Igreja e Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo

IPA.00005175
Portugal, Viana do Castelo, Viana do Castelo, União das freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela
 
Arquitectura religiosa e de saúde, maneirista e barroca. Igreja de misericórdia, de planta transversal composta por nave única e capela-mor, da mesma altura e largura, com fachada principal virada a S., terminada em friso e cornija, e rasgada por janelas e portal de arco de volta perfeita encimado por frontão interrompido pela imagem da Virgem, tendo adossado o antigo hospital, com fachadas de três pisos, tendo na principal loggias sobrepostas ricamente decoradas, estabelecendo a transição do maneirismo para o barroco. Igreja de exterior de certa frieza e sobriedade, própria do maneirismo e do estilo do Engenheiro militar, e interior de grande riqueza decorativa barroca, conjugando azulejos monocronos azuis sobre fundo brancos com a talha dourada. O revestimento azulejar representando as Obras da Misericórdia integra-se no designado "Ciclo dos Mestres" e a talha no "Estilo Nacional", podendo destacar-se a do retábulo-mor com tribuna. Possui coro-alto sobre arco em asa de cesto e púlpitos. A pintura do tecto da nave segue o modelo da época, tendo em primeiro plano desenho arquitectónico, e no segundo, um certo efeito celeste, com cenas alusivas à Virgem em medalhões. Misericórdia com fachada principal original, dividido em arcaria e logias, típicamente maneirista, mas que constituiu uma experiência isolada e sem paralelo nos demais edifícios portugueses, não só pela sua organização como pela densidade de ornamentação figurativa. Trata-se de um modelo de importação, aqui viável devido aos contactos possíveis pelos navegadores vianenses que demandavam os mares da Europa, ou através de artistas que estanciavam na vizinha Espanha, Itália e Flandres. A fachada da misericórdia possui os dois pisos superiores nitidamente contrastantes com o piso inferior, pela sua maior leveza e elegância, e o pequeno e desajustado frontão do remate tem sido considerado pela maioria dos autores como uma ambiguidade própria do maneirismo. A Igreja, apesar de apresentar planta transversal como outras igrejas de Misericórdia da região, é a única a integrar transepto, muito pouco pronunciado interiormente e exteriormente indistinto, constituindo uma experiência isolada em muitos outros aspectos: é a única com revestimento azulejar interior representando as obras da Misericórdia, surgindo as sete espirituais no lado do Evangelho e as sete Corporais no lado da Epístola, ilustradas por cenas Bíblicas, das Escrituras Hebraicas e Gregas, devidamente identificadas com inscrição em latim e em português. A sua disposição não segue o Compromisso de 1516, alguns painéis são numerados, umas vezes possuindo correspondência com a respectiva obra de Misericórdia, outras vezes não. É também a única com dois púlpitos laterais confrontantes, seis capelas laterais, pouco profundas, tecto da nave em falsa abóbada de estuque e capela-mor com cúpula e lanternim e com torre sineira adossada, de construção coeva. É interessante notar as ligações iconográficas existentes entre as oito cenas escolhidas para os painéis da capela-mor, nomeadamente na representação do Nascimento da Virgem e de Cristo, bem como na Apresentação no Templo de ambos, pondo em paralelo cenas da vida da Virgem e de Cristo. Os retábulos, na sua maioria, são barrocos de estilo nacional, mas revelam uma reforma rococó, nomeadamente o primeiro da Epístola e o mor na boca da tribuna, e todos os laterais receberam altares rococós; o segundo e terceiro lateral do Evangelho e o terceiro da Epístola são nacionais, mas já de transição para o joanino, neles se destacando as colunas laterais torsas inferiormente interrompidas para formarem pequenos nichos para imaginária; também joanino deverá ser o retábulo do Nascimento, realçando-se os painéis relevados no banco e nos plintos, com os Evangelistas. Salienta-se a tela do retábulo-mor com a Última Ceia, inspirada em gravuras romanas, largamente difundidas entre nós em meados do séc. 18, e com a presença invulgar de uma lavanda. Esta não sendo um elemento comum à figuração em causa, poderá aludir à cerimónia do lava-pés, realizada na celebração da Quinta-feira Santa pelo respectivo Provedor, integrada na procissão de Endoenças, à semelhança do que Jesus fizera antes da comemoração da Páscoa. O retábulo-mor da primeira Igreja, representando a "Mater Omnium", é bastante raro, não só devido à sua qualidade plástica, como ao facto de, nas palavras de Vitor Serrão, constituir um facto isolado, de ser a mais fiel versão do tema, em conformidade com o Compromisso de 1516 da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O painel possui uma representação bipartida da sociedade do tempo, religiosos à esquerda, aristocratas e burgueses à direita, sob o manto da Virgem. As semelhanças com o Compromisso de 1516 são notórias ainda no facto de André de Padilha ter integrado na zona inferior as figuras de vários meninos orantes e de ter envolvido a Virgem numa ampla auréola circular que se estende até aos anjos que seguram o manto. O órgão executado pelo Pde. Manuel Lourenço possui a técnica comum na época, seguindo a linguagem da organaria nórdica, nomeadamente de caixa tipo hamburguesa, conforme denotado pelo desenho existente.
Número IPA Antigo: PT011609310005
 
Registo visualizado 7738 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Planta rectangular irregular, com igreja transversal, de cruz latina, composta por nave única, transepto pouco saliente e capela-mor rectangular, da mesma altura e largura, volumetricamente indistintas no exterior, e antigo hospital e dependências adossadas, formando pátio rectangular irregular a N. da nave, acedido por corredor. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas e cúpula com lanternim forrado de azulejos enxaquetados sobre o lanternim da capela-mor. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento almofadado e terminadas em friso, com argolas de ferro, e cornija moldurada, ritmadas por pilastras de aparelho almofadado, revelando a divisão espacial interior, com cunhais e fenestração regular sobreposta também de aparelho almofadado. Fachada principal virada a S., com igreja rasgada por seis janelas rectangulares com capialço em plano superior e portal em arco de volta perfeita, de fecho saliente, sobre pilastras, enquadrado por parastase canelada apoiando frontão de volutas interrompido por "Pieta" em mandorla, coroada por dois anjos, e possuindo no alinhamento da parastase urnas sobre plintos. A fachada termina em duplo friso, o inferior moldurado e o superior decorado com elementos vegetalistas e geométricos, e cornija sobre denticulado. A fachada do hospital virada a S., em cantaria, organiza-se em três pisos, separados por frisos moldurados e cornijas decorados, tendo o inferior inscrição já muito delida, o intermédio iconografia da Paixão de Cristo entre laçarias e o superior pássaros, querubins e outros elementos. No primeiro piso abre-se arcada jónica, de cinco arcos de volta perfeita, moldurados e com carrancas nos encontros, sobre colunas assentes em plintos, encimada por brasão da Santa Casa e coroa, e nos dois superiores loggias apoiadas em pilares com cariátides frontais sobre plintos prismáticos com medalhões, apoiando-se o segundo em guarda plena de cantaria e sendo a do terceiro em ferro. Coroa-o frontão triangular, metopado, com representação do sol estilizado no tímpano, encimado por "Cristo na Cruz" e estátuas sobre os cunhais, assentes em plintos paralelepipédicos ornados com carrancas. A arcada é percorrida por banco de pedra encimado por azulejos enxaquetados azuis e brancos formando silhar e cada um dos pisos tem tectos com caixotões pétreos. No cunhal SO. existe relógio de sol. Fachada lateral O., de três pisos, com vãos sobrepostos, de verga recta encimados por friso moldurado e cornija almofadada, tendo janelas de guilhotina com avental almofadado e janelas de sacada, sobre mísulas e com guarda em gradeamento de ferro, alternando entre si de modo rítmico; no primeiro piso, enquadram os vãos, janelas rectangulares jacentes. Possui vão de arco abatido com aduelas sobre pilastras, ambos de aparelho almofadado, de ligação à arcada do primeiro piso, e um outro portal, em arco de volta perfeita, com cartela sobre o fecho, ladeado por cariátides, com capitéis coríntios suportando friso decorado com bustos humanas; no alinhamento das cariátides, surgem pináculos. Este último dá acesso ao Pátio do Cemitério, percorrido por azulejos enxaquetados formando silhar e com alpendre sobre colunas toscanas paralelo à nave e ligado à sacristia; na parede fronteira desta, abre-se, sob o alpendre, portal de verga recta encimada por friso com inscrição, e duas janelas de peitoril com caixilharia de guilhotina, encimadas por friso e cornija e nicho central, de arco abatido sobre pilastras, enquadrado por duas pilastras caneladas suportando friso e cornija, e contendo a representação escultórica de São Jorge matando o dragão. Fecha a quadra a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho, da família dos Abreus Lima. Tem fachada definida por pilastras nos cunhais, sobrepujados por pináculos sobre plintos, suportando empena de alvenaria. Portal em arco de volta perfeita moldurado, com fecho saliente, sobre pilastras de fuste almofadado, enquadrado por pilastras suportando friso e tabela decorada, com pedra de armas central, ladeada de aletas vegetalistas, coroado por duplo frontão, o exterior triangular e o interior de volutas interrompido por lápide com inscrição. À esquerda adossa-se pano estreito, sensivelmente recuado, com portal de verga curva encimado por cornija contracurvada tendo no tímpano cartela concheada. Na parede poente, desenvolve-se escada de acesso às dependências da Misericórdia. INTERIOR: nave e transepto revestidos a azulejos monocronos azuis sobre fundo branco, de composição figurativa, organizando, por vezes, as composições em dois níveis, ilustrados por cenas Bíblicas, das Escrituras Hebraicas e Gregas, devidamente identificadas com inscrição em latim e em português. Representam as obras da Misericórdia, as sete espirituais no lado do Evangelho e as sete corporais no lado da Epístola, tendo ainda um pequeno painel com "Dança do Rei David" e, ladeando a tribuna do coro-alto, azulejos de figura avulsa. Coro-alto sobre arco em asa de cesto, tendo virados para a nave dois órgãos gémeos, sendo o do lado da Epístola mudo, e o do lado do Evangelho conservando os foles e a mecânica. No sub-coro abre-se porta central de verga recta em aparelho almofadado e três vãos rectangulares jacentes num plano superior. Lateralmente a nave é percorrida por friso pétreo marcando dois registos, tendo no primeiro seis capelas à face, confrontantes, em arco de volta perfeita, com retábulos de talha dourada, de planta recta e um eixo, sendo duas geminadas e separadas da terceira por pequenos oratórios de talha dourada, sobre mísulas, tendo inferior e superiormente inscrições bíblicas alusivas às obras da Misericórdia; no segundo registo, abrem-se janelas encimadas por sanefas de talha dourada, que existem também sobre as capelas. No topo da nave, dispõem-se dois púlpitos, confrontantes, de bacia inferiormente decorada com acantos, assente em pé alto composto por vários elementos, os últimos volutados, e com guarda de balaústres com aplicações metálicas, sendo acedidos por escada de cantaria com guarda plena igualmente de cantaria. Braços do transepto muito pouco pronunciados, marcados em altura por vãos em arco de volta perfeita, revestidos a azulejos. Ladeando o arco triunfal, dois retábulos colaterais de talha dourada. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras molduradas, encimado por grande painel de azulejos figurando a "Mater Omniu". Tecto pintado com quadraturas, acantos enrolados, putti, festões, vasos floridos e aves, com quatro cartelas com cenas marianas: a Fuga para o Egipto, Morte da Virgem, Assunção e Coroação da Virgem. Capela-mor com paredes laterais revestidas a azulejos, os do lado do Evangelho representando cenas da Vida de Cristo e os do lado oposto da Vida da Virgem, ambos dispostos em dois registos com leitura circular no sentido dos ponteiros do relógio; no lado da Epístola, abre-se vão recto almofadado encimado por sanefa de talha dourada com túmulo de essas de António Monteiro Maciel; cobertura por cúpula sobre trompas, com tambor de cantaria e lanternim com pintura mural com anjos e flores. Retábulo-mor de talha dourada, de planta côncava e um eixo, definido por duas pilastras, dois quarteirões de anjos sobrepostos, ambas assentes em plintos paralelepipédicos decorados com acantos e anjos, e duas colunas torsas, assentes em plintos iguais e consolas, todos com capitéis coríntios, que se prolongam em três arquivoltas, unidas no sentido do raio. Ao centro abre-se tribuna, de arco abatido e moldura ornada de concheados, com chave saliente formada por ampla cartela que se sobrepõe às arquivoltas, albergando trono protegido por tela com representação da "Última Ceia"; ladeia-a dois apainelados de talha côncavos enquadrando imaginária sobre mísulas; banco decorado com acantos e anjos assente em soco de cantaria. Altar paralelepipédico ornado com painéis de acantos. Sobre o supedâneo dispõem-se de cada lado um banco de madeira exótica, com assendos e espaldar tripartido forrado de tecido. Sacristia com azulejos enxaquetados formando silhar; na parede E., arcaz encimado por dois espelhos moldurados a talha e oratório de talha policroma, com marmoreados fingidos a verde e vermelho, de perfil curvo, definido por consolas sobrepostas e aletas, encimado por sanefa de talha recortada. Na parede N., surge capela de arco em volta perfeita sobre pilastras, almofadadas, sobrepujado por sanefa de talha policroma e dourada recortada; possui retábulo de talha policroma, de planta recta e um eixo, definido por duas colunas de fuste liso, pintado a marmoreados fingidos de verde, e capitel coríntio, prolongadas numa arquivolta; ao centro dispõem-se imagerm do Crucificado. Altar tipo urna, igualmente pintado a marmoreados fingidos de verde, decorado com acantos e concheados dourados. Ladeiam-no dois armários embutidos com portas de madeira de duas folhas em losangos, encimadas por janelas rectangulares jacentes. Ao centro, surge mesa de cantaria facetada sobre pé decorado com volutas.

Acessos

Praça da República, Rua Cândido dos Reis. VWGS84 (graus decimais) lat.: 41,693931; long.: -8,828184

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 149 de 27 junho 1973

Enquadramento

Urbano, flanqueado. Implanta-se na principal praça da cidade, no exterior do antigo limite que envolvia a urbe e no alinhamento da principal via que a atravessava e onde se erguia a Porta de Santiago. Nas imediações erguem-se os antigos Paços Municipais (v. PT011609310003), o Chafariz da Praça (v. PT011609310006) e a Casa dos Sá Sotomaior (v. PT011609310069).

Descrição Complementar

AZULEJOS: A nave apresenta-se revestida a azulejos de composição figurativa com temática das Obras da Misericórdia. As obras espirituais surgem no lado do Evangelho e, a partir do sub-coro, os painéis têm a seguinte distribuição e representação: 1) DAR BOM CONSELHO (2ª obra espiritual), representação: Mateus, cobrador de impostos, na Colectoria frente a uma mesa onde procedia às contas, é aconselhado por Jesus a ser seu seguidor; legenda: "SEQVREME ET SVR/GENS SECTVS EST EVM. Math. 9v.9.". 2) ENSINAR OS IGNORANTES (1ª obra espiritual); representação: Jesus sentado num trono, rodeado de doutores da Lei, ensina na Sinagoga de Cafarnaum; legenda: ERAT ENIM / DOCENS EOS. / Marc. I. V. 22". 3) CONSOLAR OS TRISTES (4ª obra espiritual); representação: no primeiro plano surge Jó sendo consolado pelos três amigos Elifaz o temanita, Bildade o suíta e Zofar o naamatita, acompanhado pela esposa que o manda amaldiçoar a Deus e morrer; num segundo plano, a destruição e roubo dos seus rebanhos e a morte dos seus filhos sob a casa atingida por furacão; legenda: "VENIENTES / VISITARENT EVM / ET CONSOLAREN / TVR. Job. 2v.11." e numa cartela inferior "CONSOLAR / OS TRISTES / 3º". 4) CASTIGAR OS QUE ERRAM (3ª obra espiritual); representação: Heliodoro recebendo castigo divino, através de dois anjos que o flagelam e por um cavalo que o pisa, montado por cavaleiro de armadura, devido a ter procurado esvaziar o tesouro do Templo de Jerusalém; legenda "TVAVTEM A DEO / FLAGELATVS / Macab 3.v.34." e numa cartela inferior "CASTIGAR / OS QVE ERAO". 5) PERDOAR AS INJÚRIAS (5ª obra espiritual); representação: reencontro de José do Egipto com os irmãos, que o haviam vendido como escravo, abraçando um deles; legenda: "ILLI / CLEMEN/TER ACCE/DITE INCVIT ATME / Genes 45 v. 4" e numa cartela inferior "PERDOAR / AS INIVRIAS". 6) SOFRER COM PACIÊNCIA AS FRAQUEZAS DO NOSSO PRÓXIMO (6ª obra espiritual); representação: Jesus escreve no chão depois de dizer à multidão que trouxe uma mulher adúltera para atirarem a primeira pedra quem não tivesse pecado; legenda: "NEC EGO TE / CONDENABO / Joan 8. v11" e numa cartela inferior "SOFRER COM / PASIENSIA AS FRA/QVEZAS DO NO/SO PROXIMO". 7) ROGAR A DEUS PELOS VIVOS E DEFUNTOS (7ª obra espiritual); representação: colecta feita pelos Macabeus para redimir os seus que haviam morrido em combate, por terem pecado, levando consigo ídolos; legenda: "SALVBRIS EST. CO/GITATIO PRO DEFV/NCTIS EXORARE / Macab. 12. v.46." e numa cartela inferior "ROGAR A DE/OS PELOS VIVOS / E DEFUNTOS". No lado da Epístola, os painéis com as obras corporais têm a seguinte distribuição e representação, também a partir do coro-alto: 1) ENTERRAR OS MORTOS (7ª obra corporal); representação: Tobite manda enterrar os israelitas que o rei Senaqueribe da Assíria mandara matar; legenda: "SEPELIEBAT COR / PORA EORVM / tob. 1. v.21". 2) REMIR OS CATIVOS (1ª obra corporal); representação: morte dos egípcios depois da travessia do Mar Vermelho pelos israelitas, que, já em terra são encabeçados por Moisés que estende a sua vara sobre o mar; legenda: "REMIR / OS CAPTI/VOS." e numa cartela inferior "LIBERVIT / QVE DOMINVS / INDIE ILLA ISRA / EL DEMANV E / GISCIORVM / Exod. 14. v.30". 3) DAR POUSADA AOS PEREGRINOS (6ª obra corporal); representação: Abraão acolhe hospitaleiramente três anjos enquanto estava em Manre; legenda: "CVCVRRIT IN O/ CCVRSVM EORVM / DE OSTIO TABER / NACVLI SVI. Geni. 18v.2" e numa cartela inferior "DAR POVZA/DA AOS PERE/GRINOS". 4) VISITAR OS ENFERMOS (2ª obra corporal); representação: Jesus cura a sogra de Pedro, atacada de febre, retratada numa cama de torneados e com dossel; legenda: "VENIT IESVS IN / DOMVM PETRI VI/DIT SOCRVM EIVS / IACENT. Math. 8. v.14" e numa cartela inferior "4º / vizitar os / enfermos.". 5) VESTIR OS NUS (3ª obra corporal); representação: regresso do filho pródigo, a quem o pai recebe alegremente e manda vestir; legenda: "PRO FERTES / TOLAM PRI/MAMET INDVITE / ILLVM / Luc. 15. v.22" e numa cartela inferior "3ª / VESTIR OS NVS". 6) DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE (5ª obra corporal); representação: Moisés milagrosamente dá água ao povo do rochedo em Refidim; legenda: "DA NOBIS AQV/AM VT BIBA/MVS . Exod. 17 v.2.". 7) DAR DE COMER A QUEM TEM FOME (4ª obra corporal); representação: Jesus alimenta milagrosamente a multidão. LEGENDA: "DATE ILLIS / VOS MANVCA/RE. Math. 14. v.16." e numa cartela inferior "DAR DE CO/MER A QVEM / TEM FOME". No topo da nave figura, sobre a tribuna do coro-alto, o Cordeiro Místico, rodeado por uma coroa de anjos e Santos, encimado por cartela com a inscrição "TIMETE / DEVN ET / DATE ILLE / HONOBEM". As paredes da capela são igualmente revestidas a azulejos, com cenas da Vida de Cristo no lado do Evangelho e cenas da Vida da Virgem no lado da Epístola. No lado do Evangelho figuram o Nascimento de Jesus e a Adoração dos Reis Magos, no registo superior, e a Apresentação de Jesus no Templo e a Circuncisão de Jesus no inferior. No lado da Epístola surgem as representações do Nascimento da Virgem e a Apresentação de Nossa Senhora no Templo encimando as do Casamento da Virgem e da Anunciação. Todos os painéis são envolvidos por cercaduras compostas por pilares, anjos, acantos e outros elementos fitomórficos. Inferiormente, corre silhar igualmente com elementos arquitectónicos, atlantes, anjos e, no centro, cartelas com representações alugóricas alusivas à obra da Misericórdia, à vida de Cristo ou da Virgem, desenvolvida superiormente. No lado do Evangelho, o nicho com imagem do Senhor da Cana Verde é encimado por cartela com a inscrição "PRECIPIO TIBIVT / APERIAS MANVM / FRATRI TVO EGO / NO ET PAVPERI. Deut. 15.v.7" e sob ele tem uma outra cartela com "SEMPER / ENIM PAV/PERES HA/BEBITIS VO/BISCVM. Marc. 14.v.7". No lado da Epístola, o nicho com imagem do Ecce Homo é encimado por cartela com a inscrição "BEATI MISERICOR/DES QVONIAM IPSE / MISERICORDIAM / CONSEQVENTVR. Math. 5.v.7" e sob ele, também em cartela "EXEMPLVM / ENIM DEDI VOBIS VT / QVEM ADMODVM / EGO FECI VOBIS / ITA ET VOS FACI/ATIS. Joan 14.v.15". Sob o painel representando "Ensinar os ignorantes", sob o coro-alto, do lado do Evangelho, num friso de azulejos figura cartela com símbolo relativo à acção das Misericórdias, possuindo a legenda "Claves alimenta ministrat". INSCRIÇÕES: No pátio do cemitério o portal de acesso à sacristia tem a inscrição: "SENDO PROVEDOR MANOEL FELIX MANCIO DA COSTA. BARROS E ESCRI/VÃO BALTHAZAR WERNECK RIBEIRO DE AGUILAR E VASCONCELLOS E THE/ZOUREIRO, FR[ANCISCO] MA[NU]EL, ANT[ÓNI]O DE MACEDO, FOI ENCAIXILHADO ESTE CEMITERIO, / E LADRILHADA A ENTRADA DA PORTA DAS CHAGAS NO ANNO DE 1852". Sobre o portal da Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho surge a inscrição: "CAPELLA. Q[UE] MANDOV. FAZER LIONEL DE LI/MA. ABREV. FIDALGO. DA. CAZA. DE SVA. MAG[ESTA]DE / COM. HU[M]A. MISSA. COTEDIANA POR. SI. E. SVA. M[ULH]ER. DO/NA ANNA. CARMEM. DE. BARBOZA. P[EREIR]A. Q[UE] DEIXOV / IVRO. A. ESTA. SANTA. CAZA". RETÁBULOS: No lado do Evangelho tem três retábulos laterais: o primeiro, com invocação do Nascimento, é em talha policroma, com marmoreados fingidos em verde e rosa, possuindo planta recta e um eixo definido por duas colunas de fuste liso, assentes em plintos paralelepipédicos decorados com relevos figurando os Evangelistas, e com capitel coríntio, prolongando-se numa arquivolta, ritmada com folhas de acanto e possuindo ao centro cartela com brasão; ao centro, surge painel com Adoração dos Pastores; banco decorado com painéis entalhados representando um deles a Circuncisão. Os dois seguintes, dedicados a Nossa Senhora do Pilar e a Santo Cristo, possuem estrutura semelhante, com planta recta e um eixo definido por quatro pilastras estreitas e duas colunas intermédias, com o fuste interrompido inferiormente de modo a criar pequeno nicho, assente em consolas com anjos e com capitel coríntio, prolongando-se em três arquivoltas, unidas no sentido do raio; o retábulo da Senhora do Pilar tem ao centro nicho pouco profundo de arco de volta perfeita possuindo glória de querubins envolvendo imagem, assente em coluna sobre peanha de talha de acantos e no do Santo Cristo abre-se nicho de arco em volta perfeita envidraçado, albergando imaginária. No lado da Epístola possui igualmente três retábulos; o primeiro, dedicado a Nossa Senhora do Porto, tem planta recta e um eixo definido por duas pilastras e quatro colunas torsas, decoradas com pâmpanos, fénices e anjos, assentes em consolas e de capitéis coríntios, que se prolongam em três arquivoltas unidas no sentido do raio; ao centro abre-se nicho de perfil curvo, encimado por cornija contracurvada, possuindo o interior forrado a papel com flores e albergando imaginária; banco decorado com painéis de acantos, interrompido ao centro por sacrário ornado de acantos e anjos. O segundo, dedicado a Santo Ovídio, possui estrutura semelhante ao anterior, mas ao centro tem painel dourado sobreposto por mísula com imaginária; banco ornado com painéis de acantos. O terceiro retábulo, dedicado a Nossa Senhora da Boa Morte, apresenta estrutura semelhante ao existente no lado oposto, surgindo ao centro pequena urna de vidro com imagem e superiormente resplendor de querubins a enquadradar imaginária. Oa altares dos retábulos laterais são semelhantes, possuindo forma de urna com frontal decorado por concheados formando cartela central. Retábulos colaterais de estrutura igualmente semelhante, de planta recta e um eixo definido por duas pilastras exteriores e quatro colunas torsas, decoradas por pâmpanos e fénices, assentes em consolas com anjos e com capitéis coríntios, prolongadas no ático em três arquivoltas unidas no sentido do raio, sendo encimadas por rendilhado de acanto; ao centro abre-se nicho em arco de volta perfeita, ornado com apainelados de acantos e albergando imaginária; banco decorado com acantos e anjos. Os nichos em talha dourada que surgem entre os retábulos laterais possuem arco em volta perfeita enquadrados por pilastras, ornadas de acantos, assentes em mísulas com acantos e anjos nos ângulos, terminando em cartela recortada e pequenos pináculos de talha laterais. Órgãos de planta rectangular em talha dourada, com três castelos proeminentes em meia cana, o central mais alto, encimados por anjo e aves, com os tubos em disposição cromática em tecto, apresentando policromia, e encimados por gelosias a abrir em boca de cena; possui quatro nichos intermédios sobrepostos, flanquiados por pilastras e rematados em cornija, com os tubos em disposição semelhante à dos castelos; as ilhargas possuem decoração em talha; assentam em mísula decorada com gomos e anjos atlantes, que sustenta balaustrada em talha dourada com acrotérios em forma de anjos atlantes convexa na zona central.

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade / Devoluto

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CARPINTEIROS: Pedro Fernandes; Jorge Gonçalves; Manuel de Oliveira; Manuel Pires Calhastro; António Pereira de Matos. ENGENHEIROS: Manuel Pinto de Vila Lobos; Henrique Bravo. ENTALHADOR: Jerónimo Flamengo; Duarte Álvares; Baltazar Moreira; Ambrósio Coelho. ESCULTOR: Pedro Salgado; ferreiros: João Fernandes; Domingues Fernandes; Francisco Velho Fiúza; Domingos Rodrigues, o "Milhomes"; António Barbosa Lima. LADRILHADORES: António da Silva; Domingos Gualter; Manuel Borges. MEDIDORES: Conde de Vila Verde; organeiros: Manuel da Guerra; Padre Lourenço da Conceição; José Benes de Barros. PEDREIROS: Jerónimo Anes; Fernão Dias; João Lopes Filho (atr.); Domingos Gonçalves do Rego; Jerónimo de Oliveira. PINTORES: André de Padilha; Manuel Arnau Leitão; Bento de Padilha; Francisco Teixeira; Miguel Ângelo; Manuel Gomes; Francisco Rodrigues; António da Rosa. PINTOR DE AZULEJOS: Policarpo Oliveira Bernardes. PINTOR-DOURADOR: António Maciel; Manuel Cardoso; António Pereira; Santiago Gonçalves. RELOJOEIRO: José António Gonçalves Lemos. RESTAURADOR: António Rosa; serralheiro: Custódio Esteves. NÃO DETERMINADO: Fernandes Cerdal; Manuel Fernandes da Silva.

Cronologia

1521, 27 Abril - Em Sessão Camarária, estando presentes Francisco Mendes, juiz de fora, Afonso Lopes, Martins Pais e Martim do Rego, vereadores, e João Gonçalves, procurador do Concelho, acordam requerer-se ao rei, para que envie o regimento da Confraria da Misericórdia, então criada; 2 Novembro - assinatura do Compromisso por D. Manuel, que dota a instituição com meios financeiros, unindo-lhe a Gafaria de São Vicente, então vaga por falta de leprosos; 1523, 2 Julho - reuniram-se os Irmãos "ante a capella do Espirito Sancto, onde se dizem as missas da confraria da misericórdia por nom ter Capella ordenada"; 1524 - pensava-se construir uma capela em colaboração com a Irmandade dos Clérigos; 21 Maio - contrato entre as duas confrarias estabelece: "fazer huma capella, a milhor que pudesse ser, em a dita ygreja, de fronte da capella do Bom Jesus, em maneyra de cruzeyro, em a qual se fizesse hum só altar, com a ymagem da Misericórdia e sobre ella a ymagem do Espirito Santo e de fora do manto de Nossa Senhora da Miziricórdia os appóstolo"; neste altar dir-se-iam todas as missas das duas confrarias, nos dias ordenados; simultaneamente, pensava-se edificar uma sacristia comum, de maneira que "cada huma das dittas confrarias terá seus almários apartados para guardar seus hornamentos"; na mesma capela ficaria situado o cemitério, sendo 5 campas para os clérigos necessitados e as restantes para a Misericórdia, reservando duas capelas de arco na parede nascente para Fernando Brandão e para o Bacharel Afonso Anes; este projecto conjunto acabou por ser dissolvido; 1526, 16 Agosto - em sessão da Câmara, Bartolomeu Rodrigues, provedor, e os oficiais João Afonso, escrivão, Gonçalo Lopes e Álvaro Lopes, requerem licença para construção da casa e capela da Misericórdia, em terrenos adquiridos a Martim Fernandes, na esquina da Bemposta; a Câmara acedeu visto o sítio ser conveniente e a construção ser custeada pela Irmandade; 1527 - pedreiro Jerónimo Anes trabalhava na obra do portal; 1530 - pagamento a André de Padilha por iluminar o Compromisso; 1531 - pagamento de carregamento de madeira de bordos da Flandres para as obras da igreja; 1532 - pagamento ao carpinteiro Pedro Fernandes pelo resto do trabalho de fazer os altares; 1534 / 1535 - no final do mandato a Mesa já tinha gasto 6$776; 1535, Maio - a Mesa recorre ao entalhador Jerónimo Flamengo, para fazer o retábulo da nova Igreja, levando 8.500 rs mais 1.255 rs pela madeira, e a André Padilha para o pintar; 1537 / 1539 - pagamentos a André de Padilha por vários trabalhos; 1538 - Duarte Álvares executa pequeno retábulo para a igreja por 3.900 rs; 1550 - Mesa da Misericórdia manda reparar a igreja e construir "uma casa grande para os doentes, com 4 compartimentos"; 1553 - André de Padilha pinta Bandeira; 1560 - ampliação da igreja; 1561 - contrato com o carpinteiro Jorge Gonçalves; 1572 - fala-se em fazer outro retábulo; para tal, adiantou-se nesse ano 12.000 rs; 1573, 15 Fevereiro - contrato com o entalhador Baltazar Moreira para executar retábulo-mor segundo traça e debuxo recebido e cujos painéis (desaparecidos) terão sido dados a fazer ao pintor Manuel Arnau Leitão; 1582, 2 Junho - despesa da obra da varanda; 1583 / 1584 - despesa com a obra da varanda: aquisição de pedra, madeira, telha, tirantes e outros materiais (70$812); 1585 / 1586 - execução da imagem de Nossa Senhora em pedra para a porta da sacristia; 1586 / 1588, entre - trabalhava na varanda do hospital o mestre pedreiro Fernão Dias; 1587, cerca - durante provedoria de João Jácome de Luna, estando toda a obra muito arruinada e pouco funcional, apelou-se aos Irmãos e à população para se proceder a obras, mediante plano do próprio Jácome de Luna ou por João Lopes o Moço; 1588 - Bento de Padilha pinta o Crucifixo com duas cruzes; 10 Maio - o mesmo recebe 2400 reais por pintar o Ecce Homo, trabalho que não satisfez a Irmandade e que foi dado a repetir posteriormente ao pintor Manuel Arnao Leitão; 1589, 19 Março - provedor Jácome de Luna manda pagar 2000 rais a Manuel Arnau por ter pintado e estofado as imagens do Ecce Homo e do Crucificado; 1590 - pinta as hastes das bandeiras e cruzes e outras coisas; 1596, 3 Julho - António Maciel recebe 4500 reais por pintar, dourar e encarnar as imagens de Cristo, Virgem e São João da cimalha da varanda do hospital; 1602, Julho - Bento de Padilha recebe 16.000 reais por pintar o retábulo e dourar a grade "que está junto da janela das grades", de que se conservam as tábuas de São Francisco de Assis e de Santo António; 1609 - fez-se um órgão novo construído pelo organeiro Manuel da Guerra, de Pombeiro; 1632, 9 Maio - Provedor Manuel Ribeiro propõe fazer capela e jazigo para si e descendentes junto ao púlpito e coro; 24 Novembro - já estava pronta; 1640, 5 Maio - Provedor João d'Agorreta Fereira manda acabar a obra de azulejo e pintura da sacristia, dando ao pintor 20 cruzados para pintar o forro, devendo-lhe ainda 26$000, e a Domingos Gualter, que assentava o azulejo, deu à conta 9000$000, ficando o resto para o fim da obra; 1714, 15 Julho - reunida a Mesa, o Provedor Guilherme Rubim Ferreira temendo o mau estado das paredes e tecto da igreja, acha conveniente chamar peritos nas artes da carpintaria e pedraria; 25 Julho - reunião da Mesa, estando presente o Eng. Manuel Pinto de Vila Lobos e os mestres Domingos Gonçalves do Rego, Jerónimo de Oliveira, Manuel de Oliveira, Manuel Pires Calhastro e Fernandes Cerdal, que se encarregaram de examinar as condições do templo; conclui-se "mandar tirar a telha, madeiramentos, azulejos e mais petrechos, ficando as paredes sempre de pé, escorando-se novamente para maior segurança até se dar princípio à nova obra"; tal parecia ser o mais conveniente porque deixavam amparadas as varandas do consistório; 1716, 15 Julho - decide-se reedificar a igreja, tomando-se para tal a quantia de 3000 cruzados a juro, visto o rei não ter concorrido para a obra e devido aos muitos gastos feitos durante as Mesas anteriores; o projecto foi do Eng. Manuel Pinto de Vila Lobos; 14 Setembro - escritura contratando mestre pedreiro vianês, Jerónimo de Oliveira, para a obra, com custo estimado em 1433$240; pela documentação, deduz-se que a igreja era interiormente revestida a azulejos, tal como a sacristia, tinha no pavimento várias sepulturas brasonadas e nela se veneravam em altares próprios o Santo Cristo, a Senhora do Pilar, São Gregório e Nossa Senhora; 4 Outubro - contrato com o lavrador João Gonçalves para fornecimento de madeiras; 13 Outubro - carta de Manuel Pinto Vila Lobos dizendo que a capela-mor deveria ter abóbada de cantaria com clarabóia; 1718 - conclusão da igreja; 6 Julho - 1ª medição da obra pelo Eng. Vilalobos sob ordem do Conde de Vila Verde, Governador das Armas e Provedor da Santa Casa, prefazendo 2.278$594; 28 Setembro - contrato com o entalhador Ambrósio Coelho para executar o retábulo-mor e tribuna com as 4 imagens (Visitação e São Joaquim e Santa Ana), por 509$600, tendo de o acabar até 20 Junho de 1719; 1719, 3 a 17 Junho - 2ª medição da obra, importando em 549$520 1/3 de real; 5 Julho - acórdão para se vender o retábulo-mor e sacrário da antiga igreja a Filipe Lobo de Mesquita, pelas 5 moedas, visto já por 5 anos ninguém o procurava comprar; 24 Julho - contrato para feitura dos retábulos colaterais de Santo António e Nossa Senhora do Porto, por Ambrósio Coelho, pelo mesmo risco e forma que fez o de Santo António dos Capuchos da vila, por 20 moedas de ouro, tendo de os concluir até ao fim de Fevereiro de 1720; pagamento de 17$662 a Domingos Rodrigues, o "Milhomes", pelas ferragens da porta grande e outros e 47$070 a António Barbosa Lima pelo ferro e feitio das grades da claraboia; a bandeira da torre custou 2$400; Manuel Cardoso pintou e dourou florão da cúpula por $600; Francisco Teixeira pintou as capelas e 4 mãos de papel para fazer o risco da cúpula, por 9$800, e a grade do coro em verniz, por 1$920; Eng. Manuel Vila Lobos tirou planta e medições da igreja e remeteu-a para Lisboa, ao Eng. José da Silva Pais para saber o custo do azulejamento da igreja; 23 Setembro - em sessão da Mesa, o Provedor dava conta das diligências e informa que o custo da obra seria de 2.000 cruzados; decide-se consultar por carta os Irmãos de maior ponderação, respeito e qualidade que viviam nos arredores; todos concordaram com a obra; de Lisboa mandaram um orçamento para 16 "milheiros" de azulejos pela quantia de 15.000$000 o "milheiro" da pintura 240.000$000 mais o transporte, importando no total 705$6000, podendo completar a obra em Fevereiro de 1720; feitura do arcaz em jacarandá por António Pereira de Matos por 3$210; entre outras verbas, gastou-se com as ferragens do mesmo 82$920, sendo transportadas do Porto por 8 tostões; 1720, 30 Janeiro - acórdão sobre três sepulturas no presbitério solicitadas pelo Abade de Perre, Luís Álvares da Cunha, e seu irmão, o coronel António da Cunha Soto Maior, em troca de grades em jacarandá para o arco cruzeiro e os púlpitos, que seriam aparelhadas no local à sua custa; 25 Maio - Custódio Esteves, serralheiro da vila, ajustou a execução de uma grade para a porta principal da igreja, por cada aratel de ferro e feitio $065, que deveriam ficar prontas até 15 Julho; o mesmo recebeu por várias opbras 10$950; 23 Junho - 3ª e última avaliação por Vilalobos, importando em 1.200$769 4/5 de real; 5 Julho - venda do retábulo-mor de talha e sacrário a Filipe Lobo de Mesquita, por 5 moedas; colocação dos azulejos da antiga igreja no pátio do cemitério, exterior da cúpula e lanternim da capela-mor, torre sineira e alpendre das varandas, por António da Silva, por 82$470; dispendeu-se com o pintor Francisco Rodrigues pelo grotesco do zimbório 12$000; por pintar o retábulo-mor, colaterais e pano da porta 4$800; com o pintor Francisco Teixeira 8$300; e com Miguel Ângelo por pintar a "garimpa" $480; pagamento de 4$700 aos ferreiros João Fernandes e ao alcunhado de Milhomes talvez pela grade da janela do hospital e uma outra, de 69$030 a Domingos Fernandes pelas 11 grades das frestas da igreja, mais 12$070 pelas grades da porta das Chagas, e a Francisco Velho Fiuza, por 10 emendas feitas nas linhas de ferro que se acrescentaram no corpo da igreja; 1721, 9 Janeiro - Pe. Lourenço da Conceição compromete-se a fazer novo órgão, de 18 registos, segundo o desenho anotado que enviou, obra entregue ao mestre escultor Pedro Salgado; tinha a obrigação de o entregar até 2 de Julho do meso ano; 9 Maio - Provedor propõe transferência do túmulo de António Monteiro Maciel existente entre a porta da sacristia e o arco cruzeiro para a porta falsa fronteira à porta da sacristia, vindo para o lugar um novo painel de azulejos; decidiu-se ainda transferir o "letreiro" e armas da benfeitora Ana da Cunha existente no presbitério, do lado da Epístola, para encimar a porta falsa do mesmo lado; 4 Setembro - Mesa decide pintar o estuque do tecto em "Brutesco", pelo pintor vimaranense Manuel Gomes, por 300$000; 7 Novembro - acórdão para se acrescentar talha suplementar nos baixos das caixas dos órgãos, visto que a do órgão ficara muito lisa e pouco vistosa, seguindo o risco do Eng. Vilalobos, por 46$000; 1722, 11 Abril - Mesa decide mudar o sítio dos púlpitos, obra entregue ao mestre pedreiro Jerónimo de Oliveira; 20 Abril - enquanto o pintor Manuel Gomes estava a finalizar a pintura do sub-coro, encarregou-se-o de pintar também a embutidos as cantarias da igreja, ajustado em 160$000, sem contar o ouro; 7 Agosto - foi-lhe entregue ainda a pintura da cantaria da capela-mor, o acréscimo dos pés dos púlpitos e frestas da nave, por 200$000, dando a Misericórdia o ouro; 1624 - Inventário dos bens do Hospital refere 11 retábulos espalhados pelos quartos e enfermarias; 1733 - acórdão da Mesa para se mandar estofar as quatro imagens da tribuna do retábulo-mor; 1739, 20 Setembro - acórdão para mandar dourar o trono do retábulo-mor pelos mestres António Pereira e Santiago Gonçalves, por 600$000; 1744, 6 Abril - acórdão para se mandar dourar o retábulo de Nossa Senhora da Conceição e do Santo Cristo, pelo mestre Santiago Gonçalves, por 82$000; 1746, 15 Maio - Paulo da Cunha, com alcunha de o Briga Descalço, morador na vila, colocou a imagem de Nossa Senhora do Porto no altar de Santo Cristo, transladando-a depois para o colateral junto da porta; solicita autorização para dourar esse retábulo; 1759, 2 Janeiro - Mesa decide fazer cortinados para as capelas da Igreja e sanefas de talha dourada; 10 Maio - decide-se fazer também sanefas para as 4 portas do cruzeiro e capela-mor, pelo que se pagou 18$000; douramento do nicho do Senhor e sanefa do altar, fingimento das pedras da sacristia e sanefas das portadas, pelo pintor António da Rosa por 24$000; pagou-se ao mesmo pintor 15$000 por dourar as 5 sanefas das portadas; 1768 - o antigo painel da "Mater Omnium", então no consistório, foi retocado por António Rosa, recortado e encaixilhado por 9$490, e colocado na sacristia, ao lado da porta para a igreja, tirando-se para isso os azulejos da mesma parede; ali também se encontrava um altar muito velho; 4 Agosto - acórdão para se comprar ou fazer um novo retábulo para a sacristia para substituir o velho, que tinha a "madeira podre e indecente"; devia-se também dourar e acrescentar a talha do nicho do Senhor da Cana Verde da Sacristia e comprar 2 espelhos para colocar sobre o arcaz, visto que os que lá estavam eram "pequenos, velhos e incapazes"; 1803, 10 Março - contrato com José António Gonçalves Lemos para concertar e limpar relógio de caixa da sacristia; 1826 - modificação do órgão segundo inscrição: "José Benes. de Barros de Compostela me fez - Anno de 1826 sendo Provedor o Illmo Snr. António Barboza de Magalhães"; 1838 - o Administrador Geral do Distrito de Viana do Castelo afirma que a maioria das Misericórdias estavam muito mal administradas, o que originava a perda de muitas dívidas e foros, em resultado do desleixo e pouco zelo das Misericórdias; 1839 - o Administrador envia um comissário contabilista para reformar todas a sua escrituração e examinar os erros de liquidação e desleixo; 1863 - a Misericórdia e hospital tinham 48 139$180 de fundos, sendo 6 549$180 em domínios directos, 12.698$000 em prédios rústicos e urbanos, 10 192$000 em capitais mutuados, 18.400$000 em papéis de crédito e 300$000 em alfaias, jóias e móveis; tinha 2.232$610 em receitas ordinárias, sendo 757$925 em géneros, 413$085 em dinheiro, 509$600 em juros de capitais mutuados e 552$000 em juros de papéis de crédito; e tinha ainda como despesas obrigatórias 2 169$263, sendo 427$958 em encargos pios e 1.741$305 em encargos profanos; 1874, 21 Fevereiro - aprovação de novos estatutos da Misericórdia; 1889 - obras na abóbada do coro-alto dirigidas pelo Eng. Henrique Bravo eliminando as antigas pinturas; 1966, 1 fevereiro - referência a portaria fixando Zona Especial de Proteção da Câmara, não se encontrando, no entanto, o decreto; 2010 - encerramento da igreja; 2012, agosto - reabertura da igreja ao público.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintura; elementos estruturais, frisos e cornijas, pilastras, base dos púlpitos em granito; revestimentos e silhares de azulejos; retábulos e órgãos de talha dourada e policroma; guarda dos púlpitos, teia em madeira; pavimentos de granito e em madeira; pinturas murais; coberturas interiores em madeira, estuque e cantaria; coberturas exteriores em telha cerâmica; argolas, guardas e portões de ferro.

Bibliografia

GUERRA, Luiz de Figueiredo da, Esboço Histórico. Viana do Castelo, Coimbra, 1877; BARROS, Matias de, Viana do Castelo. Capital do Alto Minho, Viana do Castelo, 1973; ARAÚJO, José Rosa, o Mestre das Varandas da Misericórdia, Comércio do Porto, Ano CXIII, nº 231, 23 Agosto 1966, p. 13; SMITH, Robert C., A Talha em Portugal, Lisboa, 1969; ARAÚJO, José Rosa, A Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 1983; SILVA, Jorge Henrique Pias da, Estudos sobre o Maneirismo, Lisboa, 1983; CORREIA, José Eduardo Horta, A Arquitectura - Maneirismo e "Estilo Chão" in História da Arte em Portugal, vol. 7, Lisboa, 1986, p. 92 - 135; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; ALVES, Lourenço, Arquitectura Religiosa do Alto Minho, Viana do Castelo, 1987; VALENÇA Manuel (Padre), A Arte Organística em Portugal (c. 1326 - 1750), Braga, 1990; CALDAS, João Vieira, GOMES, Paulo Varela, Viana do Castelo, Lisboa, 1990; SOROMENHO, Miguel, Manuel Pinto de Vilalobos da Engenharia Militar à Arquitectura, Dissertação de Mestrado em História da Arte Moderna, vol. 1, U.N.L., 1991; VALE, Manuel Gonçalves, Um retábulo seiscentista na Igreja da Misericórdia de Viana do Castelo in Estudos Regionais, nº 9, Barcelos, 1991, p. 29 - 38; RUÃO, Carlos, Arquitectura Maneirista no Noroesta de Portugal. Italianismo e Flamenguismo, Coimbra, 1996; SERRÃO, Vitor, Sobre a Iconografia da Mater Omnium: a pintura de intuitos assistenciais nas Misericórdias durante o século XVI, in OCEANUS, nº 35, Julho / Setembro, Lisboa, 1998, pgs. 134 - 144; idem, André de Padilha e a Pintura Quinhentista entre o Minho e a Galiza, Lisboa, 1998; BOTELHO, João D'Alpuim, A representação das Obras da Misericórdia nos azulejos da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 178 - 203; FONTE, Teodoro Afonso da, As Misericórdias do Alto Minho - perspectiva Histórica e actualidade in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 96 - 117; HOMEM, Paula Menino, A Igreja da Misericórdia de Viana do Castelo: um contributo para a sua preservação in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 208 - 214; MOREIRA, Manuel A. Fernandes, O papel da Misericórdia no ordenamento da Sociedade quinhentista de Viana in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 216 - 229; SERRÃO, Vitor, O pintor André de Padilha e o retábulo de Nossa Senhora da Misericórdia na Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo em 1535 in I Congresso das Misericórdias do Alto Minho, Viana do Castelo, 2001, p. 118 - 122; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002; CARDONA, Paula Cristina Machado, A actividade mecenática das confrarias nas Matrizes do Vale do Lima nos séc. XVII a XIX, vol. 3, Porto (Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Departamento de Ciências e Técnicas do Património), 2004.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; Arquivo Distrital de Viana do Castelo, Cota 439

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Intervenção Realizada

1856, 11 Maio - conserto do coro da igreja, despendendo-se em madeiras e jornais de carpinteiros 1$840; conserto do arco que encimava a porta de baixo do coro da igreja, pagando-se aos oficiais $720; DGEMN: 1938 - Conclusão das obras na galeria térrea; 1958 - montagem de lustres; restauro do pavimento; 1959 - instalação eléctrica e som; obras de conservação da cobertura; arranjo geral da cúpula da capela-mor e substituição dos azulejos inutilizados; 1960 - trabalhos de reparação da cobertura e vedações; reparação da instalação eléctrica e de som; 1962 - trabalhos de substituição dos telhados e consolidação das armações da sacristia e da capela-mor; 1964 - instalação eléctrica e de luz e som na igreja; obras de restauro e conservação - 2ª Fase: soalho de madeira, impermeabilização, vãos de portas, desmonte de painel de azulejo para limpeza, pintura de madeiras; 1971 - obras de beneficiação: revestimento, pavimento do 1º e 2º piso, impermeabilização, restauro de tectos, etc.; 1973 - obras de conservação; Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo: 1974 - obras no edifício da Misericórdia; 1980 - conclusão do restauro e beneficiação; 1982 - construção de um altar "Versus Populum"; 1990 - arranjo das coberturas; IPM: 1995 / 1995 - restauro do quadro da "Mater Omnium"; DGEMN: 1995 - obras de recuperação da cobertura; Escola Profissional de Arqueologia (EPA) / IPPAR: 1998 - obras de restauro: limpeza da talha dourada, das sanefas, protecções em madeira nos peitoris das janelas; estabilização de pequenas áreas de vidrado de azulejos em destacamento; protecção da superfície azulejar com problemas de destacamento e transporte dos elementos do altar desmontado no coro-alto para outro local; 2003 / 2004 - restauro do órgão pelo organeiro Dinart Machado; 2011 / 2012 - obras de restauro da igreja, com reforço da estrutura, restauro dos azulejos, consolidação da capela-mor e arco triunfal e recuperação da pintura da cobertura.

Observações

O revestimento azulejar tem levantado problemas, pois os painéis da capela-mor são assinados por Policarpo de Oliveira e os da nave têm sido atribuídos a António de Oliveira Bernardes. Tratando-se de uma encomenda única, José Meco considera provável que Policarpo seja o autor de todo o conjunto, a sua primeira obra prima. Alguns dos painéis estão numerados (4º - 7º). A documentação fornece o número de 16092 azulejos que o Mestre Manuel Borges Vogado, vindo de Viana do Castelo, assentou no revestimento da capela-mor e da nave. O mesmo teve de resolver o problema dos azulejos para colocar sobre o arco triunfal serem insuficientes, tendo de pedir para virem mais de Lisboa. A talha do retábulo-mor segue a variante em que as colunas alternam com pilastras, também elas cobertas de folhas de acanto, com meninos, pássaros e outros elementos decorativos. Entre a primeira e segunda avaliação da obra, surge a avaliação dos acrescentos que se fizeram, assinada por Domingos Gonçalves do Rego, salientando-se o acrescento da porta principal, que se levantou e alargou mais, acréscimo do arco cruzeiro e outros. Entre a segunda e terceira avaliação, surge uma outra, datada de 25 Junho de 1719, relativa à obra de esquadria dos quatro arcos e abóbada da capela-mor, assinada por Manuel Fernandes da Silva.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / 2002

Actualização

Paula Noé 2005
 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login