Palácio Alverca / Palácio de São Luis da Pena / Palácio Pais do Amaral / Casa do Alentejo

IPA.00005254
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura residencial, maneirista e revivalista. Palácio urbano maneirista de grande sobriedade, integrado na tipologia dos palácios urbanos de planta quadrada, com pátio central e manifestando exteriormente a usual divisão social do espaço. Fenestração de molduras rectilíneas simples. Interior com alguns painéis de azulejos barrocos inspirados em gravuras. Ambiente essencialmente romântico em consequência da decoração revivalista efectuada na 2ª década do séc. 20. Conservando em grande parte, a sua integridade, constitui um bom exemplo de palácio urbano maneirista. Caracteriza-se exteriormente pela sobriedade, simplicidade e lineariedade, oriundas do estilo chão, e pela abertura regular de vãos, o que lhe confere um sentido horizontal. Contraste entre o rigor das fachadas e a exuberância interior romântica. Cada sala foi decorada e mobilada de forma diferente: pátio central e a escada de acesso ao andar nobre em neo-árabe; a toilette de senhoras e salão de baile em neorecocó; hall do andar nobre e antiga sala de jogos em neorenascença (apesar de no hall surgirem já alguns apontamentos de arte nova); antiga sala de leitura, de bridge e a de bilhar em neogótico. Os azulejos da sala de Direcção, do 1º quartel do séc. 18, integram-se no chamado Ciclo dos Mestres, e têm muitas afinidades com os da Quinta do Molha Pão, do mesmo proprietário. O 1º nível do lambril do antigo jardim são posteriores, mas apresentam alguns problemas de inserção cronológica e de interligação com os do 2º nível. Desconhecemos se são originários deste espaço. Os azulejos das outras salas são de Jorge Colaço, um dos pintores nacionalistas mais representativos. Inspiraram-se nas estâncias dos " Lusíadas ", representam o meio rural português, com fainas e festas religiosas, caçadas e touradas medievais, revelando um inflamado patriotismo e um apego saudosista ao passado, foram executados na Fábrica de Sacavém. É considerado como um dos melhores conjuntos do seu trabalho.
Número IPA Antigo: PT031106310306
 
Registo visualizado 3392 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta quadrangular com pátio central

Descrição

Planta quadrangular composta, com vários corpos articulados à volta de 3 pátios - 2 deles já cobertos. Frontespício virado a N., de 2 pisos separados por friso, parastática, cornija saliente encimada por uma outra sensívelmente recuada. Portal de verga recta entre pilastras, entablamento sobrepujado por urnas sobre socos, ladeando a janela de sacada, com frontão triangular do 2º piso. Janelas quadrangulares emolduradas a cantaria no 1º, excepto sobre as escadinhas de São Luís, onde são pequenas e rectangulares. No 2º piso, janelas de sacada com cornija saliente. Fachada lateral, a O., ritmada por parastáticas, formando 3 corpos. R/c. com lojas e sobrelojas de fenestração irregular; as janelas do 1º e 2º piso são iguais às do frontespício. Ao centro, abre-se vão de arco pleno com enquadramento de cantaria ligado a janela de moldura e cornija mais rica; sobre esta, janela de varanda sensivelmente mais saliente e pedra de armas *1. Interior com divisões profusa e exuberantemente decoradas. Na fachada O. escada de acesso à Casa do Alentejo com lambril de mármore, paredes imitando cantaria e tecto com medalhões pintados. Gabinete da Direcção com lambril de azulejos figurados e tecto de caixotões lisos. Pátio árabe, com lambril de azulejos de padrão, arcos canelados sobre colunas de escaiola, separadas por outras apoiando nichos com lanternas. No 2º piso janelas de sacada com arcos de ferradura canelados sobre colunas. Enquadramentos e frisos geométricos. Cobertura piramidal de ferro e vidro. Hall e escada para andar nobre com azulejos de padrão e motivos geométricos em estuque. No patim intermédio arcada sobre colunas e mobiliário com incrustações de madrepérola. No hall do andar nobre lambril de madeira, paredes pintadas e frisos superiores com estuques e paisagens pintadas. À esquerda salão, de dupla vidraça entre pilastras, sobreportas pintadas, espelhos e outros elementos; no tecto grande tela. No topo palco entre colunas e cariátides ligado à antiga sala de jogos por proscénio. Nesta, lambril de madeira, janelas de dupla vidraça com enquadramento decorativo de madeira, ritmada por duplas colunas e frisos, tecto com tela redonda figurando " Fortuna ". Ao hall segue-se do lado direito a antiga sala de leitura, com alto lambril de nogueira, encimado por friso de azulejos inspirados nos Lusíadas. Comunica à esquerda com 2 salas: numa lambril de madeira, azulejos com cenas da feira regional de Santa Eulália e lareira no topo. Na outra lambril de azulejos tendo no 1º nível cenas galantes e no 2º enrolamentos florais. À direita comunica com hall secundário, de lambril de azulejos. Em frente a antiga sala de bilhar, com lambril de madeira e azulejos com cenas de caça e tourada. Ao palácio liga-se anexo estreito e, no ângulo entre os 2 troços de muralha, casa com cisterna.

Acessos

Rua das Portas de Santo Antão, n.º 46 - 60; Beco São Luís

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 587/2011, DR, 2.ª série, n.º 118 de 21 junho 2011 / Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966), na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128), na Zona de Proteção do Mosteiro da Encarnação (v. IPA.00002535), na Zona de Proteção do Coliseu dos Recreios (v. IPA.00005255), na Zona Geral de Proteção da Avenida da Liberdade (v. IPA.00005972) e na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente

Enquadramento

Urbano, adossado, implantação harmónica em terreno desnivelado, entre 2 troços de muralha fernandina, confrontando respectivamente com o jardim do Palácio Almada (v. PT03 110631027) a S. e a cerca do Convento da Encarnação a E. (v. PT03110624182). No largo fronteiro a N. ermida de São Luis (v. PT03110645413).

Descrição Complementar

O brasão representa as armas do Conde de Anadia: esquartelado, tendo no I quartel as armas dos Pais, com 9 lisonjas de veirado apontadas e firmadas nos bordos; no II as armas Amaral, com 6 crescentes invertidos postos em pala; no III armas dos Almeida, com uma dobre-cruz acompanhada de 6 besantes postos em pala; e no IV armas dos Barberini, com 3 abelhas. Superiormente coronel de conde.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Cultural e recreativa: associação cultural e recretiva / Comercial: estabelecimento de restauração / Comercial: loja

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: António Rodrigues da Silva Júnior.

Cronologia

1608 - época provável da sua construção *2; Séc. 18 - na posse da Casa Alverca; 1727 - com o alargamento das portas de Santo Antão, aquando da visita do Marquês de Los Baldares, a imagem da Virgem que as encimava foi colocada num nicho envidraçado no exterior do palácio e, por baixo, a lápide com a inscrição votiva; 1755 - parece não ter sofrido muito com o terramoto; 1867 - descrição predial: "lojas, sobrelojas, primeiro andar, andar nobre, cocheiras e mais pertences"; pagava de foro à CML 2$565 e era enfiteuta o Conde de Anadia - José Maria de Sá Pereira Meneses Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barbarino; o prédio tinha de rendimento colectável 947$200 e valor venal 18:944$000; parece que ali funcionou um liceu e depois se instalou a "Liquidadora", armazém de mobiliário e objectos de arte; c. 1917 - alugado à firma Resende Limitada para adaptação a clube; os trabalhos de remodelação foram entregues a 3 construtores (David Enes Pereira, Joaquim David e Luis Caetano Pereira de Carvalho) que se constituiram em "Sociedade Construtora"; escolheu-se a fachada lateral em detrimento do frontespício para acesso ao clube; vários artistas trabalharam no local, como Júlio Vieira, na construção do hall, bar e sala de leitura, Benvido Ceia no salão de baile, Domingos Costa, pintura do salão de jogos, José Ferreira Bazaliza, na toilette das senhoras e barbearia, João Afonso Rodrigues Pita e Manuel Pita, na feitura dos estuques; José Neto responsável pelas figuras do proscénio e o grupo de meninos no salão, Rodrigo de Castro pelas cariátides e friso do salão de jogos; José Pinto e Nogueira, na modelação do ornato; os candeeiros e lâmpadas árabes foram fornecidas pelo industrial Pio Gonçalves; a Casa Renascença forneceu os vitrais, a Casa Alcobia, Casa Castanheira, António Nascimento & Filhos, do Porto, e Dionísio Gaspar de Oliveira o mobiliário; 1919 - inauguração do "Magestic Club"; c. 1920 - fecha; - a "Sociedade de Hotéis e Restaurants", por iniciativa de Carlos Nápoles de Carvalho passa a administrá-lo sob o nome "Monumental Club"; 1929 (até) - ali permaneceu mas já sem salas de jogo; posteriormente foi encerrado; 1932 - arrendado ao Grémio Alentejano, depois "Casa do Alentejo"; 1981 - Adriano José Pais do Amaral Coelho vende o palácio à Casa do Alentejo por 4 000 000$00; 1993, dezembro - proposta de classificação pela DGEMN; 1996, 20 agosto - Despacho de abertura do processo de classificação pelo vice-presidente do IPPAR; 1997, 16 março - proposta da DRLisboa de classificação como Imóvel de Interesse Público; 1998, 12 agosto - Despacho do Ministério da Cultura, classificando o edifício como Imóvel de Interesse Público; 06 Novembro - protocolo celebrado entre o IPPAR e a Casa do Alentejo para recuperação global do respectivo imóvel sede, homologado pelo Ministro da Cultura; 2006, 22 agosto - parecer da DRCLisboa para definição de Zona Especial de Proteção conjunta do castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa, Baixa Pombalina e imóveis classificados na sua área envolvente; 2011, 10 outubro - o Conselho Nacional de Cultura propõe o arquivamento de definição de Zona Especial de Proteção; 18 outubro - Despacho do diretor do IGESPAR a concordar com o parecer e a pedir novas definições de Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Estrutura de paredes autoportantes em alvenaria rebocada e cantaria.

Materiais

Calcário, azulejos, estuques, pinturas, telas, madeira, ferro, vidros e espelhos. Pavimento de madeira, lajes ou ladrilhos. Cobertura de telha, a 1 e 2 águas.

Bibliografia

S.a., O Magestic Club de Lisboa, A Arquitectura Portuguesa, Lisboa, Ano XII, nº 10 e 11, 1919, p. 37 - 44; CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Bairros Orientais, vol. 4, Lisboa, 1936; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. 14, Lisboa, 1939; MACEDO, Luiz Pastor de, Lisboa de lés-a-lés, vol. 3, Lisboa, 1942; SILVA, A. Vieira da, A Cerca Fernandina de Lisboa, vol. 1, Lisboa, 1948; ANACLETO, Regina, A Arquitectura in História da Arte em Portugal, vol. 10, Lisboa, 1986, p. 95 - 131; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1989; idem, O azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; CABRAL, Arqº. João Cabreira, Eclectismo Exótico no Palácio Alverca, o "Magestic Club", actual Casa do Alentejo, Voga, nº 1, Mai. - Out. 1990, p. 108 - 118; MILHEIRO, Pedro David, NEVES, Sónia Silves, Pátios e Vilas da Cidade de Lisboa, Lisboa (Casa do Alentejo), 1991; idem, Recuperação do Palácio Alverca - candidatura ao Programa Prodiatec 1991, Lisboa, 1991; ANACLETO, Maria Regina Dias Baptista Teixeira, Arquitectura Neomedieval Portuguesa 1780 - 1924, (Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), vol. 1, Coimbra, 1992; CEREJO, José António, Casa do Alentejo em busca de mecenas Público, Lisboa, 20 Jul. 1993, p. 46.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

1878 - construção da chaminé na parede N. do prédio, n.º 60; 1899 - abertura de uma porta de comunicação da loja n.º 44 para o corredor da escada do prédio; 1902 - pintura da porta e cantaria n.º 46 a 52; 1916 - pintura de cantarias, n.º 44; 1917 - alteração n.º 44 - 60; 1918 - projecto da escada e elevador para acesso ao clube; ampliação do estabelecimento, n.º 60; construção de lavadouro no quintal e pavimentos no anexo; 1922 - alteração ao n.º 46 - 52; 1928 - substituição de algumas asnas e ripas; 1930 - limpeza e conservação no n.º 48 - 52; 1938 - alteração ao n.º 48 a 52; beneficiação e conservação do prédio; 1939 - reforço da estabilidade de um pavimento no n.º 74; reparação de telas e colocação de azulejos caídos na casa do Alentejo; reforço do pavimento da cozinha e novo tecto; 1940 - obras na loja n.º 54 - 56; limpeza interior na sobreloja n.º 46; 1941 - limpeza na frente do estabelecimento n.º 50; 1943 - limpezas interiores nas cozinhas da Casa do Alentejo; 1944 - pintura da frente do estabelecimento n.º 44; betonagem das lajes e vigas da cobertura no n.º 58; cobertura de um pátio interior ao nível do andar nobre elevando a altura das aberturas laterais dos lanternins envidraçados na Casa do Alentejo; adaptação de janela a porta na habitação do chefe do pessoal; 1945 - pintura e caiações interiores e colocação de um lambril de azulejos no restaurante da Casa do Alentejo; 1946 - obras de pintura e estuque interior na Casa do Alentejo; obras interiores e exteriores de reparação e pintura no estabelecimento n.º 50; 1947 - intimidação para reparar telhado e vedar infiltração entre palácio e muralha; 1948 - pinturas e limpezas interiores no estabelecimento n.º 46 s/l. Dto; conservação, pintura e restauro dos salões no n.º 58; pintura na porta, montra e fachada do estabelecimento n.º 50; 1949 - limpeza e pinturas interiores e exteriores no n.º 50; 1951 - pintura da fachada, porta e montra no n.º 50; 1955 - modificações interiores e exteriores no n.º 60, colocação de vitrinas; 1957 - limpeza e pinturas interiores e exteriores no estabelecimento n.º 48 - 50; pintura exterior da fachada, portas e montras no n.º 44; 1958 - pintura exterior no estabelecimento n.º 54 - 56; 1959 - limpeza, pintura exterior e interior e limpeza de mármores no n.º 60; 1960 - reparação de portas e montras e pintura no n.º 44; obras no interior, limpezas e pinturas no n.º 48 - 52; 1963 - pintura exterior de portas e montras e reparação no n.º 48 - 52; reparação do algeroz no n.º 58; 1964 - limpeza e pintura interior e exterior no n.º 44; 1965 - limpeza exterior no n.º 46 - 58; 1969 - limpeza e pintura no n.º 44; pintura interior, nas portas e montras do n.º 50; 1971 - limpeza de mármores e substituição de elementos de ferro; 1972 - obras de transformação no estabelecimento n.º 54 - 56; 1978 - obras ilegais no n.º 50; 1981 - reformação e limpeza no n.º 60: alteração da fachada da loja; 1989 - pequenas alterações na Casa do Alentejo: adaptação a vestiários para pessoal da cozinha da zona da casa situada no 1.º andar; posteriormente procedeu-se a: recuperação das fachadas exteriores; reparação das clarabóias do pátio árabe e da sala de restaurante, etc.; Casa do Alentejo: 1999 - substituição do pavimento no pátio árabe; IPPAR: 1999 - restauro de pinturas e decoração da sala de leitura e antigo toucador, no pátio central.

Observações

*1 - desconhecemos as modificações ocorridas em finais do séc. 16 início do 17 que permitiram construí-lo naquele local; a sua área ocupou: 1) espaço entre 2 lanços de muralha fernandina e um muro ameado que em 1464 era designado de curral velho e em 1558 foi aforado a Afonso Zuniga (vide fotografia 2 e anexo documental); 2) torre, sob o actual cunhal NO., aforada pela cidade a 29 Julho 1572 a Jorge da Costa e a 7 Fevereiro 1608 vendida a Cristóvão de Hiranço, a N. da qual se erguiam 3 prédios, o último deles em gaveto - distribuição ainda hoje existente a seguir ao palácio; 3) recanto do muro da cidade (a S. da torre), confrontando exteriormente com as portas de Santo Antão e a que se seguia a S. o recinto das portas onde a cidade tinha aforado 2 chãos - o último deles confrontava com o outro muro das portas e a nascente com uma porta da cidade; as portas duplas de Santo Antão foram remodeladas em 1727 e ruiram com o terramoto de 1 Novembro 1755; ignoramos, no entanto, o que aconteceu com as 2 torres e muro da cidade; é possível que tenham sido parcial ou totalmente demolidas para a construção do palácio no séc. 17 ou aproveitadas na parte inferior do mesmo procedendo-se então, pós terramoto, à regularização da fachada poente; e bem possível que assim tivesse sido, visto o autor do artigo "Arquitectura Portuguesa" dizer que para a construção da escada de acesso ao clube foi necessário fazer um "grande desaterro e demolir uma parede antiquíssima, de rija alvenaria, com cinco metros de espessura" (Lisboa, 1919, nº 19, p. 38).

Autor e Data

Paula Noé 1993

Actualização

Luísa Cortesão 1998
 
 
 
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