Palacete Anjos

IPA.00014398
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santo António
 
Palacete neoclássica, de planta rectangular, de dois pisos, com cobertura alteada em mansarda. Com duas frentes, estando a fachada principal voltada á via pública e a posterior articulando-se com jardim. Fachada principal composta por três corpos, destacando-se o central, pelo rasgamento de três grandes portas, a introdução de varanda corrida, jogo de pilastras alternando com os vãos e remate em balaustrada. Corpos laterais simétricos. Utilização de linguagem clássica, de grande sobriedade decorativa, concorrendo para um edifício de linhas harmónicas e austeras, dentro de uma tradição de arquitectura privada lisboeta que remonta ao séc. 17.
Número IPA Antigo: PT031106460742
 
Registo visualizado 2007 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta rectangular, volumetria paralelepipédica de massa horizontal, e cobertura efectuada por telhado de 2 águas, de perfil recto e revestido por telha de canudo, alteado em mansarda, perfurado regularmente por nove janelas trapeiras. Fachadas, de dois registos (mais piso amansardado), divididos por friso sobre cornija, e com pilastras gigantes nos extremos. São revestidas com placagem de cantaria ao nível do primeiro piso e rebocadas e pintadas de amarelo claro ao nível do segundo. Fenestração a ritmo regular, maioritariamente de peitoril e perfil recto. Fachada principal voltada a NE., organiza-se em três corpos, com destaque para o corpo principal em eixo, que avança ligeiramente. O primeiro registo do corpo central é rasgado por três portas de madeira, almofadadas e guarnecidas com gradeamento decorativo em ferro forjado, emolduradas por arcos de volta perfeita, com marcação do fecho, assentes em pilastras de capitel saliente. Com goteiras zoomórficas ladeando a porta central. No segundo registo, correspondente ao andar nobre, abrem-se três janelas de sacada rematas por cornija suportada por consolas, guarnecidas por varanda corrida de pedra, e guarda de ferro forjado sobre sete modilhões decorados, assentando três deles no fecho das portas do andar inferior. Este é ainda animado por pilastras, que intercalam com os vãos, sendo rematado por friso e cornija sobrepujada por balaustrada ritmada por pináculos sobre os acrotérios. Os corpos laterais, simétricos, apresentam no primeiro piso três vãos de peitoril, de moldura recta dupla, guarnecidos por gradeamento de ferro forjado, correspondendo, no segundo piso, a três vãos de sacada, rematada por cornija recta e guarda de ferro forjado. São rematados por platibanda emoldurada, sobre a cornija, com pináculos nos extremos. A fachada posterior organiza-se quatro pisos rasgados regularmente por nove vãos cada um, de moldura rectilínea em cantaria, dispondo ao nível do terceiro piso de sacada corrida, abarcando os vãos centrais. Articula-se com jardim, cujo muro traseiro em alvenaria, com guarda de ferro forjado, comunica com a forte vertente arborizada do jardim botânico de Lisboa. INTERIOR *1: com pisos amplos, aos quais se acede por meio de escada em cantaria de lanços opostos, localizada no lado E.

Acessos

Praça Príncipe Real, n.º 20 a 22

Protecção

Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811) / incluído na Zona Especial de Proteção do Jardim Botânico da Faculdade de Ciências (v. IPA.00007006) e na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente

Enquadramento

Urbano, flanqueado, implantado em zona de ligeiro declive, com fachadas em cotas de terreno desiguais. Integra o conjunto edificado oitocentista da Praça do Príncipe Real. Fachada posterior voltada para jardim de planta rectangular, confinante com os limites do Jardim Botânico de Lisboa (v. PT031106460435). Na proximidade dos seguintes imóveis: Palacete Castilho (v. PT031106460763) e Palacete Ribeiro da Cunha (v. PT031106460738).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: palacete

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Giuseppe Luigi Cinatti (1874 - 1876).

Cronologia

Séc 18, meados - construção do palácio; 1762/1783 - entre estas datas o palácio é ocupado pela família do Tenente General Manuel Gomes de Carvalho e Silva; 1783 - o palácio pertence aos senhores de Alcáçovas; 1792/1795 - entre estas datas o palácio é habitado pelos condes de São Vicente; séc. 19, início - o palácio é habitado pela marquesa do Louriçal, D. Maria da Glória da Cunha e Menezes (1748-1825); 1818- o palácio está nas mãos dos condes de Lousã; 1848/1854 - entre estas datas o palácio serve de morada aos marqueses de Penalva; 1874 - Policarpo José Lopes dos Anjos*2 adquiriu o palácio do conde de Cavaleiros, D. Rodrigo José de Meneses, entregando o projecto de reconstrução total do edifício a Giuseppe Luigi Cinatti; 1875, 1 Janeiro - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa o pedido de licenciamento da obra que Policarpo Anjos pretende levar a cabo; 1875, 1 Fevereiro - o projecto é aprovado pelo arquitecto Domingos Parente da Silva da Câmara Municipal de Lisboa com a condição da obra ter início no prazo de três meses; 1876 - alterações ao projecto inicial, obras em curso, acrescentando-se um remate em cornija nas janelas de sacada dos corpos laterais ao nível do andar nobre e alterando-se o remate em balaustrada do projecto inicial por uma platibanda nas alas laterais; 1912/1917 - entre estes anos o edifício foi sede da Legação dos Estados Unidos, durante a Primeira Guerra Mundial; 1917, 16 Outubro - Joaquim Santos Lima (proprietários na altura) pede lecença para construir um mirante e nove trapeiras na prumada dos frontões existentes; 1933 - o imóvel é arrendado, por Eufrosina Condes Lima e Álvaro dos Santos Lima á Escola ou Instituto Superior Colonial, depois Instituto de Ciências Sociais e Políticas (que posteriormente se instalou no Palácio Burnay da Rua da Junqueira - v. PT031106020121); 1959, 24 Junho - vistoria da Câmara Municipal de Lisboa determina que o edifico necessita obras de beneficiação; 1959 - o palacete era pertença de: Maria Josefina Santos Lima, Maria Clementina S. L. O. Silva, Maria do Carmo S. L. P. Coelho, Maria João Santos Lima, Maria Teresa Santos Lima, Álvaro Santos Lima, Maria Helena S.L. Leite Faria, João António Oliveira Santos Lima, Rodrigo de Oliveira Santos Lima, Álvaro Alzina Santos Lima e Maria Fernanda Norton Alzina Santos Lima; 1966, 21 Janeiro - a Sociedade de Escritores e Compositores solicita á câmara Municipal de Lisboa a cércea permitida para o edifício, pois pensa adquiri-lo; 1967, 15 Março - aquisição pelo Banco de Portugal e instalação de serviços; 1967, 28 Setembro - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto de obras para dotar todos os compartimentos do último piso do mesmo pé-direito, o que implicava o acrescento de um piso na fachada principal; 1868, 13 Janeiro - o projecto recebe um parecer desfavorável; 1970, 17 Junho - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto de alterações da responsabilidade do engenheiro civil Augusto Carlos de Morais Jalles, que implicava a demolição de todas as paredes existentes no primeiro e segundo pisos e a reconstrução de pavimentos; 1971, 26 Março - novo projecto de alterações ao inicial; 1971, 4 Junho - parecer desfavorável da Câmara Municipal de Lisboa; 1971, 28 Outubro - o Banco de Portugal requer licença para construir porta e muro de vedação definindo o logradouro, espaço conseguido mediante a compra de prédio nas traseiras, constituído por parte do antigo extenso quintal do palacete; 1971, 10 Novembro - projecto de alteração, com custos estimados em 8000000$00; 1974, 27 Novembro - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto de colocação de uma torre de arrefecimento da instalação do ar condicionado na cobertura; 1975, 9 Janeiro - parecer desfavorável da Câmara em relação á torre de arrefecimento, que não impede que esta seja instalada ilegalmente pouco tempo depois; 1976, Julho - obra em acabamentos finais; 1978, 13 Dezembro - o Banco de Portugal requer á Câmara Municipal de Lisboa uma vistoria de utilização; 1978, 19 Dezembro - o Banco de Portugal faz requer á Câmara Municipal de Lisboa para transferência das instalações da sua tipografia situada na R. D. Pedro V nº128-129; 1987, 8 Julho - apesar das obras terminadas o edifício continua sem licença de utilização; 2006, Março - o palacete encontra-se em processo de alienação.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Estrutura de alvenaria mista, parcialmente rebocada e pintada; placagem de cantaria no revestimento do primeiro piso da fachada principal; frisos, cornijas, balaustrada, platibanda, varandas, pilastras e molduras de vãos em cantaria de calcário; estuque; ferro forjado nas guardas de janelas e varanda; madeira; vidro.

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livro V, Lisboa, s.d.; CASTILHO, Lisboa Antiga. Bairro Alto, Vol. V, Lisboa, 1966; FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, Vol. I, Lisboa, 1966; FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no século XIX, I vol., Lisboa, Bertrand, 1981; BAIRRADA, Eduardo Martins, A Praça do Príncipe Real e os Vários Prédios que a Circundam, in ICALP - Revista, Nº 1, Mar. 1985 ; FRANÇA, José-Augusto (coord.), A Sétima Colina, roteiro histórico-artístico, Lisboa, Livors Horizonte, 1994; PASSOS, José Manuel da Silva, Bilhetes Postais Antigos do Largo do Rato à Praça D. Luís, Lisboa, 1994 ; SANTANA, Francisco, Praça do Príncipe Real, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José M., ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa. De Campo de Ourique à Avenida, Lisboa, 1995; LEAL, Joana da Cunha, Giuseppe Cinatti (1808-1879) Percurso e Obra (dissertação de mestrado), Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1996; SILVA, Raquel Henriques da, Lisboa Romântica, Urbanismo e Arquitectura, 1777-1874 (dissertação de doutoramento), Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1997; FRANÇA, José-Augusto, Monte Olivete Minha Aldeia, Lisboa, 2001.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 26.081

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 26.081

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1917 - construção de um mirante e renovação das trapeiras; 1933 - obras de conservação e beneficiação geral; 1939 - limpeza e pintura; 1949, Janeiro - limpeza do telhado, desentupimento do tubo de queda de águas pluviais, reparação de caixilharias e colocação de vidros na clarabóia; 1940, Fevereiro - pintura de portões; 1949 - obras de conservação e beneficiação geral (pintura de muros); 1959, Agosto - obras de conservação e beneficiação geral; 1968, Agosto - demolição de tabiques no último piso; 1969 - obras de beneficiação geral; 1971 - início de obras de envergadura que ditam a destruição dos interiores originais, a construção de andar em mansarda e a supressão do mirante; 1974, Junho - modificação e criação de novos compartimentos na cave, primeiro e segundo pisos, criação de compartimentos para máquina de ar condicionado e elevador no sótão; 1974, Setembro - construção de central de emergência enterrada na zona do logradouro; 1974, Outubro - construção de um entrepiso entre o R/C e o primeiro andar; 1976, Janeiro - alteração do gradeamento das janelas de peitoril do primeiro piso; 1976, Junho - criação da compartimentação necessária á instalação de equipamento no sótão; 1978, Fevereiro - alteração na compartimentação da cave; 1978 - final das obras.

Observações

*1- O interior foi completamente adulterado nas obras de adaptação do palacete a depósito do banco de Portugal, pode-se contudo conhecer a disposição original do espaço através de uma planta. Este organizava-se através de um extenso corredor em U e de uma escadaria axial, que partia do salão de recepção, á qual se somam duas escadas, reservadas a uso doméstico, na ala direita. O primeiro piso estaria reservado ás áreas de serviço, enquanto que a ala esquerda do piso superior se destinava á zona de habitação, dispondo-se os salões na zona acusada exteriormente pela varanda da fachada principal. Todas as divisões comunicavam entre sim, oferecendo uma via de circulação alternativa ao grande corredor. As instalações dos empregados encontravam-se no piso em mansarda. *2: "A família Anjos foi uma das mais influentes nos meios negociais da capital da segunda metade de oitocentos, sendo tomada como paradigma do génio comercial e do self-made man burguês, o que lhes valeu honras de entrada em diversas enciclopédias." In LEAL, Joana da Cunha, 1996.

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 2002 / Inês Pais 2006

Actualização

 
 
 
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