Quinta do Bom Retiro
| IPA.00014095 |
Portugal, Viseu, Tabuaço, Valença do Douro |
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Arquitectura agrícola, de encosta. Quinta de produção vitivinícola implantada em solos de xisto de declives acentuados, numa região de clima seco, apresentando diversos tipos de armação do terreno vitícola correspondentes a diferentes épocas: vinha pré e pós-filoxérica, em patamares e ao alto, possuindo ainda zonas de jardim, pomar, horta, mata e olival. Núcleo construído localizado em local estratégico, dominando a propriedade e o vale do rio Torto, junto a um lugar, com edifícios de arquitectura rural vernacular articuladas por pátios e escadas. | |
Número IPA Antigo: PT011819170066 |
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Registo visualizado 284 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Agrícola e florestal Quinta
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Descrição
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Quinta implantada em monte com declives bastante acentuados e solos cascalhentos de xisto. A sua área e alguns caminhos possuem bordaduras de oliveira e de árvores de fruto, que compartimentam a paisagem. A VINHA, de baixo porte, plantada em fiadas de tamanho e número variável, conduzida por arames sustentados por poios ( esteios ) de xisto, cria uma paisagem fortemente geometrizada pelas parcelas com diferentes orientações e pelos caminhos de ligação. Está em grande parte mecanizada, com patamares, sustentados por taludes de terra, em terraços estreitos, com uma a duas fiadas de bardos por patamar, e vinha ao alto, plantada segundo as linhas de maior declive. Restam três zonas de vinha em socalcos: duas de muros pré-filoxéricos ( anteriores à segunda metade do século 19 ), uma na parte mais alta da quinta, junto da entrada de Valença, e outra junto ao rio, caracterizadas por muros baixos e estreitos, pouco espaçados, com terraços em plano horizontal, que albergam uma a duas fiadas de vinha; e uma de muros pós-filoxéricos ( construídos a partir de finais do século 19 ), situada na encosta junto aos cardenhos, caracterizada por muros largos e altos, cujas paredes criaram um novo traçado da encosta. Nas zonas limítrofes, a vinha é bordejada por pequenos OLIVAIS em socalcos e por zonas de MATO de flora arbustiva. A S. do núcleo construído encontramos uma área de vegetação mais densa, predominando os medronheiros, circundada por ciprestes. Estas árvores demarcam toda a zona SO., onde se estendem os diversos matos da quinta. Mais próximo do núcleo construído temos as zonas de POMAR, HORTA e JARDIM. Este último, em frente da fachada principal da casa do proprietário, envolvendo-a com tílias, olaias e árvores de fruto anãs. O jardim, de tipo francês, desenvolve-se num patamar rectangular abaixo da casa, centrado pela piscina, de planta cuidada, que serve de ponto de partida para o desenho em buxo de canteiros e caminhos, onde pontuam bancos, árvores de fruto, plantas aromáticas, roseiras, etc. Como continuação do jardim, pelo lado S., espraia-se num socalco uma avenida de palmeiras de pequeno porte. A N. uma praceta com lago rodeado de canteiros, onde desemboca a estrada calcetado de Casais do Douro, ao longo da qual se estendem a horta, o laranjal e o pombal, de planta circular e telhado cónico. O NÚCLEO CONSTRUÍDO divide-se em duas áreas pelo caminho público: a primeira, encostada à Quinta dos Serôdios, é composta pela casa do proprietário, casa do caseiro, escritórios e oficina vinária; a segunda, ligeiramente afastada, junto ao caminho para Valença, engloba os cardenhos, cozinha e refeitório para trabalhadores e construções adjectivas de apoio à actividade agrícola. Ambos os conjuntos têm edifícios adaptados ao desnível do terreno, com coberturas diferenciadas em telhados de 2, 3 e 4 águas, apresentando caiação que as destacam da paisagem, articulados por caminhos em terra, pátios e escadas. A CASA DO PROPRIETÁRIO, de planta rectangular, composta por três corpos justapostos, adaptados ao declive, apresenta pisos desnivelados, coberturas diferenciadas e fenestração regular na fachada principal, com janelas de batentes, algumas protegidas por gradeamento em peito de rola no primeiro piso ou venezianas no segundo. Do conjunto salientam-se o alpendre com tecto em masseira, sustentada por pilares de xisto, nas traseiras do primeiro corpo, e a varanda alpendrada da fachada principal, servida por escada de três lanços com corrimão rematado por voluta saliente e cobertura em masseira, sustentada por oito colunas toscanas. As molduras dos vãos, os embasamentos e pilastras são em cimento mimetizando xisto. Do interior, de planta funcional que incorpora espaços de produção como a ADEGA e a FRASQUEIRA, destaca-se o tecto da cozinha, em madeira, com sistema de iluminação indirecta. No pátio de cima ( fachada NO. da casa ), distribuem-se os edifícios de apoio à produção vinícola: os escritórios e o centro de vinificação. Os ESCRITÓRIOS, bem como um lagar de construção recente, foram colocados dentro dos velhos alpendres de arrumos que ladeavam o pátio. No topo direito do pátio, encostado à casa de habitação, ergue-se o CENTRO DE VINIFICAÇÃO, de planta rectangular, fachada marcada por largo portão e três janelões e albergando no interior as cubas de cimento e aço inoxidável. À esquerda deste conjunto segue-se outro pátio, fechado por portão de ferro, onde se ergue edifício de planta rectangular, orientada a SE. / NO, com vãos ritmados, alternando portas com janelos rasgados ao nível das vergas das portas, e cobertura de 4 águas, com três mansardas. O interior é ocupado pela CASA DO FEITOR e respectivo ESCRITÓRIO e pelos LABORATÓRIOS. Já fora deste espaço, um pequeno pátio acolhe edifício de planta quadrangular adaptada ao desnível do terreno, de dois pisos. Alinhado com a casa do proprietário apresenta, adossada à fachada N., escada de um lanço de acesso ao segundo piso. No primeiro piso, que se prolonga através de alpendre, funciona a OFICINA DO MECÂNICO e o superior foi arranjado para albergar convidados. Tem cobertura de 2 águas. No segundo núcleo de construções erguem-se os antigos CARDENHOS dos homens, de planta rectangular, orientada a NO. / SE., com fachada principal ritmada por pequenas janelas horizontais alternadas com uma porta, esquema repetido três vezes, corresponde a três espaços interiores amplos. Cobertura de 2 águas. Paralelo aos cardenhos, em patamar inferior, ornado por tílias, erguem-se a COZINHA de fora, com amplo saial de chaminé, o REFEITÓRIO dos trabalhadores e dependências de lavoura ( currais e galinheiros ). Mais abaixo estão dois TELHEIROS que servem de apoio aos trabalhos agrícolas. |
Acessos
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EN 222 |
Protecção
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Incluído no Alto Douro Vinhateiro - Região Demarcada do Douro (v. PT011701040033) |
Enquadramento
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Rural. Integrada na Região Demarcada do Douro, na sub-região do Cima Corgo, dominada por extensas e contínuas áreas de vinha, com quintas de dimensões médias a grandes, por motivos históricos e pelas suas características edafo-climáticas, com solos acidentados, de xisto, e clima seco. Implanta-se a meia-encosta do vale do rio Torto, junto à Quinta do Bom Retiro Pequeno ou Quinta dos Serôdios (v. PT011819170069), sendo atravessada pelo caminho público que desce de Valença do Douro para o lugar de Casais do Douro, que dividiu algumas estruturas da Quinta, separadas por muros com portões de ferro. O acesso à quinta faz-se pelo referido caminho ou por outro, também público, murado e empedrado, que parte do Sarzedinho. O núcleo construído situa-se em cabeço de monte sobranceiro ao vale do Torto. |
Descrição Complementar
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Tecto da cozinha em pirâmide quadrangular, em madeira, rodeado por um friso de janelas horizontais. Adega com tonéis de madeira. |
Utilização Inicial
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Agrícola e florestal: quinta |
Utilização Actual
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Agrícola e florestal: quinta |
Propriedade
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Privada: pessoa colectiva |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 18 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Jacinto de Matos ( projecto dos jardins ), Arq. Arnaldo Barbosa ( remodelação da casa de habitação e centro de vinificação ); azulejos da Fábrica do Carvalhinho. |
Cronologia
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1760, década - João Henrique de Magalhães adquire várias propriedades na zona do Bom Retiro; 1790 - os vinhos tintos da quinta são incluídos na demarcação subsidiária de vinho de embarque; séc. 19 - as estruturas construídas entram em progressiva ruína; a Quinta do Bom Retiro Pequeno torna-se independente devido a partilhas; 1919 - aquisição da quinta pela firma Adriano Ramos-Pinto; 1920 / 1930, década - profunda remodelação da casa de habitação e demais construções; 1922 - início da plantação dos jardins, com projecto de selecção de plantas e desenho da Casa Hortícola de Jacinto de Matos, Porto, sendo algumas espécies provenientes dos EUA; 1926 - construção da ponte e da estrada de acesso à quinta por E., sob direcção do Eng. Hans Wald; 1927 / 1928 - construção da piscina; 1931 / 1932 - importação de árvores de fruto anãs dos EUA; 1994 - remodelação do interior da casa do proprietário e adaptação da casa dos lagares às novas formas de vinificação. |
Dados Técnicos
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Paisagem: terraceamento da área agrícola através de muros de xistos e taludes de terra. Núcleo construído: Paredes autoportantes. |
Materiais
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Paisagem - inertes: xisto aparelhado e taludes de terra; vivos: vinha; árvores de fruto, oliveiras, ciprestes, etc., vegetação árbóreo-arbustiva ( urze, esteva, etc. ). Núcleo construído: betão armado e cimento, alvenaria de xisto; rebocos interiores e exteriores de cimento; cobertura de telha portuguesa e marselha de barro, sobre armação de asnas de madeira; caixilharias de madeira pintada; embasamentos exteriores pintados a negro; gradeamentos de ferro; tectos em estuque e pavimentos de madeira. |
Bibliografia
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MONTEIRO, Manuel, O Douro, Porto, 1911; LIDELL, Alex, PRICE, Janet, As Quintas do Vinho do Porto, Lisboa, 1995; CARVALHO, Manuel, Guia do Douro e do Vinho do Porto, Porto, 1995; BIANCHI DE AGUIAR, Fernando ( Dir. ), Candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial, Porto, 2000; FAUVRELLE, Natália, Quintas do Douro: As arquitecturas do vinho do Porto, Porto, 2001. |
Documentação Gráfica
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AHARP; CD: Arquivo Cadastral; CEVRD: Arquivo Cadastral |
Documentação Fotográfica
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AHARP; IVP: Arquivo fotográfico |
Documentação Administrativa
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AHARP; IVP: Arquivo Cadastral; CMT: Arquivo do Registo Predial |
Intervenção Realizada
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PROPRIETÁRIO: 1990, década - obras de adaptação da casa e das estruturas de vinificação. |
Observações
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Autor e Data
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Natália Fauvrelle 2001 |
Actualização
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