Palácio do Marquês de Tancos
| IPA.00003031 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior |
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Arquitectura residencial, maneirista. Palácio de fachada horizontal, linhas sóbrias, com longas fileiras de janelas de vão rectangular, cuja decoração simples se concentra no andar nobre - janelas de sacada coroadas por entablamento, guardas de ferro. Espólio azulejar constituído por painéis de finais do séc. 17 a meados do séc.18, notável pela sua diversidade, qualidade pictórica, iconografia. |
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Número IPA Antigo: PT031106380194 |
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Registo visualizado 5926 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre Casa nobre
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Descrição
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Planta irregular desenvolvida a partir da fachada SO reflectindo a necessidade de adaptação à morfologia do terreno, de contorno irregular e acentuado desnível tanto entre N. e S. como entre E. e O. O edifício tem 5 pisos, com áreas desiguais resultantes da adaptação ao declive. Os pisos 3 e 4 correspondem às zonas de maior superfície; o piso 4 (andar nobre) é o único piso que articula o edifício com o espaço a NE (cota mais alta), ao nível da via pública, definido pelo pátio murado e fachada urbana contígua (a SO é piso 4, a NE é piso 1). As coberturas são diferenciadas, em telhados de 2, 3 e 4 águas, revelando a disposição horizontal dos volumes. A extensa fachada SO. é animada horizontalmente pelas fileiras de janelas de parapeito no 3° piso e de sacada com guardas de ferro no andar nobre (4°); no piso 5 destaca-se uma fiada de janelas cegas que correspondem ainda às salas de pé-direito duplo do piso 4º. Nas extremidades NO e SE duas janelas com varandas de ferro, correspondem a salas do piso 5. Os pisos térreos, a SO, com portas e janelas correspondentes a lojas e oficinas que o ocuparam, são revestidos por cantaria aparelhada. INTERIOR: destaca-se o andar nobre, cuja entrada a NE se faz por amplo átrio rectangular que conduz aos salões virados ao rio, tendo todas estas divisões silhares de azulejo de composição figurativa. A NO as salas têm dimensões mais reduzidas e convergem para uma sala semi-circular - oratório - que abre para o terraço também revestido de azulejo. Dezenas de painéis formando silhares revestem as paredes dos vários pisos do edifício, destacando-se o piso 4 (andar nobre). Na sua maioria são painéis monocromos - azul de cobalto em fundo branco, de padrão, figura avulsa, composição ornamental ou figurativa, ilustrando episódios das "Metamorfoses" de Ovídio, da "Ilíada" de Homero, caçadas, cenas galantes e pastoris. No piso 3 (áreas de serviço) essencialmente azulejos de figura avulsa, padronagem, albarradas. |
Acessos
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Calçada do Marquês de Tancos, nº. 2 - 10; Rua Costa do Castelo, n.º 23 - 27 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06 março 1996 / Parcialmente incluído na Zona de Proteção da Igreja Matriz de São Cristóvão (v. 00006462) |
Enquadramento
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Urbano; integrado no bairro histórico da Mouraria (v. PT031106380144) faz parte do núcleo de São Cristóvão cujo polo é a igreja do mesmo nome (v. PT031106380060). Implantado num terreno de acentuado declive e de forma irregular, inscrito num triângulo, ocupa praticamente um quarteirão, ficando adossado a O. ao Recolhimento de São Cristóvão e a um prédio de habitação com frente para a Calçada do Marquês de Tancos, prédio sobre o qual se estende um amplo terraço correspondente ao andar nobre (piso 4) do palácio. As fachadas NE. e SO., regulares, acompanham o alinhamento da via pública; a entrada principal faz-se a NE., por pátio protegido por extenso muro, destacando-se a SO. a imponente fachada virada para o rio. No espaço fronteiro ergue-se o mercado do Chão do Loureiro (v. PT031106381155). A SE., no vértice do triângulo, ponto onde convergem as ruas Marquês de Tancos e Costa do Castelo, forma-se um recanto calcetado, protegido por gradeamento a SO., espaço público característico dos bairros históricos de Lisboa. |
Descrição Complementar
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AZULEJO (*1): PISO 4- ANDAR NOBRE- SALA Nº 1 (Átrio): Painéis de composição ornamental; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; motivos vegetalistas; enrolamentos de acanto; carrancas; 12 azulejos de altura; finais séc.17. SALA Nº2: 7 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: cenas galantes; cenas pastoris; caça ao veado. Barra: Cartela central; putti; grotescos; enrolamentos vegetalistas; figura masculina com cornucópia de flores; 10 azulejos de altura; início séc.18. SALA Nº 3: 6 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: caçadas ao javali, veado, urso, leão. Barra: enrolamentos vegetalistas; carrancas; leão; putti; cariátides com cesto de flores à cabeça. 12 azulejos de altura; início séc. 18. SALA Nº 4: 5 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: Caçadas ao javali, veado, lobo. Um painel representando caça ao javali assinado Rm. Do Cotto fecit (Raimundo do Couto). Barra: motivos vegetalistas; enrolamentos de acanto. 12 azulejos de altura. Início séc.18. SALA Nº 5: 6 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: mitologia, episódios das Metamorfoses de Ovídio: Vénus e Adónis; Rapto de Europa; Pã e Sirinx; Narciso; Metamorfose de Actéon; Caça ao javali de Calydon. Todos estes painéis foram realizados a partir de gravuras de Jean Lepautre. Barra: Brasão dos Manuéis ao centro; enrolamentos vegetalistas; putti; grotescos. 12 azulejos de altura. Início séc.18; atr. António de OIiveira Bernardes. SALA Nº 6: 4 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: mitologia; Metamorfoses (Ovídio); Ilíada (Homero): Rapto de Proserpina por Plutão; Diana e um fauno; Rapto de Helena; Neptuno e uma ninfa. Painéis realizados a partir de gravuras de Jean Lepautre. Barra: Brasão dos Manuéis ao centro; enrolamentos vegetalistas; carrancas; festões de flores e frutos; figura infantil alada; búzios; grotescos. 12 azulejos de altura. Início séc. 18; atr. António de Oliveira Bernardes. SALA Nº 7: painéis de azulejo de padrão (P-433), 4 x 4 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Cercadura: motivos de rendas (C-46 azul). 8 azulejos de altura. Finais séc.17/Início séc. 18. SALA Nº 8: Painéis de composição ornamental; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: motivos vegetalistas, enrolamentos de acanto, flores, ferroneries. Barra: festões de flores e frutos. 10 azulejos de altura. Finais séc. 17; atr. Gabriel del Barco. SALA Nº 9: Painéis de azulejo de padrão dito de "Camélia", (variante do P-503); 4 x 4 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Barra: motivos ornamentais. 8 azulejos de altura. Finais séc.17. SALA Nº 12: 4 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: cenas campestres, pastoris. Barra: concha central; anjos; enrolamentos vegetalistas; putti com elemento ornamental em forma de coração à cabeça. 10 azulejos de altura. 1º quartel do séc.18. SALA Nº 14: painéis de azulejo de padrão dito "maçaroca"; 4 x 4 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Barra: motivos ornamentais. 8 azulejos de altura. Finais séc. 17/Início séc.18. SALA Nº 15: painéis de azulejo de padrão dito de "búzio" (P-398); 2 x 2 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Cercadura: búzio estilizado (C-90). 6 azulejos de altura. Finais séc.17. SALA Nº 16: 4 painéis de composição figurativa; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: cenas pastoris; campestres. Barra: enrolamentos vegetalistas. 10 azulejos de altura. 1º quartel séc.18. SALA Nº 17 (Oratório): Painéis de composição ornamental; policromia: verde, manganés, amarelo, azul. Motivos ornamentais: flores, folhagem, concheados, aves, grifos, sanefas. 6 azulejos de altura. Início rococó (c. 1750). SALA Nº 18: Painéis de composição ornamental; bicromia: dois tons de azul de cobalto em fundo branco. 6 azulejos de altura. Início rococó (c. 1750). |
Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Residencial: casa / Educativa: escola de ensino especial / Educativa: escola básica |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 16 / 17 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: João Antunes (1697). PEDREIROS: Domingos da Silva (1697); José Carvalho (1697); Manuel Antunes (1697); Manuel Francisco (1697). PINTORES DE AZULEJOS: Gabriel del Barco (atrib.); António de Oliveira Bernardes (atrib.); Raimundo do Couto (assinou um painel). |
Cronologia
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1539 - o palácio, então talvez uma modesta casa nobre, pertencia a D. António de Ataíde, Conde de Castanheira; sua filha D. Joana casou com D. Nuno Manuel, 2º senhor de Atalaia, de Salvaterra e de Tancos; séc. 17, início - aqui residia o 1º Conde de Atalaia, D. Francisco Manuel de Ataíde, o possivel responsável pela transformação da casa quinhentista num palácio; o 6º Conde e 1º de Tancos, D. João Manuel de Noronha, ampliou-o e restaurou-o; 1697, 20 Março - é assinado o contrato da obra entre D. Luís Manoel de Noronha, Conde de Atalaia (meio-irmão do 1º Marquês de Tancos) e os pedreiros Domingos da Silva, Manuel Antunes, José Carvalho, Manuel Francisco e João Antunes (1643-1712) "Arquitecto de Sua Magestade" para a obra do "Asento de Cazas que Elle Conde ten na Costa do Castello de São Jorge" (in, P. Varela Gomes, 1998); 1754 - até esta data, habitou no palácio, D. José Manuel, Cardeal Patriarca de Lisboa; 1839 - o piso térreo é arrendado ao Colégio de Humanidades que aqui fica até 1893; c. 1865 - a família Tancos que ocupa o andar nobre até cerca de 1865, retirou-se do palácio que entrou em regime de inquilinato; c. 1880 - o comerciante Manuel Alves Dias compra-o, já em algum estado de ruína; o seu interior foi adaptado a prédio de rendimento, passando a ser alugado a várias instituições, escolas, fábricas e oficinas, como: Tuna Académica de Lisboa, Associação dos Caixeiros, Academia Musical de Amadores (1903), Escola Primária nº 19 e depois nº 10, Escola Comercial Veiga Beirão (1919 - 1941), Escola Comercial de Patrício Prazeres; as antigas cocheiras foram ocupadas por diversas oficinas; 1925 a 1950 - viveu no palácio o pintor Carlos Botelho que aí cria o Atelier da Costa do Castelo; 1970 / 1987 - associação de moradores ocupa parte do andar nobre e aí instala um clube de haltereofilia; o MRPP ocupa igualmente o edifício nos anos 70; 1980 - a Família Alves Dinis vende o palácio à Câmara Municipal de Lisboa; 1987 - a CML cede os pisos 4 e 5 à Companhia de Dança de Lisboa (CDL); 1992 - a CDL cria um projecto de recuperação da antiga residência e atelier do pintor Carlos Botelho; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Alvenaria, cantaria, ferro, telha, madeira, azulejo |
Bibliografia
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ARAUJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fascículo VII, Lisboa, 1944-1956; ANDRADE, Ferreira de, A Freguesia de S. Cristóvão, Vol. I, Lisboa, 1944; SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo 11, Coimbra, 1953; MECO, José, Há que preservar os Azulejos do Palácio do Marquês de Tancos, in, História, Março, 1981; SIMÕES, J.M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Século XVIII, Lisboa, 1979; GONÇALVES, António Manuel, Palácio do Marquês de Tancos, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; GOMES, Paulo Varela, Obra crespa e relevante. Os interiores das igrejas lisboetas na segunda metade do século XVII - alguns problemas, in SOBRAL, Luís de Moura (dir.), Bento Coelho 1620-1708 e a Cultura do seu Tempo, IPPAR, Lisboa, 1998; CORREIA, Ana Paula Rebelo, Palácios, Azulejos e Metamorfoses, in Revista Oceanos, nº 36-37, Outubro 1998-Março 1999. |
Documentação Gráfica
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CML: Processo de Obras nº 33983; ESBAHL |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH; CML: Arquivo de Obras: processo nº 33983 |
Intervenção Realizada
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1987- Companhia de Dança de Lisboa (CDL): limpeza e conservação dos pisos 4 e 5; 1992- CML - Gabinete da Mouraria: portas e janelas novas nos pisos 4 e 5; 1994 - CML - Gabinete da Mouraria: Recuperação do exterior (fachada rebocada e pintada); 2001 - Recuperação do piso do antigo Jardim de Inverno. |
Observações
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*1 - Silhares de azulejo degradados, faltam azulejos em vários painéis; muitos azulejos foram substituídos por azulejos desemparelhados. Os tectos das salas do piso nobre que hoje são em estuque e tabique foram muito provavelmente de madeira, apainelados, como os das salas do piso 5. As portas, actualmente pintadas de castanho, têm por baixo a pintura original, de flores e passarinhos, documentada em video de 1987 na posse do Eng. José Manuel Oliveira, director da Companhia de Dança de Lisboa. O tecto da sala Nº 18 revela, por baixo da actual tinta branca, vestígios de pintura mural com motivos vegetalistas em tons de dourado. |
Autor e Data
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João Silva 1992 / Paula Correia 2001 |
Actualização
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