Ascensor da Nazaré

IPA.00035052
Portugal, Leiria, Nazaré, Nazaré
 
Arquitetura de transportes, oitocentista. Ascensor urbano interligando dois núcleos da povoação, inicialmente movido a vapor, em que a caldeira era aquecida com lenha, composto por duas cabines ligadas por cabo de aço, circulando alternada e simultaneamente numa única via que, a meio do percurso, se desdobra em duas vias paralelas. Tem projeto do engenheiro Raul Mesnier de Ponsard, autor e colaborador de diversos ascensores portugueses, nomeadamente o da Glória (v. IPA.00003986), Bica (v. IPA.00006465) e Lavra (v. IPA.00003040), em Lisboa, e do ascensor do Bom Jesus do Monte (v. IPA.00021298), bem como de elevadores, como o Elevador do Carmo (v. IPA.00003146). É considerado um dos "Ex-libris" da vila, tendo contribuído de sobre-maneira para a unificação das povoações do Sítio e da Praia, constituindo um dos ascensores com maior tráfego em Portugal. Desde 1924 funciona diariamente e, em 1968, o primitivo sistema a vapor foi substituído por um sistema elétrico. Em termos de estrutura exterior dos terminais, o do Sítio conserva as características da arquitetura vernácula, enquanto o da Praia foi completamente remodelado no início do séc. 21; interiormente, ambos possuem o mesmo tipo de decoração no pavimento e estruturas de apoio.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Transportes  Ascensor    

Descrição

Ascensor constituído por dois carros, ligados por um cabo subterrâneo, que sobem e descem alternada e simultaneamente numa via, de carris de ferro, assentes ao nível do chão numa plataforma cimentada, e possuindo ao centro, a meio do percurso, duas vias paralelas. O cabo funciona a descoberto sobre roldanas movidas a eletricidade. A CABINA, atualmente pintada de azul, é compartimentada interiormente em três zonas dispostas em plataforma: os extremos, de menores dimensões e idênticos, correspondentes às áreas de condução, e a zona central, ocupada por oito filas dispostas longitudinalmente, com quatro bancos, dois de cada lado, orientados transversalmente; apresenta três portas de acesso de cada lado. O TERMINAL DA PRAIA, de planta retangular composta por três corpos escalonados, da esquerda para a direita, tem cobertura plana e em telhados de duas águas. Apresenta volumetria paralelepipédica, com fachada principal virada a S., formando três amplos panos envidraçados, emoldurados a cantaria de silharia fendida, e rematados em cantaria. O corpo esquerdo, por onde se acede ao interior, possui no cunhal a inscrição metálica relevada "ASCENSOR" e integra caixa multibanco. O pano intermédio é secionado por elemento de cantaria ao centro e o da direita é ligeiramente avançado. Fachada lateral esquerda revestida a cantaria, em silharia fendida, e rematada em platibanda plena também de cantaria. A fachada lateral direita é rebocada e pintada de branco, tendo apenas o cunhal em silharia fendida, e remata em platibanda plena. INTERIOR com amplo vestíbulo, de paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento cerâmico policromo, de linhas curvas, e teto falso. À esquerda da parede testeira ficam as instalações sanitárias. Mais para o meio tem bilheteira, com estrutura em ferro envidraçada, de planta oval, e portas metálicas de acesso ao ascensor; este é flanqueado por duas plataformas de cais rampeadas, cobertas por alpendre de estrutua metálica envidraçada. O TERMINAL DO SÍTIO tem planta retangular irregular, composta por vários corpos, com cobertura plana ou em telhados de duas águas, na fachada principal rematada em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco e faixa azul-escuro. A fachada principal, virada a SO., possui o corpo principal rematado em dupla cornija e é rasgado por dois largos portais de verga reta, sem moldura, o principal encimado por inscrição "ASCENSOR". O corpo mais pequeno e intermédio, termina em cornija e platibanda plena, e é rasgado por três janelas retangulares, sem moldura; o corpo do extremo direito, mais baixo, é rasgado por portas e várias janelas jacentes. Fachada esquerda, com corpo rematado em dupla cornija e portal retilíneo, ladeado por inscrição "ASCENSOR" e janelas retangulares. INTERIOR com amplo vestíbulo, sobrelevado relativamente ao pavimento exterior, com paredes rebocadas e pintadas de branco, teto falso e pavimento cerâmico policromo, possuindo, entre outros motivos, uma rosa dos ventos. Apresenta bilheteira igual à do terminal da Praia, corredor de circulação dos elevadores e casa das máquinas. O ascensor tem paragem num nível inferior ao terminal, flanqueado por duas plataformas de cais compostas por degraus, parcialmente com guardas metálicas envidraçadas, e no término do qual se desenvolve túnel, com vão em arco, encimado por painel de azulejos.

Acessos

Rua do Elevador (Praia); Rua do Elevador (Sítio)

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, adossado, destacado, implantado em via de pendente acentuada, num plano com 42% de inclinação, atravessando a falésia, interligando a povoação da Praia e a do Sítio, possuindo vista notável sobre a urbe da Nazaré. Os terminais implantam-se adaptados ao declive do terreno, formando frente de rua, o da Praia possuindo corpos adossados posteriormente e tendo em frente de dois corpos da fachada principal canteiros de flores; o terminal do Sítio tem adossado corpo com instalações sanitárias e é totalmente circundado de vias públicas. A linha do ascensor, delimitada por muro rebocado e pintado de branco, é ladeada por escadas e canteiros de flores.

Descrição Complementar

Sobre a entrada do túnel no terminal do Sítio existe painel de azulejos, azuis e brancos, com representação do ascensor e lápide de mármore com a inscrição: "Centenário do Ascensor / da Nazaré / 1889 - 1989 / 28 de Julho de 1989". Na zona do túnel existe ainda uma outra lápide, de mármore, com a inscrição "À MEMÓRIA / DO / DR. ANTÓNIO L. TAVARES CRESPO / FUNDADOR DO ASCENSOR DA NAZARETH / INAUGURADO EM 28 DE JULHO DE 1889 / HOMENAGEM DOS SERVIÇOS MUNICIPAIS / 18-7-1998". No vestíbulo do terminal, existe baixo relevo em bronze, ladeado por duas lápides do mesmo material; uma tem a inscrição "SERVIÇOS MUNICIPALIZADOS DA CÂMARA MUNICIPAL DA NAZARÉ / Aos 28 dias do mês de Julho do ano de 2004, / data do 115º Aniversário do ascensor da Nazaré, / celebramos a conclusão das Obras de Recuperação e / Remodelção das Gares e Carruagens do Ascensor. / O Presidente do Conselho de Administração / dos Serviços Municipalizados da Nazaré / Eng. Jorge Codinha Antunes Barroso"; a outra tem a inscrição ""Milagre de Nª. Sª. da Nzaré / a D. Fuas Roupinho" / Baixo relevo da autoria de Ferreira da Silva, integrado na fachada do antigo Hotel D. Fuas, reproduzido e oferecido ao / Município da Nazaré por Luís Tereso Henriques. / Nazaré, 28 de Julho de 2004".

Utilização Inicial

Transportes: ascensor

Utilização Actual

Transportes: ascensor

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19 / 21

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: Raul Mesnier du Ponsard (1888). FÁBRICA: Esslingen-Machinen (1889).

Cronologia

1888, 15 outubro - formação de uma parceria com objectivo de construir um ascensor na Nazaré, sediada em Lisboa, e composta por Tavares Crespo, Francisco Morais, Joaquim Carneiro D’Alcáçovas de Sousa Chicharro, José Eduardo Ferreira Pinheiro, Barão de Kessler e o engenheiro Raul Mesnier de Ponsard, autor do projeto; 1889, 28 julho - benção e inauguração do ascensor, pertencente ao Dr. António Lúcio Tavares Crespo, denominado de Nossa Senhora da Nazaré, em homenagem à Virgem protetora da vila, e com a presença do Ministro das Obras Públicas e o da Fazenda; inicialmente, o ascensor é movido a vapor por uma máquina colocada no Sítio e assente em rocha viva do promontório, onde se abria um túnel rampeado de 50 metros; a caldeira é aquecida com lenha e, como na época não havia fontes no Sítio, a água para a caldeira era levada da Praia pelos dois carros; a linha com uma extensão de 318 metros e uma inclinação de 42%, é assente em leito próprio, entre a gare superior e a praia, no Largo das Caldeiras, funcionando o cabo a descoberto sobre roldanas; o terminal inferior é protegido por dois paredões laterais, para evitar a invasão das areias; o maquinismo, idêntico ao instalado no ascensor da calçada do Lavra, vem da Alemanha, da fábrica Esslingen-Machinen; as cabinas têm libré vermelha e transportam 60 passageiros, funcionando apenas na época balnear, com viagens das 06:00 às 21:00, com valor entre 0$020 e 0$120; 1918 - cedência de lenha para o ascensor não parar; 1924, 01 outubro - aquisição do ascensor pela Real Casa, atualmente denominada Confraria da Nossa Senhora da Nazaré, com o objetivo de o explorar durante todo o ano; com isso, procura-se facilitar o acesso dos fiéis ao Santuário e angariar undos para a manutenção do Hospital de Nossa Senhora da Nazaré; 1931 - data de um relatório ao Ministro pedindo autorização para vender à Câmara o ascensor e a central elétrica; 1932, 19 dezembro - venda do ascensor à Câmara Municipal da Nazaré, por 398.013$00 (398.031$850); 1963, 15 fevereiro - grande acidente no asensor, devido à rutura do cabo, de que resulta dois mortos e cerca de 50 feridos; o ocorrido vai a julgamento, mas os arguidos acabam por ser absolvidos; segundo o administrador do serviço das águas na Câmara Municipal, o acidente deveu-se às infiltrações de água, a qual pingava constantemente na zona do cabo do elevador; 1968, 01 abril - data da reabertura do ascensor, com novas e melhores condições e características; é então composto por um sistema de tracção, com transmissão e accionamento elétrico, provido de um sistema triplo de travagem: automático, de pressão electro-hidráulica e manual; 2001, setembro - encerramento do ascensor para obras; 2002, 24 junho - inauguração do ascensor da Nazaré, durante cada viagem cerca de 15 minutos.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes no terminal do Sítio e sistema estrutural misto no terminal da Praia; linha com 318 metros (50 em túnel), com inclinação de 42% e cabo a descoberto sobre roldanas.

Materiais

Cabines em aço, janelas com vidros, e outros elementos em plástico. Terminais em estrutura rebocada e pintada ou revestida a cantaria calcária; pavimentos cerâmicos; tetos falsos; portas e caixilharia de madeira, ferro ou alumínio; vidros simples; guardas e alpendres metálicos envidraçados.

Bibliografia

ALÃO, Manoel de Brito - Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. 2.ª edição. Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, [1628], 2001; PENTEADO, Pedro Manuel - Santuário da Senhora da Nazaré. Apontamentos para uma cronologia (de 1750 aos nossos dias). Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2002; Ascensor da Nazaré - 120 anos, Ana Borges e Ana Hilário (http://vistadosuberco.blogspot.pt/2009/07/ascensor-da-nazare-120-anos.html), [consultado em 09-01-2014]; Ascensor da Nazaré (http://www.cm-nazare.pt/, [consultado em 09-01-2014].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Proprietário: 1960, década - obras de conservação e restauro doascensor; 2001 / 2002 - remodelação profunda e modernização do ascesor, com um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros, e que inclui: recuperação da linha e chassis da estrutura, beneficiação arquitetónica e funcional das gares, substituição das antigas carruagens por um equipamento mais moderno e confortável.

Observações

*1 - Segundo o Pe. Manuel de Brito Alão era costume no séc. 17 descer do Sítio até à praia ou Ribeira da Pederneira por uma ladeira muito íngreme, de areia solta, existente junto à cruz do Sítio. Mesmo muitas fidalgas que iam ao Santuário com os maridos faziam este caminho, sentadas em "alcatifas, que pelas pontas puxam e levam criados, segura e compostamente abaixo" (p. 137). Este meio de transporte ainda era utilizado no séc. 19.

Autor e Data

Manuel Freitas (Contribuinte externo) 2014

Actualização

 
 
 
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