Chafariz Filipino da Praça Francisco António Meireles
| IPA.00000380 |
Portugal, Bragança, Torre de Moncorvo, Torre de Moncorvo |
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Arquitectura infraestrutural, maneirista. Chafariz central, de tanque em cruz grega, tendo ao centro plinto paralelepipédico e elemento piramidal sustentando a taça, quadrangular e de perfil curvo, com almofadas e bicas carrancas em cada face, fechado por um outro elemento piramidal, com inscrição alusiva à sua construção, coroado por plinto e pináculos, num claro esquema piramidal. Chafariz público construído no séc. 17, mas reconstruído no final do séc. 21, seguindo o esquema do antigo conhecido por fotografia, conseguindo uma boa integração dos elementos primitivos subsistentes com os modernos. A sua tipologia de taça fechada é invulgar na região N. do país, mas mais comum no aro Eborense, destacando-se ainda a existência de inscrição aludindo ao promotor da sua construção em cada uma das faces da "tampa" da taça. A sua construção, bem como o aqueduto que o alimentava, foi tão demorada que, quando concluído, já os canos do aqueduto precisavam ser reformados. |
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Número IPA Antigo: PT010409160015 |
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Edifício e estrutura Estrutura Hidráulica de elevação, extração e distribuição Chafariz / Fonte Chafariz / Fonte Tipo centralizado
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Descrição
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Sobre soco de planta em cruz grega, constituída por dois degraus, ergue-se o tanque, igualmente de planta em cruz grega, formada por lajes de cantaria dispostas ao alto, tendo, inferiormente, cornija e, superiormente, bordo saliente em curva para a face exterior. No centro do tanque, ergue-se plinto paralelepipédico, com almofadas côncavas em cada uma das faces, encimado por elemento tronco-piramidal, igualmente de faces almofadadas, sobre a qual assenta a taça; esta tem planta quadrada e perfil curvo, com almofadas em quarto de círculo enquadrando carranca central, com bicas de ferro, em cada face, fechada por elemento tronco-piramidal, de faces almofadadas e sendo inferiormente percorrido pela inscrição FEITO NO ANO DO SENHOR DE 1636 POR ORDEM DO DOCTOR JULIÃO DE FIGEIREDO PROVEDOR E CONTADOR NESTA COMARCA A CUSTA DO POVO. É coroado por plinto paralelepipédico de faces almofadadas encimado por pináculo piramidal adelgaçado, terminado por um outro pináculo piramidal e bola. |
Acessos
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Praça Francisco António Meireles |
Protecção
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Em vias de classificação (Homologado como IIP - Imóvel de Interesse Público, Despacho de abril 1976) |
Enquadramento
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Urbano, isolado, no meio de uma das principais praças da vila moderna, ou seja, a que se desenvolveu a partir do séc. 15 no exterior da urbe envolvida pela muralha medieval. Era nesta praça que se desenvolviam as principais actividades recreativas, que se fazia a feira e onde se erguiam os Paços Municipais. Actualmente, a praça apresenta uma plataforma central, pavimentada a calçada à Portuguesa, decorada com motivos radiais a preto e branco, e ponteada de árvores, envolvida por via asfaltada, à volta da qual se erguem casas de habitação e comércio e o edifício do Tribunal da Comarca. Em plataforma bastante sobrelevada e virada à praça, acedida por dois braços de escada, ergue-se o edifício da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo (v. PT010409160042). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Hidráulica: chafariz |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: fonte ornamental |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 17 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Ana Maria Rodrigues (1998); António Fernandes (1628); Manuel Cavaleiro (1704 / 1705). CALERIO: António Fernandes (1658). CANTEIRO: António Pires (1771); Manuel Dias Cordeiro (1683). EMPREITEIRO: Gonçalo de Aguiar (1638). Historiador: Nelson Rebanda (1998). OLEIROS: Domingos Francisco Tezo e Diogo Vaz (1657). PEDREIRO: Ambrósio Gonçalves (1668). |
Cronologia
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1456 - a documentação refere o abandono da zona intra-muros do castelo e a sua fixação nos arrabaldes; séc. 15 - carta de D. Afonso V ordenando que a feira se fizesse no "arrabalde" durante sete meses do ano e dentro da "cerca" os restantes meses, contrariando a vontade da Câmara; 1463 - referência à existência de um bom chafariz de muita água no arrabalde da vila muralhada, a actual praça, razão pela qual se defendia a realização do mercado e feira no local; 1549 - descrição da vila por João de Barros, referindo ter um chafariz no meio da Praça, com mais de quarenta palmos de alto e que deitava água por quatro canos; séc. 16 - existência de vários litígios entre a Câmara Municipal e o Convento de São Francisco, construído em 1569 a meio caminho entre a vila e a serra do Roboredo, devido à partilha das águas que a Câmara procurava conduzir daquela serra para a urbe, já que o ribeiro passava dentro da cerca conventual cuja água os frades também usavam, bem como de duas fontes de Roboredo que os franciscanos diziam igualmente pertencer-lhes; 1576, 23 Dezembro - acórdão resolvendo as questões da água, determinando que se encanasse todas essas águas, mas delas se devia dar "hum anel ao Convento", tendo-se começado de imediato as obras; 1577, 5 Maio - acórdão em que a Câmara ficava obrigada a ceder aos franciscanos, da água que corria nos canos, o quinhão prometido no ano anterior; devido à persistência das discussões entre os oficiais da Câmara, pessoas da Governança e o povo da vila relativa à água das duas fontes, se a mesma deveria ou não ser incluída no aqueduto, recorreu-se ao rei; deslocação do desembargador da Casa do Porto a Torre de Moncorvo para se inteirar da situação; 1589 - ainda não corria água no chafariz que se intentava fazer na praça, "por respeito de algumas dúvidas em se metterem nos canos duas fontes, que estavão em huma tapada de Gonçalo Dias; 1591, 8 Junho - alvará do rei determinando que a água das duas fontes se metesse no cano geral, por onde a água deveria chegar à vila, e que dela se desse aos frades do Convento de São Francisco uma quinta parte e a outra quinta parte viesse pela mesma maneira a um chafariz particular, que o rei acha por "bem se faça pela traça, e ordem, que melhor parecer" em frente da Igreja ou Capela de Santo António; as três partes que ficavam da água, deviam vir então para o chafariz do meio da praça, que já estava começado; o rei determinava ainda aos funcionários da Câmara a maior brevidade na execução das obras; 1611, 7 Março - na sequência de uma queixa pelos frades franciscanos da falta de cumprimento por parte do Município relativo ao seu quinto da água, o rei deu alvará determinando que fosse o Juiz de Fora o responsável pela "chave da arca, e cano da agua da dita Villa", com a recomendação especial de este fazer ir a água "que sempre se deu aos ditos Religiosos"; 1628, 16 Dezembro - correndo as obras demoradamente, a Câmara arrematou as obras do chafariz da praça e respectiva conduta de abastecimento ao Arquitecto António Fernandes; 1636, 20 Outubro - provisão real autorizando a arrematação dos canos do chafariz da praça; execução da taça do chafariz, conforme a inscrição no mesmo; nesta data já existiam dois chafarizes na praça; 1638 - o arquitecto ainda continuava com contratos relativos às obras no chafariz da praça; notificação ao empreiteiro Gonçalo de Aguiar pela Câmara Municipal por não ter consertado ambos os chafarizes, como se havia comprometido, mas apenas o maior; 1657, 7 Abril - provisão de D. Afonso VI autorizando a petição da Câmara para as obras dos canos e determinando a existência de um livro da receita e despesa da dita obra; 1 Maio - termo de abertura do "Livro que hade servir para a obra dos canos do chafaris o cual tem duzentas meias folhas tudo anumeradas com o meu sobre nome de Gouvea"; 27 Junho - contrato com Domingos Francisco Tezo, do Felgar, oleiro de louça vidrada, e seu cunhado Diogo Vaz, para o fabrico de todos os canos necessários para a obra que se pretendia fazer no chafariz, desde a primeira casa de água até ao repuxo, cada um dos quais seria de dois palmos de comprido para os encaixes e seriam abertos por cima, ao preço unitário de $023 rs e com a condição de serem vidradas por dentro; 1658 - contrato com António Fernandes, caleiro de Mós, para manter o forno operacional durante dois anos, a fabricar cal exclusivamente para a obra dos canos do chafariz; 1668, 23 Junho - registo da última despesa de obra a Ambrósio Gonçalves, pedreiro morador na vila, que, por betumar o chafariz e pelas despesas de féria e azeite, recebeu 3$750; segundo o cronista do Convento de São Francisco, quando se encerrara neste ano o Livro de despesa e receitas da obra do chafariz, já a canalização estava arruinada, começando a faltar a água no chafariz da praça, até que desapareceu mesmo dos canos e voltou ao seu curso natural, que antigamente tinha pelo ribeiro da cerca do convento; 1683 - só nesta altura a Câmara decidiu consertar a conduta do chafariz, obra arrematada a Manuel Dias Cordeiro, canteiro da vila por 9.000 cruzados; 1698, 4 Julho - provisão régia determinando que se continue a arrecadar por um prazo de 8 anos um real de água com "aratel de carne, e quartilho de vinho" para a obra do chafariz; 1706 - notícia de existirem na vila quatro fontes públicas e muitas outras particulares e muitos poços, refindo-se que a água do chafariz da praça corria, desde "há muitos annos" desencaminhadamente, por estarem destruídos os aquedutos; 1704 / 1705 - juntamente com a Fonte das Hortas, a dos Pelames, o chafariz pequeno da Praça e a Fonte das Aveleiras e de Santiago, foi alvo de reparações, arrematadas pelo "mestre arquitecto" Manuel Cavaleiro; 1721 - referência a existirem na vila cinco fontes naturais, que serviam com muita abundância os moradores da vila, e mais vinte fontes de particulares, que estavam nos pomares, hortas e jardins dos subúrbios; 1785 / 1786 - informação do Corregedor José António de Sá relativa à existência de sete fontes públicas, "com muito bom preparo": o chafariz da Praça, Aveleiras, Fonte de Santiago, Fonte do Carvalho, das Hortas, do Conselho e de Santo António; 1771, 28 Junho - arrematação de obras no chafariz pelo canteiro António Pires, que se comprometia a que a taça fosse lajeada de novo com 12 pedras novas ou menos se possível, pondo-lhe as maiores que se puderem acomodar de modo que em cima da "buxa" do repuxo ficasse uma mais pequena que se pudesse levantar quando necessário; as restantes peças do conjunto deveriam ser desmontadas e reparadas para nelas se introduzir algumas alterações a nível de canalização; 1863 - elaboração do projecto de abastecimento de água à vila, através de captações na Quinta do Mendel, pelo Engenheiro José António de Sá; 1882 - data do projecto da reforma da praça pelo engenheiro Madureira Beça, criando estrada à volta de plataforma central destinado a passeio público e com espaços laterais para esplanadas, substituindo-se o lajeado por cubos de granito e por calçada à portuguesa, com motivos decorativos, na zona do passeio público; 1890, 29 Junho - demolição do chafariz da praça, por ordem do então presidente da Câmara, António Joaquim Ferreira Pontes, dispersando-se os seus elementos por diferentes locais da vila, alguns dos quais para a Estrada Real nº 39 que ligava Torre de Moncorvo ao Pocinho; 1892, Dezembro - conclusão do calcetamento da praça e plantação de árvores na mesma; 1902 - execução do projecto de abastecimento de água, com abertura de valas e colocação de canos de ferro por Maurice Samuy, um francês residente na vila, por 823$000 rs; 1905 - atribuição da designação de Praça Eduardo José Coelho, em homenagem ao Ministro que prometera a criação do Liceu de Moncorvo; 1907 - mudança do nome da praça para Francisco Meireles, o moncorvense que promovera a construção do asilo; séc. 20 - os elementos que restavam do chafariz estavam enterrados no campo da Corredoura; 1981 - a taça do chafariz estava por terra no sítio da Aveleira; 1975 - os seus elementos constituintes foram recuperados e transferidos para a Quinta das Aveleiras; 1987 / 1993 - os elementos foram transferidos para o depósito municipal, sem preocupação de conservação; 1998 - recolocação do chafariz na praça, com a reconstrução de alguns elementos, com projecto da arquitecta Ana Maria Rodrigues e apoio do Dr. Nelson Rebanda. |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante. |
Materiais
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Estrutura de granito; bicas de ferro. |
Bibliografia
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ANDRADE, António Júlio, O Chafariz Filipino, s.l., s/d; ANDRADE, António Júlio, Torre de Moncorvo - Notas Toponímicas, Separata da revista Brigantia, vol. X, nº 1 - 2, Torre de Moncorvo, Janeiro - Junho 1990; ABREU, Carlos D', O Antigo Chafariz da Praça de Torre de Moncorvo no contexto do abastecimento de água à vila, Sep. da revista Brigantia, vol. XX, nº 1/2, Janeiro - Junho, s.l., 2000. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN |
Documentação Administrativa
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Arquivo Histórico Municipal de Torre de Moncorvo: Livro para a obra do chafaris, doc. 198, 1657 - 1668 |
Intervenção Realizada
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1638 - conserto do chafariz pelo empreiteiro Gonçalo de Aguiar; 1704 / 1705 - conserto do chafariz; 1771 - conserto do chafariz; 1998 - reparação do chafariz com a colaboração da arquitecta Ana Maria Rodrigues e do Dr. Nelson Rebanda. |
Observações
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Os sobejos de água deste chafariz estavam canalizados para um outro, mais pequeno, também existente na praça, mas mais junto à muralha do castelo, e os restantes sobejos eram conduzidos para as hortas. |
Autor e Data
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Ernesto Jana 1993 / Paula Noé 2006 |
Actualização
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