Jardim da Torre de Belém

IPA.00027093
Portugal, Lisboa, Lisboa, Belém
 
Arquitectura recreativa: Jardim de traçado modernista patente na fluidez das linhas e nas preocupações de ordem ecológica *3 manifestadas, numa opção de escolha clara de espécies arbóreas climax*2. Outra característica do modernismo patente neste projecto é a grande preocupação com o conforto do peão*4.
Número IPA Antigo: PT031106321479
 
Registo visualizado 3722 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Espaço verde          

Descrição

Jardim de planta irregular assemelhando-se a um leque aberto, situando-se entre a Torre no seu vértice. A N. tem como limite uma avenida contígua à linha de caminho de ferro, o jardim tem como limites laterais a nascente o arruamento adjacente aos edifícios a poente da Doca do Bom Sucesso e, do lado oposto o Forte do Bom Sucesso. O passeio em frente à Torre toma uma forma de caminho semi-circular seguido por escadaria de acesso ao rio. Este passeio liga por passadiço em madeira com guardas em metal, ao portal de entrada na Torre. De caminhos fluidos, suavemente curvilíneos, este jardim é actualmente arrelvado em grande parte da sua extensão. Destes caminhos, uns acompanham os limites físicos do jardim, outros trespassam o relvado. Existem dois caminhos longitudinais *1, que percorrem de um lado ao outro o jardim no seu terço N. Estes caminhos são unidos por dois outros, que os cortam diagonalmente, ligando-os aos dois extremos laterais da fachada da torre. Destes dois, apenas o caminho poente apresenta um traçado rectilíneo, já que todos os restantes caminhos que trespassam o relvado são como já se referiu curvilíneos. Alguns caminhos secundários ligam os caminhos principais entre si. Define-se assim os limites de uma grande zona central de relvado. Os maciços arbóreos, com espécies como o carvalho-cerquinho (Quercus faginea), o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), o zambujeiro ( Olea europaea var. sylvestris), o Pinheiro manso (Pinus pinea), a oliveira (Olea europaea) e o choupo branco (Populus alba), ocupam predominantemente o primeiro terço N., com excepção do espaço central, situado sobre eixo visual entre a Torre de Belém e a Capela de São Jerónimo, inscrito no terreno pela Avenida da Torre de Belém. Noutros locais que não o referido eixo encontram-se alguns, porém poucos, elementos de porte arbóreo, isolados ou em pequenos grupos. Os elementos arbóreos representadas pertencem a espécies climax *2, constituindo no entanto, excepção á regra, os elementos de espécies exóticas, como a tamareira (Phoenix dactylifera) e a palmeira-das-Canárias (Phoenix canariensis) que se encontram na proximidade NO. da torre.

Acessos

Avenida de Brasília.

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção da Torre de Belém (IPA.00004065) e na Zona Especial de Proteção do Palácio Nacional de Belém (v. IPA.00006547)

Enquadramento

Urbano, em malha perfeitamente consolidada, no sopé da encosta do Restelo, no términus do eixo visual definido pela Capela de São Jerónimo (v. IPA.00035311 e v. IPA.00004064) e pela Torre de Belém (v. IPA.00004065), que se encontra implantada no leito do Rio Tejo.

Descrição Complementar

Situa-se junto ao extremo SE. do jardim, um elemento escultórico em metal, constituído por uma réplica do hidroavião, que concluiu a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, construído em madeira e revestido a tela. Este monumento é acompanhado por uma lápide em granito, comemorativa da efeméride. Encontram-se ainda na berma do caminho semi-circular, junto à torre nove bancos equidistantes em pedra com inscrições esculpidas no assento, de poemas da autoria de poetas portugueses.

Utilização Inicial

Recreativa: jardim

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Pública

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Arquitecto Paisagista António Viana Barreto (1953/1958 ).

Cronologia

1943 - projeto não realizado da autoria de Cottineli Telmo para a zona envolvente da Torre de Belém designado como "Projeto de Urbanização da Torre de Belém" que contempla a instalação de doze estátuas representando navegadores da época dos descobrimentos; 1945, Manuel Sá e Melo, na qualidade de Presidente da "Comissão de Obras da Praça do Império" dirige o convite três escultores: Leopoldo de Almeida, Álvaro de Brée e Canto da Maya, para a modelação de quatro estátuas a cada um deles, somando assim um total dos doze elementos escultóricos implicados no projeto; 1949 - 1950 (meados) - demolição da "Fábrica de Gás de Belém", ocupante dos terrenos fronteiros à Torre de Belém; 1952, o Arquiteto Luís Benavente é encarregado, como técnico da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais de retomar o projeto de Cottinelli Telmo; 1952, dezembro - parecer do Arquiteto Luís Benavente em que se acrescenta " (…) seria ainda interessante que pudesse vir a verificar-se intima ligação arquitetónica e espiritual que existe entre a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e a Capela de São Jerónimo e que no "Arranjo da zona junto da Torre de Belém". Este parecer é enviado para o Ministro das Obras Públicas que responde "Homologado. Desenvolva a Direção-Geral o projecto definitivo, solicitando a colaboração do silvicultor Facco Viana Barreto, da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, para o estudo das espécies vegetais a plantar."; 1953, 25 junho - Parecer de Luís Benavente que afirma: " (…) assim continuava a ter rua para peões entre a passagem de nível fronteira e a torre, criando deste modo a obrigatoriedade dos veículos terem como vias únicas de acesso as que lhe dão de flanco, forçando a vê-las nos seus ângulos laterais, os de maior interesse. Já anteriormente havíamos afirmado não ser o traçado dos arruamentos mas sim a distribuição dos maciços de verdura a contribuição para preparar e produzir "ângulos" e "primeiros planos" para o enquadramento da torre (…) " referiu então aceitação de uma ideia de Cottinelli Telmo acerca da necessidade de iluminação da Torre e salienta o contributo de Viana Barreto prosseguindo: " (…) a aceitação deste trabalho conduzirá à imediata apresentação dos pormenores necessários, entre os quais o "Plano de Plantação" indicando as espécies vegetais a aplicar após a evolução do estudo."; 1953, 30 setembro - Viana Barreto termina a elaboração de um estudo detalhado que designa como "Contribuição para o estudo do enquadramento da Torre de Belém."; 1955, dezembro - Viana Barreto formaliza os planos de plantação da zona envolvente da Torre de acordo com os conceitos apresentados na proposta anterior; 1956, janeiro - O projeto é largamente noticiado e pormenorizadamente descrito no jornal "Diário de Lisboa"; 1957 - tradução para a língua inglesa do estudo "Contribuição para o estudo do enquadramento da Torre de Belém", num folheto publicado para acompanhar uma exposição itinerante da "International Federation of Landscape Architects" (IFLA); 1957 - inauguração da exposição da IFLA que é patente ao público no palácio Foz, em Lisboa, após ter estado presente em Birmingham e Londres. Nesta figura além de uma série de projetos, realizados por outros arquitetos paisagistas portugueses, também uma maqueta do projeto da Torre de Belém. 1958 - Leitão de Barros, cunhado de Cottinelli Telmo, contesta o valor do projeto no Jornal Diário de Notícias num artigo intitulado "O Tesouro do Restelo". Viana Barreto contrapõe o teor deste artigo ponto por ponto em carta endereçada ao Diretor deste jornal; 1958 - início das obras da concretização do projeto do enquadramento paisagístico da Torre de Belém pelo arquiteto paisagista António Viana Barreto; 1982, 18 fevereiro - Viana Barreto é contactado pelo seu colega Edgar Sampaio fontes funcionário na CML, pedindo-lhe que reunissem com urgência a fim de falarem sobre alterações a fazer no Jardim da Torre de Belém que incluiriam um parque infantil e uma piscina, entre outras; 1983, 7 maio - inauguração da XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura, sendo a Torre um dos monumentos que alberga um dos cinco núcleos temáticos que a compunham. Para o efeito são feitas obras de adaptação nos interiores da Torre e cria-se um lago artificial em seu redor para que esta permaneça permanentemente dentro de água; 2012, 12 maio - falecimento de Viana Barreto; 2012, 24 julho - a CML delibera em Assembleia Municipal, um voto de pesar pelo seu falecimento. Fica então lavrado em ata a proposta de sugestão da atribuição do seu nome a um parque ou jardim. É consultada para o efeito a Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas que sugere que Jardim da Torre de Belém se passe a denominar Jardim António Viana Barreto.

Dados Técnicos

Instalação de um sistema de drenagem do jardim, já que este se encontra a uma cota tão reduzida, facilitada pela criação de um declive no sentido do elemento mais importante - a Torre - embora quase imperceptível, estabelecendo-se um amplo anfiteatro. Aterramento do muro da estrada antiga, de acesso ao Forte do Bom Sucesso, por impedirem o contacto visual com a Torre a partir do limite poente do terreno.

Materiais

Inertes: bancos, lancis e placas comemorativas em pedra, candeeiros, estruturas de bancos e elemento escultórico em metal, bancos em ripas de madeira, papeleiras em PVC; Vegetais: árvores - carvalho-cerquinho (Quercus faginea), o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), o zambujeiro ( Olea europaea var. sylvestris), o pinheiro manso (Pinus pinea), a oliveira (Olea europaea), o choupo branco (Populus alba), a tamareira (Phoenix dactylifera) e a palmeira-das-Canárias (Phoenix canariensis). Arbustos- loendro.

Bibliografia

ANDERSEN, Teresa. CAMARA, Teresa. CARVALHO, Luís Guedes - "Lugares da Arquitetura Paisagista: 1940-1970" in ANDERSEN, Teresa. Do Estádio Nacional ao Jardim Gulbenkian - Francisco Caldeira Cabral e a primeira geração de Arquitectos Paisagistas (1940-1970), Lisboa, 2003, pág. 225; CAMARA, Teresa Bettencourt - "Contributos da Arquitetura Paisagista para o Espaço Público de Lisboa", Porto, 2015, p. 160-176 Dissertação de Doutoramento. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, texto policopiado; DGPC. Arquivo Pessoal de António Viana Barreto - Memória Descritiva do projeto, Texto policopiado, Lisboa.

Documentação Gráfica

DGPC: Arquivo Pessoal de António Viana Barreto; CML:Arquivo do Arco do Cego

Documentação Fotográfica

DGPC/SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: Arquivo Pessoal de António Viana Barreto

Intervenção Realizada

Observações

O Viaduto N. trespassa uma pequena parte do jardim no seu extremo NO.; *1 - evitou-se traçar predominantemente os caminhos, segundo uma direcção N-S, para evitar criar eixos artificiais inscritos no terreno que cortariam o relevo de terreno e a naturalidade dos maciços arbóreos, criando-se "golpes na paisagem". "Na direcção oposta, quando em progressão para a Torre, eles criarão diferentes ângulos de visão, por conseguinte, outros tantos pontos de interesse. Evita-se assim uma permanência exagerada sobre o mesmo ponto e a largueza excessiva de panoramas que fazem antes diminuir o interesse do objecto visado."; *2 - "A arborização executada à base de espécies Climax, de espécies que se podem considerar como elementos típicos da paisagem, aumentará a extensão da zona de enquadramento devido à mais harmoniosa ligação com as restantes manchas verdes e assim haverá maior segurança na manutenção do arvoredo em boas condições de adaptação. Existe a excepção de três exóticas palmeiras, símbolos vivos das novas terras trazidas ao mundo pelos navegadores que há séculos dali partiram";*3 - "As árvores plantadas foram cuidadosamente escolhidas em seguimento a estudos levados a cabo e colocadas de acordo com os condicionantes ecológicos do lugar e destinadas a obter delas, quando em pleno desenvolvimento. Um efeito estético de primeiros planos perfeitamente determinado, embora este resulte infalivelmente das condições técnicas que, neste caso, só a ecologia pode orientar."; *4 - "O que a Torre de Belém representa para todos os portugueses, exige que se contemple em ambiente de recolhimento, calmo e silencioso propício á verdadeira concentração espiritual; *5 - "Pretendemos a maior simplicidade e naturalidade, de forma a que o Monumento apareça como sendo de facto o único ponto de criação humana, tudo o resto lhe sendo naturalmente secundário".

Autor e Data

Teresa Camara 2018

Actualização

 
 
 
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