Forte de Santa Marta / Farol e Museu de Santa Marta
| IPA.00006053 |
Portugal, Lisboa, Cascais, União das freguesias de Cascais e Estoril |
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Forte construído no séc. 17, após a Restauração, quando o Conde de Cantanhede era Governador das Armas de Cascais, incluindo-se na linha defensiva da Barra do Tejo. Apresenta planta poligonal irregular, de pequenas dimensões, composta por plataforma retangular, tipo bateria, sobrelevada e virada ao mar, de paramentos aprumados, rematados por parapeito com merlões e canhoneiras, e corpos dos aquartelamentos na retaguarda, fechados por alto muro, onde se rasga portal de verga recta encimado por lápide e brasão, criando pátio intermédio, e por uma cortina de traçado em cremalheira irregular, construída no seu prolongamento, de paramentos aprumados e rematados em parapeito liso ou com merlões e canhoneiras. No ângulo da plataforma possui farol oitocentista de planta quadrangular e corpo prismático, exteriormente revestido a azulejos. Forte construído em meados do séc. 17, mas um pouco mais tardio do que a maioria dos fortes da costa de Cascais, uma vez que não surge mencionado na "Relação dos Fortes de Cascais" datada de 1646. Numa planta do arquitecto Mateus do Couto, de 1663, o forte surge representado com a bateria e edifício do quartel, paiol e outros adossados na face interna ou externa, de modo avançado, ao muro do pátio, onde se rasgava o portal, bem como tendo a partir do cunhal E. do forte a cortina exterior em cremalheira, lajeado ao longo da face interna. Contudo, no livro As fortificações marítimas da costa de Cascais, refere-se que essa cortina exterior foi construída nas obras de 1762 / 1763 (p. 152). Ao que parece, inicialmente a plataforma era uma barbeta, com parapeitos lisos, sobre a qual se disparava à barla, e só mais tarde se rasgaram as canhoneiras, passando a designar-se de bateria. Em 1793, sob orientação do Coronel de Engenharia Romão José do Rego, procedeu-se à ampliação da bateria para E., passando a ter planta em L, com dois parapeitos de dimensões aproximadas, e dos aquartelamentos, reduzindo o recinto interior descoberto. No séc. 20, as instalações foram adaptadas a residência e zonas de apoio aos faroleiros, ainda assim, o núcleo mais antigo não viu a sua planimetria muito alterada relativamente à planta de Mateus do Couto. O farol foi construído entre 1866 / 1867, com projecto do arquitecto Francisco Pereira da Silva, tendo-se alteado a torre em 1936. As fachadas são revestidas a azulejos monocromos brancos e azuis, formando faixas alternadas. |
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Número IPA Antigo: PT031105030012 |
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Registo visualizado 8336 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Militar Forte
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Descrição
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Fortificação de planta poligonal irregular, composta por plataforma rectangular, tipo bateria, integrando sobre o cunhal E. farol, por cortina de traçado em cremalheira irregular disposta no cunhal NE. e que se estende pela ribeira dos Mochos, e, no ângulo oposto, por alto muro de perfil posterior recto tendo adossado frontalmente dependências poligonais, criando pátio intermédio, no final do qual se dispõem três corpos mais antigos. Volumes articulados de tendência horizontal, os corpos modernos pintadas de branco e de coberturas planas, e os três corpos mais antigos revestidos a azulejos monocromos brancos e coberturas inclinadas, de duas ou quatro águas; o farol é de tendência vertical. Os paramentos da plataforma e cortina são aprumados, rebocados e pintados de branco, com pátio intermédio, ou uma bateria baixa, pavimentada a lajes de cantaria, acedido por portão em ferro. A cortina virada à ribeira dos Mochos possui remate em parapeito, dois troços com merlões e canhoneiras, estas com capeamento a cantaria, e o troço intermédio com parapeito liso. O muro disposto frontalmente, denominado "edifício-muro", tem adossados quatro corpos poligonais, com limite definido por eixo visual desde o vértice dos antigos alojamentos até ao portão de entrada; os corpos, que albergam um gabinete, um bar, instalações sanitárias e arrumos, são rasgados individualmente por portas de verga recta com perfis em aço. No topo da bateria baixa surge muro alto perpendicular, rasgado sensivelmente ao centro por portal de verga recta, moldurado, encimado por lápide, de ângulos curvos, com inscrição picada, sobrepujada por brasão nacional e coroa. À direita do portal, dispõe-se avançado corpo rectangular dos antigos alojamentos, rasgado a NO. por três janelas rectilíneas e a SE. por porta de verga recta, moldurada. Passando o portal, desenvolve-se pequeno pátio intermédio, erguendo-se à esquerda, adossado ao muro, corpo rectangular dos antigos quartéis, de volume seccionado em dois, e fachada SO., com embasamento de cantaria e rasgada por portal de verga recta, moldurada; em frente possui um outro corpo rectangular, tendo na fachada NO. embasamento de cantaria, cunhais de cantaria, integrando capitéis, e é rasgada por portal de verga recta entre duas janelas rectilíneas, molduradas. Entre este corpo e o muro SO. existe escada de acesso à bateria que se encontra num nível mais elevado; a bateria tem remate em parapeito de merlões e canhoneiras a SE. e NE. Interiormente, estes três corpos mais antigos são revestidos a placas, pintadas de preto e pavimento de madeira também pintado de preto, e constituem espaços museológicos. FAROL com torre de planta quadrangular e corpo levemente prismático, com fachadas de cunhais em falsos perpianhos e revestidas a azulejos monocromos brancos e azuis, estes formando duas faixas intermédias; é percorrido superiormente por varandim saliente, em lajes de betão, com guarda em ferro, pintada de vermelho, e rematada por um outro varandim, assente em dupla laje de betão, igualmente com varandim em ferro, pintada de vermelho. No topo ergue-se a lanterna, com estrutura metálica pintada de vermelho, envidraçada, e cúpula coroada por pára-raios e catavento. Fachada principal virada a SO., rasgada por porta de verga recta, moldurada, e três frestas, com moldura alteada ao centro; fachada oposta rasgada por quatro frestas semelhantes, a lateral esquerda por uma ao nível do varandim e a oposta pela porta de acesso ao mesmo. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco e com azulejos monocromos beges, de padrão fitomórfico relevado, formando silhar, sobre rodapé com azulejos monocromos pretos; os azulejos revestem igualmente, total ou parcialmente o capialço das frestas. Vestíbulo com pavimento cerâmico de padrão geométrico em tons preto, cinzento e branco. A partir deste, desenvolve-se à volta da torre escada de cantaria e com guarda em ferro, de motivos volutados estilizados, pintada de cinzento, com bomba central. No topo, o piso ao nível do varandim separa-se da escada por porta de madeira envidraçada, pintada de branco, e possui pavimento igual ao do vestíbulo. Junto à porta para o varandim, desenvolve-se escada em ferro até ao aparelho óptico, vedado por grade. |
Acessos
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Avenida Humberto II de Itália, Rua do Forte de Santa Marta. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,690751; long.: -9,421087 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 (Forte) / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264) |
Enquadramento
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Marítimo. Implanta-se na margem direita da foz da ribeira dos Mochos, na Ponta de Santa Marta ou do Salmodo, sobre um maciço rochoso, à qual se adapta a própria estrutura da fortificação. Possui fronteiro a marina de Cascais. Ergue-se numa zona com vários imóveis classificados, cujas zonas de protecção se interligam, formando um perímetro protegido: a Cidadela (v. PT031105030006) e Fortaleza de Nossa Senhora da Luz (v. PT031105030031), Palácio e Museu dos Condes de Castro Guimarães (PT031105030024) e Casa de Santa Maria (v. PT031105030145). Entre o Forte de Santa Marta e a Cidadela, na reentrância que serve de foz ao rio do Bode, actualmente rio dos Mochos, conserva-se o antigo baluarte do Rio do Bode, posteriormente conhecido como bateria de Nossa Senhora da Luz; apresenta escarpa exterior em talude, em alvenaria de pedra aparente, e no ângulo flanqueado, em cantaria, tem guarita cilíndrica, rasgada por frestas de tiro quadrangulares, assente em mísula e com cobertura em cúpula. Nas imediações ergue-se ainda o antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade / Centro Cultural de Cascais (v. PT031105030127). |
Descrição Complementar
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Os paramentos da bateria no cunhal E., sob o farol, são reforçados exteriormente por quatro contrafortes. Sobre a lápide do portal principal existe brasão, com escudo de formato francês, com as armas de Portugal, compostas pelos cinco escudetes dispostos em cruz e bordadura de sete castelos, encimada por coroa fechada. Junto ao muro onde se rasga o portal, na bateria baixa, existe farol cabana, pintado de vermelho. |
Utilização Inicial
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Militar: forte |
Utilização Actual
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Comunicações: farol / Cultural e recreativa: museu |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Ministério da Defesa Nacional - Marinha |
Época Construção
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Séc. 17 / 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTOS: Francisco Maria Pereira da Silva (1865); Francisco Aires Mateus (2003-2005); Manuel Aires Mateus (2003-2006). CONSTRUTORA: Mário da Silva (1936); Udra (2006 / 2007). ENGENHEIRO: J. Nunes de Almeida (1936); Romão José do Rego (1793). ENGENHEIRO CIVIL: Joel Sequeira (2006 / 2007). ENGENHEIRO ELECTROTÉCNICO: Joule (2006 / 2007). FÁBRICA DE AZULEJOS: Fábrica Viúva Lamego (1936). |
Cronologia
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Séc. 15 - Data provável da fundação de ermida de Santa Marta, no esporão rochoso junto à vila de Cascais, nalgumas plantas chamada de Salmodo, junto ao baluarte do Rio do Bode; 1642, 2 Janeiro - nomeação de D. António Luís de Meneses, Conde de Cantanhede, como Governador das Armas de Cascais; 1646 - o forte de Santa Marta não figura na Relação dos Fortes de Cascais, já artilhados e guarnecidos, possivelmente por ainda estar em construção, sob coordenação de D. Luís de Meneses, e não estar operacional; 1663 - data da primeira planta representando o forte, elaborada pelo arquitecto Mateus do Couto; o forte cruzava fogo com a Cidadela e impedir o acesso à calheta da Ribeira do Mocho; 11 Dezembro - carta patente passada em nome do Tenente Jacome de Almeida da Gama, que serviu durante os dois anos antes no Forte de Santa Marta com patente de Cabo, denotando assim que ele já estava construído; 1673 - referência no Roteiro náutico à igreja de Santa Marta como sendo "uma caza que esta ao longo do mar"; 1707 - o forte estava artilhado e guarnecido; 1720 - segundo relatório do coronel João Xavier Teles, o forte encontra-se em bom estado de conservação; 1735 - fazia parte dos denominados "Fortes da Marinha de Fora" da Praça de Cascais; possuía 3 peças de artilharia capazes de servir, 1 de bronze de calibre 16 e 2 de ferro de calibre 18, e outras 3 de ferro, mas incapazes; 1751 - estava um pouco arruinado, carecendo de reparação nas paredes exteriores, quartéis, corpo da guarda e armazéns, colocação de portas, tarimbas e algumas janelas, obras avaliadas em 160$000; 1755, 1 Novembro - terramoto causa ruína da bateria, edifício dos aquartelamentos e depósito da pólvora; 1758 - segundo o reitor Manuel Marçal da Silveira nas Memórias Paroquiais, o forte ficou arruinado com o terramoto; orçamento de 160$000 para as obras; 1762 / 1763 - grande campanha de obras nas fortificações marítimas em torno de Lisboa, devido ao envolvimento de Portugal na Guerra dos Sete Anos, datando provavelmente desta altura a recuperação do forte, e a construção de um extenso parapeito exterior, ao longo da margem rochosa, com cinco canhoeiras, no prolongamento da muralha nascente da bateria; 1763 / 1764, 31 Maio - nos Mapas de Artilharia destes anos, refere-se que a bateria possuía 6 peças (1 de bronze de calibre 16, e 5 de ferro, 1 de calibre 24, 2 de 18 e 2 de 12); refere-se pela primeira vez a existência de uma cortina do forte, onde tinha 4 peças de ferro de calibre 24; 1767 / 1777, entre - o forte era artilhado com 4 peças de ferro, de calibre 24, no parapeito exterior, montadas, mas ferrugentas, e na bateria tinha 5 peças de ferro (4 de calibre 16 e 1 de 28), e 1 de bronze de calibre 16, todas montadas; 1770 / 1790, entre - o forte degrada-se acentuadamente e não tinha guarnição, contando apenas eventualmente com a presença de um cabo de esquadra e dois a três soldados; 1777, 14 Março - apresentava alguns sinais de ruína, estando abatida a plataforma da bateria e a precisar de consertos nos telhados dos aquartelamentos e de uma porta para o paiol; a guarnição era composta de um cabo de esquadra e três soldados de infantaria e tinha oito peças operacionais; 1793 - ampliação da bateria e dos aquartelamentos, alterando a sua distribuição espacial primitiva, orientadas pelo Coronel de Engenharia Romão José do Rego; a bateria foi ampliada a E., passando a ter planta em L, com dois parapeitos de dimensões aproximadas, e a ter nove canhoneiras, cinco no antigo parapeito a S. e quatro no virado a E.; os aquartelamentos foram ampliados com a construção de dependências abobadadas e reorganização das existentes, nomeadamente nos quartéis, casa da pólvora e nos armazéns; as ampliações reduziram o recinto interior descoberto; 1794, 9 Dezembro - foi guarnecido com um cabo, três soldados de infantaria e um artilheiro e equipado com 10 peças e artilharia, cinco na bateria e cinco na cortina exterior, na sua maioria de calibre 24; 1796 - planta do forte levantada pelo Sargento-mor Maximiano José da Serra; das 10 peças, 5 de calibre 24 estavam no parapeito ou bateria exterior e outras 5 no forte; em armazém existiam 600 balas; 18 Agosto - relatório de inspecção do Coronel de Engenharia José Matias de Oliveira Rego confirmando que o forte estava reedificado e tinha 5 barris de pólvora, diversa palamenta e a guarnição de 1 cabo e 2 soldados de Regimento de Cascais; 1801 - possuía 12 bocas de fogo; 1802 - possuía a mesmo armamento e a guarnição de 10 soldados e 2 sub-oficiais; 1805, 18 Julho - tinha o mesmo número de peças mas um contingente de 7 soldados inválidos e 1 cabo de Esquadra; 1807, 12 Setembro - tinha igual número de peças e a guarnição de 1 cabo e 4 soldados; 1808, Agosto - o forte tinha uma guarnição totalmente portuguesa composta por 20 elementos, comandados por um cabo de infantaria; 1809 / 1813 / 1919, Janeiro - considerando as Listas de Guarnições e Mapas de Artilharia, o forte deveria ter a artilharia desmontada e talvez sem guarnição; 1819, Fevereiro - já tinha guarnição de 3 soldados de Infantaria nº 19 comandados por um cabo de Esquadra; 1821, 1 Novembro - o forte tinha 9 peças de ferro, mas desmontadas e sem os reparos; 1823, 21 Abril - portaria real ordenando a reparação do forte; 16 Julho - envio do orçamento das obras pelo Marechal de Campo Manuel de Sousa Ramos, Comandante do Real Corpo de Engenheiros, ao Conde de Sub-Serra, cujo valor, incluindo algumas obras no forte da Luz, Conceição e Santa Marta era de 45$460; 21 Julho - para poupar, o rei ordena o emprego de artífices militares nas obras, em vez de operários civis, mas desconhece-se se as obras chegaram a ser feitas; 1824 - a guarnição continuava a ser de 3 soldados e 1 cabo; 1826 - possuía o mesmo número de peças, mas estavam desmontadas e os reparos guardados em Cascais; 1827 / 1833 - recolocação das peças de artilharia em estado funcional, à excepção de uma, e aumento do número de efectivos da guarnição; 1829, 12 Outubro - relatório de Francisco Manuel Ribeiro de Araújo, Major do Regimento de Artilharia nº 3, aconselha o envio da peça incapaz para o Arsenal Real do Exército e outra peça das de calibre 24 para conserto; refere ser necessário consertar o telhado da casa do Governador, pintar a porta de entrada, rebocar parte dos parapeitos, as canhoneiras e os muros; 1830, 15 Março - o forte continuava artilhado com as mesmas 8 peças de ferro (1 de calibre 18, 5 de 24 e 2 de 36); 1831, 29 Novembro - encontravam-se montadas 9 peças (2 de calibre 36 e 7 de 24); 1832, 18 Março - num relatório do Marechal de Campo Gabriel A. F. de Castro, o forte, constituído por paiol, casa da palamenta, quartel para 8 soldados e uma pequena casa para o oficial inferior, é descrito como estando em bom estado, com canhoneiras na bateria exterior, 2 na primeira plataforma lajeada e 3 na segunda, flanqueando a bateria dos Artilheiros da cidadela; existiam 3 peças na bateria exterior, 1 na primeira plataforma e 2 na segunda; o parapeito da bateria tinha 5 canhoneiras viradas a S. e 4 a E., onde existiam 6 bocas de fogo; 1844, Fevereiro - o forte não faz parte das Fortificações Dependentes da Praça de Cascais para onde o Governador Brigadeiro António Pimentel Maldonado enviava pequenas guarnições; 1850 - elaboração de orçamento no valor de 137$000 relativo a obras de reparação do forte; 1853 - segundo Francisco Maria Pereira da Silva, no relatório que descreve o plano de colocação de bóias para marcação dos corredores de entrada da barra do Tejo, era necessário "serem branqueadas as muralhas do forte" e "estabelecer aí uma pilastra ou columna sobre a qual se colocasse uma luz para governar de noite, enfiando-a com o pharol da Guia, para a entrada segura deste porto, pela barra do norte, chamada Corredor"; 1854, 26 Março - relatório de inspecção do forte pelo brigadeiro José Geraldo Ferreira e Capitão Joaquim António Esteves refere não existir sobre o portal lápide "por onde se possa saber quando foi construído", colocando a hipótese de ter sido fundado no reinado de D. João IV, como se observa em quase todos os fortes da barra do Tejo; 1861- Francisco Maria Pereira da Silva sugere, no seu projecto de melhoria para a entrada no porto de Lisboa, a colocação em Santa Marta, de "um aparelho catadióptrico de 5º ordem, de luz fixa vermelha, com alcance de 7 ou 8 milhas, para enfiar esta luz pela do pharol da Guia"; 1864 - Francisco Pereira da Silva em Relatório da Inspecção dos Faróis do Reino advoga a construção de um "pharolim ou luz de porto" no Forte de Santa Marta; 1865 - o arquitecto Francisco Maria Pereira da Silva elabora os estudos, projecto e orçamento do futuro farol de Santa Marta (edifício, plataforma de ferro e lanterna); aquisição em Paris do "pharolim ou luz de porto, também lenticular e com candelabro"; no entanto, este ficou a servir "de modelo para se construir por elle, na oficina nova de pharoes, quatro lanternas e dois candelabros"; uma delas seria aplicada no forte de Santa Marta sobre uma torre de alvenaria, e não numa plataforma de ferro, como se havia pensado; 1866, Outubro - conclusão do farol nas Oficinas do Serviço de Faróis; 1867 - conclusão das obras de construção do farol; 1868, 22 Fevereiro - publicação na imprensa de um aviso à navegação informando que o farol começaria a funcionar a 1 de Março; 1 Março - inauguração do facho luminoso; 1873, 6 Agosto - o Ministro da Guerra autoriza a Câmara a fazer estrada de acesso ao farol, ponte na foz da Ribeira dos Mochos e ajardinamento da zona; 1880 - o farol, constituído por uma lanterna e um aparelho catóptrico vermelho, funcionava apenas como luz de direcção; 1884 - decide-se manter em funcionamento a torre, embora danificada, já que não ameaçava ruína, sacrificando no entanto a estrutura abobadada que a rematava, para se lançar um piso apropriado "a receber o aparelho encomendado" e que deveria ficar "à altura do plano superior actual da torre"; 1890 - o farol passa a ter a lotação de dois faroleiros, acrescentando-se ao antigo conjunto (no qual o edifício de aquartelamentos e paiol passara já a ser a casa do faroleiro e a pequena dependência para a acomodação dos oficiais a ser utilizada como arquivo e quartos), uma nova habitação, construída em posição fronteira ao antigo paiol; 1897- roteiro náutico indica que o farol possuía "um aparelho dióptrico" de luz fixa vermelha, "reforçado na direcção do alinhamento do corredor ou canal do norte, por um aparelho catóptrico" *1; 1908, Agosto - conclusão da instalação no farol de um aparelho catadióptrico de 5º ordem, que substituiu o aparelho lenticular até então existente, "para luz de porto e de direcção para o corredor da barra" *2; 1 Setembro - o novo farol entra em funcionamento; 1936, 3 Junho - apresentação da memoria descritiva e justificativa do aumento de oito metros na altura da torre antiga no farol, de 8 para 17 metros, assinada pelo Engenheiro J. Nunes de Almeida *3; 12 Junho - aprovação pelo Ministério da Marinha do orçamento de 37.000$00; 24 Junho - autorizada a aplicação do orçamento sem concurso público, "visto haver urgência de efectuar" os trabalhos de construção "antes da época das chuvas"; 14 Julho - início da divulgação do projecto e caderno de encargos para apresentação das propostas de execução; 1 Agosto - auto de adjudicação provisório de empreitada geral ao construtor Mário da Silva, por 32.775$00; 10 Agosto - contrato definitivo com o construtor Mário da Silva; 31 Dezembro - conclusão das obras no farol, sob a supervisão da Direcção das Construções Civis do Ministério da Marinha, competindo à Direcção de Faróis a instrução da parte técnica relacionada com o farol; 1937, 15 Janeiro - reacendeu-se o aparelho de 5ª ordem que continuava a equipar o farol, após a desmontagem da luz que funcionara provisoriamente durante o período das obras; 1939, 10 Março - auto de entrega do farol ao Ministério das Finanças; 1940, 2 Julho - cedência do local ocupado pelos faroleiros ao Ministério da Marinha; 1942, 9 Janeiro - despacho do Ministro das Finanças, com parecer de acordo da DGEMN e Secretariado da Propaganda Nacional, autorizando a cessão a título precário à Câmara Municipal da parte do antigo Prédio Militar nº 14 (o conjunto fortificado) não utilizado pelo Ministério da Marinha para logradouro público; 29 Junho - cedência ao Ministério da Marinha da parte sobrante do prédio militar nº 14, com a área total de 1035 m2, correspondendo ao terreno ocupado pelo parapeito exterior e acesso ao forte; 1950 - o farol recebe o seu primeiro sinal sonoro; 1953 - electrificação do farol e instalação de um sistema automático de reserva de fonte luminosa (funcionava por incandescência de acetileno 8 com alcance luminoso de 10 milhas), para permitir que o farol se mantivesse aceso em caso de falha de energia de rede; 1 Julho - o farol passa a ter uma luz vermelha de ocultações, com um período de 6,0 s (ocultações 1,5 s; luz 4,5 s) e um alcance de 15 milhas; 1964 - substituição da incandescência a gás para reserva de luz por um grupo electrogéneo de reserva de alimentação; 1978, 12 setembro - retificação à designação do diploma de classificação, referindo que estão classificados os Restos do Forte, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210; 1980 - 1981 - automatização do farol, dispensando a presença contínua de faroleiros no local, passando assim a estar incluído na rede de telecontrolo das aproximações do porto de Lisboa, no regime de não vigiado; 2003 - data do concurso de arquitectura para recuperação do imóvel; 2003 - 2005 - elaboração do projecto de recuperação pelos arquitectos Francisco Aires Mateus e Manuel Aires Mateus; o projecto das estruturas é da autoria do engenheiro Joel Sequeira e a instalação eléctrica de Joule; o programa museológico é da responsabilidade de Joaquim Boiça, fruto de uma parceria entre a Câmara Municipal de Cascais e o Estado Maior da Armada Portuguesa; após a recuperação do imóvel, procedeu-se à instalação das áreas museográficas nos quatro corpos preexistentes, incluindo no farol, e à colocação das áreas técnicas, instalações sanitárias, cafetaria e recepção, com um ponto de venda de publicações e o posto do segurança; 2006, 22 de março - afectação à Câmara Municipa de Cascais e criação do Museu; 2007, 27 Julho - inauguração do Farol Museu de Santa Marta; 2008 - o projeto dos arquitetos Aires Mateus merece uma menção honrosa do júri que reuniu em Barcelona para atribuir os prémios FAD de Arquitetura; 2009 - o projeto dos arquitectos é selecionado para os Prémios de Arquitetura Contemporânea Mies Van der Rohe; 2011, 24 maio - proposta de fixação de Zona Especial de Proteção Conjunta da Casa de Santa Maria, Palácio dos Condes de Castro Guimarães, do Forte de Santa Marta, da Cidadela de Cascais e respectivos imóveis; 10 outubro - parecer da Comissão Nacional de Cultura a propor que sejam fixadas Zonas Especiais de Proteção para cada um dos imóveis; 2013, 31 outubro - publicação do projeto de decisão de fixação da Zona Especial de Proteção conjunta da Cidadela de Cascais (v. IPA.00006052), da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz (v. IPA.00006026), do Marégrafo de Cascais (v. IPA.00006055), do Palácio do Conde de Castro Guimarães (v. IPA.00006066), da Casa de Santa Maria (v. IPA.00022905), do Jardim da Casa de Santa Maria (v. IPA.00030557) e do Forte de Santa Marta (v. IPA.00006053), em Anúncio n.º 340/2013, DR, 2.ª série, n.º 211. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; molduras dos vãos, escadas do faro e outros elementos em calcário de lioz; fachadas do farol revestidas a azulejos monocromos da fábrica Viúva Lamego e de chacota manual tipo; novos corpos com lajes de betão armado; soalho de pinho americano; tectos falsos em placa de gesso cartonado; caixilharias e portas em perfil de aço. |
Bibliografia
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21 Projectos do século 21 - reflexos da arquitectura portuguesa na década actual, sl., Participação Portuguesa na Expo Zaragoza 2008, 2008; AGUILAR, J. Teixeira de, NASCIMENTO, José Carlos, SANTANDREU, Roberto, Onde a Terra Acaba. História dos Faróis Portugueses, Lisboa, Pandora, 1998; BARRANHA, Helena, Farol-Museu de Santa Marta: redesenhar um muro para revelar um sítio, in Monumentos, n.º 31, Lisboa, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, 2010, pp. 148-155; BARROS, Maria de Fátima Rombouts, BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira, RAMALHO, Maria Margarida Magalhães, As fortificações marítimas da costa de Cascais, Lisboa, Quetzal, 2001; Boiça, Joaquim, Catálogo do Farol - Museu de Santa Marta, Câmara Municipal de Cascais, 2008; CALLIXTO, Carlos Pereira, Fortificações da Praça de Cascais a Ocidente da Vila, Lisboa, 1980; Cascais em 1755 - do terramoto à reconstrução, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 2005; ENCARNAÇÃO, José d', Cascais - Guia para uma visita, Cascais, 1983; Lista de Faróis, Bóias Luminosas, Radiofaróis, Sinais de Nevoeiro e Sinais Horários e de Mau Tempo, Estações Radiotelegráficas e de Socorros a Náufragos, Lisboa, Direcção de Faróis, 1955; MATEUS, Manuel Rocha de Aires, MATEUS, Francisco Xavier Rocha de Aires, Farol Museu de Santa Marta, CA:01, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 2007; MATEUS, Francisco Aires, MATEUS, Manuel Aires, Farol Museu de Santa Marta, NC XXI - Núcleo Cascais XXI, Trienal de Arquitectura de Lisboa, Cascais, Câmara Municipal, 2007; MOREIRA, Rafael, Do Rigor Teórico à Urgência Prática: A Arquitectura Militar in História da Arte em Portugal, vol. 8, Lisboa, 1986, pp. 66-85; VILHENA, João Francisco, LOURO, Maria Regina, Faróis de Portugal, Lisboa, Gradiva, 1995. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; DGA/TT: Concelho de Guerra (Decretos, Maço 6, n.º 52) |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, IHRU: SIPA |
Documentação Administrativa
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Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército Português: Repartição do Património - Concelho de Cascais - Tombo dos Prédios Militares. Prédio nº 14 |
Intervenção Realizada
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1793 - obras de restauro e ampliação, orientadas pelo Coronel de Engenharia Romão José do Rego; 1829 - pequenas obras de reparação no reboco de paredes e madeiramentos; 1910 - conclusão das obras no recinto do farol, com construção da casa do chefe do farol, habitação ampla que ocupou o ângulo nordeste da antiga plataforma da bateria, junto à torre do farol; ampliação da antiga casa de faroleiro, prolongando-a até ao limite nascente do recinto, acentuando o alçado em banda que já possuía; adaptação da dependência destinada a arquivos e arrumos em casa de máquinas e oficina; 2006 / 2007 - início das obras de adaptação às novas funções, com requalificação e conversão do Forte e Farol de Santa Marta a espaço de cultura e lazer, embora mantendo as suas funções de sinalização costeira, sob a direcção da Marinha, através da Direcção de Faróis; as obras foram realizadas pela construtora Udra; procedeu-se ao restauro das muralhas; colocação de pedra lioz nos pavimentos, de azulejos monocromos brancos a revestir todos os edifícios antigos, e de reboco nas muralhas bem como no "edifício-muro"; restauro dos azulejos, varandins e guardas do farol; colocação de novas caixilharias; instalação das áreas museográficas nos quatro corpos preexistentes, incluindo no farol; construção de novos edifícios, na bateria baixa procurando reproduzir a espessura e o desenho recortado da cortina, denominados "edifício-muro", os quais receberam as áreas técnicas, instalações sanitárias, cafetaria e recepção, com um ponto de venda de publicações e o posto do segurança. |
Observações
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*1 - Este roteiro descreve a estrutura do farol e o espaço envolvente: "Pharol de Santa Marta - Próximo da ponta Salmodo, no ângulo sueste do antigo forte de Santa Martha, está a torre quadrada do pharol, pintada de branco, tendo a meia altura uma faixa azul. (...) A sua altura sobre o mar é de 18 metros e de 12 metros acima do terreno. (...) A oeste do pharol existem os jardins da casa de habitação do Conde dos Olivaes e penha longa, pintada actualmente de cinzento escuro. A nor-nordeste do pharol está situada a fortaleza de Cascaes, conhecida pelo nome de Cidadella e entre esta e o fortim de Santa Martha existe uma pequena praia na qual se pode desenbarcar em boas circunstâncias de tempo, onde desemboca a Ribeira do Mocho". *2 - Tinha luz fixa vermelha e o seu alcance luminoso era de 8 milhas. Na memória descritiva que acompanha o orçamento geral da obra, datada de 11 de Maio desse ano, o "apparelho luminoso" encontrava-se há "muitos anos por montar", permanecendo encaixotado no armazém do farol, estando em funcionamento duas luzes, "ambas provisoriamente, numa das janelas da torre, a luz do porto e a outra dando enfiamento Marta-Guia". Acrescenta-se, depois, que o aparelho "seria montado na actual torre, soffrendo esta as modificações convenientes". No decurso dos trabalhos de construção recorreu-se a uma luz provisória, montada num cavalete de madeira. *3 - De acordo com o projecto elaborado pelo engenheiro J. Nunes de Almeida, a torre do farol foi acrescentada 8 metros sobre o plano existente, ficando com a altura total de 17 metros, de modo a distinguir-se das novas construções que se erguiam nas proximidades e que dificultavam a navegação que saia da barra Norte, principalmente durante a tarde. As novas paredes, que cresceram sobre as antigas, foram "consolidadas por um esqueleto de cimento armado formado por quatro colunas e quatro cintas ligadas entre si", rematando-se os cunhais com cantaria. A escada nova era também de cantaria, "com a mesma disposição da anterior". A plataforma onde assentou a lanterna, "bem como o pavimento da câmara", foram feitos em "cimento armado em lajes de 10cm de grosso", construindo-se uma varanda em volta da torre e na altura do pavimento da câmara, prolongando-se a laje para fora das paredes. Houve alguns percalços como o cálculo incorrecto da altura a que se devia colocar o aparelho óptico, o que obrigou à correcção da plataforma de apoio, e a situação, não prevista inicialmente, de colocar uma "2ª facha azul" no paramento da torre, recorrendo-se então à solução, "para não ter de se arrancar o azulejo já assente", e ainda pela demora que haveria em obter azulejo azul que não existe feito no mercado "nas dimensões da chapa empregada", de pintar a faixa azul "com tinta de óleo sobre o azulejo branco, previamente cilicatado para garantia de melhor aderência". Os últimos trabalhos foram a "consolidação das fundações", com a elevação de três contrafortes, e a "construção da porta" que dava acesso ao farol, cuja colocação finalizou simbolicamente o fim das obras. *4 - O corpo da torre do farol mantém a estrutura original, tendo-se procedido, a partir do piso da câmara de serviço, ao desmonte da abobadagem pré-existente para construir a plataforma na qual assentaria a lanterna metálica. Assim, o novo farol apresenta uma torre com 9 metros de altura, e a lanterna que lhe foi justaposta cerca de 4. Um pequeno varandim rematava a torre. No interior, subia-se até à câmara de serviço por uma escada de pedra de nove lances e depois por uma escada metálica até ao aparelho óptico. Porta, janelas e o revestimento de azulejos das paredes exteriores (azulejo branco, com uma faixa horizontal azul, a meio) e interiores. A luz do novo farol continuou a ser vermelha, fixa, com um alcance de 65 milhas, visível, pelo lado norte, num ângulo de 233º a 98º. *5 - A denominação do forte adveio da sua proximidade da ermida de Santa Marta. |
Autor e Data
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Paula Noé 1991 / 2010 |
Actualização
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Curso Inventariação KIT01 (2.ª ed.) 2009 |
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