de acesso à quinta por E., sob direcção do Eng. Hans Wald; 1927 / 1928 - construção da piscina; 1931 / 1932 - importação de árvores de fruto anãs dos EUA; 1994 - remodelação do interior da casa do proprietário e adaptação da casa dos lagares às novas formas de vinificação.

Dados Técnicos

Paisagem: terraceamento da área agrícola através de muros de xistos e taludes de terra. Núcleo construído: Paredes autoportantes.

Materiais

Paisagem - inertes: xisto aparelhado e taludes de terra; vivos: vinha; árvores de fruto, oliveiras, ciprestes, etc., vegetação árbóreo-arbustiva ( urze, esteva, etc. ). Núcleo construído: betão armado e cimento, alvenaria de xisto; rebocos interiores e exteriores de cimento; cobertura de telha portuguesa e marselha de barro, sobre armação de asnas de madeira; caixilharias de madeira pintada; embasamentos exteriores pintados a negro; gradeamentos de ferro; tectos em estuque e pavimentos de madeira.

Bibliografia

MONTEIRO, Manuel, O Douro, Porto, 1911; LIDELL, Alex, PRICE, Janet, As Quintas do Vinho do Porto, Lisboa, 1995; CARVALHO, Manuel, Guia do Douro e do Vinho do Porto, Porto, 1995; BIANCHI DE AGUIAR, Fernando ( Dir. ), Candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial, Porto, 2000; FAUVRELLE, Natália, Quintas do Douro: As arquitecturas do vinho do Porto, Porto, 2001.

Documentação Gráfica

AHARP; CD: Arquivo Cadastral; CEVRD: Arquivo Cadastral

Documentação Fotográfica

AHARP; IVP: Arquivo fotográfico

Documentação Administrativa

AHARP; IVP: Arquivo Cadastral; CMT: Arquivo do Registo Predial

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1990, década - obras de adaptação da casa e das estruturas de vinificação.

Observações

Autor e Data

Natália Fauvrelle 2001

Actualização

 
 
 
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