Castelo de Belmonte

IPA.00002543
Portugal, Castelo Branco, Belmonte, União das freguesias de Belmonte e Colmeal da Torre
 
Castelo medieval, trnasformado em residência senhorial no séc. 15, tendo o adossamento de edifício setecentista, com porta em cotovelo integrada no edifício civil. Apresenta fundações de provável baluarte no exterior junto à porta norte. É de traçado ovalado irregular, com torre de menagem adossada pelo exterior. Muralha com adarve descoberto e desprovida de merlões. Porta em cotovelo em arco pleno no exterior e arco quebrado no interior, tendo uma segunda entrada em arco quebrado. Torre de Menagem de planta quadrada, com três pisos e porta a nível do primeiro e segundo registos e remate com merlões em arco quebrado. Compartimentos intra-muralhas correspondentes a edifício civil de dois pisos com vãos de decoração manuelina. Aterro das fundações de compartimentos do edifício civil pela construção de estruturas arquitectónicas contemporâneas.
Número IPA Antigo: PT020501010003
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Traçado ovalado irregular com torre de menagem adossada pelo exterior no ângulo SO., tendo edifício anexo adossado pelo exterior junto à porta principal e compreendendo, nos intramuros, vestígios do Solar dos Cabrais. Panos de muralha com adarve descoberto, desprovidos de merlões e com dois lanços de escadas de acesso nos lados O. e E. e um lanço duplo no ângulo SO., de acesso a seteira cruciforme. Apresenta duas portas, uma delas em cotovelo, voltada a S., formada por vão em arco de volta perfeita no exterior e arco apontado no interior, com acesso a outro vão interior, de configuração idêntica, antecedido por dois arcos abatidos, correspondentes ao espaço de um compartimento do paço dos alcaides. A porta exterior é encimada por balcão sustentado por mísulas de perfil recortado, de perfil rectilíneo, encimada pelas armas dos Cabrais. A porta N. é em arco abatido, junto da qual existem exteriormente as fundações de um provável baluarte. Apresenta, na fachada virada a O., vários vãos decorados, destacando-se janela de lintel recto, com ângulos arredondados e janela com arco em cortina e peitoril formado por arco plenos invertidos, ladeadas por mísulas, bem como janela geminada de arcos trilobados decorados com cogulhos e mainel central, enquadrada por duplo arco canopial rematado por trifólios e pelas armas dos Cabrais. Torre de Menagem de planta quadrada com cobertura a quatro águas e remate ameado. As fachadas S., O. e E. têm três registos, apresentando, nos segundo e terceiro, uma seteira; a N. tem porta de lintel recto com umbrais curvos no primeiro registo, tendo, no segundo, uma porta de perfil semelhante, encimada por arco de descarga de volta inteira; no terceiro registo, marca de empena, correspondente a edifício anteriormente adossado e seteira. INTERIOR de três pisos, o primeiro com pavimento lajeado irregular, coberto por abóbada de berço abatido e os superiores com pavimentos e coberturas internas em madeira. O espaço intra-muralhas compreende compartimentos correspondentes ao antigo paço dos alcaides que possuiria dois pisos, o inferior com um compartimento de planta rectangular irregular com quatro arcos plenos dispostos transversalmente e arranques de arcos idênticos situado na confluência da porta principal com a Torre de Menagem. No segundo, compartimento de planta rectangular, adossado à fachada N. da torre de menagem, integra a janela geminada e um nicho em arco abatido *2. O recinto possui, ainda, um anfiteatro ao ar livre, instalações sanitárias e outros serviços adossados ao troço O. da muralha, e quatro silos, correspondentes à construção primitiva, dois deles ao centro e dois próximos do ângulo NE., bem como um poço - cisterna. Junto ao pano de muralha NO., surgem vestígios de primitivas construções, no ângulo NE., de uma casa mais cuidada e, junto à muralha N., os alicerces de um cubelo, cujos silhares apresentam várias siglas. Edifício anexo de planta trapezoidal irregular, com cobertura a quatro águas, com massas dispostas verticalmente e formando volume avançado relativamente ao recinto fortificado, rematado em cornija. Fachada S., com embasamento proeminente e cunhais em cantaria, dividido em três registos, o primeiro com porta descentrada, de lintel recto com moldura reentrante; o segundo cego e o superior com duas janelas de sacada rectilíneas, encimadas por frontão curvo com pedra de fecho contendo brasão dos Cabrais enquadrados por motivos vegetalistas estilizados. Balcão assente em quatro mísulas, de perfil recortado, decoradas por motivos vegetalistas estilizados e motivo zoomórfico. Fachada O. com abertura quadrangular de lintel recto em ambos os registos. Fachada E. com seteira no primeiro registo e abertura quadrangular no segundo. Fachada N. dividida em dois registos, com porta em arco apontado e vão idêntico, parcialmente entaipado no primeiro, duas portas de lintel recto no segundo, com acesso através do adarve. INTERIOR de três pisos com acesso através de escadas interiores, apresentando espaços uniformes com arco abatido transversal nos pisos inferiores e estrutura de pavimentos e coberturas interiores em madeira.

Acessos

Largo do Castelo, com acesso por via pública até à porta de entrada; WGS84: 40º21'33.14''N., 7º20'53.77''O.

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 14 425, DG, 1.ª série, n.º 228 de 15 outubro 1927 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 179 de 03 agosto 1966

Enquadramento

Urbano, no limite do aglomerado, num cabeço fortificado a c. de 599 m. de altitude situado na margem esquerda do Rio Zêzere. Surge a dominar a entrada N. da Cova da Beira. Destaca-se isolado sobre afloramentos rochosos, sobranceiro à Igreja de Santiago (v. PT020501010001), Capela de Santo António (v. PT020501010018), Capela do Calvário (v. PT020501010021) e à povoação. Proximidade do cemitério a N.. Do castelo avista-se quase toda a encosta E. da Serra da Estrela, o vale do Zêzere, bem como o vale oposto *1.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DRCCentro, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009

Época Construção

Séc. 13 / 14 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 08 - 09 - primeira ocupação contínua desta zona; 1168, 6 Maio - doação ao bispo de Coimbra do senhorio de Centum Celas, onde se integrava Belmonte; 1194 - o bispo de Coimbra doa foral a Centum Celas, para restaurar e povoar a localidade; 1199 - concessão de carta de foral, seguindo o modelo do de Ávila / Évora, e hipotética edificação do castelo por D. Sancho I, reconhecendo os direitos do bispo de Coimbra; séc. 12, fins / 13, início - existência do castelo documentada arqueologicamente, tendo sido demolidas as casas do interior para a sua construção; a povoação passou a desenvolver-se extramuros; construção da torre de menagem; 1223 - confirmação do foral por D. Sancho II; 1253 - o bispo da Guarda compra e vende casas no recinto do castelo; 1256, 27 Abril - o Papa Alexandre IV doa o Castelo de Belmonte, Ínguias e Olas de Godim à Sé da Guarda, com todos os direitos episcopais, ficando a Sé de Coimbra a manter as possessões laicas; 1297 - perda de importância estratégica com o avanço da fronteira na sequência do Tratado de Alcanices; 1383 - 1385 - na sequência da crise dinástica, parte das muralhas e da casa existente no ângulo NE. foram destruídos; 1387, 25 Novembro - D. Martinho pede 20 homiziados para substituir os que haviam morrido a defender o castelo; 1392, 5 Agosto - o Bispado de Coimbra permuta a vila de Belmonte e o couto de São Romão pela vila de Arganil com Antão Martim Vasques da Cunha; 1397 - 1398 - pelo alcaide ter aderido ao partido legitimista do infante D. Dinis, o monarca confisca-o e doa-o como alcaidaria a Luís Álvares Cabral; reconstrução do troço da muralha N., com ligeira alteração, abrindo-se nela uma nova Porta da Traição e construído um cubelo; a família Cabral passa a habitar no interior do castelo; 1422 - no Rol dos Besteiros, é referida a existência de 4260 habitantes; 1466 - doação da alcaidaria do castelo e vila, com rendas e foros, a Fernão Cabral, por D. Afonso V, a título hereditário; 1471 - Fernão Cabral foi nomeado couteiro dos Montes Crestados; 1496 - na Inquirição, é referida a existência de 144 habitantes; séc. 16 - edificação do Solar dos Cabrais, algumas delas ficando-se a dever à intervenção de D. Joana Coutinho; 1527 - no Numeramento, é referida a existência de 244 habitantes; 1694 - incêndio no castelo; 1655 - casamento de D. Margarida Antónia de Meneses com Rui Figueiredo Alarcão de Ota; séc. 18 - construção de edifício junto à porta principal do castelo; 1751 - o Dicionário Geográfico refere que, na sequência da Guerra da Restauração, haviam sido construídos alguns baluartes; 1758 - nas Memórias Paroquiais, é referido que o castelo se encontrava algo arruinado, só se mantendo a zona onde a família recolhia as rendas; 1762 - morte do último Senhor de Belmonte, Caetano Francisco Cabral; séc. 20, início - a construção junto à porta funcionou como cadeia; 1992 - execução de um anfiteatro; 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 1992 - 1994 - as escavações levadas a cabo no castelo provaram a presença romana; 1994 / 1995 - escavações no interior da torre de menagem; 2007, 20 dezembro - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Centro, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria e cantaria de granito, em aparelho isódomo; porta e coberturas de madeira; coberturas exteriores em telha de aba e canudo.

Bibliografia

ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1948; ALMEIDA, José António Ferreira de, dir., Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1980; BEÇA, Humberto, Castelos de Portugal, os Castelos da Beira Histórica, Porto, 1922; DIONÍSIO, Sant'Ana, Guia de Portugal, Lisboa, 1984; GIL, Júlio e CABRITA, Augusto, Os Mais Belos Castelos de Portugal, Lisboa, 1986; GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia. Beira, vol. I, Lisboa, 1997; GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues, Os castelos da Beira interior na defesa de Portugal (séc. XII - XVI), [dissertação de mestrado], Lisboa, Faculdade de Letras de Lisboa, 1995; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; MARQUES, António Augusto da Cunha, O Castelo de Belmonte (Castelo Branco): resultados arqueológicos, in Mil Anos de Fortificações na Península Ibérica e no Magreb (500 - 1500): Actas do Simpósio Internacional sobre Castelos, Lisboa, 2001, pp. 485-495; MARQUES, Manuel, Subsídios para uma Monografia da Vila de Belmonte, Belmonte, s.d.; MARQUES, Manuel, Belmonte - terras de Cabral, Belmonte, 2001; MARQUES, Manuel, Concelho de Belmonte - Memória e História, Belmonte, 2001; PERES, Damião, A Gloriosa História dos Mais Belos Castelos de Portugal, Porto, 1969; SALVADO, António, Elementos para um Inventário Artístico do Distrito de Castelo Branco, Castelo Branco, 1976; TAVARES, Joaquim Cardoso; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70155 [consultado em 26 setembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

CMB: 1914, 22 Abril - reparação das muralhas, utilizando a verba destinada à reparação das calçadas; DGEMN: 1939 / 1940 / 1941 - escavação reconstrução de paredes em alvenaria; refechamento de juntas em paredes de alvenaria; construção de ameias; cintagem de betão armado em paredes; 1942 - consolidação de paredes em alvenaria; cintagem de betão armado; aplicação de cantaria em muralhas; colocação de vigamento nos pavimentos; reconstrução de telhados; 1943 - consolidação de paredes de alvenaria; cintagem de betão armado; aplicação de cantaria em muralhas; reconstrução de pavimentos e de telhado; aplicação de reboco em paredes; 1944 - consolidação de paredes em alvenaria; aplicação de cantaria em muralhas; cintagem de betão armado; reconstrução completa de armação de telhado; aplicação de reboco em paredes; 1945 - construção de paredes em alvenaria; aplicação de cantaria em panos de muralha; colocação de vigamento em pavimentos, escadas, portas e caixilharias em madeira; 1946 / 1947 / 1948 / 1949 / 1950 - diversas obras; 1958 / 1959 - reparação geral da cobertura do edifício junto à entrada principal; substituição da cobertura da torre; construção de pavimentos em madeira para a torre de menagem; consolidação de troços de muralha; 1959 / 1960 - construção de pavimentos na torre de menagem e anexos; diversos arranjos nas paredes junto à janela manuelina; construção de patamar de acesso à torre; limpeza do terreno; 1959 / 1960 - iluminação exterior do Castelo; 1960 - construção de lajedo em cantaria assente sobre cachorros de acesso à torre de menagem; arranjo e consolidação de muralhas; consolidação do terraço sobre a entrada; construção de duas portas em madeira; construção de escadas em madeira para acesso ao piso da torre; pavimentação da torre; regularização do terreno; 1963 - reparação de portas e caixilharias em madeira no castelo e respectivo anexo; restauro de uma porta da torre; regularização dos acessos ao piso superior do castelo; regularização dos terrenos intra-muralhas e nos terrenos envolventes, incluindo arranjo das rampas de acesso e arrelvamento tosco; reparação e limpeza da cobertura do anexo; entaipamento de uma porta na torre; construção de um passadiço em ferro de acesso à torre; construção de escadas em madeira na torre; 1977 / 1978 - reconstrução de troço de muralha na zona NO. através da reposição de silhares caídos; reparações no adarve; 1983 - substituição da cobertura no anexo; picagem dos rebocos das paredes exteriores do anexo e refechamento das juntas da alvenaria; substituição de caixilharias e portas; reparação da porta do castelo; IPPAR / CMB: 1992 / 1993 - execução da primeira fase do Plano de Salvaguarda da autoria do Arqº João Carlos Rafael; construção de anfiteatro ao ar livre no lado S. aterrando um silo e uma conduta; construção de instalações sanitárias e serviços de apoio no lado O. aterrando fundações de diversos compartimentos; remodelação do edifício anexo à porta principal; escavações arqueológicas nas áreas intervencionadas dirigidas por António Marques *3; 1994 - escavações arqueológicas no interior da Torre de Menagem tornando visível pavimento lajeado irregular e sob este um embasamento interior escalonado, bem como na zona NE. do recinto e no exterior junto à porta N. onde foi identificado um provável baluarte; 1997 / 1998 - revitalização do castelo - 2.ª fase.

Observações

*1 - neste vale localizava-se a estrada romana que ligava Mérida (Emerita Augusta) a Braga (Bracara Augusta). *2 - anteriormente às últimas intervenções era observável ainda o arranque de dois muros correspondentes a um compartimento no lado S., bem como um conjunto de cerca de seis compartimentos de planta rectangular paralelos entre si adossados ao troço O. da muralha e dos quais apenas subsistiam as fundações e os vãos que no lado interior apresentam conversadeiras. *3 - espólio recolhido: artefactos cerâmicos dos séc. 15 e 16 e em ferro, moedas, escórias, restos alimentares, fragmentos de vidro, mós e lareira.

Autor e Data

Margarida Conceição 1994 / Paula Figueiredo 2005

Actualização

 
 
 
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