Jardim do Paço Ducal

IPA.00024251
Portugal, Évora, Vila Viçosa, Nossa Senhora da Conceição e São Bartolomeu
 
Jardim / Quinta de recreio de caracterização estilística renascentista e barroca. Composição arquitectónica e vegetal desenhada e construída intencionalmente pelo homem destinada a desempenhar funções de lazer e de recreio e em que existem elementos construídos como bancos, canteiros, estátuas ou peças de água integrados e complexos sistemas e dispostos no sentido de criar ambientes agradáveis. Quinta de Recreio com jardim e outras zonas de lazer junto à casa que se relacionam e prolongam por toda a área da quinta através caminhos sob latada e ladeados por sebe, de elementos construídos como casas de fresco e componentes de água. A zona de produção tem vindo a ser substituída e adaptada ao recreio. As características renascentistas estão presentes sobretudo nas componentes arquitectónicas do jardim do bosque como a gruta das amazonas, a casa de fresco ou o tanque e nos tanques do reguengo. As características barrocas reflectem-se no desenho e tratamento do buxo no jardim do picadeiro e no jardim das damas.
Número IPA Antigo: PT040714030025
 
Registo visualizado 289 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Espaço verde  Jardim        

Descrição

A propriedade é limitada exteriormente e compartimentada interiormente por muros. JARDIM DO BOSQUE ou Jardim da Duquesa: de planta rectangular, limitado pelo muro que dá para o terreiro, rasgado por dez janelas de peitoril, em mármore com gradeamento de ferro acompanhadas por conversadeiras. A entrada faz-se por um portão voltado para a fachada do paço. Do jardim faz parte um pátio quadrangular, ligeiramente recuada em relação ao terreiro, com uma janela semelhante às anteriores e que liga à fachada principal de paço. Esta zona é centrada por tanque enquadrado por quatro canteiros de buxo preenchidos com flores, separada da restante área por murete com abertura alinhada com o centro do tanque e ligando ao eixo central, que percorre o jardim. Entre a entrada do pátio e o portão do jardim adoça-se ao muro um banco ladeado por dois alegretes e que tem por cima um pequeno painel de azulejo onde está escrito "Jardim da Senhora Duquesa". O eixo principal é ladeado por uma composição de bancos intercalados com alegretes formando uma estrutura contínua, que abre para cada lado a meio caminho, formando um recanto e que contorna, ao fim do eixo o grande tanque rectangular. O desenho da composição é acompanhado por grandes canteiros rectangulares de buxo alto topiado. Do lado do muro, existem dois desses canteiros, criando um caminho apertado que leva à casa de fresco ou casa de prazer situada no limite do jardim. Esta casa tem uma janela sobre o terreiro (uma das dez do muro), outra, denominada janela de Lisboa, com uma varanda com gradeamento de ferro sobre a estrada que ligava antigamente a essa cidade. Tem também uma arcaria redondas de três arcos redondos com colunelos dóricos sobre um pequeno pátio interior situado a cota inferior. Na parede interior está esculpido o busto de D. Luísa de Gusmão. O pátio tem ao centro uma tanque com uma rocha no interior e a parede por baixo da arcaria está revestida a hera que esconde uma fonte. Do lado oposto abre-se uma porta para a Gruta das Amazonas, de planta ovóide e abobada com pintura a fresco que representa uma floresta de fantasia e ave exótica, iluminada por lanterneta cupular. Aqui existe uma fonte com cascata das amazonas, exótica, revestida de seixos marinhos, cabeças zoomórficas e taça ortogonal em mármore, ladeada por duas cariátides em relevo suportando cestas de flores e frutos e por figura central emplumada, américo - índica, com grinalda clássica. A porta de acesso ao exterior está alinhada com o eixo principal do jardim. As paredes exteriores são revestidas com azulejo iconográfico dos reis de Portugal desde o conde D. Henrique até ao príncipe do Brasil, onde são excluídos os Filipes de Espanha. JARDIM DAS DAMAS: situado junto à fachada posterior, de panta rectangular constituído por parterres e canteiros de buxo. JARDIM DO PICADEIRO: separado por caminho do jardim das damas, tem planta rectangular e é constituído por uma extensa área de canteiros e parterres de buxo em desenho geométrico, com topiária deste mesmo arbusto nos cantos, em forma arredondada. Entre os canteiros forma-se três caminhos que levam até ao muro que separa o jardim do paço do jardim da Pousada D. João IV, sobre o qual se abrem janelas com gradeamento de ferro. O caminho central é pontuado por três chafarizes com taça poligonal, equidistantes. Este jardim está separado do jardim das damas por um caminho ladeado por murete com alegretes. REGUENGO: com acesso por passagem abobadada sobre parte do paço, a partir do caminho entre os jardins do picadeiro e das damas. Tem junto à fachada um grande tanque rectangular com passadiço e outro revestido interiormente com rochas e apresenta uma guarda de ferro. Dois caminhos paralelos estruturam esta zona da propriedade, um ladeado por esteios caiados de uma antiga latada de vinha e outro empedrado e ladeado por sebe alta. O primeiro conduz a campos sem culturas passando por uma nora em ruína e o segundo liga a um portão junto ao complexo escolar recentemente construído numa parte do reguengo tendo para isso sido alterado o seu limite. Para lá do caminho empedrado fica uma reserva onde se mantém veados brancos e um campo de tulipas de variada e raras espécies. ILHA: constituída pelas antigas cocheiras onde está instalado um museu de coches, pela zona das antigas cavalariças, e por outros edifícios de apoio às actividades relacionadas com paço. Toda esta área está ajardinada com canteiros de buxo preenchidos de flores e arbustos, com árvores de fruto e com oliveiras muito antigas. Na zona superior, um muro com portão separa o olival que se estende até o limite da propriedade. A Ilha tem acesso do exterior através da porta do nó, de valor histórico e arquitectónico.

Acessos

Terreiro do Paço

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Paço Ducal (v. PT040714030009) e na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados e em vias de classificação do centro histórico de Vila Viçosa (v. PT040714030042)

Enquadramento

No centro histórico de Vila Viçosa, assente em formações geológicas datadas do Câmbrico constituídas por mármores que afloram à superfície ao longo de uma vasta área e se desenvolvem até grandes profundidades o que leva à forte exploração de pedreiras na zona. O clima é marcadamente mediterrâneo, de Verão longo, quente e sem chuva, de Inverno moderado, com um total de precipitações atmosféricas relativamente baixo.

Descrição Complementar

No lugar do jardim do picadeiro situava-se o antigo picadeiro um jogo da pela. Este espaço estava separado por muro com cerca de três metros do jardim das damas.

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Privada: Fundação

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

JARDINEIROS: Lorres 1594 -1596, Francisco Pires 1598 -1603 e Miguel de Alcalá 1596 -1615 - manutenção do jardim do bosque; ENGENHEIRO AGRÓNOMO: António Burnay Belo, 1947- recuperação do jardim de buxo e dos jardim das damas; ESCULTORES: João Fragoso, 1960 - escultura do lago do Tritão; Mestre Leopoldo de Almeida, década de 1960 - busto de D. Luísa de Gusmão na casa de fresco.

Cronologia

1385 - é criado o senhorio de Vila Viçosa, por D. João I, a favor de D. Nuno Álvares Pereira; 1442 - D. Nuno Álvares Pereira doa o senhorio a seus netos; 1460 - o senhorio é herdado por D. Fernando I (na altura Conde de Arraiolos), por morte de seu irmão D. Afonso (Marquês de Valença e Conde de Ourém); 1501 / 1502 - Início da edificação do Paço, a mando do 4º Duque de Bragança, D. Jaime I, no reguengo que fazia parte do senhorio de Vila Viçosa; 1537 - descrição do jardim junto ao terreiro, construído nesta altura, por ocasião da boda de Dona Isabel com o infante D. Duarte; 1552 - referência na obra impressa de Manuel da Costa ao paço ducal rodeado de jardins; 1566 - obras de beneficiação e extensão pelo Duque D. João I; 1603 - descrição do jardim na relação de festas de Sebastião Vogado; 1640 - com a ascensão do Duque D. João IV ao trono, o paço deixa de ser a residência permanente da família; 1648 - descrição do jardim por Frei Manuel Calado; 1716 - início das obras a mando de D. João V; 1787 - construção do Jardim de buxo ou do picadeiro; 1860 a 1941 - uso publico do reguengo a partir do portão do carrascal; 1910, 5 Outubro - com a implantação da República, a família real parte para o exílio em Inglaterra, ficando o paço fechado; 1932 - morre D. Manuel II, no exílio, deixando todos os seus bens, nomeadamente o paço, para a criação da Fundação da Casa de Bragança; 1937 - D. Manuel II trouxe da sua vivenda nos arredores de Londres os azulejos iconográficos dos reis de Portugal que se colocaram no jardim do bosque; 1947 - recuperação do jardim de buxo e reconstrução do jardim das damas; séc. 20, anos 40 - após a criação da Fundação da Casa de Bragança, segundo disposição testamentária de D. Manuel II, o paço é reaberto como casa museu.

Dados Técnicos

O jardim do bosque foi terraplanado apresentado uma cota superior à do terreiro do paço.

Materiais

Material Vegetal:; Inertes: mármore

Bibliografia

BELLO, António Burnay, Os Jardins do Paço Ducal de Vila Viçosa, Lisboa, 1955; ESPANCA, Túlio, Distrito de Évora, Concelho de Vila Viçosa, in Inventário Artístico de Portugal, IX, SNBA, 1978; Fundação da Casa de Bragança, O Paço Ducal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983; PESTANA, Manuel Inácio, Vila Viçosa - Vila Museu, Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1995; Fundação da Casa de Bragança, Paço Ducal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 2000.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN / DSID; Fundação da Casa de Braganaça

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID; Fundação da Casa de Braganaça

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN / DSID; Fundação da Casa de Bragança

Intervenção Realizada

Observações

Em 1552, na obra impressa de Manuel da Costa, o Paço Ducal é referido estando "rodeado de jardins de perfumadas flores, que dir-se-iam o Jardim de Hespérides"; Em 1537 o jardim junto ao terreiro é descrito como "um grande e formoso jardim, que tem dentro tanque de muitos peixes, de muito boa água nadível e corrente que rega todo o jardim em que há muitas árvores de diversos frutos e outras que somente para recreação humana foram postas, tecidas e cobertas de muitas eras que fazem muito aprazíveis e deleitosas sombras sobre que cai o aposentamento, que agora é da Senhora Infanta com muitas janelas de grades de ferro sobre ele." (in Memórias da Casa de Bragança); Em 1648, Frei Manuel Calado descreve o Reguengo como "um jardim plantado de muitas e compridas árvores, regadas por muitas fontes e engenhos de água com muitas ruas largas compridas cujas paredes são de murta miúda com muitas e diferentes figuras para cujo ministério tem ali o Duque jardineiro mui primos na arte de suas curiosidades; tem ali u lago de água nascediça com muitos peixes, e outras noras e poços das quais se tira água com engenhos para isso feitos., com a qual se regam em partes onde as águas correntes não podem chegar."; refere ainda que "Também ali está um bizarro jogo da pela, onde os mancebos fidalgos vão por a tarde fazer exercício e as damas de uma espaçosa janela vem a tomar alívio de dentro do paço, entretendo-se com as dúvidas e refertas dos jogadores; porém com elas sempre se acha um dos porteiros das damas que lhes sempre abre a janela.".

Autor e Data

Pereira de Lima 2006

Actualização

 
 
 
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