Capela de Nossa Senhora da Orada

IPA.00003498
Portugal, Viana do Castelo, Melgaço, União das freguesias de Vila e Roussas
 
Capela de construção medieval, da segunda fase do românico do Alto Minho, de fábrica muito cuidada e custosa em relação ao local de implantação, ainda hoje isolada, revelando assim grande devoção. Apresenta planta retangular composta por nave e capela-mor, interiormente pouco iluminado e coberturas em teto na nave e abóbada na capela-mor. Apresenta fachada principal terminada em empena com portal de arco apontado, sem tímpano, de três arquivoltas, sobre colunas assente em bastante altas, com capitéis de folhagem e sem volutas, de tamanho reduzido. A modinatura e organização das arquivoltas e o pé-direito, bem como os temas que as decoram, quase heráldicos, devem ser consideradas já como protogótico, embora nele se possam ver ainda aves afrontadas, um friso enxaquetado e as malgas, típicas do portal lateral de Paderne, com quem tem muitas afinidades. As fachadas laterais rematam em cornija sobre cachorros, decorados com temas tradicionais e populares, como o nó de Salomão, suástica flamejante, roseta, etc. e outros mais modernos, como cabeças - rei coroado -, objetos e geometrizados, de escultura bastante cuidada. Na fachada norte rasga-se portal de arco apontado com tímpano decorado com a árvore da vida, constituindo uma composição escultórica única em Portugal, de grande carácter simbólico.
Número IPA Antigo: PT011603180002
 
Registo visualizado 4501 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta retangular composta por uma nave e capela-mor quadrada. Volumes articulados com cobertura de telha a duas águas, rematadas em beirada simples. Fachada principal orientada, contrafortes frontais e laterais e terminada em empena, coroada por cruz foliculada sobre dorso de carneiro. Portal de três arquivoltas com enxaquetados, motivos vegetalistas, molduras e besantes, sobre imposta corrida e esculpida assente em colunas com capitéis vegetalistas. Encima-o cornija sobre cachorrada e fresta com colunelos, capitéis lisos, arquivolta e frisos envolventes de motivos vegetalistas e geométricos. Fachadas laterais corridas por friso e vários modilhões de apoio a dependências, fresta central, cornija sobre cachorros esculpidos e portal lateral; o do N. de arco de volta perfeita, e nós de Salomão gravados nas aduelas, sobre impostas zoomórficas; tímpano com árvore da vida ladeado por harpia e outro animal. Ábside com cornija besantada sobre cachorros esculpidos e fresta na parede testeira, abrindo para fora em arco quebrado. Interior com cobertura de madeira; de ambos os lados corre soco; arco cruzeiro quebrado, de duas arquivoltas: a exterior com friso esculpido sobre imposta e a interior sobre colunas com capitéis quadrangulares; ladeia-o dois nichos estreitos de arco quebrado e encima-o fresta. Na parede da Epístola inscrição. Capela-mor com pavimento mais alto, fresta da parede testeira abrindo também para o interior e dois nichos laterais, de arco quebrado.

Acessos

Vila, EN. 301, Lugar da Orada.

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910

Enquadramento

Rural. Ergue-se com átrio sobranceiro à estrada para São Gregório, com excelente panorama sobre Melgaço tendo terrenos envolventes cultivados e com algumas casas de habitação.

Descrição Complementar

Na fachada principal, ladeando o portal, do lado direito, surge inscrição "Prior monachorum de fenalibus istam ecclesian fundavit". No interior da igreja, junto da porta lateral S. surge a inscrição em algarismos romanos E MCC 9 XXX III; estes algarismos romanos - 1283 - correspondem ao ano de 1245.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 (conjetural) / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Baltazar de Castro (séc. 20).

Cronologia

1166 - Doação do senhorio de Orada ao mosteiro de Fiães pela Condessa Froila; 1170 - integrava-se no couto que D. Afonso Henriques outorgou ao mesmo mosteiro; por se encontrar em ruínas, D. Afonso Henriques manda-o reedificar, segundo escritura de doação feita por D. Sancho I em 11 Setembro 1204; 1189 - D. Sancho I deu aos frades de Fiães os quatro casais e meio de Figueiredo pela remissão dos seus pecados e pela herdade de Santa Maria da Orada que seu pai D. Afonso, lhes deu; 1211 - D. Afonso II teve algumas questões com as Infantas suas irmãs por causa dos bens que D. Sancho I lhes legou; 1218 - o senhorio da capela e seus bens estavam em dívida, e durante o século Portugal manteve pleitos mais ou menos declarados com Espanha por causa dela; 1220 - documento refere a capela como eremitério; 1245 - data inscrita junto ao arco triunfal assinalando a reconstrução da igreja, provavelmente substituindo a primitiva, possivelmente um eremitério dos frades de Fiães; a capela era administrada pelo Convento de Fiães; 1258 - Inquirições referem que foi usurpada ao património real e dado a um convento, sem o vigário da terra ter escrito no rol o consagrado - "Perdit Dominus Rex illud" - perdendo-o assim o rei; 1303, 5 Maio - Lourenço Gonçalves Raposo, morador na Bouça, doa trinta soldos à ermida de Santa Maria de Orada pela leira que tinha e fazia "Corredoira" de Orada, mandando que a sua geração dê anualmente à ermida os trinta soldos; posteriormente os frades deixaram de ali ter o seu eremitério, levando as chaves da capela para Fiães, passando assim a estar fechada grande parte do tempo; 1567 - construção do cruzeiro com imagem de Cristo crucificado em frente da capela da Orada, durante um período da peste, como agradecimento por Melgaço ter sido poupada ou a pedir por aqueles que morreram; 1652, 13 Fevereiro - testamento de Catarina Rodrigues, da freguesia de São João de Sá, termo de Valadares, recomendando uma Avé Maria do Rosário de Nossa Senhora da Orada à imagem da capela; 1691 - data inscrita numa pedra lavrada posta a descoberto nas obras de restauro dos anos 40; séc. 17 / 18 - substituição do antigo arco cruzeiro, feitura do púlpito, coro e outros melhoramentos; 1737 / 1738 - Marta Rilva foi a Fiães levar uma carta e pedir licença aos frades para se recolher na Orada a procissão e pedir-lhe a chave da grade, como era costume, e para trazer o Senhor caído; 1758, 24 Maio - segundo o padre Bento Lourenço de Nogueiraa nas Memórias Paroquiais, a capela de Nossa Senhora da Orada tinha sido fundação dos Templários, pertencia aos monges de São Bernardo do Mosteiro de Fiães e ficava junto à estrada que ia para a raia seca, que dividia Portugal da Galiza; 1834, até - pertencia ao mosteiro de Fiães, altura em que devido à extinção das ordens religiosas, foi entregue às autoridades concelhias; 1888, 1 Janeiro - D. Albina Olímpia de Sousa e Castro, sendo então fabriqueira da capela, oferece um campo na zona da capela, para criar um terreiro frontal à mesma; 1898, 15 Fevereiro - aquando da abertura da estrada nacional de Melgaço para São Gregório, a Junta de Freguesia deliberou colocar o Cruzeiro da Orada no centro do pequeno recinto, à margem da estrada, na confluência das freguesias de Santa Maria da Porta e Santa Maria Madalena de Chaviães, porque até ali estava junto à parede de suporte do terreno da capela; destruição da galilé da capela; séc. 20, meados - trabalhou nas obras da capela o arquiteto Baltazar de Castro.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito com aparelho "vittatum"; pavimento de lajes; cobertura de telha.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - Alto Minho. Lisboa: 1987; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - Arquitectura Românica de Entre Douro e Minho (Dissertação de Doutoramento em História de Arte). Porto: 1978, vol. 2; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - «O Românico». In História da Arte em Potugal. Lisboa: Publicações Alfa, 1986, vol. 3; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - «Primeiras impressões sobre a Arquitectura Românica Portuguesa». In Revista da Faculdade de Letras. Porto: 1971, vol. 2, pp. 65-116; ALVES, Lourenço - Arquitectura Religiosa do Alto Minho. Viana de Castelo: 1987; DGEMN - Boletim n.º 19. Porto: DGEMN, 1940; ESTEVES, Augusto César - Obras completas nas páginas do Notícias de Melgaço. Melgaço: 2003, vol. 1, tomo 2; FERNANDES, Paulo - «O teatro das formas - face da condenação e redenção na escultura românica» in Invenire Revista de Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, julho - dezembro 2013, n.º 7, pp. 20-26; FERREIRA, João Palma - «Nossa Senhora da Orada tem Elementos Orientais». In A Capital. Lisboa: 2 Maio 1988; MONTEIRO, Manuel - «A Igreja da Senhora da Orada». In Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa: 1941, vol. 8, pp. 22-28; PINTOR, Pe. M. A. Bernardo - «Antiguidades Melgacenses. A Capela da Orada». In Voz de Melgaço. Melgaço: 15 janeiro 1975; PINTOR, Pe. M. A. Bernardo - Melgaço Medieval. Braga: 1975; Relatório dos Trabalhos de Acompanhamento Realizados pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao Abrigo dos Protocolos com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1997 - 1999) (2001 - 2002), (Universidade do Minho). Braga: 2002; VIEIRA, José Augusto, O Minho Pittoresco, vol. 1, Lisboa, 1886;

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN, SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN IAN/TT: Dicionário Geográfico de Portugal, vol. 23, nº 121, pp. 765-770

Intervenção Realizada

DGEMN: Finais dos anos 30 - obras de restauro; apeamento de 2 altares da nave e capela-mor, coro e púlpito; entaipamento da nova fresta da capela-mor e da porta aberta posteriormente ao lado em substituição de 1 antigo nicho, que foi restaurado; desentaipamento do 2º nicho da capela-mor; reabertura da porta da fachada S. que fora entaipada; apeamento de novo arco da capela-mor e restauração do antigo; desentaipamento e reconstituição dos nichos ladeando arco; reconstrução da cobertura de nave; rebaixamento do pavimento; restauração da fresta testeira e deslocação do sino e pedra brasonada; regularização do adro e assentamento do novo lajedo; deslocação do arco de acesso à igreja; na construção e assentamento da cruz terminal; limpeza geral das cantarias e refechamento das juntas; construção e assentamento de novas portas; construção do altar-mor e assentamento de vidraças coloridas em armação de chumbo; 1955 - diversos trabalhos de construção civil; 1963 - reparação dos telhados; 1970 - revisão dos telhados; 1972 - reparações inadiáveis dos prejuízos ocasionados pelo temporal; 1976 - tratamento das cantarias do pórtico do frontespício e reparação geral dos telhados; 1980 - pintura da face interior das portadas; reparação dos telhados da nave e capela-mor; 1986 - instalação eléctrica; 1995 - renovação das cobertura e vãos, carpintarias em portas e tectos; 1997 - drenagem perimetral exterior com reparação de pavimento e do muro ao longo da estrada, obra acompanhada pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, ao abrigo do protocolo realizado com a DGEMN, não tendo sido detectadas nenhumas sepulturas (já que era uma igreja de peregrinação); limpeza superficial dos paramentos interiores e exteriores; tratamento de juntas do pavimento interior; beneficiação de caixilharias e tratamento de vãos; beneficiação da instalação eléctrica; execução e colocação de painel de votos; iluminação exterior; 1998 - iluminação exterior.

Observações

*1 - De origem ainda confusa, a velha ermida foi construida pelos monges de Fiães, possivelmente para prestar assistência religiosa aos cultivadores das terras que D. Afonso Henriques lhes outorgou. *2 - Sob invocação de Nossa Senhora, o seu nome deve advir da grande devoção que lhe era dedicada, daí dizer-se "Orada", ou seja, local de orar. *3 - Em anos de crise agrícola, o concelho vinha em procissão à capela pedir protecção e implorar socorro divino. Assim aconteceu em 1760, devido ao rigor da chuva, bem como em 1768, ou em 1778 por causa da estiagem. Lá foi também depois do sismo de 31 de Março de 1761, onde toda a comunidade foi descalça, com cordas ao pescoço e coroas de espinho na cabeça, ou até na epidemia de 1918. *4- Na capela sempre existiu culto, embora fosse preciso pedir licença e ir buscar as chaves ao convento de Fiães. *5 - Aquando das obras de 1997, detectou-se na fachada N., no extremo O., um alargamento anómalo do alicerce, que poderá corresponder a um erro de implantação inicial do ângulo esquerdo da fachada, logo corrigido, já que o restante alicerçamento se apresenta alinhado de modo uniforme.

Autor e Data

Paula Noé 1992

Actualização

Paula Noé 1998
 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login