Casa do Soito e Paço dos Cunhas
| IPA.00003795 |
Portugal, Viseu, Nelas, União das freguesias de Santar e Moreira |
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Casa nobre maneirista e barroca, de fachada lisa, com tímida curvatura central sem elementos decorativos, pórtico flanqueado de colunas e as janelas com balcão de balaústres idênticas às do Colégio e Paço Episcopal de Viseu (Museu Grão Vasco). Casa do Soito, baseada no modelo do Paço dos Cunhas, com fachada principal totalmente preenchida de vãos moldurados com elementos curvilíneos dinâmicos, e cornija que se arqueia acentuadamente ao centro. Jardim com rampas, escadarias, balaustradas, canteiros de buxo, estátuas e bancos forrados de azulejos barrocos de figura avulsa e figurativos. |
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Número IPA Antigo: PT021809040010 |
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Registo visualizado 1310 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre Casa nobre Tipo planta em L
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Descrição
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Paço dos Cunhas: resta a fachada principal, voltada a E., com grande portal ladeado por 2 colunas sobre plintos paralelepipédicos, encimadas de lintel com inscrição epigráfica e 2 florões a ladear brasão dos Cunhas. Lateralmente, no 2º piso, 2 janelas rectangulares com balaústres. Fachada delimitada por pilastras encimadas de coruchéus e rematada por cornija que se eleva em curva sobre o portal. Na face interna pequeno nicho sobre a porta e à esquerda escada de acesso à janela. A N. e O. articulam-se 2 corpos em L, horizontalistas, de coberturas diferenciadas de telhados a 3 águas. Corpo N.: fachada E. sem vãos, remate em cornija e coruchéu sobre cunhal; fachada N. 2 pequenos vãos rectangulares no 2º piso; fachada O. adossada ao corpo O.; fachada S. 5 portas; 1 janela e 4 vãos rectangulares no 1º piso e 1 porta, 3 janelas e 5 vãos rectangulares no 2º; remate em cornija. Corpo O. de piso único sem embasamento: fachada E. 1 porta rectangular à direita ladeada de contrafortes, 1 porta em arco rebaixado e 1 janela rectangular gradeada; fachada S. 1 janela rectangular; fachada O. 1 porta rectangular; fachada N. 3 janelas rectangulares. Interior do corpo N.: 5 salas-armazéns no 1º piso e 1 corredor, 2 salas de topo e 4 quartos no 2º. Corpo O. de espaço único com 2 lagares. Casa do Soito: planta composta, irregular, em L. Massa de volumes articulados, horizontalista. Coberturas diferenciadas: telhado a 4 águas no corpo principal e de 2 e 3 águas nos restantes e sótão. Fachada principal: orientada a SE., antecedida de jardim em 2 planos com escadaria de 2 lanços transversais, convergentes, com corrimão de balaústres; embasamento pouco saliente; 1º piso portal de lintel curvilíneo flanqueado de pequenas volutas sob lintel em cortina, de cada lado 1 janela e 1 porta de molduras e frontões curvilíneos; 2º piso 5 janelas de molduras e frontões curvilíneos e parapeitos em sanefa; sobre a janela central brasão dos Coelho Amaral; remate em cornija, em arco peraltado ao centro; coruchéus sobre os cunhais. À esquerda corpo recuado com terraço, adossado a corpo transversal com 5 vãos de moldura tetralobada no 1º piso e 5 janelas de molduras curvilíneas no 2º. Fachada do topo SO.: sem embasamento; 1º piso parcialmente reentrante, a formar galilé, com 1 porta, ladeado por pilar à direita e parede à esquerda; 2º piso, saliente, 4 janelas rectangulares; remate em cornija. Fachada NO., sem embasamento, 1º piso 1 porta de moldura rectangular, 2 em arco pleno e 5 janelas de moldura rectangular gradeadas; 2º piso 10 janelas rectangulares ladeadas de mísulas; parte da fachada eleva-se num sotão (3º piso) com 6 janelas rectangulares; lateralmente, sobre o telhado, 2 coruchéus. À esquerda corpo reentrante com 1 janela de moldura rectangular no 1º e 2º pisos. Corpo longitudinal adossado para NO., sem embasamento, de piso único: fachada SO. 4 portas e 3 janelas rectangulares; fachada do topo NO. 1 vão quadrangular junto da empena angular; fachada NE., 2 panos: fachada do corpo longitudinal 3 janelas rectangulares e grande chaminé sobre o telhado; fachada do corpo principal com embasamento e 2 portas a ladear 2 janelas no 1º piso e 3 janelas no 2º, todas de moldura rectangular; remate em cornija e chaminé com pequenas aberturas tetralobadas e cobertura contracurvada. Interior: piso térreo do corpo principal atravessado por corredor com acesso, a S., à copa, sala de jantar, sala intermédia, biblioteca e átrio com escadaria de pedra para o 2º piso. As salas do piso térreo são cobertas com tectos de masseira em caixotões. A N. do corredor, no corpo longitudinal, a cozinha com grande chaminé-lareira granítica apoiada em 3 pilares, e uma escada com degraus de pedra e corrimão de madeira com balaústres. 2º Piso: corredor com tecto de masseira em caixotões com laternim central. A E. 2 quartos e a S. sala de armas com fogão de granito proveniente do Paço dos Cunhas, salão de baile e sala de visitas. A N. sala de estar. Divisões cobertas com tectos de estuque com relevos de temática vegetalista. No sotão pequenas salas e quartos. Jardim: a E. com canteiros de buxo, nespereiras, cedros, nogueiras, pinheiros e palmeiras. Carreira com bancos azulejados de figura avulsa e grande banco de topo com azulejos figurativos com cenas de caça e cortesãs a azul e branco com cercaduras roxo e amarelo. Estátuas de São Filipe Nery e Nossa Senhora da Conceição. A E. e N. quinta com plantação de vinha, horta e pomares, incluindo dependências agrícolas, pombal, eira, poço e um mirante. |
Acessos
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Rua Sacadura Cabral, Rua do Soito, Largo do Paço |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45/93, DR, 1.ª série-B, n.º 280 de 30 novembro 1993 *1 |
Enquadramento
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Urbano. No cimo de outeiro circundado por arruamentos e casas de 2 pisos, algumas antigas, e capela. Harmonizados com o meio; isolados. O complexo habitacional e a propriedade são totalmente envolvidos por cerca com portões gradeados. O acesso ao Paço é feito por carreiros ladeados por sebes de loureiro. Jardim com canteiros de rosas, árvores centenárias, estátuas e uma carreira de cameleiras, surgindo bancos revestidos a azulejo. |
Descrição Complementar
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Paço dos Cunhas: Transcrição da inscrição sobre o portal: "DOM PEDRº DA CVNHA MANDOV / FAZER ESTA OBRA. O ANNO: D: 1609". Da ala residencial do antigo paço, situada a S., resta apenas um murete de pedra, restos do alicerce da mesma. No corpo lateral N. situavam-se as antigas cocheiras, celeiros e quartos do pessoal. Na fachada S. é notória a justaposição de 2 caixas murárias a revelar ampliação da estrutura original para O.. O corpo O. destinava-se a adega. Casa do Soito: Alguns cunhais e molduras de portas e janelas foram refeitos em cimento a imitar granito. A N., no piso térreo uma pequena adega sustentada por 8 colunas de granito, provavelmente provenientes das ruínas do Paço dos Cunhas. Brasão dos Cunhas, de ouro com nove cunhas de azul, bordadura cosida de prata carregada com cinco escudetes de azul; cada um carregado com cinco besantes de prata; timbre com grido de ouro semeado de cunhas de azul. Fachada posterior da Casa do Soito com registo de azulejo, com a seguinte inscrição: "DR. MANUEL COELHO DO AMARAL REIS / PROVEDOR DA MISERICÓRDIA DE SANTAR / GOVERNADOR CIVIL DE VISEU / 1874 / 1949". |
Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Residencial: casa |
Propriedade
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Privada: pessoa colectiva |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Cronologia
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Paço dos Cunhas: séc. 16 - a povoação de Senhorim e seu termo foi doada pelo rei a D. Luís da Cunha, senhor de Sabugosa, Óvoa e Barreiro, proprietário do Casal Bom, em Santar, correspodente ao Paço actual; 1609 - Edificação do Paço, aproveitando algumas estruturas do séc. 15 de um paço medieval dos antigos donatários de Senhorim, Óvoa e Barreiro, por D. Pedro da Cunha, casado com D. Elvira Coutinho de Vilhena, Senhor da Casa de Santar e donatário dos concelhos do Barreiro, Senhorim e Óvoa, fidalgo da casa de D. Filipe II; 1620 - Falecimento de D. Pedro da Cunha, sendo seu herdeiro o 2º filho, D. Lopo da Cunha. Partidário dos Filipes, fugiu para Espanha em 1641 e participou numa conspiração contra D. João IV o que determinou a confiscação dos seus bens, o desterro em Espanha e, consequentemente, o abandono e início de ruína do Paço dos Cunhas; séc. 17, 2.ª metade - a família Cunha apoiou Castela e os bens foram confiscados; 1722 - o Marquês de Bedmar, genro de D. Pedro da Cunha, reclamou os bens para a sua filha e herdeira D. Maria; séc. 19, início - O Paço dos Cunhas é comprado por José Caetano dos Reis, genro de Francisco Coelho do Amaral Reis, visconde de Pedralva, e do Dr. Manuel Casimiro Coelho do Amaral Reis, proprietário da casa do Soito, integrando-o na propriedade e reconstruindo parcialmente as antigas cavalariças e a adega. Casa do Soito: séc. 18 - Construção da Casa do Soito pertença da família Coelho do Amaral; 1808 - Nascimento de Francisco Coelho do Amaral, juiz ordinário e administrador do Concelho de Nelas, presidente da Câmara, provedor da Misericórdia de Santar e jornalista. Tomou parte activa ao lado dos liberais na revolta de 1846 e na Campanha da Serra da Estrela. Foi eleito deputado e vice-presidente da Câmara de Deputados. Durante a sua vida fizeram-se remodelações na frontaria da casa e acrescentou-se o topo SO. e o sotão; 1988 - Constitui-se a Fundação da Casa do Soito com objectivos de solidariedade social e de estudo, defesa e divulgação do património cultural e natural e preservação do conjunto arquitectónico dos 2 edifícios e seu recheio, sendo instituidor o Dr. Francisco Caetano da Cunha Coelho Amaral; 1995 - A Fundação da Casa do Soito é substituída pela Sociedade Agrícola da Casa do Soito, Lda., dando continuidade a um projecto para constituição de um Museu na Casa do Soito com o apoio do IPPAR e do Instituto de museus; 1996 - Estão em estudo os estatutos do futuro Museu e um projecto de restauro do Paço dos Cunhas com o objectivo de o adequar a Turismo de Habitação. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Estrutura de alvenaria granítica regular e irregular, rebocada na Casa do Soito. Cantarias de granito aparelhado. Algumas molduras e cunhais de cimento. Pavimentos de lajes graníticas e de madeira. Tectos de madeira e de estuque. |
Bibliografia
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LEAL, Augusto S. Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1878; COELHO, José, Memórias de Viseu, Viseu, 1941; LOUREIRO, José Pinto, Concelho de Nelas (Subsídios para a História da Beira), Nelas, 1957; AMARAL, Francisco Keil, Histórias à Margem de um Século de História, Lisboa, 1970; AZEVEDO, Carlos, Solares Portugueses, Lisboa, 1988; PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal, vol. III, 2ª ed., Lisboa, 1994; CARVALHO, A. Polónio de, Santar - roteiro artístico, Nelas, Câmara Municipal de Nelas, 2001; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74899 [consultado em 28 dezembro 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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Séc. 20 - Obras de manutenção exteriores e interiores, renovação de rebocos e pintura. |
Observações
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*1 - DOF: Casa do Soito e Paço dos Cunhas, incluindo jardins e pomares delimitados por uma cerca. (1) Estes dados referem-se exclusivamente à Casa do Soito, uma vez que o Paço dos Cunhas se encontra em ruínas. 1994 - A Câmara Municipal de Nelas pretendeu alargar uma rua empedrada paralela à cerca do Paço dos Cunhas, obtendo autorização do proprietário para proceder a demolição de parte do muro e de algumas árvores dentro da propriedade, na condição de o refazer assim como ao empedrado em paralelipípedos de granito, idêntico a todos os arruamentos circundantes da cerca que envolve as 2 casas e a propriedade agrícola, na ZP. Contudo a Câmara alcatroou a rua e deixou o muro inacabado, pretendendo vir a colocar-lhe uma grade de ferro. |
Autor e Data
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Lina Marques 1996 |
Actualização
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