Palácio Farrobo

IPA.00003030
Portugal, Lisboa, Vila Franca de Xira, Vila Franca de Xira
 
Arquitectura residencial, neoclássica. Palácio rural, de planta rectangular composta por dois corpos laterais avançados e, na fachada principal, por um outro corpo rectangular central flanqueado por torres quadradas, com capela separada, de planta longitudinal composta de nave e capela-mor, exteriormente indiferenciadas, ambos sem cobertura. Fachadas rebocadas e pintadas, de dois pisos separados por friso, com pilastras nos cunhais, embasamento e terminadas em friso e cornija de estuque. Fenestração de ritmo regular, de vãos rectilíneos, formando jogos alternados com janelas de varandim no primeiro piso e de peitoril e sacada, com guarda de ferro, no segundo. Fachada principal com corpo central rasgado com vãos em arco, possuindo dispostas paralelamente duas escadas de tiro, de acesso ao andar nobre e com guardas em ferro forjado. Capela com paramentos interiores decorados em estuque policromo neoclássico, formando apaineladas, tendo na parede fundeira vão de antiga tribuna em arco de volta perfeita, e retábulo-mor neoclássico tipo nicho rasgado na parede testeira. O palácio, com corpos laterais mais avançados na fachada principal do que na posterior, apresenta na primeira a zona central com corpo mais avançado, flanqueado por torres, de três registos, interligadas inicialmente por escadas em caracol, e terminadas em platibanda, correspondendo a um esquema pouco comum nos palácios portugueses. O segundo piso da fachada principal e a platibanda das torres é revestido a azulejo monocromo branco, com friso esponjado azul, formando losango, possivelmente colocados na última década do séc. 19 ou já no início do 20. O palácio dispunha de teatro *4 integrado na ala direita, o que se relaciona com os interesses do Conde do Farrobo, cuja acção mecenática a nível das artes visuais e dramáticas foi notável, dispondo todas as suas propriedades de um teatro privado. A capela, onde se realizava culto semi-privado, dispõe-se isoladamente, interligando-se à fachada posterior do palácio por passadiço superior, fechado, no final do qual se abria tribuna para a nave. A entrada principal rasga-se na fachada lateral esquerda e não no eixo longitudinal, situação pouco comum, devendo-se provavelmente à escassez de espaço, visto que a capela ocupa todo o espaço entre a fachada posterior e o muro. No interior a nave apresenta os ângulos chanfrados, curvos, unificando o espaço; o retábulo-mor com nicho de perfil curvo, delimitado por pilastras de capitel compósito, terminado em tabela rectangular, ladeada por aletas fitomórficas, e frontão curvo, é ladeado por duas portas de acesso à sacristia de molduras côncavas, encimadas por frontão contracurvado volutado, com cornija. Do antigo jardim do palácio ainda se conservam palmeiras, um poço, um tanque e um muro semi-circular para atrelar cavalos.
Número IPA Antigo: PT031114090012
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

PALÁCIO de planta rectangular, composta por dois corpos laterais avançados, ligeiramente na fachada posterior e com maior notoriedade na principal, onde existe ao centro um outro corpo avançado, flanqueado por duas torres quadradas, possuindo capela longitudinal disposta a O., interligada ao palácio por passadiço ao nível superior da fachada posterior. As fachadas, de dois pisos separados por friso de estuque, são rebocadas e pintadas, com pilastras de estuque nos cunhais e apresentando embasamento em cantaria. São rasgadas regularmente por vãos rectilíneos, moldurados a cantaria, e com bandeira, tendo correspondência entre pisos, surgindo no primeiro janelas de varandim com guarda de ferro forjado e no segundo janelas de sacada com guarda igualmente em ferro forjado. Fachada principal voltada a SE., revestida a azulejo industrial branco monocromo, com friso em azul esponjado formando losango. Corpo central com torres de três andares, rematadas por platibanda plena, também revestida a azulejo, a que se adossa de cada um dos lados, paralela ao plano da fachada, escada de acesso ao andar nobre, de dois lanços rectos e com guarda de ferro; o corpo central é rasgado por três vãos em arco de volta perfeita em ambos os pisos, tendo as do segundo sacada corrida com guarda em ferro forjado. A restante fachada principal é rasgada por janelas, com moldura recta, de varandim no primeiro piso e de sacada no segundo. Na fachada lateral esquerda abrem-se no primeiro piso seis janelas de varandim, estando as exteriores entaipadas, e no segundo quatro janelas de sacada e duas de peitoril nos extremos. A fachada lateral direita apresenta uma disposição mais irregular, tendo a nível do piso inferior cinco janelas de varandim, os exteriores entaipados, e no piso superior cinco de peitoril entaipados e uma de sacada. Na fachada posterior os corpos laterais apresentam três portas no piso inferior, correspondendo a janelas de sacada no superior. O pano da fachada é ritmado pela alternância de vãos de peitoril e portas no primeiro piso e janelas de sacada no segundo, sendo a zona central marcado por pilastras; ao centro, abre-se porta ultrapassando o espaço entre as pilastras e, no piso superior, janela de sacada. INTERIOR: em avançado estado de ruína, não dispondo de pavimento, cobertura ou compartimentação interna *2. CAPELA: Planta longitudinal composta de nave única e capela-mor, exteriormente indiferenciadas, formando volume único, com sacristia, mais baixa, adossada em eixo. As fachadas são rebocadas e pintadas, com embasamento em cantaria, pilastras de estuque nos cunhais e rematadas em friso e cornija. A fachada principal voltada a O. é ritmada por pilastras, de estuque, enquadrando a entrada principal, com portal de verga recta, encimado por vão de perfil curvo, com moldura, tendo inferiormente brincos, enquadrando almofada de cantaria rectangular, e encimado por cornija contracurvada. Na fachada E. rasgam-se dois vãos simétricos rectilíneos e porta. A fachada S. é marcada pela volumetria do passadiço de ligação entre a capela e o palácio, formando inferiormente arco abatido. Na fachada posterior a N. articula-se o volume mais baixo da sacristia, no qual se rasgam duas portas paralelas. INTERIOR: com paramentos revelando vestígios de antigo silhar de azulejos*3, encimado por decoração de estuques policromados a branco, bege, rosa e verde, este com marmoreados fingidos. Nave de ângulos curvos, decorados com pilastras de fuste côncavo, integrando ao centro cartela circular com florão. No topo S., a nível do registo superior, abre-se arco de volta perfeita sobre duplas pilastras, de fuste côncavo, correspondente à antiga tribuna dos proprietários. Lateralmente, os paramentos são decorados com apainelados rectangulares e os vãos são sublinhados com molduras. Sobre cornija, o revestimento em estuque é semicircular, adaptando-se ao perfil do antigo tecto ou cobertura. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras. Os paramentos da capela-mor são igualmente decorados com apaineladas de estuques e apresentam o mesmo perfil sobre a cornija. Na parede testeira, dispõe-se o retábulo-mor, também em estuque, definido por quatro colunas sobrepostas, de fuste liso, os interiores decorados com festões, e de capitel compósito, suportando entablamento, com um friso denticulado e um outro de óvulos e dardos, assente em plintos, os interiores com florão; ao centro, abre-se nicho de perfil curvo, moldurado, superiormente envolvido por friso com flores, querubins no fecho e seguintes com flores; actualmente encontra-se entaipado. Ático formado por tabela rectangular horizontal, decorado com almofada côncava, com cartela central circular, inscrita com o monograma AM, envolta por folhas de louro, laçarias e grinaldas, ladeada por aletas fitomórficas; é coroada por frontão curvo com elementos fitomórficos no tímpano. Flanqueiam o retábulo-mor duas portas de verga recta, de acesso á sacristia, com moldura côncava, encimada por falso frontão contracurvado volutado, rematando em cornija, com molduras no tímpano.

Acessos

Lugar do Farrobo, na EN 524 Km e EN 1241.

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Decreto n.º 29/84, DR, 1.ª série, n.º 145 de 25 junho 1984

Enquadramento

Rural, isolado, destacado na linha de cumeeira da colina, permitindo dos pisos superiores voltados a S., um amplo panorama até ao rio Tejo *1. Todo o perímetro do palácio está rodeado por muro em alvenaria, que a NE. e a E. acompanha a EN. e a SE. se encontra parcialmente encoberto por vegetação. No muro, abrem-se três portais de acesso, situando-se o principal a NE., apresentando-se ladeado por pilares de cantaria encimados por pináculos piramidais com bola e portão em ferro forjado. A O. foi adossado recentemente muro de quinta vizinha, que impossibilita o acesso directo ao palácio. No perímetro do palácio existe a O. caminho ladeado de muro baixo, conduzindo à capela, espaço onde se dispõe alguma vegetação exótica, como uma palmeira. A E., fronteiro, à fachada posterior, existe ainda um poço, um tanque rectangular e um muro semicircular, baixo, possivelmente para atrelar os cavalos. A SE., fora do espaço murado desenvolve-se num declive do terreno uma plantação de vinha baixa, com exploração actual.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Em ruína

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Fortunato Lodi (atr., séc. 19); PINTOR: António Manuel da Fonseca (atr., 1853).

Cronologia

1801, 23 Junho - instituição de um morgadio com base na propriedade do Farrobo em Vila Franca de Xira pelo 1º barão de Quintela, Joaquim Pedro Quintela (1748 - 1817), com bens vinculados no valor de 423317$687 rs; séc. 19, meados - construção do palácio pelo 2º barão de Quintela, 1º Conde do Farrobo, Joaquim Pedro Quintela (1801 - 1869), possivelmente com projecto do arquitecto Fortunato Lodi, que entre 1842 - 1843 trabalhou na reconstrução do teatro do Palácio das Laranjeiras do mesmo proprietário; a decoração mural pictórica poderá ser atribuída a António Manuel da Fonseca, pintor protegido pelo Conde do Farrobo e responsável pela decoração pictórica do palácio Quintela-Farrobo na R. do Alecrim (v. PT031106150052) e do palácio das Laranjeiras (v. PT031106390086), ambos em Lisboa; 1853 - segundo inscrição em marco viário, a estrada que ligava o palácio à povoação de Vila Franca de Xira estava construída; 1853 - tela de António Manuel da Fonseca onde se representa o Conde do Farrobo numa cena de caça, surgindo no plano de paisagem a representação do palácio de Vila Franca de Xira; 1856 - notícia de João J. da Silva Amaral indicando que na Quinta do Farrobo se celebrava missa regularmente; 1860 - notícia de uma grande caçada na Quinta do Farrobo por Eduardo de Noronha; 1869 - falecimento de Joaquim Pedro Quintela, 1º conde de Farrobo e 2º barão de Quintela; 1874 - a propriedade é arrematada em hasta pública por 112 contos de réis pelo fidalgo espanhol Conde de Torres Novais; 1890 - novamente vendida em hasta pública por 12 contos de reis; 1893 - segundo Lino de Macedo, estava a ser replantada de bacelo americano pela nova proprietária; 1895 - o Patriarca de Lisboa, D. José Neto abriu no palácio, então propriedade de D. António de Meneses, um pequeno Seminário destinado a albergar seminaristas principiantes; funcionou durante um ano com 40 alunos, sob a direcção de André Serrano, sendo depois transferido para São Vicente de Fora; 1933 - o palácio é vendido ao visconde da Merceana; 1957, 9 Maio - doação do palácio à Caritas Diocesana de Lisboa pelo visconde da Merceana; 1970 - a Caritas apresenta à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira um projecto para a transformação do palácio em colónia de férias para jovens e adultos, a nível nacional e internacional; 1974 / 1975 - o edifício é saqueado, sendo designadamente espoliado dos seus silhares de azulejos, talhas e pinturas; 1980 - transferência da tutela da propriedade para a Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura de alvenaria mista, rebocada e pintada; molduras dos vãos em cantaria de calcário; guardas, corrimão das escadas da fachada principal e portão principal em ferro forjado; revestimento em azulejos industriais na fachada principal; vestígios de caixilharia de madeira; paredes interiores da capela com estuque pintado e relevado.

Bibliografia

SILVA AMARAL, João José Ferreira da, Ofertas históricas relativas à povoação de Vila Franca de Xira, para instrução dos vindouros, (fac-símile da edição de 1856), s.l., s.d.; MACEDO, Lino de, Antiguidades do Moderno Concelho de Vila Franca de Xira, Vila Franca de Xira, 1992 (1ª ed.1893); PROENÇA, Raul, (dir. de), Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924; CÂNCIO, Francisco, Ribatejo, Lisboa, 1933; CÂNCIO, Francisco, O morgado do Farrobo, in Notas de um Ribatejano, volume I, Lisboa, 1956; ZÚQUETE, A. E. Martins, Nobreza de Portugal, Vol. II, Lisboa - Rio de Janeiro, 1960; TALIXA, Jorge, Recuperação do Palácio de Farrobo na Ordem do Dia, Público, Lisboa, 31 Janeiro 1993; LOPES, Flávio, (coord. de), Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa, Lisboa, 1993.

Documentação Gráfica

AMVFX; Caritas Diocesana de Lisboa

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; AMVFX; Caritas Diocesana de Lisboa

Documentação Administrativa

AMVFX; Caritas Diocesana de Lisboa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Originalmente o palácio estava inserido numa propriedade rural de grandes dimensões, dispondo de extensas terras de semeadura, um pomar, uma excelente água que era vendida na vila e uma coutada cercada, onde o Conde do Farrobo criava veados, gamos, coelhos, lebres, perdizes e outras aves. *2 - Através de indicações fornecidas na sequência de um projecto de 1970 para a remodelação do palácio, da responsabilidade da Caritas, sabe-se que o palácio dispunha de pavimentos em vigamento de madeira e a compartimentação interna em tabiques. O palácio apresentava pinturas murais nas paredes e tectos com motivos vegetalistas, dos quais restam parcos vestígios, dispondo-se apenas de registo fotográfico oriundo do dito projecto da Caritas. *3 - A capela dispunha de decoração azulejar, da qual existe testemunho fotográfico através do projecto da Caritas. Os silhares de azulejo representavam elementos arquitectónicos, combinados com motivos florais, grinaldas e jarras de flores, por onde espreitam pássaros, seguindo um esquema neoclássico. *4 - Segundo as fontes bibliográficas o teatro tinha linhas elegantes despretensiosas e bem proporcionadas, com uma plateia reduzida de cinco bancadas em palhinha dourada, dois camarotes ou tribunas e duas discretas frisuras de rótulas; o palco seria de dimensões consideráveis, apetrechado com calhas e alçapões.

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Teresa Vale e Carlos Gomes 1995 / Inês Pais 2005

Actualização

 
 
 
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