Núcleos de Palheiros nas freguesias de Esmoriz e Cortegaça

IPA.00024618
Portugal, Aveiro, Ovar, Esmoriz
 
Casa de pescadores, o palheiro ergue-se na orla marítima, assente em estacaria. Tipologia repetida nas casas palafíticas ribeirinhas como na Casa Avieira em Muge (v. IPA.00023164), no Cais palafítico e na Aldeia da Palhota no Cartaxo (v. IPA.00006255). Os primeiros palheiros, caracterizavam-se por serem construções térreas e de pequena dimensão, com os prumos de pinho espetados directamente na areia, de pau-a-pique, e o revestimento exterior tabuado, neles pregado, dispostos horizontalmente; sem soalho (apenas junco para cobrir a areia), sem forro interior e uma cobertura de duas águas, em colmo e moliço. Os palheiros lembravam construções palafíticas por serem construídas sobre estacaria. Actualmente o revestimento exterior é quase sempre vertical (o que implica a existência de "tarugos" horizontais de reforço entre os prumos), a cobertura é de telha e possuem um forro interior que serve de caixa das janelas tipo guilhotina. Com o aumento do número de palheiros, e por necessidade de se protegerem dos ventos que supravam com grande intensidade, os pescadores construiram os palheiros em banda e orientados no sentido do vento, a que se chamavam correntezas. Com a fixação dos pescadores às praias, transformando os palheiros em residência permanente, sentiu-se a necessidade de se criarem melhorias de habilabilidade, passando estas construções a teram 2 pisos, mantendo-se de pau-a-pique apoiados em estacaria de carvalho enterrada até um metro de profundidade. Em finais do séc. 19, com o desenvolvimento das estâncias balneares, a urbanização dos núcleos passa a ser obrigatória, assim como o alinhamento por ruas. Aparece um novo tipo de palheiro, sobre estacaria, mais ou menos alta, aberta e à vista, em que o travejamentodo soalho assenta sobre duas ou três fortíssimas vigas paralelas que, por sua vez, pousam em grossos esteios ou pegões independentes, de pedra ou cimento - os moirões - dispostos noutras tantas fileiras, de dois a quatro por fileira, permitindo a passagem das areias arrastadas pelo vento. Construção de planta rectangular simples, apresenta varanda na fachada principal; cobertura em telhados de duas águas e interior composto por sala, cozinha e quarto, com ligação entre si. A pintura exterior era feita com um porduto que resultava de uma mistura de "sili" (óleo de tripa de sardinha), secante, pigmentos e agua-rás. O Palheiro Amarelo faz parte de um conjunto de palheiros, ainda existentes na praia de Esmoriz, que nos deixam adivinhar a antiga vivência piscatória. A partir do séc. 18 aparecem os primeiros palheiros, que vieram substituir as palhotas, construções frágeis e perenes, pouco resistentes à força do vento. Os palheiros serviam inicialmente, apenas de abrigo ou como habitação temporária, durante a época da safra e dos banhos.
Número IPA Antigo: PT020115030062
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palheiro  

Descrição

O PALHEIRO AMARELO é de planta retangular, evoluindo em um só piso com cobertura homogénea em telhados de duas águas.

Acessos

Praia de Esmoriz; Praia de Cortegaça

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Edital n.º 127/2004, DR, 2.ª série, apêndice n.º 24, n.º 42, 19 fevereiro 2004

Enquadramento

Orla marítima. Isolado. Implantados no centro da praia de Esmoriz e de Cortegaça, os primeiros, adjacentes ao bairro piscatório situado a sul, ficando-lhe fronteiro a Capela da Praia (v. IPA.00024619).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: António Carlos Bebiano (2002).

Cronologia

séc. 19 - no início deste século, a abundância de peixe e o aumento do número de companhas dão origem aos primeiros núcleos de palheiros, já como residência permanente ao longo da costa: Espinho, Esmoriz, Cortegaça, Furadouro, etc. *1; séc. 19, 2ª. metade - a construção da via férrea cria as acessibilidades, outrora inexistentes, trazendo veraneantes às praias de Esmoriz e Cortegaça, ficando estes instalados nos palheiros; entre a pesca, a agricultura e "os turistas", os pescadores sentiram necessidade de uma residência permanente, requerendo melhorias consideráveis de habitabilidade; 1872, c. de - construção do denominado Palheiro Amarelo s; séc. 19, final - com o desenvolvimento das estâncias balneares, a urbanização dos núcleos passa a ser obrigatória, assim como o alinhamento por ruas; 2002 - projecto de reconstrução e restauro do Palheiro Amarelo, com risco de arquiteto. António Carlos Bebiano.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes

Materiais

Madeira

Bibliografia

BEBIANO, António Carlos - Construções de Madeira - Palheiro Amarelo: uma interferência na Arquitectura contemporânea; in JUVEDREP, Juventude Desportiva e Recreativa - Esmoriz Praia, Esmoriz, 2002; Idem, Palheiros de Esmoriz e Cortegaça, in Dunas, temas & perspectivas, p.45-52, Ovar.

Documentação Gráfica

CMOvar

Documentação Fotográfica

CMOvar

Documentação Administrativa

CMOvar

Intervenção Realizada

Observações

EM ESTUDO. *1 - O surgimento da pesca de arrasto tem uma importância decisiva no aparecimento dos primeiros focos de Palheiros nas imediações do mar, sem haver fixação de pessoas com carácter permanente, mas sim armazéns para guardar as alfaias de pesca. O primeiro foco de sedentarização nestas areias surge em meados do séc. 18 e tem a ver com o facto de se estar numa época de imigração de galegos e catalães para Portugal, sendo portadores de novas técnicas de salga e pesca. Esta primeira vaga de ocupantes vai dividir os palheiros com as alfaias, sazonalmente, no inverno dedicavam-se à agricultura e no verão à pesca. Os palheiros não eram, até início do séc. 20, construções fixas. Era possível deslocá-las, fugindo aos ciclones, marés e consequentes movimentos de areia, através de um sistemas de alavancas que os levantava e a sua deslocação era feita sobre grossos toros de madeira (o mesmo modo usado na alagem dos barcos), puxados por juntas de bois. Depois eram montados de novo noutro local, sobre outros esteios.

Autor e Data

Cecília Matias 2006

Actualização

 
 
 
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