Minas Romanas de Tresminas
| IPA.00005978 |
Portugal, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Tresminas |
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Minas romanas de extração de ouro, prata e chumbo, a céu aberto, pelo processo de cortas, e galerias abertas no afloramento rochoso, com entivação em madeira e dimensionadas para a utilização de carros de transporte do minério extraído e drenagem das águas, constituindo um dos mais importantes conjuntos de arqueologia mineira da época romana. O ouro extraído destinava-se exclusivamente ao fisco romano. As minas de Tresminas, juntamente com as de Gralheira e Campo de Jales, formavam o maior complexo industrial de jazigos auto-argentíferos, encaixados em metassedimentos xistosos e/ou em granitos na região de Vila Pouca de Aguiar. A exploração industrial dos depósitos auríferos exigia um abastecimento de água metódico e regulado, pelo que a sua situação geográfica a cerca de 840m de altitude era desfavorável, e tornava o abastecimento de água um problema logístico. Assim a água era armazenada e conduzida por meio de aquedutos a partir dos cursos superiores do rio Tinhela e do ribeiro de Fraga até á zona de exploração. Ainda hoje subsiste um depósito de água para desmonte do minério. Na envolvente, situava-se o povoado mineiro, composto por vários edifícios e com anfiteatro, construído em madeira. |
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Número IPA Antigo: PT011713120008 |
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Registo visualizado 6508 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Extração, produção e transformação Mina
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Descrição
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Exploração mineira a céu aberto, em que os corpos mineralizados, constituídos por massas filonianas e lenticulares quartzíticas, eram desmontados, na sua extensão longitudinal e vertical, a partir dos afloramentos. Estes trabalhos efetuavam-se através de trincheiras ou cortas, com a configuração de desfiladeiro, com alargamentos irregulares, que atingiam, na fase final da exploração, profundidades máximas de 120 m aproximadamente. Os três locais de extração são: a Corta de Covas, com um comprimento de 430 m e uma profundidade de cerca de 60 m. A Corta da Ribeirinha, com um comprimento de cerca de 370 m e uma profundidade que ultrapassa os 100 m. Devido à erosão, os contornos originais da mina a céu aberto (especialmente os limites de lado da ladeira) sofreram fortes modificações. A sua antiga entrada, ainda funcional e transitável para carros, constitui uma brecha com vários metros de profundidade e largura, na escarpa do lado do vale. Aí, conservam-se troços de várias galerias de acesso, derivados de diversos estádios da exploração. O terceiro local de extração é a Corta dos Laginhos, com um comprimento de cerca de 100 m e uma profundidade de 9 m, embora neste último local a exploração praticamente se tenha limitado à extração subterrânea. Para explorar as secções mais profundas dos jazigos, abriam-se acessos horizontais a partir das encostas da montanha, transversais à orientação do filão. Constituem galerias tuneliformes, sempre em declive em direção à superfície, parcialmente projetadas e dimensionadas para a utilização de carros pesados, que serviam para o transporte de material extraído e para a drenagem das águas. A galeria do Pilar, aberta numa fase mais avançada da exploração, a 100 m da cumeada, constitui um túnel retilíneo e longo com cerca de 300 m, de acesso ao setor principal da Corta de Covas. No piso, possui marcados sulcos profundos causados pelas rodas de carros pesados, possivelmente puxados por bois. Numa fase de exploração posterior, foi aberto um canal de escoamento com 1 m de largura sobre todo o comprimento do túnel. Este canal teve de ser sucessivamente aprofundado, devido ao respetivo avanço de desmonte, para possibilitar o escoamento contínuo das águas. A galeria do Texugo tem aproximadamente 80 m transitáveis. A galeria dos Alargamentos, aberta a cerca de 50 m abaixo da cumeada, tem cerca de 150 m e pertencia às estruturas mais antigas na área da chamada mina da Corta de Covas. Possui quatro alargamentos, laterais e retangulares (daí advindo o seu nome), que, possivelmente, serviam como locais de desvio. A galeria desemboca numa grande caverna artificial atravessada por um poço de pelo menos 40 m de profundidade. Deste posto de carga ramificavam-se outras galreias, entre as quais provavelmente um acesso, atualmente abatido, ao setor principal da Corta de Covas. A galeria dos Morcegos tem cerca de 150 m, e a galeria do Buraco Seco, transitável em toda a sua extensão, tem cerca de 90 m. Junto à zona de extração existem áreas residenciais, cuja escavação, ainda que feita em pequenos setores, permitiu identificar cerâmica e espólio numismático do primeiro terço do séc. 1 d.C.; foram detetadas, em redor das cortas, quatro zonas de preparação do minério, bem como um vasto depósito de água de formato semicircular, a noroeste do povoado, com um raio de cerca de 30 m; a 300 m a sudeste da Corta de Covas encontra-se uma estrutura com um muro em terra batida, possivelmente um pequeno anfiteatro, de construção em madeira e terra.. |
Acessos
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Tresminas, EM Tinhela - Tresminas a partir do km 127 da EN 206 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997 |
Enquadramento
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Rural, isolado, linha de cumeada sobranceira ao Ribeiro da Fraga. |
Descrição Complementar
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Na encosta oposta e abaixo das Fragas das Covas, existem extensas instalações para lavagem dos minérios, conservando-se os restos de 30 plataformas em alvenaria, com cerca de 10 m de largura, dispostas em duas fileiras paralelas na linha de maior declive. Cada uma das plataformas formava um posto de operação. Sobre esses colocavam-se tabuleiros de madeira, ligeiramente inclinados, nos quais eram lavados os minérios já triturados e finamente moídos, para separar os componentes estéreis. A disposição escalonada desses postos permitia a utilização racional da água, transportada via aqueduto de cerca de 30 km. |
Utilização Inicial
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Extração, produção e transformação: mina |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Privada: pessoa singular / baldio |
Afectação
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Época Construção
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Época romana |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Não aplicável. |
Cronologia
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27 a.C. - 14 d.C - segundo o historiador romano Floro, após a pacificação definitiva do noroeste da Península Ibérica, o imperador Augusto ordena a exploração das riquezas do solo; dá-se o início da exploração mineira sistemática de Tresminas e do Campo de Jales, durante o reinado do imperador Augusto; séc. 01 - 02 d.C - exploração mineira do couto romano de Trêsminas, constituído por minérios polimetálicos complexos com elevado teor em ouro e prata; as minas são exploradas sob a administração estatal direta, sendo o exército incumbido da direção e supervisão dos trabalhos no local; para tal estacionam no couto mineiro destacamentos da Sétima Legião, bem como soldados de uma unidade auxiliar (cohors I Gallica equitata civium Romanorum); 193 - 211 d.C. - término da exploração mineira regular, na época de Sétimo Severo; 1758, 05 março - segundo o padre Leonardo Teixeira da (...) nas Memórias Paroquiais, a freguesia tem três minas de metais, que foram dos antigos, uma no lugar de Revel, que dava estanho ou prata, segundo se diz, outra no lugar de Covas, de ouro, que é uma concavidade onde podem morar dez ou doze moradores, e que tem dentro um buraco fundo onde se reza um credo enquanto uma pedra chega ao fundo, e a terceira no lugar da Ribeirinha, que também dava ouro; 1988, agosto - Despacho do Conselho Consultivo do IPPC determina a classificação das minas romanas de Tresminas; 2005, 23 junho - inauguração do complexo mineiro romano de Tresminas, pelo Presidente da Câmara Municipal, o Dr. Domingos Manuel Pinto Batista Dias, sendo presidente da Junta de Freguesia de Tresminas o sr. Fernando Marques, que torna visitável os vários túneis de extração mineira; 2012, 06 fevereiro - inauguração do Museu Arqueológico de Tresminas ao Ar Livre; 2015 - construção do Centro Interpretativo da Mineração e do Centro Interpretativo da Fauna e Flora. |
Dados Técnicos
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Cortas a céu aberto. |
Materiais
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Construções em blocos de xisto e argamassa, com cobertura em tegula e imbrex; represa de água em terra batida. |
Bibliografia
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ALMEIDA, C. A. Ferreira de - «Aspectos da mineração romana de ouro em Jales e Trêsminas (Trás-os-Montes)». In XII Congreso Nacional de Arqueología. Zaragoza: 1973, pp. 553-562; ALMEIDA, F. de - «Minas de ouro na Gallaecia Portuguesa». In Legio VII Gemina. Leon: 1970, pp. 291-296; ARGOTE, J. Contador de - Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas. Lisboa: 1734, vol. 2, pp. 473 - 482; BOTELHO, Henrique - «Lápides com inscrições romanas do districto de Villa Real». In O Archeologo Português. Lisboa: 1907, vol. 12, pp. 26-31; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, 2006; CARDOZO, Mário - «A propósito da lavra de ouro na província de Trás-os-Montes durante a época romana. In Revista de Guimarães. Guimarães: 1954, vol. 64, pp. 120-133; CARVALHO, J. Silva e FERREIRA, O. Veiga - «Algumas lavras auríferas romanas». In Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, Lisboa: 1960, vol. 14, pp. 5-18; PARENTE, J. - «Subsídios inéditos para a história de Três Minas». In Actas do Seminário de Arqueologia do Noroeste Peninsular. Guimarães: 1980, vol. 3, pp. 131-140; VASCONCELLOS, J. Leite de - «Três inscrições inéditas do concelho de Vila Pouca de Aguiar». In Revista de Arqueologia. Lisboa: 1936, vol. 3, pp. 193-195; WAHL, Jürgen - Três Minas. Vorbericht Uber die archaologischen Untersuchen im Bereich des Romischen Goldbergwerks 1986 / 1987, Madrider Mitteilungen, 29, Mainz, 1988, pp. 221-244. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN:DSID |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Serviço de Fomento Mineiro: 1958 / 1959 - Remoção de entulho de algumas galerias; 1986 / 1993 - escavações arqueológicas sob a responsabilidade de Jürgen Wahl. |
Observações
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Tresminas, bem como Campo de Jales, era o centro de uma vasta área de exploração mineira romana, que incluía, para além da zona de extração, terrenos de cultivo para o abastecimento próprio. Eram necessárias grandes quantidades de madeira, tanto como material de construção, como de combustão em forma de carvão vegetal para fins metalúrgicos. Havia ainda a indústria de granito para a fabricação de mós, blocos de moinhos de pilões, etc. Os bens que não eram fabricados no distrito mineiro tinham de ser importados. Pressupõe-se a existência na área de determinadas construções, como edifícios administrativos, casernas, um balneário, complexos industriais (oficinas de ferreiro, instalações de tratamento metalúrgico, etc.), armazéns, silos, mercados, lojas, casa de habitação, templos, santuários. Junto ao cruzamento da estrada com o caminho para Sevivas encontra-se uma necrópole de incineração, da qual provieram onze lápides funerárias, atualmente na Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, no Seminário de Vila Real, no Museu de Martins Sarmento, em Guimarães, e no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, em Lisboa. Estas inscrições documentam a composição demográfica do distrito mineiro de Tresminas: uma elevada percentagem de residentes e estrangeiros; os imigrantes eram mercenários livres do Norte da Celtibéria, nomeadamente da região de Clunia (hoje Peñalba de Castro, Província de Burgos, Espanha). |
Autor e Data
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Isabel Sereno e Paulo Amaral 1994 |
Actualização
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Paula Noé 2002 |
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