Casa da Sempre Noiva
| IPA.00002757 |
Portugal, Évora, Évora, Nossa Senhora da Graça do Divor |
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Arquitectura agro-florestal e residencial, gótica, manuelina. Monumento protótipo da arquitectura solarenga do Séc. 15 / 16 no Alto Alentejo, com antecedentes na Torre do Esporão (v. PT040711040005) e na Torre dos Coelheiros (v. PT040705140052); paralelos com a Torre das Vidigueiras (v. PT040711040007), a Quinta da Amoreira da Torre (v. PT040706040030), a Torre das Águias (v. PT040707010002), a Torre do Carvalhal (v. PT040706050026) e o Solar da Camoeira (v. PT040705090077), monumentos geralmente associados a importantes itinerários de tráfego viário, cuja leitura estilística e atribuição cronológica não se pode considerar resolvida, pois poderão ser muito mais remotos do que se tem pensado. Profusão de elementos secundários manuelino - mudéjares. Os capitéis do alpendre são réplicas dos melhores espécimens do ciclo quatrocentista da Sé de Évora (v. PT040705120016) e as janelas do corpo manuelino, na sua duplicidade de singela elegância e exuberância mourisca, estão a par dos magníficos vestígios da cantaria mudéjar que podemos encontrar no palácio dos mesmos senhores em Évora. Segundo Albrecht Haupt o edifício poderá ter sido, no seu início, uma pousada de caça, à volta da qual se terá desenvolvido a quinta de recreio. O magnífico paço, rara relíquia da arquitectura senhorial dos fins do Séc. 15 e princípios do Séc. 16, aparenta ter-se desenvolvido por extensão progressiva de um núcleo original, constituído por altaneiro torreão de dois pisos e vasto salão térreo encaixado no embasamento, rasgado por janelões singelos de molduras chanfradas, que pode remontar ao Séc. 14. A Herdade da Sempre Noiva definia, juntamente com outras muito importantes no ordenamento do território eborense, Vale de Sobrados e Pontega, os limites meridionais da importante Herdade de Arraiolos que Dom Sancho I doou aos bispos de Évora. Apresenta janelas de traçado idêntico aos do Paço de D. Manuel (v. PT040705210022). Segundo Raúl Proença é uma pequena jóia da arquitectura civil de transição do séc. 15 para o 16. Segundo Gabriel Pereira, aqui poderão ter decorrido alguns dos episódios da novela Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. |
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Número IPA Antigo: PT040705020024 |
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Registo visualizado 4315 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre
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Descrição
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Planta composta, orientada segundo dois eixos longitudinais, um com o sentido E. - O. e outro N. - S. O corpo que define o primeiro é constituído por um pavilhão de planta quadrangular, com volumes articulados na verticalidade, formando dois pisos; o que define o segundo por um torreão de planta quadrangular, articulado, na horizontalidade e no eixo N. - S., com um pavilhão de planta rectangular pouco alongada, de dois pisos, antecedido de balcão e escadaria que conduzem ao pórtico principal. Com este articula-se, unida com o seu paramento O., pequena ermida de planta rectangular alongada. A fachada principal, com volumes articulados na horizontalidade, é definida pela frontaria S. do corpo orientado segundo eixo N. - S. e pela frontaria S. do corpo orientado E. - O. A fachada oposta, é definida pela articulação horizontal do torreão de três pisos e pelo pavilhão orientado E. - O. As fachadas E. e O. são definidas, pela articulação horizontal do torreão e seu pavilhão adjacente a primeira, a que se encosta ainda a pequena ermida, pelo paramento fundeiro do pavilão orientado E. - O., a segunda, com a qual se articula, esbatido em plano recuado, o balcão de acesso ao pórtico. Acantonado hoje no vértice NE. do conjunto e coberto por telhado de quatro águas, antecede-o um corpo cúbico de altura inferior, com salão térreo e piso de sobrado, que encosta ao corpo manuelino pela empena S.. É na sua fachada que se abre o pórtico nobre do edifício, encostado ao vértice S., de moldura de verga direita, apenas quebrada ao centro em lanceta e ombreiras em forma de colunelos com estreitos bocéis e rematados por capitéis; a escadaria de acesso ao pórtico cobre-se de alpendre com a ilharga meridional solidamente contrafortada e rasgada de dupla arcada de voltas perfeitas em alvenaria, que corresponde aos dois tramos ogivais da abóbada da cobertura, que descansa em quatro poderosas colunas graníticas toscanas, de bases e ábacos rectangulares e capitéis de crochets vegetalistas. Com a empena S. deste edifício, cose-se, como já dissemos, o corpo manuelino, ao qual estendeu a cobertura, também de quatro águas. Tem planta rectangular, com vector axial N. - S. e fachada rasgada por quatro janelões, um de canto no vértice com a empena do topo S.; os dois que ocupam a metade N. são muito similares, diferindo apenas na verga, que é de arco requebrado na primeira e de duplo ajimez na segunda; as ombreiras, de capitéis e bases em mármore branco ornados de crochets fitomórficos e delicados colunelos graníticos, são guardadas por três ordens de colunelos graníticos separadas por bocéis circulares e capitéis marmóreos e continuam-se por pináculos rematados em pinhas; o terceiro janelão, já na metade S., tem verga granítica em duplo ajimez de dupla arquivolta, assente em capitéis e colunas marmóreas, com ornamentação do mesmo ciclo das precedentes; a janela de canto, dois vãos geminados, um a O. e outro a S., com vergas graníticas de dupla arquivolta perfeita, assentes em colunelos e capitéis marmóreos de crochet vegetalista. Na empena S. repetem-se ainda duas janelas do mesmo ciclo. Na empena E. sobressai de novo um cubelo com o aspecto rude de pertencer ao primitivo paço fortificado, cunhais sobriamente reforçados com cantaria granítica, onde se rasgou um janelão com triplo vão de arcos de volta perfeita, emoldurado por arco requebrado e com ombreiras guardadas de colunelos rematados por pináculos, tudo em alvenaria. Adossada à empena N. do torreão, fica a ermida, oratório particular do paço, com orientação axial N. - S.; a entrada exterior faz-se por pórtico granítico de arquivoltas requebradas, com a moldura ornamentada por esferas, que invadem tanto a verga, como a ombreira; tem abóbada de dois tramos ogivais de cantaria granítica, nervurados e rematados por fechos discóides; os tramos interiores são marcados no exterior por quatro torrinhas cobertas de coruchéus. |
Acessos
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EN 370, a c. de 2 Km. antes de Arraiolos, desvio com indicação à mão direita. Depois de passar o monte da herdade, vira-se à esquerda |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136 de 23 junho 1910 |
Enquadramento
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Rural, em planície plena, harmonizado com a paisagem envolvente, isolado, dentro de cerca murada. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 15 / 16 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Arsénio Raposo Cordeiro (séc.20) |
Cronologia
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Séc. 14 / 15 - construção do torreão quadrangular e pavilhão anexo; Séc. 15 / 16 - construção do pavilhão manuelino; 1522 - com a morte de D. Afonso de Portugal, D. Beatriz, sua filha, herda a quinta; 1531 - instituído morgadio por Dona Beatriz, encabeçado por seu irmão Dom Francisco de Portugal, primeiro Conde de Vimioso e bastardo do Bispo de Évora; neste mesmo ano o morgado juntou-lhe, por escambo com o Bispo e Cabido de Évora, a contígua Herdade de Vale de Sobrados que trocou pelas de Pontega e Entre-Águas; 1542 - com a morte de Dom Francisco de Portugal a quinta foi herdada pela sua filha D. Beatriz; séc. 19, último quartel - um dos seus proprietários procede a intensas obras de restauro, o que desfigurou a construção inicial; séc. 20, segunda metade - adquirida por Arsénio Cordeiro; 2000, c. de - aquisição do imóvel pelo actual proprietário. |
Dados Técnicos
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Estrutura autónoma |
Materiais
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Cantaria de granito, alvenaria, mármore e tijolo em elementos secundários |
Bibliografia
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SABUGOSA, Conde, Embrechados, Lisboa, 1921; PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal,I, Lisboa, 1924; PEREIRA, Gabriel, Sempre Noiva in Estudos Diversos, Coimbra, 1934; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal-Distrito de Évora , Lisboa, 1966; HAUPT, Albrecht, A Arquitectura do Renascimento em Portugal, Lisboa, 1986; DIAS, Pedro, Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de sistematização, Mare Liberum, nº 8, Dezembro de 1994. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; F.G. |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, Arquivo Pessoal de Ilídio Alves de Araújo (IAA) |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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Observações
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Até há poucos anos, estava cravada no muro de pedra solta da horta a famosa lápide honorífica a Cornélio Bocco, celebrizado flâmulo lusitano, publicada por André de Resende. Foi recolhida para a residência do antigo proprietário do Solar, Sr. Mira, que recolheu igualmente uma ara romana anepígrafa, que jazia encostada à escadaria de entrada do solar. A remota ocupação do lugar é indiciada por vestígios de construção romana numa vasta extensão e pela ruína de um "torreão" de silharia ciclópica que pertence a um universo com mais uma dezena de tópicos na região de Évora (Pontega e Divor), tidos correntemente como protohistóricos. Quando foi adquirida por escambo pelo Bispo Dom Afonso de Portugal, Bispo de Évora, devia estar já dotada de nobre edificação senhorial, aliás bem evidente na estrutura geral do monumento. Pertencera à família fidalga dos Dragos. |
Autor e Data
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Manuel Branco e Castro Nunes 1993 |
Actualização
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