Edifício na Rua da Trindade, n.º 26 a 34 / Casa do Ferreira das Tabuletas
| IPA.00003190 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior |
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Edifício residencial multifamiliar e comercial pombalino de planta rectangular, cobertura diferenciada em telhados de duas águas, de quatro registos e quatro pisos. Fachada principal revestida a azulejo figurativo, com primeiro registo e elementos definidores em cantaria, de três panos, com o central sobrelevado e rematado por frontão. Os enriquecimentos ao modelo pombalino, comuns a outros prédios da época, passam pela introdução da balaustrada corrida e ondulada do terceiro registo, gerando uma marcação de andar nobre e a substituição das águas furtados por um corpo central sobrelevado coroado por frontão. O azulejo figurativo pintado pelo "Ferreira das Tabuletas" insere-se dentro da aproximação romântico ao gosto popular e ao pitoresco. Interior dentro da tipologia pombalina, com acesso para átrio delimitado por átrio, a partir do qual se chega á escadaria central, iluminada por clarabóia, que interliga todos os pisos. Trata-se de uma das mais carismáticas fachadas lisboetas, destacando-se pela cenografia e cromatismo conseguido pela pintura de Luís Ferreira, o "Ferreira das Tabuletas", num diálogo entre arquitectura, pintura, e um vocabulário ligado aos ideais maçónicos, com a apologia das figuras da Terra, Água, Comércio, Indústrica, Ciência e Agricultura, e a introdução do motivo das cabeças de leão, símbolo heráldico de Moreira Garcia. Trata-se de uma exaltação do gosto popular, numa aproximação ao movimento do arts and crafts, tão caro ao espírito romântico, extremamente bem conseguida. O prédio foi construído num dos lotes de terreno definidos pela expropriação dos terrenos do antigo convento da Trindade, pelo mesmo proprietário - o capitalista Moreira Garcia - que comprou e construí os prédios com os números 16 e 20 da Rua Nova da Trindade, onde a decoração foi também realizada pelo Ferreira das Tabuletas, exaltando os valores da maçonaria dos quais Moreira Garcia era adepto convicto, com a particularidade de aqui a decoração se concentrar na fachada principal. A representação das figuras alegóricas apresenta paralelos precisamente com as figuras que decoravam o jardim do número 16 da Rua Nova da Trindade (v. PT031106270945) e da Cervejaria Trindade (v. PT031106270793). |
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Número IPA Antigo: PT031106270104 |
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Registo visualizado 4032 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial multifamiliar Edifício Edifício residencial e comercial
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Descrição
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Planta irregular, sensivelmente quadrangular, com cobertura por telhados de duas águas, rasgado por clarabóia rectangular. Fachada principal voltada a S., organizada em três panos divididos por pilastras em cantaria, revestidos a azulejo figurativo. Fenestração a ritmo regular, com molduras de cantaria maioritariamente de perfil rectilíneo recortado, intercaladas com representações alegóricas inscritas em falsos nichos arquitectónicos pintados em trompe l'oeil. Pano central dividido em quatro registos e rematado por frontão emoldurado a cantaria e revestido azulejo. O primeiro, revestido a cantaria, rasga-se portal principal de perfil abatido com ornamento em eixo, simulando brasão, com estrela de oito pontas ao centro, ladeado por dois leões afrontados. O portal é ladeado por duas portas de perfil recto sobrepujadas por sobrelojas de perfil abatido. No segundo registo, três janelas de peitoril com bandeira, e prolongamento do lintel da moldura simulando consola. O terceiro registo com três janelas de sacada guarnecidas por sacada contínua, de perfil recurvo, de cantaria com guarda em ferro forjado e suportada por seis modilhões. O quarto registo, rasgado por quatro janelas de sacada servidas por varanda contínua de perfil recto, de cantaria e guarda em ferro forjado, complementado por arcos plenos de sustentação em ferro forjado. Os panos exteriores, simétricos, organizam-se em três registos, sendo rematados por platibanda revestida a azulejo, e ladeados por pilastras, recebendo a exterior urna em cerâmica esmaltada. Ao nível do primeiro registo, revestido a cantaria, abre-se janela de peitoril de perfil recto, sobrepujada por sobreloja de perfil abatido. No segundo registo janela de peitoril e no terceiro janela de varandim em ferro forjado. INTERIOR: de quatro pisos, com acesso pela porta central para átrio de planta rectangular, com pavimento em mármore branco e negro formando losangos, e tecto com moldura polilobada em estuque, com decoração pictórica representando as armas de Moreira Garcia, com estrela de seis pontas ao centro, rematada por coroa e ladeada por leões afrontados. O átrio é delimitado por dois degraus de cantaria, sob arco ligeiramente abatido com marcação de fecho decorada por esgrafitado, lançado sobre pilastras dóricas com fuste com esgrafitados, e ladeando o topo do arco ornamento vegetalista em estuque. À direita porta de volta-perfeita, com marcação de fecho, lançada sobre pilastras dóricas, de ferro ornado com leão e na bandeira inscrita a data de 1865. Á esquerda arranque da caixa de escadas, de perfil ovalado, iluminada por clarabóia, com patamares rectos, degraus de cantaria até ao primeiro patamar e de madeira nos seguintes, guarda em ferro forjado e corrimão em madeira. No primeiro piso estão instalados o Bar Carioca da Trindade e o florista Atmosphere e no segundo o instituto de beleza Pablo's Chiado. |
Acessos
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Rua da Trindade, n.º 26 a 34 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 / Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811) e na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128) |
Enquadramento
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Urbano, flanqueado, na vertente N. da Rua da Trindade. Destacado pela sua implantação no topo de zona de declive moderado, e pelo recuo da frente de lotes, formando alargamento de passeio, á maneira de pequeno largo, com continuidade para o Largo Rafael Bordalo Pinheiro. Fachadas laterais e posterior voltadas para pátio, saguão e jardim de prédios vizinhos na Rua da Trindade e Rua Nova da Trindade. Nas proximidade do Teatro da Trindade (v. PT031106270520), e do Teatro Ginásio (v. PTPT031106270140). |
Descrição Complementar
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AZULEJO: a estrutura arquitectónica actua como suporte da pintura do azulejo que cria efeitos de profundidade, e riqueza cromática e lumínica, num esquema cenográfico onde a ideologia maçónica do proprietário casa com a pintura popular de Luís Ferreira, o "Ferreira das Tabuletas". Numa paleta cromática de brancos, amarelos e laranjas, enquadrados por frisos contrastantes azul-violeta. Ladeando o eixo central de vãos figuras alegóricas, sob pódios, inscritas em nichos pintados em trompe 'oeil, de volta plena. No segundo registo a representação da Terra, como figura feminina com coroa de flores, globo aos pés, maçarocas e frutos nas mãos; e a representação da Água, como figura feminina com tritão numa mão, e na outra segurando um cântaro de onde jorra água e um golfinho. No terceiro registo a representação do Comércio, como Hermes, com as sandálias e capacete alados e o caduceu na mão; e da Indústria, como figura feminina com bastão culminado em mão onde no centro se representa o olho da providência. No quarto registo a figura da Ciência, representada como Marte; e a figura da Agricultura, com cornucópia na mão. Ladeando os restantes vãos, medalhão circular com cabeça de leão, enquadrado por enrolamentos de acantos, e no topo estrela de seis pontas. Sob as janelas de peitoril enrolamentos de acantos, encimados por arranjo de flores e frutos. Na platibanda medalhão circular com busto no centro, com leões tenentes afrontados e enrolamentos de acantos. No frontão medalhão circular com estrela de oito pontas, centralizada por delta, onde se inscreve o olho da providência, ladeado por cornucópias da abundância e enrolamentos de acantos e frutos. |
Utilização Inicial
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Residencial: edifício residencial e comercial |
Utilização Actual
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Residencial: edifício residencial e comercial |
Propriedade
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Privada: pessoa colectiva |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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PINTOR DE AZULEJO: Luís António Ferreira, o "Ferreira das Tabuletas. RESTAURO DE AZULEJO: Manuel Marques Antunes, Lda. (1980). |
Cronologia
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1289 - 1325 - período de edificação do convento da Santíssima Trindade, com protecção da Rainha Santa Isabel ocupando a área compreendida entre a Rua Nova da Trindade, o Largo Trindade Coelho, a Rua da Misericórdia, o Largo da Trindade e a Rua de Oliveira ao Carmo; 1755, 1 Novembro - o terramoto e o incêndio subsequente destroem praticamente por completo o Convento da Trindade; 1834, 10 Fevereiro - o Convento da Trindade foi suprimido por Portaria e entregue à Perfeitura da Província da Estremadura; 1834, 4 Julho - o Tribunal do Tesouro Público manda tomar posse de tonos os bens dos Trinos; 1834 - Venda em hasta pública dos terrenos onde se encontrava o extinto Convento da Trindade, após loteamento do mesmo; 1835 - os lotes de terreno foram comprados por Joaquim Ferreira Bastos, Manuel Alves Martins, Joaquim Peres e Valentim José Lopes; 1836 - os terrenos de Joaquim Peres foram primeiro arrendados e depois comprados por Manuel Garcia Moreira; 1864 - provável data de construção e revestimento da fachada pelo proprietário Manuel Moreira Garcia, capitalista galego de fortes convicções maçónicas; 1956, 27 Outubro - incêndio na restaurante o Carioca da Trindade; 1973 - em informação á Câmara Municipal de Lisboa chama-se a atenção para o mau estado dos azulejos da fachada principal; 1980, 15 Fevereiro - embargo a obra de beneficiação por se estar a realizar apeamento de azulejos; 1980, 25 Fevereiro - o proprietário informa á CMLisboa que os azulejos apeados estavam a ser restaurados pela firma Manuel Marques Antunes, Lda.; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção. |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista revestida a azulejo decorativo; embasamento, revestimento do primeiro piso, molduras de vãos, frisos, cornijas, pilastras, modilhões e balcões em cantaria de calcário; guardas de sacadas em ferro forjado; cerâmica esmaltada em urnas sob as pilastras da fachada principal; estuque no átrio; mármore do pavimento do átrio e degraus até primeiro patamar; madeira nos degraus e corrimão interior. |
Bibliografia
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ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. 12, Lisboa, 1939; ALMEIDA, D. Fernando de, (coord. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa - Tomo II, Lisboa, 1975; MECO, José, Azulejos de Lisboa, Lisboa, 1984; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1985; CALADO, Rafael Salinas, Azulejo, Lisboa, 1986; MECO, José, O Azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; VALDEMAR, António, Chiado, o Peso da Memória, Lisboa, 1989; VELOSO, A. J. Barros, ALMASQUÉ, Isabel, Azulejaria de Exterior em Portugal, Lisboa, s.d.; SAPORITI, Teresa, Azulejaria de Luis Ferreira, o "Ferreira das Tabuletas", Lisboa, 1993; SILVA, Raquel Henriques da, Lisboa Romântica: Urbanismo e Arquitectura, 1777-1874, Lisboa, 1977, texto policopiado, dissertação de doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1997. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo Fotográfico |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo de Obras, Pº Nº 16179 |
Intervenção Realizada
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1932 - obras de manutenção geral 1938 - substituição do soalho, reparação de canos de esgoto; 1940 - obras de conservação; 1942, Julho - reformas no telhado; 1945, Outubro - limpezas interiores no estabelecimento n nº28; 1947, Abril - reparação do telhado; 1949 - obras de manutenção geral; 1951, Novembro - reparação do telhado e clarabóia, pequenas reparações interiores; 1955, Dezembro - obras interiores, pinturas exteriores e limpeza de montras e vitrinas no primeiro piso do nº 28; 1956 - limpezas interiores e pinturas no restaurante o Carioca da Trindade; 1958 - construção de lavabos no restaurante o Carioca da Trindade; 1959 - reparação do telhado; 1962, Agosto - substituição de alguns azulejos interiores no restaurante o Carioca da Trindade; 1967, Maio - obras de simples conservação e limpeza; 1968, Fevereiro - obras de simples conservação no 1º esquerdo; 1979 - obras de limpeza e beneficiação, substituição da telha portuguesa da cobertura por telha lusa; 1980/1982 - apeamento de azulejos da fachada principal, restauro e recolocação; 1990 - obras de estabilidade no exterior e interior do edifício; 1991 - construção de uma galeria para lá do arco no 1º piso do n.º 28. |
Observações
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Autor e Data
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Teresa Vale e Carlos Gomes 1993 / Inês Pais 2006 |
Actualização
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