Moinho dos Canais

IPA.00026155
Portugal, Beja, Mértola, Mértola
 
Estação de moagem, composta por moínho de água (disposto tranversalmente ao leito do rio), açude, caneiro (já, desmantelado),casa do moleiro e forno, estas afastadas, localizadas em posição mais elevada. Pequeno moínho de planta rectangular simples, disposta num só piso; apresenta fachadas de pano único, escassamente rasgadas por vãos, simples, rasgados na espessura dos muros, a principal de costas voltadas ao rio; fortes rebocos de revestimento, embasamentos parcialmente alicerçados na penedia do leito do rio e esquinas arredondadas de modo a suavizar o impacto das águas; cobertura pétrea, cimentada, de perfil curvo, munida de respiradouros; no interior cobertura em abóbada e berço, de perfil irregular e base de pouso em alvenaria mista; açude atravessando todo o leito do rio e levada pétrea munida de comporta conduzindo a água até ao cabouco rasgado ao centro de uma das fachadas laterais. Insere-se na tipologia de moinhos de água de submersão do Guadiana, com estrutura robusta, destinada a submersão parcial ou total em período de cheias, de um único aferido.
Número IPA Antigo: PT040209040041
 
Registo visualizado 3110 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Moagem    

Descrição

Estação de moagem, composta por moínho disposto tranversalmente ao leito do rio, açude e estruturas de apoio, constituídas pela casa do moleiro e forno, situadas a c. e 800m em posição mais elevada, sensívelmente a meio da encosta, acompanhando o desnível do terreno, e deitando a fachada principal virada ao rio. MOÍNHO: planta longitudinal simples, rectangular; volume simples disposto na horizontal com cobertura homogenea em abóbada pétrea, cimentada de perfil curvo, rasgada por dois respiradouros, um circular outro quadrado *1. Fachadas de pano único em alvenaria mista de pedra, argamassada, com blocos de maiores dimensões ao nível térreo; alvenarias revestidas de fortes rebocos e esquinas arredondadas; embasamentos parcialmente alicerçados na penedia do leito do rio e em plataforma artificial de alvenaria de pedra. Vãos simples, de vergas rectas, rasgados na espessura dos muros. Fachada principal a O., virada à encosta, rasgada ao centro pela porta de acesso de verga recta; na margem, a poucos metros da fachada, encontra-se uma mó. Fachada lateral S. aberta para a plataforma do açude, a juzante, rasgada, descentrada à direita, junto ao arranque da cobertura e acompanhado a sua curvatura, por janela rectangular disposta na vertical; inferiormente à direita vão rectangular de escoamento das águas. Fachada posterior voltada ao leito do rio, rasgada ao centro por pequena fresta rectangular. Na fachada virada a montante rasga-se inferiormente o cabouco, sendo a água a ele conduzida por levada pétrea com comporta. INTERIOR: pavimento encoberto por areia acumulada, cobertura em abóbada de berço de perfil em arco de volta perfeita, irregular, de alvenaria argamassada, de pedra e tijolo, rebocada; base do pouso, em alvenaria de pedra e tijolo, argamassada; resta ainda um dos pousos. CASA DO MOLEIRO: planta longitudinal, escalonada, composta por dois corpos rectangulares, independentes, o mais alto correspondente à zona de habitação, o mais baixo à cavalariça; cobertura diferenciada em telhado de uma água, quase plano, com beirado em aba na fachada posterior; alçados de alvenaria mista, rebocada e caiada, remates rectos em beirado saliente. Fachada principal a E. de dois panos correspondentes aos corpos da habitação, a N. e da cavalariça a S.; pano N. rasgado por janela rectangular rasgada na espessura da parede, com peitoril de xisto; pano S. rasgado por porta axial, com verga de xisto. Fachada lateral N. de pano único rasgada por porta axial, de molduras simples rasgadas na espessura da parede, precedida por 3 degraus, constituindo o único acesso à habitação, remate em meia empena. Fachada lateral S. de pano único, cego, em meia empena. Fachada posterior de dois corpos, cegos. INTERIOR: casa de habitação com paredes rebocadas e caiadas com rodapé baixo pintado a vermelho sangue-de-boi; cobertura em tecto de caniço assente em traves de madeira. Cavalariça com paredes rebocadas e pintadas a amarelo ocre; cobertura de caniço e madeira assente em travejamento de madeira escoroado por toros de madeira; na parede O, mangedoura constituída por murete de alvenaria, rebocada e pintada a amarelo ocre, capeado por toro madeira; divisórias formadas por toros de madeira transversais; pavimento de terra. Forno independente a N. afrontando a entrada principal da habitação, a c. de 6m; de planta circular com cobertura cónica; na face S. rasga-se a boca, larga, de volta perfeita, em aduelas de tijolo; a E. murete de alvenaria de tijolo, parcialmente derrocado. AÇUDE: parte da margem O., frente à fachada lateral O., constituindo-se neste ponto como plataforma contrafortada, na qual se encontra uma mó *2.

Acessos

Corte de Gafo de Baixo; à saída E. da povoação deixar a estrada alcatroada e seguir por estrada de terra batida c. de 300m até encontrar um portão, estando neste ponto assinalados por tabuleta dois moinhos; passar o portão e prosseguir por c. de 5Km sempre pela via principal de terra batida que desemboca no cimo da falésia em pequeno terreiro, onde se encontra placard informativo do ICN; este percurso não é viável de automóvel em época de chuvas; a partir deste ponto o acesso é feito a pé, descendo em direcção ao rio, por carreiro estreito, rude e parcialmente lageado ou escavado na rocha.

Protecção

Incluído no Parque Natural do Vale do Guadiana e no Plano Sectorial da Rede Natura 2000: Sítio de Interesse Comunitário Guadiana (PTCON0036) e Habitats 5210 (Matagais arborescentes de Juniperus spp.) e 9560 (Florestas endémicas de Juniperus spp.)

Enquadramento

Rural, ribeirinho, isolado, em local aprazível perfeitamente harmonizado com a envolvente, na margem direita do Guadiana, disfrutando de ampla vista sobre o leito do rio, a montante e jusante, e da paisagem em redor constituída maioritáriamente por vegetação baixa, predominando a Aroeira (pistacea lentiscus), o Rosmaninho (lavandula stoechas), o Alecrim (rosmarinus officinalis), a Murta (Myrtus communis) e o Tamujo (Securinega tinctoria) junto ao leito do rio; podem ainda ser observados a Alfostiga (Pistacia vera), a Aroeira (Pistacia lentiscus), a Azinheira (Quercus rotundifolia), a Cebola-albarrã (Urginea maritima), a Cevada (Hordeum vulgare), a Erva-ursa (Thymus mastichina), a Esteva (Cistus ladanifer), o Gaimão (Asphodelus ramosus), o Lentisco-bastardo (Phillyrea angustifolia), a Roselha (Cistus crispus), Sargaços (Cistus monspeliensis), o Tojo (Genista sp.), o Trigo (Triticum aestivo), o Zambujeiro (Olea europea var. sylvestris) e o Zimbro (Juniperus communis). Terreno pedregoso atenuado por pequenas enseadas arenosas. A casa do moleiro fica em declive e o moínho no leito do rio, junto à margem, ficando isolado desta em época de cheias; do moínho à casa do moleiro distam c. de 800m em linha recta. A c. de 1km localiza-se o Moinho das Bravas (v. PT040209040042). Da avifauna destaque para o Melro-azul (Monticula solitarius), a Cia (Emberiza cia), a Andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris) e a Andorinha-dáurica (Hirundo daurica), a Águia-de-Bonelli (Hieraetus fasciatus) e a Garça-real (Ardea cinerea); podem ainda ser observados a Cegonha-preta (Ciconia nigra), o Bufo-real (Bubo bubo), o Chapim-azul (Parus caeruleus), o Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus), o Chapim-real (Parus major), a Perdiz (Alectoris rufa), o Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o Rouxinol-bravo (Cettia cetti), o Rouxinol-do-mato (Cercotrichas galactotes), e várias Toutinegras (Sylvia sp.). Aqui encontram abrigo vários mamíferos como o Coelho (Oryctolagus cuniculus), o Gamo (Dama dama), o Saca-rabos (Herpestes ichneumon), oTexugo (Meles meles) e a lontra (lutra lutra) que encontra habitat priviligiado na área de remanso criada pelo açude. Na ictiofauna destaque para a Boga do Guadiana (Chondrostoma willkommii), a Enguia (Anguilla anguilla), o Escalo-do-sul (Leuciscus pyrenaicus), o Esturjão (Acipenser sturio), a Lampreia (Petromyzon marinus), o Sável (Alosa alosa) e a Savelha ( Alosa fala).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: moagem

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1758, 19 junho - de acordo com a informação recolhida nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo prior Bento José Sevilha de Leiria, "(...) Para sima da villa, para onde nam he navegavel, e mais longe, tem asenhas, e mais moendas, e lagares, mas não tenho noticia de noras ou outro engenho"; Séc. 19 - data provável de construção mas podendo remontar à centúria anterior; 1980, década de - o moínho ainda se encontra a laborar; 1990, década de - já desactivado em consequência do desmantelamento do caneiro.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Telha, madeira, canas, pedra, tijolo, cal: alvenaria mistas de pedra argamassada, rebocada (moínho); alvenaria mista de pedra, tijolo e xisto, rebocada e caiada (casa moleiro e forno); alvenaria de pedra insonsa ou argamassada (açude); caniços suportados por traves de madeira (cobertura casa do moleiro)

Bibliografia

BOIÇA, Joaquim F. e BARROS, Maria de Fátima Rombouts de, As Terras, as Serras, os Rios. As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola, Mértola, 1996; GUITA, Rui, Moinhos de Água no Concelho de Mértola, Mértola, Associação de Defesa do Património de Mértola; 1991, IDEM, Engenhos hidráulicos tradicionais do Guadiana, Instituto de Conservação da Natureza, 1999; SILVA, Luís, "Moleiros e moinhos no Alentejo oriental. Uma perspectiva etnográfica", Etnográfica, Lisboa, CEAS - Centro de Estudos de Antropologia Social, vol. 8, nº 2, Novembro de 2004, pp. 221 - 242.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Memórias paroquiais, vol. 23, n.º 129, pp. 803 a 813.

Intervenção Realizada

Observações

*1 - os respiradouros serviam aquando da submersão total ou parcial do moínho; *2 - a plataforma fica parcialmente submersa em períodos de caudal cheio; *3 - actualmente a legislação em vigor proíbe a utilização dos caneiros, tendo estado na origem do abandono do moínho; *4 - devido ao forte caudal do Guadiana não foi possível detectar a a presença de mecanismo de moagem sobreviventes.

Autor e Data

Rosário Gordalina 2007

Actualização

 
 
 
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