Quinta da Mitra

IPA.00032190
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal
 
Arquitectura residencial barroca: quinta de recreio e produção, setecentista; organizada em traçado ortogonal, vincado pelos percursos, muros, alinhamentos de árvores, distribuição dos canteiros ajardinados e pomares, formando um reticulado distinto de toda a envolvente; encontra-se um eixo de simetria na distribuição dos elementos construídos, pombais e tanques de pedra; a quinta apresenta ornamentação de azulejos em alguns muros, pombais e nos tanques. Como quinta de recreio ordenada por alto dignitário da Igreja, apresenta austeridade em oposição a outras quintas ordenadas à época, onde a função enquanto cenário para festas galantes ainda transparece.
Número IPA Antigo: PT031107140202
 
Registo visualizado 2450 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Paço eclesiástico  

Descrição

A Quinta da Mitra ocupa a área SE. do conjunto Monumental de Santo Antão do Tojal (PT031107140006) e compreende: jardim formal que se desenvolve em relação funcional e visual com o palácio num único plano ou parterre de forma rectangular, sem variação aparente de cotas altimétricas e delimitado por muro em todo o seu perímetro exterior; área de exploração agrícola a E. e S. do jardim, e instalações da instituição Casa do Gaiato a S. do Jardim, que comunicam directamente com este e com a área agrícola da propriedade. A quinta é atravessada na área de exploração agrícola por uma linha de água afluente da Ribeira de Fanhões, à qual se junta no Esteiro da Princesa. A cota mais elevada é de 16,2m, a E. do palácio, e a cota mais baixa é de 5,1m e verifica-se na área agrícola. O JARDIM, apresenta estrutura em malha ortogonal, sendo marcante a presença de dois percursos paralelos que o atravessam desde os dois principais pontos de acesso, a fachada E. do palácio e o portão da quinta, até ao limite da propriedade a E.. Estes dois percursos são cruzados perpendicularmente por outros três, paralelos à fachada E. do palácio. O primeiro, que é contíguo à fachada e o intermédio, apresentam continuidade até aos limites de propriedade N. e S. da Quinta. Em cada um dos dois eixos da malha ortogonal evidencia-se, por razões distintas, um dos percursos. No caso dos percursos de acesso verifica-se a existência de um ACESSO PRINCIPAL ao jardim e à quinta que se processa através do portão da rua Padre Adriano, formalizando a grande axialidade da composição, quer por possuir maior extensão do que o que lhe é paralelo a N., e que parte do palácio, quer por apresentar no seu limite E. e no seu eixo geométrico, um pombal que é visível desde que se transpõe o portão, quer ainda pela formalidade e simetria dos espaços plantados que o ladeiam, formalizando uma alameda de acesso e distribuição aos restantes percursos internos. O pavimento é em calçada grossa de calcário. No eixo perpendicular a este acesso principal, destaca-se o PERCURSO PARALELO À FACHADA E. DO PALÁCIO dos Arcebispos, que se estende para S., às instalações da Casa do Gaiato. Este percurso, com pavimento em calçada de calcário miúdo e drenagem lateral em valeta, é delimitado por muretes ornamentados por painéis de azulejos figurando albarradas, desde o palácio, onde se inicia com um painel de azulejo alusivo à primavera no muro de topo, até entroncar com o percurso de acesso principal à quinta. A ortogonalidade da composição e o pavimento em calçada, é repetido nos percursos para N., e para E., formando canteiros rectangulares. A composição formal do jardim apresenta simetria em relação a um eixo que não é estruturalmente delimitado, nem se relaciona com algum aspecto particular do edificado, essa simetria verifica-se pela duplicação do pombal a N., mas aqui em posição lateral ao percurso, e pela presença de dois tanques idênticos, a meio caminho dos dois percursos que acedem aos pombais (*2). O reticulado dos percursos forma canteiros onde domina a presença de árvores, criando diversas áreas plantadas. A área próxima ao palácio é dominada por pomar de citrinos (laranjeiras, limoeiros, tangerineiras). O pomar de citrinos a SE. da fachada do palácio, apresenta no seu limite E., marginando-o, um troço de regadeira em pedra, cuja função era a condução da água para rega (*3). Na transição entre o palácio e as instalações da Casa do gaiato, o pomar é composto por diversas árvores de fruto como macieiras, damasqueiros e nespereiras. O acesso principal é ladeado por palmeiras (Washingtonia filifera), e castanheiros da Índia, subsistindo delimitação parcial do canteiro por buxo aparado em ambos os lados do acesso. Assume, também, funções de alameda o percurso paralelo ao acesso principal que a N. desse se desenvolve desde a fachada do palácio até ao segundo pombal a E. da propriedade, contudo as árvores ornamentais que ladeiam este percurso não apresentam uma métrica de plantação ou composição que dê especial relevo a esta alameda no contexto do jardim. As árvores presentes são, maioritariamente, grevileas (Grevillea robusta), choupos (Populus canescens) e tipuanas (Tipuana tipu). A área central do jardim, entre o pomar de citrinos e os pombais, é ocupada por um campo de jogos em terra batida, sendo a delimitação deste densamente plantada por árvores de sombra das espécies anteriormente referidas e ainda pimenteiras (Schinus molle), acácias (Acácia dealbata) e castanheiros da Índia (Aesculus hippocastanum). No topo E. do campo de jogos situa-se um pavilhão desportivo. Lateralmente ao campo de jogos, para N. e para S., e desde os tanques até aos pombais, existem dois amplos canteiros rectangulares, sem plantações definidas, configurando um prado natural, que assumem importância no reforço visual da simetria existente no jardim. Os POMBAIS de planta circular e idênticos entre si, localizam-se no limite E. do jardim, junto ao muro da propriedade. São decorados com azulejos policromos (azul, amarelo) que contornam a cornija, a porta e a janela com composições ornamentais de volutas e elementos vegetalistas, grinaldas de flores e folhagens, pendentes e medalhões com bustos. Os TANQUES situam-se sensivelmente a meio do percurso de acesso principal e do que lhe fica paralelo a N., têm perfil quadrangular e recorte em curva e contracurva, o tanque N. é decorado na parede exterior com azulejos figurando elementos vegetalistas, no tanque S. a parede exterior encontra-se adulterada com reboco (*4). A ÁREA AGRÍCOLA exterior ao muro do Jardim ocupa as cotas mais baixas da propriedade, sendo maioritariamente ocupada por pastagens naturais e olival; é atravessada por uma linha de água conduzida em vala, afluente da Ribeira de Fanhões. As INSTALAÇÕES DA CASA DO GAIATO ocupam o quadrante SO. da propriedade, compõem-se por diversos edifícios isolados cuja implantação mantém a ortogonalidade proveniente do jardim, nomeadamente os eixos marcados pelos percursos que se originam neste. No interior dos quarteirões formados pelos edifícios, existem canteiros ajardinados com árvores ornamentais idênticas às que se encontram no jardim. As edificações mais recentes foram efectuadas sobre terrenos anteriormente integrantes da área agrícola onde se realizavam culturas arvenses de sequeiro.

Acessos

Rua Padre Adriano, com acesso pelo entroncamento do Largo Francisco Maria Borges com a Rua 25 de Abril e Rua Padre Américo

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 740-AH/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012 *1

Enquadramento

Urbano / rural, implanta-se em área aplanada na proximidade da várzea de Loures que se situa a S. da quinta. A quinta integra o PALÁCIO DA MITRA (PT031107140006) a NO., confronta com a Quinta da Ribeirinha e terrenos agrícolas a N., com área urbana a E., com terrenos agrícolas e cemitério da freguesia a S. e com a Rua Padre Adriano a O..

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Assistencial: centro de acolhimento juvenil

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Canevari (1728-1732)

Cronologia

1728-1732 - D. Tomás de Almeida, patriarca de Lisboa manda executar grandes obras no palácio e envolvente, para as quais é contratado o arquitecto António Canevari. Entre essas obras é efectuada a remodelação parcial da cerca (traça-se novo plano para o jardim com duas alamedas; construção de tanques, lagos e pombais; estes, os bancos e muretes são decorados com azulejos; plantação de novas árvores ornamentais e flores) (PEREIRA, 1991); 1737 - ampliação da cerca e obras no jardim (Memórias Paroquiais, 1760); 1940, 26 setembro - publicação de Decreto nº 30 762, no DG, 1.ª série, n.º 225, determinando a classificação do Conjunto como Imóvel de Interesse Público; 01 novembro - publicação do Decreto nº 30 838, DG, 1.ª série, n.º 254, suspendendo o decreto n.º 30 762, de 26 de setembro do mesmo ano, relativamente à classificação de imóveis de propriedade particular; 1943, 18 agosto - classificação do edifício como Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 32 973, DG n.º 175; 2008, 01 outubro - proposta da ampliação da categoria de classificação do edifício e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção pela DRCLVTejo; 12 novembro - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR; 2009, 21 dezembro - Homologação da Zona Especial de Proteção do Palácio da Mitra pela Ministra da Cultura, a aguardar publicação no Diário da Republica.

Dados Técnicos

As estruturas ligadas à condução e armazenamento da água para as funções ornamentais e de rega encontram-se muito adulteradas, dificultando a leitura do percurso que a água primordialmente efectuaria. Alguns elementos presentes estão desactivados, caso da regadeira e tanque N.. O percurso que se pode estabelecer com base na carta de Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica (1950-1951) indica relação entre o poço junto ao chafariz monumental como fonte de recolha ou captação de água, distribuição por caleira, eventualmente, no topo do muro paralelo à fachada N. do palácio, até ao tanque N., onde se observa o ponto de aducção à regadeira de pedra que delimita a E. o primeiro canteiro fronteiro ao palácio e aducção ao tanque N. onde se observa o ponto de entrada de água no vértice mais próximo ao muro; actualmente a rega é efectuada por captação em subsolo e distribuída por diversas bocas de rega distribuídas pelos canteiros e pomar, mediante recurso a mangueira.

Materiais

Materiais:Pavimentos de calçada em calcário e terra batida; Material vegetal: Árvores - laranjeiras, limoeiros, tangerineiras, macieira, alperceiro, nespereira, palmeira (Washingtonia filifera), grevilea (Grevillea robusta), choupo (Populus canescens), tipuana (Tipuana tipu), pimenteira (Schinus molle), acácia (Acácia dealbata), castanheiro da Índia (Aesculus hippocastanum). Herbáceas - prado natural.

Bibliografia

Documentação Gráfica

CMLoures: arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território

Documentação Fotográfica

CMLoures: arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território

Documentação Administrativa

CMLoures: arquivo Divisão de Planeamento Municipal e Ordenamento do Território

Intervenção Realizada

Patriacado de Lisboa: 1728-1732 – Grandes obras no palácio e remodelação parcial da cerca,(PEREIRA, 1991); Patriacado de Lisboa: 1737 – ampliação da cerca e obras no jardim (Memórias Paroquiais, 1760).

Observações

*1- DOF: a antiga designação oficial de Palácio da Mitra, em Santo Antão do Tojal, com os seguintes anexos: "a antiga igreja, o chafariz monumental, o aqueduto, o pombal existente na quinta do Palácio, com os seus azulejos decorativos, e o portão que dá entrada directa à quinta e se encontra à direita e um poço distanciado da igreja", passando a "Palácio da Mitra, aqueduto, pombais, chafarizes, igreja, monumental portão de entrada e toda a área murada da antiga quinta".. *2 - A determinação cartográfica do eixo de simetria dos elementos descritos permite observar que a projecção deste, no conjunto edificado do palácio, se faz sobre o corpo S., em continuidade com o portão lateral S. à Igreja, que hoje deita para um pátio fechado por edifícios. As pesquisas efectuadas em cartografia e textos não permitiram averiguar se este portão existia à época de edificação do jardim. *3 – A regadeira encontra-se delimitada no Cadastro Geométrico da Propriedade Rústica do Instituto Geográfico Português (dados de 1950-1951), apresentando continuidade para N., para lá do muro que delimita o jardim, tendo como fonte de alimentação de água um poço junto ao muro lateral ao chafariz monumental, numa parcela murada da propriedade destinada a horta, onde actualmente há um laranjal. Por observação do tanque N. foi possível detectar que a aducção de água se efectuava pelo vértice NE, em situação de proximidade ao muro da propriedade que na planta cadastral anteriormente referida é representado com regadeira. Pode alvitrar-se a hipótese do percurso da água se processar desde o Chafariz Monumental, até ao poço, daí ser conduzida por caleira no coroamento do muro e, por gravidade abastecer o tanque N., sendo posteriormente usada na rega do pomar e horta. *4 – No tanque S. as paredes exteriores encontram-se revestidas a reboco, não sendo visíveis os azulejos, no entanto, não é possível afirmar com base na observação efectuada, se os mesmos foram retirados ou se permanecem por baixo do reboco.

Autor e Data

Madalena Neves (Câmara Municipal de Loures) 2011 (no âmbito da parceria IHRU / CMLoures)

Actualização

 
 
 
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