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Conjunto arquitetónico Edifício e estrutura Residencial senhorial Paço real
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Descrição
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Quinta (v. PT031111040214) com casa de planta rectangular alongada, de volumetria escalonada, na qual os corpos extremos, N. e S., se destacam desenvolvendo-se em 3 pisos, ladeando o central de apenas 2, cobertura diferenciada em telhados a 4 águas (nos extremos) e a 2 águas (centro). O alçado E. é animado, no piso térreo do corpo central, por uma arcaria (arcos quebrados alternando com contrafortes) , sobre a qual se desenvolve, ao nível do andar nobre, uma varanda delimitada por guarda calcária, abrindo-se ainda neste piso portas de verga recta sobrepujadas de óculos ovais. Adossado a este alçado, corpo hexagonal contrafortado da capela, sem cobertura, e cujo acesso se efectua por vão em arco conopial. A fachada O. é caracterizada pelo adossamento de 2 corpos de planta quadrangular, enquadrando uma zona central ritmada ao nível do piso térreo pelas molduras calcárias de 2 arcos quebrados (parcialmente entaipados, uma vez que no seu interior se rasgam 2 janelas rectangulares) e no andar nobre pelo rasgamento de 4 janelas quadradas de verga recta destacada e uma porta de emolduramento calcário. Contiguamente ao alçado O. da casa desenvolve-se um pátio rectangular delimitado a O. por um pano de muro superiormente rematado por platibanda vazada e pavilhão quadrangular, coberto por abóbada de aresta, com lumes mainelados em cada uma das faces e descansando sobre cachorros. Neste muro com um portal em arco abatido, enquadrado por moldura recta em calcário ostentando decoração relevada, e à direita um baixo-relevo figurando o Julgamento de Midas, apresentando ainda vestígios de policromia, desenvolvendo-se junto à sua parte inferior um tanque rectangular. No ângulo NO. do mesmo muro é visível uma coluna adossada encimada por uma pedra de armas dos Atouguia *2. Nos terrenos circundantes à casa reconhece-se a S. a Capela do Senhor da Serra (arruinada), de planta rectangular, sem cobertura e apresentando revestimento azulejar. Igualmente a S. da casa, junto ao rio Jamor, um Obelisco Comemorativo de visita dos príncipes regentes (futuros D. João VI e rainha D. Carlota Joaquina), o qual, integralmente em calcário, é constituído por plinto de secção quadrada sobre o qual se eleva um corpo piramidal, ostentando na sua face S. um grupo escultórico marmóreo composto por uma fama suportando um medalhão com as efígies do príncipes, da autoria do escultor Joaquim José Barros Laborão (1762 - 1820). O conjunto é complementado pela presença nos Jardins de elementos (grutas, fontes), evidenciando uma organização e tratamento românticos. |
Acessos
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Praça Cinco de Outubro. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,775076, long.: -9,262720 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 32 973, DG, 1.ª série, n.º 175 de 18 agosto 1943 *1 |
Enquadramento
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Urbano, destacado, isolado por recinto murado |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Residencial: paço real |
Utilização Actual
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Devoluto |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 16 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ESCULTOR: Joaquim José de Barros (presépio); PINTORES: Pedro Alexandrino de Carvalho (desenho preparatório do presépio); António Pinto (pintura do presépio). |
Cronologia
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1147, depois - doação de D. Afonso Henriques das povoações de Atouguia e Belas a Robert Lacorne, pelos serviços prestados na conquista de Lisboa; 1316 - Gonçalo Eanes Robertes, 4º alcaide-mor de Atouguia, morre sem descendência directa, deixando a quinta ao mosteiro de Santos; 1334 - a quinta passa para a posse de Lopo Fernandes Pacheco, que a lega a seu filho Diogo Lopes Pacheco; 1364 / 1365 / 1366 - o rei D. Pedro I (proprietário da quinta por expropriação dos Pachecos) passa temporadas em Belas, procedendo mesmo à edificação de uma torre e outras construções na propriedade; 1367 - restituição por D. Fernando I a Diogo Lopes Pacheco dos seus bens, entre os quais se contava a quinta de Belas; 1398 - sob a acusação de traição Diogo Lopes Pacheco é expulso do reino e vê os seus bens confiscados pela coroa; 1412 - aquisição da quinta por D. João I à viúva do conselheiro Gonçalo Peres de Malafaia, a quem o monarca a havia anteriormente doado; 1424 - doação da quinta ao infante D. João, filho de D. João I; 1442 - morte do infante D. João, passando a quinta para a duquesa de Viseu D. Beatriz (sua filha), a qual terá empreendido uma campanha de obras (construção da capela); 1506 - morte de D. Beatriz, sendo a quinta doada a Rodrigo Afonso de Atouguia; 1619 - o rei D. Filipe II é recebido na quinta de Belas pelos seus proprietários D. António de Castelo Branco da Cunha e D. Maria da Silva, 11º senhores de Pombeiro; 2ª metade do séc. 17 - a propriedade recebe importantes obras e melhoramentos (realização do baixo-relevo sobre o tanque), empreendidos pelo 1º conde de Pombeiro, D. Pedro Castelo Branco da Cunha; Década de 40 séc. 18 - provável edificação da ermida do Senhor da Serra pelo 4º conde de Pombeiro, D. Luís de Castelo Branco; 1755 - terramoto causa danos, que implicam uma reconstrução, passando o alçado principal do palácio para a frente E.; aquisição do lago com a escultor de Neptuno, efectuada por Gian Lorenzo Bernini, pelos Marqueses de Belas aos Condes da Ericeira, para cujo palácio de Lisboa fora executado; 1770 - transformação dos jardins por acção de D. António de Castelo Branco (5º conde de Pombeiro), que procede igualmente à aquisição da famosa fonte de Neptuno, proveniente do palácio lisboeta dos condes da Ericeira; 1793 - casamento de D. Maria Rita Castelo Branco Correia e Cunha, 6ª condessa de Pombeiro (filha e herdeira dos 5 º condes) com D. José Luís de Vasconcelos e Sousa (1740 - 1812, segundogénito dos 1º marqueses de Castelo Melhor), tornando-se 1º marqueses de Belas, realizando substanciais melhoramentos na sua propriedade (pintura de alguns tectos por Cirilo Volkmar Machado), que acolhe então numerosos artistas e intelectuais, designadamente os membros da Nova Arcádia; 1795 - visita do príncipe regente e de sua esposa D. Carlota Joaquina é celebrada por um obelisco colocado no jardim, ostentando um grupo escultórico da autoria de Joaquim José de Barros; 1796 - execução de três peças em terracota que integraram, posteriormente, o presépio, por António Pinto, vendidas por Pedro Alexandrino de Carvalho ao marquês; 1806 - execução do presépio por Joaquim José de Barros, por 297$400, segundo desenhos efectuados por Pedro Alexandrino de Carvalho, e do móvel oratório, por 24$000 *3; as peças foram pintadas por António Pinto; 1821 - regresso a Portugal de D. António Maria Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa, 2º marquês de Belas; 1878 - venda da propriedade, pelo 3º marquês de Belas, D. António de Castelo Branco Correia e Cunha Vasconcelos e Sousa, a D. Virgínia Ferreira de Almeida, casada com José Borges de Almeida; 1942 - aquisição da quinta, aos herdeiros de José Borges de Almeida, pelo industrial Júlio Martins, o qual promove uma remodelação do palácio, sob orientação do Arquitecto Raul Lino; 1968 - 1969 - cheias; 1975 - saque dos edifícios da propriedade, desaparecendo parte dos revestimentos azulejares e sendo danificado o grupo escultórico do obelisco; 1994 - 1995 - obras da CREL fazem passar viaduto rodoviário sobre parte da quinta |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes, estrutura mista |
Materiais
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Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, mármore, azulejos, estuque pintado. |
Bibliografia
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ALMEIDA, Maria Isabel, ANTUNES, Almerinda Rosa, A Arte em Belas Dos Séculos XVIII a XX, Lisboa, 1981 (texto policopiado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa); ARAÚJO, Ilídio Rocha, Quintas de Recreio, in Bracara Augusta, Vol. XXVII, Fasc. 63, 1973; AZEVEDO, Carlos de, Solares Portugueses, Lisboa, 1988 (1ª edição 1969); AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. II, Lisboa, 1963; BARBOSA, Domingos Caldas, Descripção da Grandiosa Quinta dos Senhores de Bellas e Notícia do Seu Melhoramento, Lisboa, 1799; BARBOSA, Inácio de Vilhena, A Quinta de Belas, in Annuario do Archivo Pittoresco, Vol. V, 1862 e Vol. VI, 1863; CARDOSO, Francisco Hipólito, A Fénix de Belas, in O Independente, Lisboa, 21.05.1993; CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Os Bairros Orientais, Vol. III, Lisboa, 1935-39; COSTA, António Carvalho da (Padre), Chorographia Portugueza, Lisboa, 1712; Descripção Histórica da Quinta de Bellas, Lisboa, 1898; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, Relatório da intervenção no obelisco comemorativo da visita de D. João VI e D. Carlota Joaquina (por Manuel Carvalho); Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, Relatório da intervenção nas cantaria do arco em ogiva no alçado nascente (por Adélia Gomes), Cacém, 1993; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, Relatório da intervenção na fonte do jardim, Cacém, 1993; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, Relatório da intervenção nos frescos da sala do piso inferior, representando as Quatro Estações e Paisagem, Cacém, 1993; LEMOS, Ana Cristina dos Santos, FIGUEIREDO, Ana Paula Valente, PIRES, Paula Alexandre Coelho, O Palácio dos Senhores de Belas, Lisboa, 1989 (texto policopiado); LOPES, Flávio, (coord. de), Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa, Lisboa, 1993; MACHADO, Cirilo Volkmar, Collecção de Memórias Relativas às Vidas dos Pintores e Escultores, Arquitectos e Gravadores Portuguezes e dos Estrangeiros que Estiverão em Portugal, Coimbra, 1922 (1ª edição 1823); MATTA, António, Quinta dos Condes de Pombeiro, Belas, 1977; Novo Guia do Viajante em Lisboa e Seus Arredores, Lisboa, 1863; PAIS, Alexandre Manuel Nobre da Silva, Presépios Portugueses Monumentais do século XVIII em Terracota [dissertação de Mestrado na Universidade Nova de Lisboa ], Lisboa, 1998; PROENÇA, Raul, (dir. de), Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924; SANCHEZ, José Dias, Romarias Tradicionais Estremenhas : o Senhor da Serra, in Boletim da Província da Estremadura, Nº 3, 1943; SERRÃO, Vítor, Sintra, Lisboa, 1989; SIMÕES, J. M. dos Santos, A Azulejaria em Portugal no Século XVIII, Lisboa, 1979; STOOP, Anne De, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Porto, 1986; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. I. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Documentação Administrativa
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Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra |
Intervenção Realizada
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1991 / 1993 - obras de consolidação, restauro e reparações diversas nos edifícios da quinta, segundo projecto do Arquitectos José António Martins Victorino e João Rito Afonso. |
Observações
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*1 - DOF: Quinta do Marquês, em Belas, incluindo o palácio e ainda uma capela abobadada, duas fontes decorativas, um obelisco erguido a D. João VI e a capela do Senhor da Serra, existentes nos jardins da mesma quinta. *2 - cuja leitura heráldica é a seguinte: de vermelho, com cruz de vermelho, com cruz de ouro acantonada de 4 flores-de-lis do mesmo; bordadura também de ouro; timbre: um leão sainte de ouro. *3 - encontra-se no Museu Nacional de Arte Antiga: possui a "Sagrada Família", "Adoração dos Pastores", "Cortejo dos Reis Magos", e "Grupo do Mouro", onde, segundo a tradição, está representada a família do marquês; possui peças duplicadas, como 3 cegos a tocar sanfona, que mostra o reaproveitamento de peças de presépios primitivos. |
Autor e Data
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Paula Noé 1990 / Teresa Vale e Carlos Gomes 1995 |
Actualização
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