Fragas de Panóias / Santuário de Panóias
| IPA.00003671 |
Portugal, Vila Real, Vila Real, União das freguesias de Constantim e Vale de Nogueiras |
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Santuário rupestre galaico-romano, dedicado a Serápis, deus dos infernos ou dos Deuses "Severos", composto por três afloramentos rochosos onde se procedia a um ritual de iniciação com uma ordem sequencial e um itinerário entre si muito preciso: na primeira rocha eram sacrificadas as vítimas, fazia-se o sacrifício do sangue, a incineração das vítimas, o consumo da carne, a revelação do nome da autoridade máxima dos infernos e, por fim, a purificação; na segunda repetia-se a iniciação, mas num grau mais elevado, e, na terceira, o ponto mais alto do santuário, acorreria o principal acto da iniciação: a morte, o enterro e a ressurreição. Santuário dedicado ao deus dos infernos cujos rituais tinham forte influência oriental, em especial da Ásia Menor, onde se encontram vestígios desse culto. Sobre os rochedos erguiam-se templos, de que subsistem os entalhes nas rochas para o seu assentamento. A rocha nº 1 apresenta várias inscrições gravadas em cartelas, em latim e grego, aludindo à sagração do local e aos próprios procedimentos rituais e a rocha nº 3, em local que domina o conjunto, tem a particularidade de apresentar uma disposição dos tanques que denuncia uma sobreposição de estruturas, num momento mais avançado da utilização do sítio. Nos rochedos existem cavidades distintas que serviam para queimar as vísceras, assar a carne e limpar o sangue, a gordura e o azeite, bem como outras onde eram guardados os instrumentos sagrados usados nos rituais. |
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Número IPA Antigo: PT011714270001 |
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Registo visualizado 4261 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Estrutura Religioso Santuário rupestre
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Descrição
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Santuário rupestre, conservando três grandes rochedos nos quais estão talhadas várias cavidades de formato rectangular, de diferentes tamanhos, pias circulares, e escadas de acesso, existindo num dos rochedos inscrições. A rocha nº 1 situa-se à entrada do recinto, na extremidade S. do santuário, e possui quatro inscrições gravadas, uma delas em grego, aludindo à consagração do recinto por G. C. Calpurnius Rufinus à principal divindade dos deuses do inferno, Serápis, bem como aos deuses dos Lapitae, ou seja, aos deuses da comunidade indígena existente na região, e dando orientações sobre o procedimento ritual. Para a rocha subia-se por vários degraus, existindo à esquerda das escadas uma inscrição, e na sua superfície existem várias cavidades: umas rectangulares onde se queimavam as vísceras dos animais sacrificados, umas pequenas circulares onde se vertia o sangue e uma cavidade circular maior, disposta atrás da terceira inscrição, em grego, onde se assava a carne da vítima, que era consumida no local, em frente da divindade Gastra. A última inscrição indica que numa das cavidades o iniciado se purificava do sangue, gordura e azeite com que se tinha sujado. A rocha nº 2 e a nº 3, a mais elevada, com cerca de 3,5 m, e disposta na extremidade N., junto à qual existe estrutura moderna em ferro para observação da sua superfície, com escadas e rampa de acesso, possuem igualmente degraus entalhados até ao topo e as diferentes cavidades rectangulares, que serviam para queimar as vísceras, uma cavidade circular - a gastra - para assar a carne e uma outra onde se procedia à limpeza do sangue, gordura e azeite. Em cada um dos três afloramentos rochosos existem vestígios dos entalhes para o assentamento dos alicerces dos templos rectangulares que se deverão ter erguido sobre estes, tipo de estruturas aliás referidas em duas inscrições, bem como outras cavidades destinadas a guardar os instrumentos sagrados usados nos rituais. |
Acessos
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Vale de Nogueiras, Lugar do Assento, ao km 1 da EN 578 |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 189, de 16 agosto 1951 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, na periferia da povoação, numa plataforma rochosa em encosta de pendor suave, coberta de vegetação rasteira, sobranceira a uma linha de água afluente do Ribeira da Tanha. O santuário ocupa uma grande extensão de terreno, atravessando a aldeia do Assento e encontra-se vedado por gradeamento em ferro. Na área vedada existem duas construções de apoio e centro de interpretação. |
Descrição Complementar
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A rocha nº 1 tem actualmente três inscrições em latim e uma em grego, tendo existido uma outra, entretanto desaparecida, a 6 / 7 metros a E. da inscrição nº 1, do lado direito do caminho por onde entrava o visitante na área sagrada. A leitura desta é no entanto possível de reconstituir devido a leituras anteriores e pode ser traduzida do seguinte modo: "Aos Deuses e Deusas deste recinto sagrado. As vítimas sacrificam-se, matam-se neste lugar. As vísceras queimam-se nas cavidades quadradas em frente. O sangue verte-se aqui ao lado ara as pequenas cavidades. Estabeleceu Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial". As restantes quatro inscrição são, segundo António Rodriguez Colmero: 1) leitura: DIIS CVM AEDE ET LACV M QVI VOTO MISCE TVR G. C. CALP. RVFI NVS V.C.; tradução: Aos Deuses, com o aedes e o tanque, a passagem subterrânea, que se junta por voto. 2) tradução: O esclarecido varão Caio Calpúrnio Rufino, filho de Caio, consagrou, junto com um lago e os mistérios, (um templo) ao mais alto Deus Serápis. 3) leitura: DIIS DEABVSQVE AE TERNVM LACVM OMNI BVSQVE NVMINIBVS ET LAPITEARVM CVM HOC TEMPLO SACRAVIT G. C. CALP. RVFINVS V. C. IN QVO HOSTIAE VOTO CREMANTUR; tradução: A todos os Deuses e Deusas, a todas as divindades, nomeadamente às do Lapiteas, dedicou este tanque eterno, com este templo, Gaius C. Calpurnius Rufinus, vão esclarecido, no qual se queimam vítimas por voto. 4) leitura: DIIS SEVERIS IRATIS HIC LOCATIS G. C. CALP. RVFINVS V. C.; tradução: Aos Deuses infernais irados que aqui moram, (dedicou) Gaius C. Calpurnius Rufinus, varão esclarecido. |
Utilização Inicial
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Religiosa: santuário rupestre |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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DRCNorte, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009 |
Época Construção
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Séc. 02 / 03 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 02 d.C., finais / 03 d.C., inícios - época provável da construção do santuário, por ordem de Gaius C. Calpurnius Rufinus, membro da ordem senatorial e alto funcionário do governo provincial da região às ordens de Roma; séc. 18 - O Contador de Argote descreve as fragas de Panóias; segundo descrição o santuário era constituído por 11 rochedos; 1721 - relação da freguesia de São Pedro de Vale de Nogueiras, feito pelo Reitor António Rodrigues de Aguiar, dando conta do património da freguesia, nomeadamente das fragas de Panóias; 1758 - segundo o encomendado Manuel Alvares Coelho nas Memórias Paroquiais da freguesia, no monte em frente da residência paroquial e da igreja, estavam umas fragas chamadas Panóias, com os feitios e arcas e várias invenções, como são sobre numa fraga grande cinco arcas esculpidas na pedra, cada uma com dez palmos de comprido e três de largo, e para onde se subia por uma escada de pedra feita na mesma fraga; noutras fragas vizinhas estavam outras rupturas esculpidas com diversos feitios; mais abaixo existia noutra fraga três "furnas ou boqueirons" cujo fundo não se conhece e cujas entradas foram tapadas por causa dos bichos que delas saíam, como referem algumas pessoas que ainda estavam vivas; na direção dessas cavernas ou furnas existiam as seguintes inscrições feitos na mesma fraga: 1ª Diis diabusque eternum lacum omnibus que nominibus e lapitearum cum hoc templo sacravit Gellius Calfurnius, in quo hostio voto cremantr (sic, por cremantur); 2ºª Hujus hostio quo cadunt hic immantur esta intra quadrata contra cremantur santus lacus; 3ª Diis cum hoc e lacum huc voto micetur Gellius Calpurnius diis in hoc templ; a 4ª já não se conseguia ler naquela data; 1854 - o viajante inglês, W. Kinston menciona no relato da sua viagem as fragas; 1880 - Gabriel Pereira visita Panóias e examina as fragas, descrevendo-as e desenhando-as; séc. 19, finais - descoberta de uma inscrição funerária, actualmente depositada no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2002, Maio - abertura de concurso público pelo IPPAR para adjudicação da empreitada de remodelação de duas construções para instalações de apoio / centro interpretativo / recepção de visitantes no Santuário de Panóias, cujos trabalhos serão financiados por apios comunitários; 2004 - descoberta de duas inscrições aquando da demolição de dois casebres no perímetro do Santuário, numa fraga onde já existem algumas cavidades; 2007, 20 dezembro - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Norte, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245; 2009, 20 janeiro - proposta de alteração da Zona Especial de Proteção da DRCNorte; 2011, 26 outubro - parecer favorável à proposta de alteração da Zona Especial de Proteção da SPAA do Conselho Nacional de Cultura; 2012, 08 fevereiro - publicação do projeto de decisão de revisão da Zona Especial de Proteção, em DR, 2.º série, n.º 28, anúncio n.º n.º 2669/2012; 2016, 11 fevereiro - publicação da abertura de procedimento de ampliação da classificação das Fragas de Panóias e redenominação para Santuário de Panóias, em Anúncio n.º 69/2016, DR, 2ª série, n.º 29; 25 fevereiro - publicação de Declaração de Retificação n.º 208/2016, DR, 2.ª série, n.º 39, devido o Anúncio n.º 69/2016 ter saído com diversas inexatidões. |
Dados Técnicos
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Afloramentos rochosos de granito. |
Materiais
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Granito. |
Bibliografia
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ARGOTE, D. Jerónimo Contador de, Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispado de Braga, Primaz das Hespanhas, tomo I, Lisboa, 1732, p. 533 - 577; BELLIDO, António García y, El culto a Serapis en la Península Ibérica, Boletín de la Real Academia de la Historia, 139, Madrid, 1955, p. 293 - 355; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, 2006; COLMENERO, António Rodriguez, Aquae Flaviae. I Fontes Epigráficas, Chaves, 1987, p. 132 - 143; IDEM, O Santuário Rupestre Galaico-Romano de Panóias (Vila Real, Portugal) - Novas achegas para a sua reinterpretação global, Vila Real, 1999; CORTEZ, Fernando Russell, Cividade dos Lapiteas. Subsídios para o estudo dos cultos orientais e da vida provincial romana na região do Douro, Anais do Instituto do Vinho do Porto, 8, Porto, 1947, p. 237 - 307; LAMBRINO, Scarlat, Les divinités orientales en Lusitanie et le sanctuaire de Panóias, Bulletin des Études Portugaises et de l'Institut Français au Portugal, 17, Lisbonne - Paris, 1953, p. 93 - 129; PARENTE, João, Roteiro arqueológico e artístico do concelho de Vila Real, Vila Real, s/d; RIBEIRO, Luís C., Santuário pagão de Panóias vai sofrer melhoramentos, Correio da Manhã, 09 Outubro 2002; SILVA, Armando C. F., A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, 1986, p. 300 - 301; SOUSA, Orlando, Santuário de Panóias Guia, s.l., IPPAR, 2001; TRANOY, Alain, La Galice Romaine. Recherches sur le nord-ouest de la péninsule ibérique dans l'Antiquité, Paris, 1981, p. 336 - 340; VASCONCELLOS, José Leite de, Religiões da Lusitânia, 3, Lisboa, 1913, p. 465 - 474; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70273 [consultado em 11 janeiro 2017]. |
Documentação Gráfica
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DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN |
Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN/DSID, Arquivo Pessoal de Ilídio Alves de Araújo (IAA), DGEMN/DREMN, SIPA |
Documentação Administrativa
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DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN |
Intervenção Realizada
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1942 - Limpeza e arranjo do recinto; 1951 - levantamento topográfico; 1979 - limpeza do recinto e moldagem das inscrições por técnicos do Museu Monográfico de Conímbriga; 1985 - vedação do recinto; 1994 - limpeza do recinto. |
Observações
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*1 - Nas imediações do Santuário foi encontrada uma inscrição bem como cerâmica de construção e pedras lavradas. |
Autor e Data
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Isabel Sereno e Paulo Amaral 1994 / Paula Noé 2011 |
Actualização
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