Capela de Arroios / Capela de Nossa Senhora das Dores

IPA.00005941
Portugal, Vila Real, Vila Real, Arroios
 
Arquitectura religiosa, rococó. Capela privada de planta longitudinal simples, interiormente coberta por falsa abóbada de berço em estuque e iluminada pelos vãos laterais e axial, tendo adossado à fachada lateral esquerda sacristia. Fachada principal terminada em espaldar contracurvado, ornado de brasão central e concheados, ritmada por pilastras almofadadas de capitel coríntio, formando três panos e que se prolongam pelo espaldar e são coroados por altos fogaréus e urnas assentes em plintos; é rasgada por portal de verga recta encimado por entablamento e janela recortada de moldura decorada com concheados, interrompendo a cornija da fachada. Fachadas laterais terminadas em frisos e cornija e rasgadas por janelas rectangulares de capialço e a posterior, de cunhais apilastrados terminada em empena. Interior de espaço único, com coro-alto sobre arco abatido e guarda em talha com concheados e elementos fitomórficos vazados, púlpito com guarda plena em talha policroma no lado do Evangelho, ambos acedidos por porta de verga recta, e retábulo-mor rococó de planta côncava e um eixo. Na sacristia, possui lavabo de espaldar recortado com carranca, terminado em dupla cornija em ângulo e bacia ovalada e gomada. Capela de nítida verticalidade conferida não só pelo remate em espaldar, bastante alto, mas também pela colocação de pilastras no corpo da capela, prolongadas no espaldar e acentuadas pelos fogaréus, urnas e cruz central sobre plintos almofadados igualmente altos, e, por último, pela colocação dos vãos em eixo alteando a cornija da fachada, formando arco. Se o portal é envolvido por moldura mais sóbria, ainda que com duplo friso e cornija, a janela, o espaço entre as pilastras e o espaldar é profusamente decorado com concheados rococós, que envolvem também o brasão. O dinamismo decorativo evidencia-se igualmente nas fachadas principal, laterais e posterior pela existência de duplos frisos, na primeira um deles convexo, e cornijas altas, molduradas; na fachada posterior as pilastras dos cunhais são mais simples, de capitel toscano. No interior, destaque para o coro-alto que apresenta guarda bastante rica, em talha vazada, sendo acedido, juntamente com o púlpito, por escada desenvolvida no interior da caixa muraria, mas também por porta directamente a partir do exterior; a guarda do púlpito deverá datar do séc. 19 e é já neoclássica. Retábulo-mor com o ático incompleto, possivelmente devido a alteração na altura da cobertura, com o eixo definido por colunas de falsa espira fitomórfica e por pilastras que alargam inferiormente para formar mísulas, ambas assentes em plintos galbados que constituem as portas de acesso à tribuna. A capela apresenta semelhanças com a capela do Palácio de Mateus (v. PT011714150004) e com a Igreja de São Paulo ou Capela Nova (v. PT011714240165), ambas de meados do século 18 e atribuídas a Figueiredo Seixas.
Número IPA Antigo: PT011714040021
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal de corpo único rectangular com sacristia rectangular adossada à fachada lateral esquerda. Volumes escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na capela e de uma na sacristia. Fachadas rebocadas com cimento, por pintar, com pilastras de fuste almofadado nos cunhais, tendo as da fachada principal capitel coríntio e as da posterior toscano. Fachada principal virada a SO., ritmada por quatro pilastras, formando três panos, suportando entablamento, de friso convexo, alteado ao centro, e terminada em espaldar alteado contracurvado, igualmente dividido em panos por pilastras, as quais são coroadas por fogaréus e duplas urnas assentes em altos plintos de faces com almofadas recortadas, e cruz latina florenciada ao centro sobre acrotério volutado. Portal axial de verga recta moldurado, encimado por duplo friso, um deles convexo, e cornija, encimada por janela recortada, gradeada, com moldura recortada e adaptada ao perfil da cornija, sobreposta por decoração fitomórfica e concheados. Entre os capitéis das pilastras surgem concheados recortados. O espaldar apresenta, ao centro, brasão esquartelado, com as armas dos Coelhos, dos Cunhas, Farias e Correias, encimado por elmo com leão sobreposto e envolvido por concheados e volutas, e, lateralmente concheados. Fachadas laterais terminadas por vários frisos e cornija, sobreposta por beiral, rasgando-se na virada a O. porta de verga recta, de acesso ao coro-alto, e janela rectangular de capialço, e na oposta duas janelas iguais, gradeadas; a sacristia tem porta de verga recta virada a O., dois óculos circulares a S. e janela rectangular a N.. Fachada posterior cega, terminada em empena, coroada por cruz latina florenciada sobre plinto paralelepipédico, e com cunhais encimados por urnas sobre plintos de faces almofadadas. INTERIOR de espaço único, com paredes rebocadas, pavimento lajeado a granito e cobertura em falsa abóbada de berço, de estuque, assente em duplo friso, um deles convexo, e cornija. Coro-alto sobre arco abatido, assente em pilastras, de capitel estilizado, a partir do qual se prolonga lateralmente friso e cornija, com pavimento em tábuas de madeira, com muitas lacunas, e guarda em talha, profusamente decorada com concheados, acantos e elementos enrolados, mas também com muitas lacunas. No sub-coro, o portal é ladeado por duas pias de água-benta, semicirculares lisas. No lado do Evangelho, dispõe-se púlpito de bacia quadrangular, sobre mísula, com guarda plena em talha, policroma a branco e dourado, com motivos fitomórficos enrolados, acedido por porta de verga recta, em rampa, a partir de escada desenvolvida no interior da caixa muraria, que também permite o acesso ao coro. Junto ao supedâneo, com faces frontais decoradas por concheado e acedido por três degraus centrais, surgem lateralmente dois vãos, de verga recta, o do lado do Evangelho de acesso à sacristia e o da Epístola, formando vão cego. Retábulo-mor de talha policroma a verde e bege, a imitar marmoreados, com apontamentos decorativos dourados, de planta côncava e um eixo, definido por duas colunas, exteriores, de fuste liso e falsa espira fitomórfica e de capitel coríntio, e duas pilastras, interiores, de terço inferior marcado, e ornado por concheados que acabam formando mísula para sustentação de imaginária, sublinhada por apainelado definido por friso dourado, assentes em plintos largos, galbados, decorados com concheados; ao centro, abre-se tribuna, de perfil inferior recortado e superior abatido, moldurado, interiormente pintado, coberto com falsa abóbada de arestas e albergando trono expositivo de quatro degraus diferentes, ornados de concheados, suportando maquineta envidraçada, vazia, terminada em cornija contracurvada com concheados; ático composto por fragmentos de frontão e espaldar curvo incompleto, contendo elementos fitomórficos e parte de cartela central. Altar tipo urna, com frontal almofadado e decorado com concheados envolvendo cartela central com motivo fitomórfico, encimado pelo banco, formado de apainelados recortados, integrando ao centro sacrário, de perfil recortado, igualmente envolto em concheados e terminado em cornija. Sacristia com pavimento entulhado, paredes com reboco parcialmente destacado deixando à vista aparelho de silhares pseudo-isódomo e tecto com estrutura em laje aligeirada à vista; na parede N. tem lavabo, de espaldar recortado, ladeado de concheado, integrando cabeça antropomórfica com a bica, e terminado em dupla cornija em empena, possuindo taça ovalada exteriormente gomada. Na parede S. tem nicho rectangular a meia altura, ladeado pelos dois óculos circulares.

Acessos

Arroios, Rua Fundo do Povo

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 45/93, DR, 1.ª série, n.º 280 de 30 de novembro 1993

Enquadramento

Rural, isolado, entre as localidades de Arroios e o lugar do Couto, no entroncamento da R. Fundo do Povo com caminho carreteiro que confronta com o tardoz da capela. Forma com os edifícios envolventes uma frente edificada em U, em torno de um pequeno largo. É envolvida por campos de cultivo a O. e S..

Descrição Complementar

HERÁLDICA: O brasão da fachada principal tem no I quartel as armas dos Coelhos, de ouro, com leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho, com bordadura de azul, carregada de cinco coelhos de prata, manchados de negro; no II as armas dos Cunhas, de ouro, com nove cunhas de azul, postas 3, 3 e 3; no III as dos Farias, de vermelho, com uma torre de prata, aberta e iluminada de negro, acompanhada de cinco flores-de-lis de prata, três em chefe e uma em cada flanco; e no IV as armas dos Correias, de ouro, fretado de vermelho, de seis peças.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1691 - instituição do Morgado de Arroios pelo Dr. Cristóvão Alvares Coelho, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa de sua Magestade, desembargador e deputado da Mesa da Consciência e Ordens, natural de Arroios, e casado com D. Brites de Barros e Faria; designou como primeiro administrador do vínculo o filho mais velho, António Alvarez Coelho de Faria, na condição desse vincular igualmente os seus bens, devendo a sucessão do morgado continuar na sucessão do filho mais velho ou, extinguindo-se a linhagem, passasse para à transversal respectiva, descendentes dos seus quatro filhos: António Alvarez Coelho de Faria, Luís de Freitas de Barros, Manuel de Freitas de Barros e D. Brites de Barros; declarou que qualquer administrador que sucedesse na administração teria de usar o apelido Alvarez Coelho e possuindo a administração cinco anos acrescentasse ao morgado 100$000 e que faltando isso, o perdesse e passasse a quem directamente pertencesse; os administradores do morgado deviam mandar dizer anualmente 12 missas de sufrágio, para sempre, onde ele fosse sepultado; 1692, 30 Janeiro - sepultamento do Dr. Cristóvão Alvares Coelho na Igreja de São João de Arroios, passando a administrar o morgado António Alvarez Coelho, cavaleiro professo da Ordem de Cristo; 1699, 9 Abril - falecimento do Padre António Alvarez Coelho, antigo reitor da Igreja de Vale de Nogueiras, e irmão do Dr. Cristóvão Alvares Coelho, deixando em testamento todos os seus bens vinculados em morgado, designando como administrador o seu sobrinho António Alvarez Coelho de Faria e depois dele todos os seus descendentes ou não os havendo passava para a linha colateral respectiva; ficavam obrigados de rezar três missas cada ano, uma cantada no dia de Santo António, ou no seu oitavario, outra rezada a São Francisco Xavier e outra a Santa Luzia; 1706, 31 Outubro - testamento de D. Brites de Barros e Faria, viúva do Dr. Cristóvão Alvares Coelho, designando herdeiro do seu terço o filho mais velho e morgado António Alvarez Coelho de Faria, com a obrigação de dizer pela sua alma uma missa cada semana, às segundas feiras, e depois dos seus herdeiros fazerem a capela como o marido e cunhado haviam determinado aos domingos; 1806 - falecimento de Manuel Alvares Coelho de Freitas de Faria e Barros, deixando em testamento à sua mulher a capela; 1866 - a capela passa a pertencer ao Conde de Margaride, por casamento com a filha de D. Matilde Carolina Cardoso de Meneses Girão; 1980, 22 Maio - estava em estudo a elaboração de uma ampla zona de protecção que defendesse a capela e o conjunto de edificações nas imediações; 1988, 9 Março - doação da capela pelos descendentes da Condessa de Margaride e de D. João Rebello Cardoso de Meneses, arcebispo de Lorissa e bispo auxiliar de Lamego, à Junta de Freguesia de Arroios; 2006 - fundação da Liga de Amigos da Capela de Arroios (LACA) para promover a reabilitação da capela e apresentação ao IPPAR de projecto de restauro.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Paredes de granito rebocado a cimento moderno no exterior e reboco pobre no interior; pavimento em lajes de granito e do coro-alto em tabuado de madeira; grades das janelas em ferro forjado; portas de madeira; retábulo, púlpito e guarda do coro-alto em talha policroma e dourada; cobertura da capela em estuque e da sacristia em laje de cimento aligeirada; cobertura exterior em telha de aba e canudo.

Bibliografia

AZEVEDO, Correia de, Património Artístico da Região Duriense, Porto, 1972; SOUSA, Fernando de, e GONÇALVES, Silva, Memórias de Vila Real, Vila Real, 1987; TEIXEIRA, Júlio A., Fidalgos e Morgados de Vila Real e seu Termo. Genealogias, Brazões e Vínculos, Lisboa, 1990; Movimento em defesa da Capela de Arroios. A capela precisa de obras no exterior e no interior. Correio da Manhã, Edição Norte, 26 Janeiro 2007; CARDOSO, Almeida, Projecto para restaurar a velha capela de Arroios, Jornal de Notícias, 12 Janeiro 2007.

Documentação Gráfica

Câmara Municipal de Vila Real

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

IPPAR-Porto: Arquivo de Classificações, Processo DRP/CLS-1593

Intervenção Realizada

Junta de Freguesia de Arroios e GAT de Vila Real: 1989 - substituição da estrutura da cobertura em madeira e telhas de canudo, por estrutura em laje de cimento aligeirada e telhas de aba e canudo.

Observações

Autor e Data

Isabel Sereno e Ricardo Teixeira 1994 / David Ferreira e Miguel Rodrigues 2004

Actualização

 
 
 
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