Padrão do Senhor Roubado
| IPA.00004946 |
Portugal, Lisboa, Odivelas, Odivelas |
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Arquitetura comemorativa, barroca. Padrão de devoção religiosa popular construído como expiação do roubo de objectos de culto da Igreja e em estilo barroco como é notório pelas suas formas estruturais e decorativas. Os painéis azulejares inserem-se já na nova tendência que surge no final da década de 1740. A decoração azulejar envolvente dos painéis não é tão densa e cheia como se verificava habitualmente no barroco, mas mais ligeira, pura e fragmentada. Ainda não têm elementos formalmente rococós, mas já têm indícios. Nota-se também o aparecimento de uma policromia, ainda que muito discreta com a introdução do amarelo, brancos e cambientes. Os painéis de figura avulsa com a típica "estrelinha" nos cantos, insere-se na produção da 2ª metade do séc. 18. |
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Número IPA Antigo: PT031116030005 |
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Edifício e estrutura Estrutura Comemorativo Memória
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Descrição
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Recinto em forma de trapézio isósceles, com 3 lados rodeados por varandim de ferro forjado e fundo em parede revestida com doze painéis de azulejos, narrando a história do roubo e da descoberta dos vasos sagrados, nesse lugar (*1) tendo ao centro porta entaipada (que dava acesso a ermida, já demolida) e cornija sobreposta por telha. Ao centro do terreiro, um pequeno oratório assente em 4 colunas toscanas e fechado por parede posterior, cobertura em abóbada, rematada ao centro por figura feminina, segurando na mão esquerda um cálice e na direita uma flor ( Alegoria à Fé ). Interiomente a abóbada é rematada por pomba. Abrigado no oratório, altar com inscrição, estrutura de essas, sobre este ,crucifixo envidraçado, fixo em pedestal, decorado com cabeças e asas de querubins-menino, formando círculo em volta do Vaso Sagrado (*2). |
Acessos
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Estrada Lisboa - Odivelas, Rua do Senhor Roubado e Rua Pedro Álvares Cabral. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,786223; long.: -9,170916 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 37 077, DG, 1.ª série, n.º 228, de 29 setembro 1948 |
Enquadramento
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Urbano. Situa-se à entrada de Odivelas, transversal à estrada para Lisboa que passa junto e sendo envolvido por altos prédios modernos e destoantes. |
Descrição Complementar
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AZULEJO: Os 12 painéis representam: 1º Painel - António Ferreira estando no jogo e vendo passar o sacristão da freguesia o seguiu e às escondidas se meteu na igreja onde ficou. 2º Painel - Despiu todas as imagens dos santos e arrombando a porta do sacrário furtou os vasos sagrados, e neste tempo caiu por terra sem sentidos. 3º Painel - Sentindo gente entrouxou os vestidos das imagens e tomando a estrada de Lisboa no sítio chamado de Caniços, enterrou numa vinha os vasos. 4º Painel - Continuando o caminho de Lisboa meteu os vestidos das imagens num caixão em casa de certa mulher velha. 5º Painel - Ao tempo em que a Justiça, por el rei D. Pedro, tirasse devassa deste furto em Odivelas, se achava presente o sobredito António Ferreira e dizia, na presença da mesma justiça, que quem o tinha feito, merecia as mãos cortadas. 6º Painel - Foi o mesmo achado na cerca das freiras de Odivelas roubando umas galinhas e sendo agarrado, vendo que trazia ao peito uma cruz que examinada pelos párocos se conheceu ser dos vasos sagrados, entenderam ser do roubo. 7º Painel - Preso pela justiça sendo perguntado pela mesma, confessou que os vestidos estavam em Lisboa e na dita casa, onde a justiça o levou. 8º Painel - Confessou que os vasos sagrados se achavam enterrados no sítio já dito, onde sendo levado pela justiça, os acharam. 9º Painel - Veio o pároco com muita gente e debaixo do pálio levaram o Santíssimo para a freguesia. 10º Painel - Voltaram os ministros com o delinquente para Lisboa onde se lhe deu a sentença de mãos cortadas. 11º Painel - Foi levado ao lugar do suplicio e lhe cortaram as mãos. 12º Painel - Foi morto de garrote e queimado; INSCRIÇÕES: "Aqui ocultou a ingratidão / Do Maior roubo a insolência / Mas levantou a clemencia / À Menória do perdão // Este piedoso padrão com eterna/ dor se lia Aqui um atros ladrão às duas / da noite e meia / O Céu enterrou no chão / Caso de Odivelas, Ano de 1671; "Esta obra foi feita com as esmolas dos fiéis no ano de 1744". Sobre porta entaipada, Lápide "LOUVADO/ SEJA O SANTISSIMO/ SACRAMENTO. E A TRINDADE/ DA TERRA A JESUS MARIA JOZE/P' ALMAS P N A M/STA O FEITA T. CÕ ESMOLAS DOS FIEIS. 1744" |
Utilização Inicial
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Comemorativa: memória |
Utilização Actual
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Cultural e recreatica: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Cronologia
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1671, 11 maio - António Ferreira rouba da Igreja Paroquial de Odivelas alguns objectos de culto e profana os vasos sagrados, dando origem ao no "Senhor Roubado"; Junho - alguns objectos foram encontrados no local; 1674, 13 outubro - a sentença dada a António Ferreira é cumprida, sendo-lhe amputadas as mãos e de seguida queimado vivo; 1744 - construção de uma ermida e um memorial, com as esmolas dos fiéis, segundo a lápide sobre a porta entaipada; 5 novembro - colocação de um crucifixo em pedra; a população passou a designar o local de " Senhor Roubado"; 1745 - documento do Pde. Luiz Montez Mattoso, atesta que foi Frei António dos Santos Prazeres (irmão da Congregação dos Descalços de São Paulo ), quem mandou edificar este monumento, no lugar onde foram enterrados os Vasos Sagrados roubados da Igreja Matriz de Odivelas; nova campanha de obras, que consistiu no acrescento de cobertura sustentada por quatro colunas toscanas, para proteger o cruzeiro; 1755, 01 novembro - o terramoto danifica a capela, tendo sido construída uma provisória, de madeira; 1758, 13 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco José Nunes Vieira é referido que a capela é administrada pelo cónego Manuel Monteiro do Rio, apresentado pelo Patriarca de Lisboa;, com grande romagem nas festividades Pascais, Ascensão, Espírito Santo e São João; 1905, cerca - existe no local um pináculo a assinalar o sítio onde foram enterrados os vasos sagrados, que era conhecido como o "Lugar do Enterro"; 1946 - a DGEMN pede a Classificação deste imóvel; 1947, 19 setembro - o padrão foi entregue à Fábrica da Igreja Paróquial de Odivelas (v. PT031116030011); 1948, 28 setembro - a Direcção-Geral da Fazenda Pública, aceita a proposta de pedido de classificação e diz ser necessário a colocação de vedação para protecção; 1949 - o Ministério das Finanças, comunica que a Fábrica da Igreja de Odivelas, não tem posses para arborizar e colocar vedação do Padrão que lhe está afecto; a DGEMN coloca um gradeamento de ferro, para proteção do imóvel e pede nova classificação; 1957 - a DGEMN, em resposta ao pedido de alteração da vedação por parte da C.M. de Loures, diz não ser possível, e para travar o vandalismo, só com mais policiamento; 1960 - vandalismo e crescente urbanização, ameaçam o monumento; 1966 - o recinto aparece caiado, sem autorização; 1967, novembro - inundações danificam grandemente o monumento. ficando submerso; 1971 - a CMLoures informa a DGEMN, do embate de um camião contra o monumento, provocando danos na empena esquerda, do pano do fundo, podendo «...ruir de um momento para o outro....», desaparecimento de azulejos; 1978 - alunas do Instituto de Odivelas, enviam carta à DGEMN e à Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural da Secretaria de Estado da Cultura, elertando para o estado de detioração; 1981- estado de degradação aumenta; 12 julho - o conservador do Museu do Azulejo Dr.º Rafael Salinas Calado em ofício para o IPPC, faz exposição sobre estado de degredação do monumento; 1982, 11 maio - CMLoures pede à DGEMN obras de recuperação; 1984 - novo pedido da CMLoures ao IPPC de restauro, visto esta já ter feito obras nos espaços envolventes; 2000 - a DGEMN e a CMOdivelas decidem que é necessário o restauro e conservação do monumento, juntamente com o Instituto Estradas de Portugal e Metropolitano de Lisboa. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes. |
Materiais
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Oratório de mármore, paredão revestido de azulejos e com cobertura de telha; pavimento de calçada, crucifixo protegido por estrutura de vidro. |
Bibliografia
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AZEVEDO, Carlos, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa - Concelho de Loures e Mafra, Lisboa, 1963; VAZ, Maria Máxima, Património Histórico - Artístico, Loures. Tradição e Mudança. I Centenário da Formação do Concelho 1886 - 1986, vol. 1, Loures, 1986, p. 87 - 136; MECO, José, A Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; idem, O Azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; SANTO, Eugénio do Espírito, Ameixoeira, um núcleo histórico, Lisboa, 1997; SIMÕES, João Miguel, O Monumento do Senhor Roubado, Colecção Patrimónios1, Comissão Instaladora do Município de Odivelas, Odivelas, 2000. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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DGEMN:1946 - pedido de classificação; 1949 - estudo de plano de obras necessárias à vedação e arborização; colocação de gradeamento em ferro e novo pedido de classificação |
Observações
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*1- conhecido como "Lugar do Enterro"; *2 - o vaso sagrado (Pai), a pomba (Espírito Santo) e crucifixo (Filho), simbolizam a Santíssima Trindade |
Autor e Data
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Paula Noé 1990 / Helena Rodrigues 2006
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Actualização
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