Colónia de Férias dos Comboios de Portugal / Colónia de Férias da Praia das Maçãs
| IPA.00022534 |
Portugal, Lisboa, Sintra, Colares |
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Arquitectura assistencial, do séc. 20. Colónia de férias de tipo pavilhonar. | |
Número IPA Antigo: PT031111050087 |
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Registo visualizado 2533 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Assistencial Colónia de férias
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Descrição
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O acesso ao recinto é feito a partir da estrada, na parte mais baixa do terreno. A entrada é marcada por um grande pilar paralelepipédico, onde se inscreve em relevo o grafismo de identificação da Colónia de Férias. O portão, em madeira pintada de cor viva, é enquadrado pelos topos do muro de vedação, construídos em pedra aparente e encimados por duas esferas. Dentro do recinto, um grande banco semicircular em tijolo maciço define uma zona de recepção. Construído um pouco adiante, o edifício principal da Colónia - reunido o refeitório, cozinha um recreio coberto - marca a zona de vida em comum, rodeada, a pouca distância pelas instalações do pessoal. Mais acima, envolvidos pelo arvoredo, ficam situados os oito pavilhões-dormitórios destinados às crianças, e os pavilhões de apoio (originalmente funcionando como enfermaria, lavabos, rouparia). EDIFÍCIO PRINCIPAL - tem planta longitudinal, com orientação NO.-SE., composta pela justaposição de diferentes rectângulos (alongado, o do espaço do refeitório comum; próximo do quadrado, aquele que reúne cozinha, despensa, copa e recreio coberto). Massa de acentuada horizontalidade, coberta por um extenso telhado que a unifica. O alpendre do recreio coberto é um espaço de transição entre exterior e interior, profundo e sombrio. A cobertura em telha sobre asnas de madeira é suportada por uma série de pilares jorrados construídos em pedra calcária aparente não aparelhada, de textura rude e estereotomia irregular, usada também nas molduras e nos panos de alvenaria que ligam as janelas quadradas, definindo longas faixas horizontais. A mesma pedra foi aplicada nas passagens lajeadas exteriores e no embasamento em que assentam todas as construções. Os paramentos gerais são acabados em reboco áspero. Num dos topos do recreio coberto existe um altar ao qual se acede através de vão em arco de volta perfeita com porta de correr de duas folhas. Os oito PAVILHÕES-DORMITÓRIO dispõem-se em bateria, paralelos entre si com orientação N.-S.. As portas de acesso a cada pavilhão abrem-se sobre um mesmo espaço exterior de circulação comum. Os pavilhões têm planta em L (correspondendo a um espaço amplo com planta rectangular alongada, para dormitório, e um espaço anexo para instalações sanitárias), massa de acentuada horizontalidade, com paredes construídas em alvenaria e cobertura em telhado de duas águas em chapa ondulada de fibrocimento. Molduras dos vãos e contrafortes das esquinas em pedra calcária aparente. Vãos quadrados (maiores no dormitório, menores nas instalações sanitárias), com caixilhos em madeira pintada. As diferentes cores de pintura das caixilharias e os motivos em baixo-relevo colocados sobre as portas de entrada identificam os diversos dormitórios. Os pavilhões de apoio são edifícios isolados, com características construtivas e formais semelhantes às dos restantes. A Casa da Regente, com uma implantação paralela à do Pavilhão Principal, face ao Recreio Coberto e bem visível a partir da entrada do recinto, é o único edifício da Colónia com dois pisos. Tem volume único, sensivelmente cúbico, e cobertura de telhado com quatro águas, revestido com telha lusa. Porta de entrada com lintel em arco de volta perfeita e janelas quadradas com caixilhos e portadas em madeira pintada. Molduras dos vãos e revestimentos parciais dos paramentos em pedra calcária; acabamento geral dos paramentos em reboco áspero. Paredes interiores das áreas de circulação em escaiola de cor amarela; pavimentos em tijoleira de barro, degraus da escada em madeira. |
Acessos
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Estrada que liga Sintra à Praia das Maçãs |
Protecção
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Categoria: MIM - Monumento de Interesse Municipal, Edital n.º 932/2013, DR, 2.ª série, n.º 189 de 01 outubro 2013 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264) |
Enquadramento
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Implantado em zona florestal de pinhal, ocupa um terreno de contorno sensivelmente triangular, com pendente moderada de O. para E.. Encontra-se delimitado a O. pela estrada que liga Sintra (para S.) à Praia das Maçãs (a N.). |
Descrição Complementar
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Projectada por Cottinelli Telmo pouco tempo após a Exposição do Mundo Português (1940), na qual desempenhou o cargo de arquitecto-chefe, a Colónia de Férias da Praia das Maçãs deve ser vista a par do Edifício de Passageiros do Apeadeiro de Curia (1943). Em ambos os casos, o arquitecto demarca-se da sua produção das décadas anteriores, como também do conjunto de grandes encomendas oficiais em que trabalhava nesse momento (Plano de Obras da Praça do Império e da Zona Marginal de Belém, Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra, Plano de Urbanização de Fátima). Os projectos para a Praia das Maçãs e para a Curia são intervenções de escala relativamente reduzida, promovidas pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (CP) onde Cottinelli era arquitecto desde 1923. A busca de um novo regionalismo aí ensaiada justificava-se pelo facto de essas obras se localizarem em contexto não urbanizado e dava resposta ao desejo de estabelecer laços evidentes com o país rural, com as "aldeias portuguesas" da propaganda do regime. Cottinelli procurou fazê-lo de uma forma estrutural e sensível, usando uma particular atenção ao sítio e à paisagem, ao valor plástico dos materiais e à composição liberta das regras clássicas, que havia informado já algumas das suas obras anteriores. É no pavilhão principal da Colónia que essa aposta alcança resultados mais evidentes. A ligação da construção à sua envolvente natural é conseguida de diversos modos. Os níveis dos pavimentos acompanham a topografia e o telhado, extremamente extenso e muito visível, unifica os volumes e acentua o sentido de aderência ao solo, como que reproduzindo a pendente suave do terreno. O recreio coberto constitui um espaço de transição que estabelece uma continuidade efectiva entre o interior e o exterior. Devido à sua construção em pedra rudemente talhada parece emergir naturalmente do solo. O seu pavimento original, em areia solta, acentuava essa intenção. A estratégia usada para composição da planta - justapondo rectângulos diversos ? recusa os princípios clássicos de simetria ou a hierarquização convencional dos volumes. Em elevação, uma série de linhas oblíquas liberta o desenho da estrita geometria ortogonal e quebra a rigidez dos volumes puros. As molduras das janelas, por outro lado, simulam vãos em comprimento de definição moderna, aqui transfigurados para uma imagem ruralizante. O recurso às técnicas tradicionais de construção era então justificado pela escassez de matérias primas ? sobretudo cimento e ferro ? que a guerra na Europa viera provocar. Por outro lado, tratava-se de processos construtivos de fácil execução, com uma grande resistência à passagem do tempo e baixos custos de manutenção. Neste caso, o arquitecto usou esses recursos de um modo particularmente expressivo - enfatizando a aparência dos materiais naturais e as marcas da manufactura ? para afirmar uma nova etapa no seu percurso pessoal e distanciar-se da geometria rígida dos edifícios da década anterior. Não serão mera coincidência as semelhanças que encontramos entre a Colónia de Férias da Praia das Maçãs e as experiências que, em simultâneo e mesmo ao lado, se faziam no chamado "bairro dos arquitectos" do Rodízio, um conjunto de moradias de férias que para si próprios projectaram Raul Tojal, Keil do Amaral, Faria da Costa e Adelino Nunes e que ficaria conhecido pelo seu contributo na génese do denominado "rústico'" (ACCIAIUOLI, 1991). Também nesse caso existia uma vontade de síntese entre os valores da terra, as raízes vernáculas, os fundamentos da tradição e uma modernidade possível, sensata e periférica. A Colónia da Praia das Maçãs seria tomada como modelo para uma outra colónia construída pela CP em 1949. Tratou-se então de uma instalação de montanha, situada num pinhal adquirido à Câmara Municipal de Mangualde, frente à Serra da Estrela. Cottinelli foi ainda autor do estudo de implantação dos pavilhões, com uma estrutura de conjunto semelhante à da Praia das Maçãs, e terá dirigido os trabalhos de adaptação dos edifícios ao novo terreno. A obra foi iniciada já depois da sua morte. |
Utilização Inicial
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Assistencial: colónia de férias |
Utilização Actual
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Assistencial: colónia de férias |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: José Ângelo Cottinelli Telmo (1937). |
Cronologia
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1934 - é interrompido o funcionamento da primeira Colónia de Férias da Companhia do Caminhos de Ferro Portugueses (CP), destinada aos aprendizes das suas diversas oficinas, instalada na Costa da Caparica. Os pavilhões aí existentes - dois dormitórios e um refeitório construídos em madeira - são transferidos para o pinhal junto à Praia das Maçãs, entretanto adquirido pela Companhia para esse fim; 1937 - é edificada uma casa para o gerente da Colónia de Férias da Praia das Maçãs, com projecto do arquitecto Cottinelli Telmo (1897-1948), adaptando um projecto-tipo de casa de guarda (destinada originalmente às passagens de nível em linhas de caminho de ferro da CP); 1941 - são construídos mais dois dormitórios provisórios, em lona, e a Colónia de Férias é reaberta para receber os filhos dos ferroviários e os aprendizes das oficinas da CP; 1942 - Cottinelli Telmo conclui o estudo para a remodelação completa das instalações da Colónia de Férias da CP, na Praia das Maçãs. Ao anunciar o projecto, o general Raul Esteves, então administrador da CP, reafirma a determinação da Companhia "em colaborar com os Sindicatos Ferroviários naquela obra de assistência infantil, integrada na doutrina corporativa do Estado Novo, que preconiza[va] melhor entendimento entre patrões e operários". Como referia, era sabido que "os benefícios feitos aos filhos se reflect[iam] nos pais" (in Colónia de Férias na Praia das Maçãs, Boletim da C.P., n.º 158, Agosto 1942, p. 150); 1943 - são inauguradas as instalações definitivas da Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs, construídas segundo o projecto de Cottinelli; 1946 - É projectada a Casa para a Regente da Colónia de Férias das Praia das Maçãs. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Pedra calcária, reboco, telha, madeira, vidro |
Bibliografia
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TELMO, Cottinelli, Os Novos Edifícios Públicos, Lisboa, 1936; Colónia de Férias da Praia das Maçãs, Boletim da C.P., nº 145, Julho 1941, pp. 135-136; Colónias de Férias de Aprendizes, Boletim da C.P., nº 149, Novembro 1941, pp. 219-220; Colónia de Férias na Praia das Maçãs, Boletim da C.P., nº 158, Agosto 1942, pp. 148-151; Colónia de Férias da Praia das Maçãs, Boletim da C.P., nº 171, Setembro 1943, pp. 188-191; LEMOS, Carlos Augusto de, A Colónia de Férias da C.P. na Praia das Maçãs, Boletim da C.P., nº 217 a 222, Julho a Dezembro de 1947, pp.145-149; A Colónia de Férias de Mangualde, Boletim da C.P., nº 243, Setembro 1949, pp. 2-4; ACCIAIUOLI, Margarida, Os Anos 40 em Portugal. O País, o Regime e as Artes. "Restauração" e "Celebração", U.N.L., 1991, Dissertação de Doutoramento em História da Arte Contemporânea apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. A Obra do Arquitecto (1897-1948). Dissertação de mestrado em História da Arte, Lisboa: FCSH, UNL, 1995; MARTINS, João Paulo, Cottinelli Telmo. Arquitecto na C.P., in Gilberto Gomes (ed.), O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996, Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses, 1996, pp. 126-134. |
Documentação Gráfica
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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CP: Direcção Geral de Gestão de Infraestruturas, Arquivo Técnico |
Intervenção Realizada
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Em data não identificada, num dos topos do recreio coberto foi construído um altar. Em data recente e devido ao estado de degradação do telhado do refeitório, foi ali instalado um revestimento em chapas metálicas onduladas para impedir a entrada da chuva. A varanda de acesso de serviço à cozinha (fachada NE.) foi coberta com chapas onduladas metálicas; junto à escada que lhe dá acesso foi construído uma pequena edificação para depósito de gás. |
Observações
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Autor e Data
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JPaulo Martins 2002 |
Actualização
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