Convento do Corpo Santo / Convento de Nossa Senhora do Rosário / Igreja do Corpo Santo

IPA.00005032
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Arquitectura religiosa, pombalina. Convento masculino dominicano com fachada principal com carácter religioso e arquitectura civil pombalina (restantes fachadas). Igreja conventual de planta centralizante com uma nave. Coberturas interiores em abóboda de aresta (Coro-alto), cúpula hemisférica (Nave) e abóboda de berço (Capela-mor). Apresenta uma solução planimétrica algo contraditória com reminiscências na arquitectura portuguesa da primeira metade do séc. 18, em que à planta centralizada definida pelo octógono irregular do corpo da igreja é acrescentado um eixo longitudinal definido pelo espaço da Capela-mor e pelo espaço de entrada sob o Coro-alto. Solução de fachadas com interligação de características religiosas e civis.
Número IPA Antigo: PT031106490363
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Domingos - Dominicanos

Descrição

Igreja de planta de tendência centralizante, composta pela justaposição de um rectângulo, de um octógono irregular e de um 2.º rectângulo, não havendo coincidência entre a planta exterior e a interior. O edifício apresenta volumetria escalonada, sendo a cobertura efectuada por terraço e telhados de várias águas. Embasamentos e molduras de portas e janelas em pedra calcária. Paredes em alvenaria mista revestida por azulejo padrão azul e branco emoldurado por faixas de igual tom. Fachada principal orientada sensivelmente a E., apresentando dois corpos laterais levemente avançados em relação ao central, quase totalmente revestida de cantaria nos 2 registos. A eixo encontra-se o portal a que se acede por 3 degraus em pedra, com porta de madeira de 2 folhas com bandeira em meio circulo, com verga em arco de volta inteira e ombreiras tipo pilastras que suportam frontão triangular. Entre as ombreiras e os cunhais em cantaria dos extremos 2 pilastras em pedra calcária de cada lado entre as quais se situam 2 pequenas janelas gradeadas de iluminação das capelas interiores. As pilastras e os cunhais têm remate superior esculpido lembrando capitel. Sobre o portal num 2.º registo, janelão com verga em arco de volta inteira e com ombreiras tipo pilastras. Sobre o entablamento frontão triangular com tímpano preenchido por brasão esculpido encimado por coroa real e legenda "Veritas" *2. Sobre o frontão 2 fogaréus laterais sobre base esculpida e acrotério elaborado sobrepujado de cruz metálica no vértice. Fachada lateral esquerda confinante com edifício anexo. Fachada lateral direita com distribuição regular de janelas em 4 registos na zona da igreja e 5 nos espaços anexos. Nos extremos 2 cunhais e a meio 1 pilastra que divide a zona da igreja dos espaços anexos. No 1.º registo uma porta de entrada com 2 folhas (n.º 19 da Rua do Corpo Santo) a que se acede por um degrau em pedra. Os outros 9 vãos encontram-se tapados ou transformados em pequenas janelas. Entre o 1.º e 2.º e entre o 2.º e 3.º registos existe um friso em pedra calcária. Os vãos seguem uma modinatura de janela/porta/janela em 3 módulos. Os outros registos têm 10 janelas recortadas, de 2 folhas ou de guilhotina, com ombreiras descendo abaixo dos parapeitos e com uma pequena janela junto à pilastra divisória dos espaços anexos. No 4.º registo as janelas apresentam verga com fecho e são encimadas por cornija de alvenaria e por platibanda. Nos espaços anexos o edifício tem 5 registos com 4 vãos cada estando as paredes forradas de azulejo igual ao da igreja. No 1.º registo 3 vãos gradeados e o outro com portadas de madeira. No 2.º registo os vãos têm varandas gradeadas, portas de madeira com 2 folhas, com bandeira e com molduras em pedra recortada. No 3.º registo as janelas são de 2 folhas com bandeira, recortadas e com ombreiras descendo abaixo dos parapeitos. Idem no 4.º registo só que as vergas têm fecho e são encimadas pela cornija. O 5.º registo (alargado para a zona da igreja) tem sobre a cornija 3 janelas e 1 porta de 2 folhas com pequeno varandim gradeado. Fachada posterior (espaços anexos) com 5 registos e 3 vãos em cada com molduras em pedra calcária. Cunhal em cantaria e friso entre o 1.º e o 2.º registos em pedra. Os restantes registos têm janelas de 2 folhas com bandeira e com molduras recortadas em pedra. O 4.º registo é encimado por cornija em alvenaria e o 5.º tem porta no vão central com pequeno varandim gradeado. INTERIOR: 3 entidades espaciais justapostas. A um 1.º espaço, rectangular, coberto por abóbada de aresta, correspondente ao Coro-alto, adossado à face interna da fachada, sucede a nave única, octogonal, coberta por cúpula hemisférica estucada e vazada por lanternim, e a esta o espaço rectangular da Capela-mor, coberta por abóbada de berço com pintura oval a meio e com penetrações laterais (4 janelas). À entrada sob o Coro-alto, do lado do Evangelho (esquerdo), pequena capela dedicada ao Senhor Jesus dos Aflitos com imagem e do lado da Epístola, pequena capela dedicada a Santa Filomena com imagem existindo também Nossa Senhora de Fátima com imagem. Na nave observam-se 6 altares com emolduramento de cantaria albergando alternadamente retábulos de talha dourada com imaginária e composições pictóricas. Do lado esquerdo estão os altares de São Domingos de Gusmão, São Martinho de Dume e de Nossa Senhora do Rosário, além de imagem de Santo António sobre pedestal entre os dois primeiros. Do lado direito estão os altares de São Francisco de Assis, São Telmo (o Corpo Santo) orago da ermida que existiu antes do terramoto e São Patrício padroeiro da Irlanda. Precedendo a Capela-mor existe um arco triunfal em volta redonda feito de pedra calcária. A capela-mor apresenta sacrário, tribunas inscritas nos muros laterais e retábulo, lateralmente delimitado por pares de colunas marmoreadas e encimado por frontão curvo interrompido, albergando uma composição pictórica sobre tela.

Acessos

Largo do Corpo Santo

Protecção

Em vias de classificação. Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966)

Enquadramento

Urbano, na zona ribeirinha *1, flanqueado. Como elementos dissonantes na envolvente temos o revestimento do edifício anexo com pedra mármore nas fachadas.

Descrição Complementar

A zona por detrás da Capela-mor (espaços anexos à igreja) apresenta ao nível do piso 1 um átrio com molduras de portas em pedra recortada, uma pintura numa parede com o brasão dos dominicanos e um bebedouro monumental em pedra trabalhada. Junto à entrada pela Travessa do Corpo Santo encontra-se um pavimento de mosaico com efeito geométrico tridimensional.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CONSTRUTOR: F. Touzet (1898). ORGANEIROS: James Alderson Forster (1906); Joseph King Andrews (1906). PEDREIROS: Jerónimo Nunes (séc. 17); Manuel da Silva (1698).

Cronologia

1600 - chegada a Portugal dos primeiros dominicanos irlandeses fugindo à perseguição do tempo de Henrique VIII ficando alojados em instalações provisórias; 1629 - chegada do Padre Domingos O` Daly O. P. que em 1634 seria nomeado reitor do colégio que na altura estava sediado no "Pátio das Fangas" em velho teatro doado pelo benemérito Luís de Castro do Rio; 1655 - o Padre O` Daly é nomeado embaixador de Portugal em França dado o seu bom relacionamento com a Família Real portuguesa; 1659, 4 maio - fundação do convento do Corpo Santo, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário e do Patriarca São Domingos, de dominicanos irlandeses, por iniciativa de Frei Domingos do Rosário (padre O` Daly, confessor da rainha D. Luísa de Gusmão e diplomata), cedendo D. Afonso VI os terrenos destinados a receber uma construção com capacidade para 50 religiosos; preside à cerimónia o bispo titular de Targa e o eleito de Lamego, D. Francisco de Souto Maior; 1660, 9 dezembro - a construção da igreja só começa após esta data (SANTOS, 1959); 1662 - morre o padre O` Daly *3; 1688, 24 dezembro - pagamento da execução de um caixilho para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Padres Irlandeses do Corpo Santo, no valor de 12$740, pagos por César Grace, provedor da Igreja de Nossa Senhora do Loreto, em Lisboa (FERREIRA, 2009, vol. II, p. 477); 1696, 06 dezembro - Jerónimo Nunes refere no seu testamento que executou obras no convento (COUTINHO: 436); 1698, 01 fevereiro - Manuel da Silva é contratado pela Irmandade de Nossa Senhora da Graça para a obra da capela (COUTINHO: 487); 1719 - incêndio que causa alguns danos ao edifício; 1755, 1 novembro - destruição provocada pelo terramoto, na igreja e convento; 1758 - início da reconstrução do convento, tendo a sua localização sido deslocada ligeiramente para O. da primitiva implantação e integrado na malha urbana pombalina; 1759, 22 dezembro - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo vigário, Francisco Xavier Baptista, é referido o Convento; 1770, 13 outubro - reinauguração do convento presidida pelo Bispo de Ossorio Tomás de Burgo (prelado dominicano irlandês), estando a igreja meio construída; a zona do convento e colégio desde o Largo do Corpo Santo até à Travessa do Corpo Santo tem quatro andares; 1810 - autorização aos frades do convento para manterem a casa para educação de jovens e lecionação de línguas; 1817, março - suspensão da actividade letiva por parte dos religiosos dominicanos por falta de provimento; 1856 - os frades irlandeses vendem o convento e parte do colégio, ficando uma zona nas traseiras da igreja como residência dos padres; 1898 - importante campanha de obras a cargo do construtor F. Touzet; 1906 - construção do órgão por James Alderson Forster e Joseph King Andrews, discípulo de J.C. Bishop; 1989 - os frades irlandeses deixam a igreja e colégio a uma comunidade dominicana portuguesa; 2016, 01 abril - é aberto o procedimento de classificação do templo (anúncio n.º 100/2016, DR, 2.ª série, n.º 64).

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Paredes em alvenaria mista; cunhais, pilastras, molduras de vãos, embasamentos, frisos, pavimentos em pedra calcária; paredes rebocadas e caiadas; cadeiral da nave e coro-alto, portas e janelas em madeira; tectos de estuque simples em gesso; janelas com vidro simples; painéis com telas pintadas; grades em ferro forjado; retábulos em madeira pintada e dourada; revestimentos de paredes em azulejo; cobertura exterior em telha cerâmica.

Bibliografia

CAEIRO, Baltazar Matos, Os Conventos de Lisboa, Sacavém, ed. Distri, 1989; DOWDALL, R. M. (O. P.), Terceiro Centenário da Fundação do Corpo Santo, Lisboa, Bertrand (Irmãos), Lda., 1959; COUTINHO, Maria João Fontes Pereira, A produção portuguesa de obras de embutidos de pedraria policroma (1670-1720). Lisboa, Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, 2010, 3 vols.; FERREIRA, Fátima Cordeiro G. e outros, Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1987; FERREIRA, Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva, A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras, Lisboa, Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, 2009; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974; MESQUITA, Alfredo, Lisboa, vol. 1 da col. Portugal Pitoresco e Ilustrado, Lisboa, Emp. da História de Portugal, 1903; PEREIRA, Luís Gonzaga, Monumentos Sacros de Lisboa em 1833, Lisboa, of. Gráficas da Biblioteca Nacional, 1927; SANTOS, João Bernardo dos, Convento dos Dominicanos Irlandeses do Corpo Santo, in Revista Municipal n.º 83, Of. Gráficas da CMLisboa, Lisboa, s.n., 1960; PROENÇA, Raul, (dir. de), Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2.ª ed., 1994; www.dominicanos.com.pt, 27 Julho 2006.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo intermédio, Proc. obra nº 42.605

Intervenção Realizada

1758 - início da reconstrução do convento; 1898 - importante campanha de obras a cargo do construtor F. Touzet; 1968 - ante-projecto de remodelação interior feito pelos arquitecto Nuno Teutónio Pereira e João Correia Rebelo (que acabou por não ter seguimento); 2001 - obras de reparação geral nos telhados.

Observações

*1 - a antiga zona conventual e parte da zona do colégio foram totalmente remodeladas após a sua venda em 1856. O termo "Corpo Santo" tem origem no culto de São Telmo, padroeiro dos pescadores, cuja imagem se venerava na Ermida quinhentista de Nossa Senhora da Graça localizada no início da Travessa do Cotovelo. *2 - No brasão da ordem dominicana figura um cão deitado com um facho, em alegoria à fidelidade; o próprio nome "dominicano" tem o significado etimológico (por desenvolvimento posterior) de "cão do Senhor". *3 - junto ao arco triunfal da igreja existiu lápide com inscrição em latim referindo: "Aqui jaz o venerável Padre Mestre Domingos do Rosário, irlandês de nascimento, fundador deste Convento e do Bom Sucesso, bem sucedido em missões diplomáticas, Bispo eleito de Coimbra; homem de grande prudência, cultura e piedade, morreu a 30 de Junho de 1662 na idade de 67 anos."

Autor e Data

Teresa Vale e Carlos Gomes 1996 / Paulo Ferreira 2006

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