Mosteiro de São Bernardo de Portalegre / Escola Prática do Agrupamento de Instrução da Guarda Nacional Republicana, GNR, de Portalegre

IPA.00003748
Portugal, Portalegre, Portalegre, União das freguesias da Sé e São Lourenço
 
Arquitetura religiosa, manuelina, renascentista, barroca. Mosteiro feminino, cisterciense com igreja de planta em cruz latina, de nave única antecedida por nártex e com cabeceira tripartida, escalonada de capelas intercomunicantes; cobertura interior em abóbada nervurada de perfil abatido; dois claustros quadrangulares de dois pisos e intercomunicantes. Pórtico principal, púlpito e túmulo de D. Jorge de Melo renascentistas. Pórtico de acesso ao complexo monástico barroco. Escultura renascentista atribuída a Nicolau de Chanterenne que inclui um dos maiores e mais sumptuosos túmulos renascentistas; a imaginária do túmulo é interpretada como evocação da vida amorosa do fundador, D. Jorge de Melo, Bispo da Guarda, religioso de vida herética, pecaminosa e contumaz aos olhos da igreja do seu tempo, que chega a ser excomungado *8; conserva ainda vestígios de douradura e segundo Reinaldo dos Santos teria tido como protótipo o túmulo de D. Isabel de Sousa irmã de D. Diogo de Sousa Arcebispo de Braga (v. PT041012040004). Na igreja destaque ainda para o rasgamento dos vãos de iluminação como, por exemplo, os janelões de enxalço na parede S. orientando a luz para o túmulo que lhe fica fronteiro, ou ainda o janelão no topo O., projectando a luz até ao altar-mor através da grade. Os claustros conservam inúmeros exemplos de compartimentação primitiva, entre os quais se salienta a Sala do Capítulo, quase intacta, sendo possível o estudo espaço-função à luz da arquitectura cisterciense. O mosteiro conserva ainda todas as suas cercas, mantendo quase intacta a sua envolvência agrícola característica das edificações cistercienses.
Número IPA Antigo: PT041214080003
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  Ordem de Cister - Cistercienses

Descrição

Planta composta pelo corpo da igreja longitudinal, orientada, com transepto saliente e nartex na face S. ao qual se adossa a torre sineira saliente, 2 claustros intercomunicantes, de dois pisos, a E. o menor a O. o maior, ao redor dos quais se dispõem as demais dependências monacais. O conjunto é delimitado por uma cerca. Cobertura diferenciada em telhados de duas águas na igreja, de uma água nos claustros, de 4 águas na dependência a S.. Igreja com cabeceira tripartida, escalonada de capelas intercomunicantes, sendo a capela-mor mais profunda e mais larga, com fecho em 5 / 8 do polígono, e as laterais quadrangulares. INTERIOR: nave única com cobertura em abóbadas achatadas, nervuradas. A E., do lado da Epístola, por cima do púlpito (hexagonal, em mármore de Estremoz, com as faces esculpidas em baixo relevo, ornamentadas de flores, rótulos, grifos e mascarões) e do altar de Nossa Senhora da Piedade (em mármore de Estremoz) *2, três janelões de capialço; na parede fronteira, ocupando toda a altura, o túmulo de D. Jorge de Melo. A O. os coros sendo o coro-alto sustentado por duas fiadas de 6 colunas toscanas de granito. Coro-baixo com acesso por grade em ferro forjado, munida de porta do mesmo material, e de portadas de madeira do lado de dentro; junto à grade, a campa de António de Melo filho do fundador; ladeando a grade, a S., uma roda e a N. o confessionário; cadeiral com 40 assentos; tecto de vigas salientes, formando caixotões, com pintura policromada de decoração vegetalista sobreposta de uma outra imitando mármores; na parede N. porta emparedada *3, cinco nichos, 4 dos quais apresentando ainda guarnecimentos e portas em madeira pintada; na confluência entre esta parede e o alçado O., escada de acesso ao coro-alto *4. Coro-alto com cadeiral duplo de 54 assentos em madeira exótica; no topo O. janelão e na parede S. janela. Cabeceira mais elevada, com acesso por arcos de volta perfeita, sendo mais elevado o triunfal, os das colaterais munidos de grades em ferro forjado; passagem entre capelas através de portas, com ombreiras e frontões de mármore lavrado, rasgadas nos muros da capela-mor, mais elevada; a colateral N. comunica com a sacristia através de porta munida de ombreiras e verga recta de granito; pia de água benta à entrada. Coberturas da cabeceira em abóbada nervuradas, tendo no fecho o brasão dos Melos e nos bocetes decoração fitomórfica, possuindo um deles um "M"; todas as capelas têm iluminação directa, através de janelas abertas nos alçados. No braço N. do transepto os túmulos das duas primeiras abadessas; em ambos os alçados de topo dois armários sob a forma de nichos, servidos com porta; perto do tecto, em ambos os alçados, frente a frente, dois janelões de iluminação; a cobertura, que se prolonga pela nave dos fiéis, é de abóbada nervurada, descrevendo as nervuras primárias arcos abatidos, sendo na zona central claramente achatada; os inúmeros bocetes possuem decoração fitomórfica e as armas dos Melos; a O., do lado N., pequena divisão *5 e do lado S. lápide inscrita com o acto de consagração da igreja, guarda-vento e o portal da igreja. A a N., no coro-alto, escada de acesso à cobertura e duas portas emparedadas *6. Várias sanefas em talha dourada e vários painéis de azulejos de evocação bernardina na nave, transepto e coros. CLAUSTROS: claustro E. de planta quadrada com c. de 14 m de lado e claustro O. rectangular de 19 m por 18,5 m. Alçados de 2 pisos e tramos (3 no claustro E., quatro no O.), definidos por conjunto pilar - contraforte; nos pisos térreos arcos, 2 por tramo, de volta perfeita descarregando em colunas (com capitéis vegetalistas e geométricos no claustro E. e no claustro O. decorados de folhas, faces humanas, dragões, figuras híbridas, brasão dos Melos), assentes em murete; pisos superiores com arcos deprimidos, de tripla chanfradura, descarregando em colunas com capitéis de decoração mais simples. As galerias do claustro O. são sensivelmente mais largas e as galerias do piso superior de ambos os claustros apresentam arcos de travamento da igreja no encontro dos alçados. Coberturas dos pisos térreos em abóbada de arestas nervuradas e dos pisos superiores de travejamento à vista, inclinado. Junto à ala N. do Claustro E., na crasta, o corpo quadrado do alpendre do lavabo, rasgado por 4 arcos de volta perfeita; ao centro da crasta do claustro O., fonte rodeada por 4 bancos. Claustro E.: na ala E. parlatório e Sala do Capítulo, de abóbada estrelada achatada, com mísulas e bocetes trabalhados e a chave de fecho decorada com o escudo dos Melos; a entrada faz-se por porta de arco deprimido ladeada por duas janelas em arco de volta perfeita. Na ala N. as antigas cozinhas e refeitório. Claustro O.: de E. para O., a Portaria Nova com porta moldurada em mármore de Estremoz, com frontão decorado com o escudete dos Melos entre volutas; ladeando a porta uma roda e grade de comunicação; o alçado é decorado por azulejos figurativos enquadrados por composições arquitectónicas; da ala N. deste claustro resta apenas a parede interior.

Acessos

Avenida Jorge Robinson. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,296559; long.: -7,426641

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 (Igreja de São Bernardo e o túmulo de D. Jorge de Melo) / Decreto n.º 32 973, DG, 1.ª série n.º 175 de 18 agosto 1943 (Os dois claustros do convento anexo à Igreja de São Bernardo) / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 117, de 18 maio 1957 (Os dois claustros do convento anexo à Igreja de São Bernardo) / Incluído na Área Protegida da Serra de São Mamede (v. PT041214020015) *1

Enquadramento

Urbano, apresentando, para E., uma encosta não urbanizada da Serra de Portalegre.

Descrição Complementar

PÓRTICO PRINCIPAL: bases decoradas de grotescos, rótulos, festões, motivos guerreiros e mascarões; pés direitos decorados com grotescos e colunelos inferiormente canelados e superiormente com a forma de balaústres; arco de volta perfeita com as aduelas decoradas de querubins; nas enjuntas, dois medalhões com as figuras de uma mulher e de um homem; arquitrave, tendo ao centro um "M", rematada por frontão com remate concheado terminando em urna; ao centro do frontão as armas prelatícias do fundador e a data inscrita "1538"; é ladeado de volutas e de animais fantásticos. TÚMULO DE D. JORGE DE MELO: articulado em três corpos e remate, com 11,15 m de altura por 7,70 m de largo: no corpo central base com epitáfio em cartela segura por putti; sobre ela o sarcófago, com estátua jacente, tendo um cão aos pés; sobre este altar-portal de arco de volta perfeita com São Joaquim e Santa Ana às portas do Paraíso; aos lados, em pequenas edículas, São Simão e Santa Helena, e nos nichos menores São Miguel e São Jorge; nas enjuntas dois medalhões com os bustos de São Pedro e São Paulo. Nos corpos laterais bases com ressalto, profusamente decoradas com as figuras fantásticas, onde assentam colunelos que ladeiam, em nichos com mísula e baldaquino, as figuras de São Bento e São Bernardo. Remata os três corpos arquitrave com ressaltos, intensamente decorada com mascarões, rótulos e festões; terminação com quatro atlantes a ladear uma edícula com forma de portal em arco deprimido, dentro da qual a imagem de Nossa Senhora em Glória preside a todo o conjunto; sobre esta edícula o escudo dos Melos.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Educativa: academia / escola militar e paramilitar

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Ministério da Defesa Nacional / DGIE

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ALVANEIRO: Gaspar Gonçalves (1533). BATE-FOLHA: Gaspar Silva (1683). CANTEIRO: Nicolau de Chanterenne (atr.) *7. MARCENEIROS: Domingos Lopes (1677); Manuel Barreto (1674). PINTORES DE AZULEJO: Gabriel del Barco (atr., séc. 17); Policarpo de Oliveira Bernardes (atr., 1739). PINTORES - DOURADORES: Domingos Nogueira (1683); Pedro Coelho Taborda (1683).

Cronologia

1518 - fundação do mosteiro a expensas de D. Jorge de Melo, no sítio da Fontedeira; 1526 - primeiro documento conhecido sobre as obras de construção; 1518 - 1533 - construção do claustro E.; 1533, 16 agosto - uma carta de perdão a Gaspar Gonçalves, alvaneiro, empregado nas obras do convento, faz referência a materiais e instrumentos de trabalho aí aplicados; 1531 - data dos estatutos do mosteiro; 1533 - filiação do Mosteiro no de Claraval; 1538 - data inscrita no portal da igreja; 1540 - início da construção do túmulo de D. Jorge de Melo; 1547 - conclusão do claustro O., com data inscrita na portaria; 1548 - falecimento de D. Jorge de Melo; 1549 - apostilha de D. João III autorizando a construção da cerca; 1572 - consagração da igreja; 1587 - 1608 - campanha de obras: construção cerca nova englobando o dormitório novo então construído a N., perpendicular aos claustros; séc. 17 - datação dos painéis de azulejos, atribuídos a Gabriel del Barco, colocados nas capelas colaterais da igreja; gradeamento da mesmas; 1674, 12 agosto - contrato com Manuel Barreto, marceneiro, para a feitura do retábulo-mor, que não terá sido executado; 1677, 30 maio - contrato do mestre marceneiro Domingos Lopes para a feitura do retábulo-mor (FERREIRA, vol. II, p. 497); 1683, 01 outubro - contrato entre os religiosos e os pintores Pedro Coelho Taborda e Domingos Nogueira para o douramento do retábulo-mor, seno o ouro fornecido pelo bate-folha Gaspar Silva, fornecedor da Casa Real (FERREIRA, vol. II, p. 588); 1739 - datação dos painéis de azulejo do alpendre, nártex, transepto e nave dos fiéis, atribuíveis a Policarpo de Oliveira Bernardes; 1767 - data inscrita nos espaldares dos bancos que rodeiam a fonte do claustro O.; 1776 - trasferência das religiosas para o Mosteiro de Odivelas (v. PT031107100001); 1777 - restauro do mosteiro e regresso das religiosas; séc. 18 - datação dos painéis de azulejos da capela-mor, dos cadeirais dos coros alto e baixo, das sanefas e da torre sineira; 1878 - extinção do mosteiro por morte da última religiosa; 1879 - instalação do Seminário Diocesano; 1880 - 1887 - funciona no mosteiro o Liceu; 1883 - substituição da escultura representativa de Neptuno, na fonte do pátio; 1911 - data a partir da qual o mosteiro é utilizado por instituições militares e paramilitares (nomeadamente o Regimento de Caçadores nº 1); 1932 - 1961 - funciona na igreja o Museu Municipal; 1940, 26 setembro - publicação de Decreto nº 30 762, no DG, 1.ª série, n.º 225, determinando a classificação do edifício como Imóvel de Interesse Público; 01 novembro - publicação do Decreto nº 30 838, DG, 1.ª série, n.º 254, suspendendo o decreto n.º 30 762, de 26 de setembro do mesmo ano, relativamente à classificação de imóveis de propriedade particular.

Dados Técnicos

Paredes portantes a interceptarem-se ortogonalmente. Os empuxos horizontais provenientes das abóbadas são contrariados pela grande espessura das paredes, por arcobotantes, contrafortes e pelos edifícios do mosteiro a que a igreja se adossa.

Materiais

Pavimentos: mármore e madeira (igreja), pedra, tijoleira e betão (claustros). Paredes: alvenaria de pedra e argamassa de cal. Cunhais, contrafortes, pilares, arcobotantes e molduras vãos claustros: cantaria de granito. Revestimentos: azulejos. Gradeamentos: ferro forjado. Cadeirais: castanho, casquinha e madeira exótica. Tectos: alvenaria de tijolo. Telhados: telhas de argila.

Bibliografia

BUCHO, Domingos Almeida, Mosteiro de São Bernardo de Portalegre. Estudo histórico-arquitectónico. Propostas de recuperação e valorização do património edificado, Portalegre, 1995; BUCHO, Domingos Almeida, Portalegre e as suas Fontes, Portalegre, 1996; COCHERIL, Dom Maur, Routiers des abbayes cisterciennes du Portugal, Paris, 1986; FERREIRA, Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva, A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras, Lisboa, Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, 2009, 3 vols.; GUSMÃO, F. A. Rodrigues de, Memória histórica do Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de monjas da Ordem de Cister da cidade de Portalegre, Instituto, Vol. 6, Coimbra, 1858; KEIL, Luís, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Portalegre, Lisboa, 1943; MAYOR, Diogo Pereira Sotto, Tratado da Cidade de Portalegre (séc. 17), Lisboa, 1984; RODRIGUES, Jorge e PEREIRA, Paulo, Portalegre, Lisboa, 1988; SANTOS, Reinaldo dos, A Escultura em Portugal, Lisboa, 1950; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. I.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS; GNR

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH, DGEMN/DREMS; GNR; DGARQ/TT: Chancelaria de D. João III, Legitimações e Perdões, Liv. 9, fl. 299 (publ. VITERBO)

Intervenção Realizada

DGEMN: 1953 - 1961 - reconstrução coberturas e telhados claustros, rebocos e tectos de madeira; restauro claustros, incluindo assentamento de novos pavimentos; reparação de telhados, portas e caixilhos; demolição bancada do claustro da leitura na ala S. do claustro E. (1955); desmantelamento do lavabo do claustro E. (1957); limpeza e reparação de telhados na igreja e anexos; restauro da torre da igreja; 1968 - reparação telhados claustros; 1974 / 1975 - limpeza e reparação de telhados; substituição de parte da madeira do pavimento do coro-alto; 1984 - limpeza e reparação de telhados; substituição de rebocos; caiações; GNR: 1996 - restauro da Fonte de Neptuno no pátio, orientado por Domingos Bucho.

Observações

*1 - DOF: Igreja de São Bernardo e o túmulo de D. Jorge de Melo e os 2 claustros do convento anexo à Igreja de São Bernardo. *2 - o altar terá vindo do Convento de São Francisco de Portalegre (PT041214090011). *3 - comunicava com o claustro E.. *4 - junto à escada situava-se uma porta, hoje emparedada, que comunicava com o claustro O.. *5 - comunicava com o claustro E. e constituia provávelmente o primitivo "armarium". *6 - comunicavam com a galeria superior do claustro E.. *7 - apesar de existirem três enigmáticas iniciais (A. I. O.) numa das bases do túmulo. *8 - Domingos Bucho (1995), interpreta esta imaginária como uma clara evocação do idílio de D. Jorge (Simão de baptismo) com D. Helena Mesquita, antevendo-se o seu encontro post mortem.

Autor e Data

Domingos Bucho 1998

Actualização

 
 
 
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