Quartel de São Martinho / Quartel da Rua dos Quartéis

IPA.00035791
Portugal, Portalegre, Elvas, Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso
 
Quartel de Infantaria construído em meados do séc. 17, por determinação da Câmara e com o produto do imposto lançado sobre o povo da cidade, com projeto de António Rodrigues, composto por duas alas confrontantes e sensivelmente simétricas, a disposta a sul demolida pelo Município após 1909, para alargamento da rua, e a disposta a norte possivelmente truncada antes de 1719, já que, segundo Victorino d'Almada, a Câmara decide, a 7 de outubro, prescindir dos 500$000 que a Coroa lhe devia pela expropriação de 15 dos quartéis demolidos para alargamento dos armazéns de guerra, posterior Casa das Barcas. O edifício existente e que acabou por não ser demolido, como também se pretendia com a concessão de 1909, desenvolve-se adossado a outras construções, com planta retangular irregular, e fachada principal evoluindo em dois pisos, possuindo interiormente seis compartimentos independentes e com acesso individualizado por piso. Segundo Margarida Conceição, o Quartel de São Martinho constitui o primeiro ou um dos primeiros quartéis onde o acesso individualizado a cada uma das células internas do segundo piso é revolvido por uma varanda exterior corrida, sobre arcada ao nível do piso térreo (Conceição, p. 206). A arcada desenvolve-se num ritmo ainda um pouco irregular, com arcos em asa de cesto, ao centro dos quais se rasgam as portas de acesso aos compartimentos térreos tendo, no seu alinhamento, as do segundo piso, todas de verga reta. A varanda, de guarda plena, que acentua a horizontalidade do conjunto, tem acesso apenas por uma escada, disposta no extremo esquerdo do quartel. A fachada possui grande sobriedade, não recorre a cantaria nos elementos estruturais e remata em platibanda plena, ritmada por chaminés, tipo chaminé de fumeiro alentejana, dispostas paralelamente à cumieira e elevando-se sobre o remate, sendo a central maior para servir os compartimentos centrais contíguos. Interiormente, os compartimentos têm planta retangular ou trapezoidal (o do extremo esquerdo), de tamanho desigual, mas iguais entre os pisos, com cobertura em placas cerâmicas sobre travejamento de madeira. Por uma planta de 1819, de António José da Cunha Salgado, percebe-se que a ala sul dos quartéis era semelhante, com a fachada principal percorrida por varanda, e acesso recortado no extremo esquerdo, adossado à Igreja de São Martinho. O Quartel de São Martinho e o do Castelo, demolido no início do séc. 20, eram tipologicamente afins, da mesma época e possivelmente do mesmo engenheiro, ainda que o último tivesse a fachada rematada em beirada, sobreposta pelas chaminés, e as portas dos compartimentos do segundo piso se rasgassem desalinhadas dos arcos inferiores e respetivos vãos.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Quartel    

Descrição

Planta retangular irregular, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas, separadas sensivelmente a meio. A fachada principal surge virada a sudeste, de dois pisos, rebocada e pintada de branco, com faixa e vãos sublinhados a amarelo, rematada em platibanda plena, ritmada por cinco chaminés, a central maior e servindo quatro compartimentos, dispostas paralelamente à cumeeira e elevando-se sobre o remate; cada uma das chaminés é ladeada por gárgulas de meia cana, para escoamento das águas da cobertura. A fachada é percorrida por arcada, de seis arcos em asa de cesto, num ritmo sensivelmente irregular, sobre a qual se desenvolve varanda exterior contínua, de acesso aos compartimentos do segundo piso, precedida de escada, disposta no extremo sudoeste, de dois lanços, com guarda plena, a qual se prolonga pela varanda; entre os arcos existem gárgulas de meia cana para escoamento da água da varanda. Ao centro dos arcos abre-se porta de verga reta de acesso aos compartimentos do piso térreo, existindo em alguns arcos, banco adossado lateralmente. No segundo piso, sobre os arcos e no enfiamento das inferiores, abrem-se portas igualmente de verga reta. No INTERIOR o espaço organiza-se em seis compartimentos por piso, simétricos entre si, de planta retangular e tamanho desigual, ou, o do extremo sudoeste, de planta trapezoidal, sem comunicação entre si e todos com acesso individualizado. Apresentam paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em tijoleira e teto com placa cerâmica com travejamento de madeira.

Acessos

Assunção, Rua dos Quartéis. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,881605; long.: -7,165466

Protecção

Incluído no Núcleo urbano da cidade de Elvas / Cidade Fronteiriça e de Guarnição de Elvas (v. IPA.00001839) e na Zona de Proteção da Fortaleza de Elvas (v. IPA.00035956)

Enquadramento

Urbano, adossado e flanqueado por outras construções, no interior da Praça de Elvas, formando frente de rua, possuindo passeio separador. Ergue-se adaptada ao declive do terreno, com a fachada lateral esquerda adossada ao edifício da Casa das Barcas, atual Mercado Municipal (v. IPA.00026777), e a fachada posterior à antiga Casa dos Fornos (v. IPA.00035918). Nas imediações, a sudoeste, ergue-se a Igreja de São Martinho (v. IPA.00026775) e o edifício do Conselho de Guerra (v. IPA.00026790), e, a nordeste, a Escola Primária de Elvas (v. IPA.00026858). Mais para poente, implanta-se o Quartel do Trem (v. IPA.00026791) e o Convento de São Paulo (v. IPA.00014243).

Descrição Complementar

Nas escadas de acesso ao segundo piso, existe lápide com a inscrição "ATELIERS DE ARTES E OFÍCIOS / INAUGURADOS PELO SENHOR PRESIDENTE / DA CÂMARA MUNICIPAL DE ELVAS / JOSÉ ANTÓNIO RONDÃO ALMEIDA / EM 4 DE OUTUBRO DE 2000". Sob a chaminé central existe letring com a inscrição "ARTESANATO".

Utilização Inicial

Militar: quartel

Utilização Actual

Cultural e recreativa: edifício multiusos

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO MILITAR: António Rodrigues (1656).

Cronologia

1640 - após a Restauração da Independência de Portugal, a permanência em Elvas de grande contingente militar e a falta de alojamento para o mesmo, leva o governador das armas da província, a impor o aboletamento nas casas particulares, contrariando o antigo privilégio de dispensa de dar alojamento aos militares; 1642, 14 janeiro - em resposta às queixas da população, D. João IV manda que "(...) acompanhando-vos dos oficiais que fizerem o dito alojamento, ordeneis que se faça com toda a igualdade, sem excepção de pessoa, para que assim cessem as queixas que os ditos misteres me fazem em nome do povo dessa cidade"; 1643, 17 janeiro - em reunião dos três estados da cidade na Câmara, resolve-se mandar construir alguns quartéis para a tropa, à custa dos moradores, estimando-se o seu custo em 600$000; o imposto estipulado para obtenção da verba é definido em 20 réis de cada almude de vinho que entrasse e se vendesse na cidade, imposto que duraria até se concluírem as obras; 1644, agosto - o Conselho de Guerra volta a frisar que há que ter o "intento de fazer obra menos vistosa e mais o de obra fácil e útil e brevemente possível"; 1646 - o imposto é já de 3 mil cruzados mas as obras dos quartéis ainda não haviam começado, para desgosto da população; 1650 - devido à população estar cansada de dar aboletamento nas casas particulares, propõe-se fazer mais quartéis para os soldados, ampliando-se para isso o imposto do real de água, revertendo o excesso para a obra projetada; 1656 - estão em construção os quartéis de São Martinho, à custa deste imposto, com projeto do engenheiro militar António Rodrigues; 1663, 14 abril - carta patente de D. Afonso VI nomeia António Rodrigues sargento-mor "ad honorem", pelos serviços prestados na província do Alentejo, referindo ser autor do risco dos quartéis de Infantaria e Cavalaria de Elvas; 1718, 09 abril - apresentação de requerimento à Câmara solicitando que todos os quartéis, antigos e modernos, se entregassem à Coroa como bens próprios e que, para reparação e camas, se lançasse mais um real em cada arrátel de carne e peixe que se consumisse na cidade, ficando os moradores isentos de quartéis de qualquer género que fosse; posteriormente envia-se o requerimento ao rei; 08 novembro - em reunião do poder local e corregedor da comarca, reconhece-se a necessidade de entregar os quartéis e de estabelecer o real na carne e peixe, com a condição de não obrigar os moradores da cidade a dar alojamento, quer a oficiais quer a soldados, ou a cavalos; caso contrário, os quartéis seriam restituídos ao concelho e se suspenderia o imposto adicional; 1719, 07 outubro - porque os quartéis velhos estão arruinados e a Coroa pretendia que a Câmara os consertasse antes de tomar posse deles, o poder local resolve prescindir dos 500$000 que a Coroa estava a dever pela expropriação de 15 dos quartéis demolidos para alargamento dos armazéns de guerra (atual Casa das Barcas); 1819 - planta da Praça de Elvas, levantada pelo capitão de engenheiros António José da Cunha Salgado, para fazer parte do plano diretor representa os quartéis de São Martinho compostos por duas alas, percorridos por varanda, em ambos acedida por escada no topo sudoeste (Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, cota: 1664-1A-14-19); 1825 - os quartéis de São Martinho albergam tropa do Regimento de Artilharia n.º 3; 1876, 04 outubro - por ordem do governador da Praça de Elvas, faz-se entrega ao respetivo caserneiro dos quartéis denominados de São Martinho e dos quartéis velhos no castelo e respetivo pátio, a maioria dos quais se acham arrendados e cujo produto devia ser entregue ao Conselho Administrativo da Praça; muitos destes quartéis acham-se por arrendar, por falta de arrendatários, e outros são dados a veteranos e gente pobre, por ordem dos governadores da praça; 13 outubro - informação das casernas estarem em muito mau estado, carecendo muitas de pronto conserto em fechaduras, chaves e travessas nas juntas e de uma parede numa caserna na Rua dos Quartéis ter desabado no dia anterior, caindo sobre um prédio no Beco de São Martinho; 1909, 15 março - cedência do PM 85 - Quartéis Velhos de São Martinho, à Câmara Municipal de Elvas para ser demolido, ficando o terreno destinado a alargamento da Rua de São Martinho; contudo, como a Câmara só faz uso parcial dessa concessão, demolindo apenas os quartéis do lado sul da rua, que alarga para esse lado, deixando desse mesmo lado, uma pequena parcela de terreno, e não procede à demolição dos quartéis do lado norte, a concessão acaba por caducar; 1912, 11 setembro - requerimento de Francisco António Nu pretendendo adquirir por compra, ao Ministério da Guerra, uma parcela de terreno situado junto à Igreja de Nossa Senhora da Guia ou de São Martinho, com a qual confronta, onde se achava instalado o prédio mandado demolir para alargamento da rua, vulgarmente conhecido por "Quartéis da Rua dos Quartéis"; a parcela de terreno pretendida mede 11,5m de comprido e 4m de largura, como consta na planta, e ali queria mandar edificar uma casa, não prejudicando em nada o alinhamento da rua, mas antes "alindando-a, e embelezando-a"; 09 outubro - Inspeção das Fortificações e Obras Militares informa não ver inconveniente na alienação da parcela de terreno, que é o sobrante do terreno que fora concedido à Câmara para alargamento da rua; 1915, 10 maio - publicação em Diário do Governo, 3.ª série, n.º 107 que, para efeitos do artigo 4.º do Decreto n.º 1.057, de 18 novembro 1914, se torna público a autorização da venda do PM 35 de Elvas (sic), parcela de terreno onde existiam os quartéis velhos; 16 agosto - auto de arrematação, em hasta pública, do PM 85 (parte), que confronta com a Capela de São Martinho ou da Guia; 08 setembro - Secretaria da Guerra participa a aprovação do auto de arrematação do PM 85 parte, constituído pela parcela de terreno onde existiam os Quartéis Velhos a Francisco António Nu; 16 outubro - visto Francisco António Nu não ter ainda recebido qualquer título comprovativo da posse do prédio e necessitando fazer no mesmo as obras necessárias para o fim a que o destina, escreve a solicitar a entrega do título de posse ou uma autorização para fazer as referidas obras; 1916, 26 janeiro - escritura de venda pelo Ministério da Guerra da parcela de terreno junto da igreja de Nossa Senhora de Elvas, por 46$01; na mesma é referido que o PM 85 (parte), é constituído por uma parcela de terreno, desocupada, de forma retangular, medindo 11,5m de comprimento e 4m de largura, onde existiam os quartéis velhos, situada na antiga Rua dos Quartéis, hoje Rua do Governador Rodrigues da Costa, freguesia da Alcáçova, confrontando a norte com a capela da Guia e nascente com o prédio de Francisco António Nu, negociante; 1920, 07 fevereiro - planta dos quartéis da ala norte representa-os já sem as lareiras do interior; 02 março - os quartéis estão em mau estado e são ocupados desde longa data, com o consentimento dos governadores da Praça de Elvas, por indivíduos extremamente pobres, que não pagam a renda; 03 março - nota n.º 161 da Inspeção das Fortificações e Obras Militares refere que os quartéis são "hoje inaproveitáveis, a menos que se demolissem e refizessem de novo, nem dão rendimento algum ao Estado", pelo que se julga que devem ser postos em praça; 13 abril - requerimento de André Gonçalves ao Ministério da Guerra para adquirir por compra uma parte do PM 85 de Elvas, constituído pelos Quartéis Velhos de São Martinho, situados na Rua do Governador Rodrigues da Costa, ala norte; 08 maio - nota n.º 1348 do Ministério da Guerra, da 2.ª Repartição da 2.ª Direção Geral dirigida à Inspeção Geral das Fortificações e Obras Militares autoriza a venda do mencionado prédio militar; 13 maio - avaliação do imóvel, com a área de terreno de 216m2 e o volume de alvenaria 52m; pelo terreno, à razão de 6$00 por m2, e pela alvenaria de 1$00 por metro cúbico, é feita a avaliação em 1.348$00; 22 maio - publicação no Diário do Governo, 3.ª série, n.º 18, da autorização de venda (para efeitos do artigo 4.º do decreto n.º 1057, de 18 novembro 1914) do PM 85 (parte) constituído por Quartéis Velhos de São Martinho, situados na Rua do Governador Rodrigues da Costa, lado norte, que se compõem de dois pavimentos, cada um com seis quartéis, confrontando a norte com o PM 14, a sul com a Rua Governador da Costa, a nascente por prédio de Henrique António Pereira Barros (herdeiros) e a poente com o PM 15; 29 junho - declaração de André Gonçalves da desistência da arrematação do PM por não lhe convir o valor da avaliação; 11 setembro - arrematação do edifício dos quartéis, por 1.600$00, pela Câmara Municipal de Elvas, representada por Júlio de Alcântara Botelho; 20 outubro - informação que o Ministério da Guerra aprova o auto de arrematação do PM 85 - Quartéis Velhos de São Martinho, lado norte; 1921, 08 outubro - escritura de venda de parte do PM 85 constituído pelos Quartéis Velhos de São Martinho, lado norte, pelo Ministério da Guerra à Câmara Municipal de Elvas, por 1.600$00, sendo Presidente da Comissão Executiva da Câmara José David Nunes da Silva; 2000, 04 outubro - inauguração dos Ateliers de Artes e Ofícios nos antigos quartéis, pelo então Presidente da Câmara de Elvas, José António Rondão de Almeida.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; pavimento de tijoleira; teto com placa cerâmica sobre travejamento de madeira; portas de madeira pintada; vidros simples ou martelados; lápide em mármore; patim das escadas e soleira das portas em cantaria; cobertura de telha.

Bibliografia

AA.VV - Elvas Duas Décadas de Poder Local. Elvas: Câmara Municipal de Elvas, 2013; ALMADA, Victorino d' - Elementos para um Diccionário de Geographia e Historia Portugueza: Concelho d'Elvas e extinctos de Barbacena, Villa-Boim e Villa Fernando. Elvas: Typ. Elvense, de Samuel F. Baptista, 1888, tomo 1; BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da - Da Vila Cercada à Praça de Guerra. Formação do Espaço Urbano em Almeida Séculos XVI-XVIII. Lisboa: Livros Horizonte, 2002; JESUÍNO, Rui - Elvas - Histórias do Património. s.l.: Rui Jesuíno; Booksfactory, 2016; MORGADO, Amílcar F. - Elvas: Praça de Guerra, Arquitectura Militar. Elvas: Câmara Municipal de Elvas; Grupo de Apoio e Dinamização Cultural de Elvas (G.A.D.I.C.E.), 1993; SEPULVEDA, Christovam Ayres de Magalhães - História Organica e Política do Exército Português. Provas. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1919, vol. VIII, pp. 458-460.

Documentação Gráfica

Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 85/Elvas - Quartéis Velhos de São Martinho; Câmara Municipal de Elvas

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

Direção de Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 85/Elvas - Quartéis Velhos de São Martinho, PM n.º 048/Elvas - Castelo

Intervenção Realizada

CMELVAS: 2000 - conclusão das obras de restauro e reutilização dos quartéis, com tratamento dos rebocos, pavimentos, tetos, coberturas, caixilharia e substituição de redes infraestruturais.

Observações

Autor e Data

Paula Noé 2017

Actualização

 
 
 
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