Palácio das Chagas / Palácio Sandomil

IPA.00004005
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Arquitectura residencial, maneirista e barroca. Palácio urbano de construção seiscentista, de planta rectangular simples, evoluindo em dois pisos, o inferior de lojas e acessos e o superior constituindo a zona nobre. Possui fachadas simples, flanqueadas por cunhais apilastrados, da ordem colossal, com os pisos definidos por cornija bastante saliente e rematadas por friso e cornija. Possui os vãos rectilíneos, os inferiores na forma de portas e os superiores de janelas de sacada, com guardas metálicas e rematadas em friso e cornija. Interior com vestíbulo de pequenas dimensões, acedendo a vão rectilíneo frontal. No piso nobre, surgem dois salões com os tectos pintados por apainelados com figuras mitológicas, rodeados por grinaldas, "putti" e vários medalhões em "grisaille". Palácio que conservou as suas fachadas e parte da estrutura primitiva, apesar das constantes obras de adaptação, que levaram à introdução de sobrelojas e ao aparecimento de alguns vãos de guilhotina, que cortam a regularidade das fenestrações do piso nobre. Alguns dos vãos do piso nobre são em arco abatido, revelando uma alteração datável do séc. 18 / 19. No interior, foi executado um acesso às zonas de arrendamento, através de escadas e porta em arco de volta perfeita. Destacam-se as pinturas do andar nobre, localizadas num salão e sala intercomunicantes, com cenas da mitologia grega, enquadrados por motivos vegetalistas e arquitectónicos, num compromisso entre a linguagem decorativa barroca e o gosto pelo mundo antigo Grego e pela introdução da pintura em "grisaille", que marcaria o final do séc. 18 e todo o séc. 19.
Número IPA Antigo: PT031106490077
 
Registo visualizado 3696 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

Planta rectangular simples, de volumetria paralelepipédica, evoluindo em três pisos, com piso térreo, sobreloja e piso nobre, tendo cobertura homogénea em telhado de quatro águas, que integra sótão. Fachadas rebocadas e pintadas de rosa, com o piso inferior revestido a cantaria, quase na sua totalidade, com cunhais apilastrados e rematada em friso, cornija e platibanda plena; a sobreloja e o piso nobre estão divididos por cornija. Fachada principal virada a E., dividida em dois panos por pilastra toscana colossal, o do lado esquerdo de menores dimensões, possuindo, no primeiro piso, porta em arco abatido e moldura recortada, encimado por janela de sacada, assente na cornija divisória dos pisos, tendo guarda metálica pintada de verde, com vão rectilíneo, de moldura simples e rematado por friso e cornija. O pano do lado direito, de grande extensão, possui cinco portas de verga recta, correspondentes às lojas, encimadas por igual número de janelas de verga recta e com pano de peitoril em cantaria; possui, ainda, duas portas de maiores dimensões, de verga recta e moldura simples em cantaria, uma delas o acesso principal ao imóvel, flanqueada, superiormente, por duas janelas semelhantes às anteriores. No piso nobre, oito janelas de sacada semelhantes à do pano do lado esquerdo, possuindo pequena janela rectilínea com moldura de cantaria e caixilharia de guilhotina. As restantes janelas têm caixilharia de madeira, pintadas de branco e verde e possuem vidros simples. Fachada lateral esquerda adossada, tendo, na oposta, virada a N., três vãos rectilíneos de diferentes dimensões, correspondentes a lojas, encimados por quatro janelas de varandim, de perfil em arco abatido e guarda de ferro. No piso nobre, quatro janelas de sacada semelhantes às da fachada posterior. Sobre a cobertura, chaminé cilíndrica. INTERIOR com acesso por vestíbulo de reduzidas dimensões, com tecto e pavimento de madeira, com amplo frontão rectilíneo frontal e, no lado direito, vão em arco de volta perfeita e moldura saliente, com acesso através de escadas com guarda-corpo metálico, de ligação às várias dependências do piso superior. As escadas são iluminadas por clarabóia piramidal. No piso nobre, possui um salão de planta rectangular, com duas janelas a abrir para o lado N. e três para E., com tecto em falsa abóbada de berço, assente em cornija saliente e com decoração vegetalista; estão estucados e pintados com temática mitológica, formando um painel central, de perfil recortado, contendo dois medalhões ovais, um quadrifólio com cena mitológico, tudo envolvido por "putti" e festões de flores. Está envolvido por figuras pintadas de branco, a imitar pedra, que ladeiam medalhões e seis painéis com figuração mitológica (Palas e Mercúrio, Perseu a cortar a cabeça de Medusa, entre outras), com a presença de alguma decoração "grisaille". A sala contígua, de planta quadrangular e dando para a fachada E., possui cobertura em falsa abóbada, assente em cornija, estucada e pintada em composição concêntrica, com quatro apainelados de moldura recortada e volutada, de onde partem frisos sustentados por figuras híbridas, onde assentam medalhões em "grisaille", que envolvem um painel central circular, rodeado por grinalda de flores.

Acessos

Rua das Chagas, n.º 35 - 47 de esquina para o Largo do Calhariz, n.º 1 - 4. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.710572, long.: -9.145445

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 47 984, DG, 1.ª série, n.º 233 de 06 outubro 1967 (dois tetos) *1

Enquadramento

Urbano, flanqueado, fazendo gaveto a E. com a Rua das Chagas, integrando-se de forma harmónica, no Largo do Calhariz. Encontra-se numa zona de pendor ligeiramente inclinado, virado às vias públicas, uma pavimentada a alcatrão e outra a calçada de cubos de basalto. Nas proximidades, ergue-se o Palácio Valada-Azambuja (v. PT031106490122).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Residencial: casa / Comercial: loja / Serviços: consultório

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: António Francisca Dinz (1923); António Rodrigues e José Maria da Silva (1935); José Nunes dos Santos (1912). PINTOR: Pedro Alexandrino de Carvalho (séc. 18, atr.).

Cronologia

Séc. 16 - primeiros registos relativos ao Palácio; séc. 17, 3.º quartel - D. Francisco de Sousa, capitão da guarda alemã, muda-se para o sítio que passaria a ser denominado "Calhariz", ocupando um terreno que pertencia à Condessa de Alvito, sua parente; daí, a provável origem do "grande e alto prédio" que, por ser do morgado do Calhariz, deu nome ao sítio; 1737 - profundas obras de remodelação; 1755, 1 Novembro - o palácio, propriedade do conde de Sandomil (depois de ter pertencido inicialmente ao comerciante Barros Cardoso e, mais tarde, à Santa Casa da Misericórdia), resistiu bem ao terramoto; séc. 18, 3.º quartel - o palácio é vendido à família Barreto; séc. 18, 2.ª metade - pintura das salas do piso nobre, atribuídas a Pedro Alexandrino de Carvalho; séc. 19, meados - o edifício torna-se propriedade do capitalista Joaquim Pires; 1876 - alargamento de uma porta na fachada que dá para o Largo do Calhariz, ficando a frente mais regular, visto existir já uma porta que lhe fazia simetria; 1879 - substituição de uma janela por uma porta existente entre os n.º 27 e 29 da Rua das Chagas; 1883 - Joaquim Pires Júnior, proprietário manda fazer alteração na fachada da frente do Largo do Calhariz; 1914 - alteração da sobreloja do n.º 29; séc. 20, 2.ª década - a proprietária, Henriqueta Pires, vende o imóvel à Sociedade Portuguesa de Administrações; 1923 - construção de uma nova chaminé (inutilizando uma outra) e de divisões interiores, obra dirigida pelo engenheiro António Francisca Dinz; 1926 - alteração do vão com o n.º 37; 1929 - o proprietário é Carlos Augusto da Silva; 1935 - obras no estabelecimento Saltão Rainha, com o alargamento da porta com o n.º 37, passando a ser uma porta dupla, dirigidas pelos engenheiros António Rodrigues e José Maria da Silva; 1937 - o palácio é ocupado parcialmente pelo "Clube 100 à hora"; colocação do emblema, em madeira, do "Clube 100 à hora", numa das varandas da sede, com frente para o Largo do Calhariz; 1946 - o proprietário, Carlos Augusto da Silva, requer licença para fazer estabelecimento no n.º 2-3 ao Largo do Calhariz; obras de adaptação do espaço, abertura de montras na dita fachada; 1956 - profundas obras de transformação dos espaços interiores; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, rebocada; pilastras, cunhais, cornijas, modinaturas em cantaria de calcário; portas, caixilharias, pavimentos, escadas e tecto do vestíbulo em madeira; guardas em ferro forjado; estuque pintado.

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. XIII, Lisboa, s.d.; CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga: Bairro Alto,1954-1956; PIRES, Maria Carmen M. de Almeida, Pedro Alexandrino (tese de licenciatura), Lisboa, FLL, 1962; CORDEIRO, Graça Indias, GARCIA, Joaquim, Lisboa. Freguesia de São Paulo, Lisboa, 1993; VALDEMAR, António, A Cidade dos Sítios, 1993; SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo, Dicionário da História de Lisboa, 1994.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras (º Nº 5.713)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1912 - aplicação de um forro de cantaria sobre o cunhal existente na loja com o n.º 1 do Largo do Calhariz; 1932 - obras de manutenção geral; 1938 - reparação e limpeza do telhado; 1940 - pinturas exteriores; 1945 - pinturas exteriores; 1947 - obras de limpezas exteriores e reparações no telhado.

Observações

*1 - DOF:..2 tectos pintados no Palácio das Chagas; integra o Inventário Municipal do Património com o n.º 49.04.

Autor e Data

Teresa Vale e Carlos Gomes 1993 / Ana Reis 2005

Actualização

 
 
 
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