Capela Real da Ajuda / Torre sineira da Capela Real da Ajuda
| IPA.00006106 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Ajuda |
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Arquitectura religiosa, barroca. Torre sineira de planta rectangular simples, evoluindo em três registos, tendo vários respiradouros e, numa das faces, janelas rectilíneas para iluminar o interior, com escada em caracol. Possui quatro mostradores de relógios no registo intermédio e, no superior, as sineiras, em arco de volta perfeita, com moldura côncava, encimadas por frontão interrompido. Remata em cornija, com fogaréus nos ângulos e possui cobertura em coruchéu bolboso. Possui claras afinidades com a torre sineira das Necessidades, construida anteriormente e constituindo, certamente, um protótipo (v. PT031106260127). É o único elemento que subsiste da primitiva Patriarcal e Capela Real da Ajuda, cuja magnificência se perdeu pela sua difícil conservação, visto ser construída em madeira. A torre era o único elemento em cantaria, destacando-se as faces do primeiro registo com molduras salientes e a janela que surge no topo das mesmas, cuja moldura se liga ao friso superior, que a separa do registo central, cujos mostradores dos relógios são gravados na cantaria e são rematados por cornija alteada e angular, suportada por pingentes. A zona mais exuberante é a que envolve as sineiras, flanqueadas por pilastras toscanas e rematadas por invulgar frontão contracurvado interrompido, com os símbolos da Patriarcal. A cobertura é original, formando duplo bolbo, o inferior rasgado por óculos, sendo coroada por enorme esfera e galo de bronze. |
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Número IPA Antigo: PT031106010293 |
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Registo visualizado 4772 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Capela / Ermida
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Descrição
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Torre de planta quadrangular simples, de volume único, de disposição vertical, com estrutura alvenaria de calcário, revestida a placas de cantaria de calcário lioz e cobertura em coruchéu bolboso. Fachadas em cantaria de calcário aparente, em aparelho isódomo, percorridas por embasamento saliente, com os ângulos chanfrados e evoluindo em três registos divididos por cornija, o inferior com os panos de muro envolvidos por moldura saliente e bastante larga e possuindo, no topo de cada uma das faces, janela rectilínea jacente, com moldura de cantaria saliente, prolongando-se superiormente, até ao friso do remate, possuindo grades de ferro, formando módulos volutados. Excluindo estes elementos, o primeiro registo é diferente nas quatro faces, tendo, na principal, virada a E., porta de verga recta, protegida por duas folhas metálicas, encimada por duas janelas de peitoril rectilíneas, com moldura simples, protegidas por caixilharias de madeira e portadas interiores do mesmo material. Face lateral esquerda, virada a S., rasgada por porta de verga recta, com duas folhas de metal, tendo vestígios da empena de um corpo adossado, através de um sulco oblíquo que marca a cantaria. Face lateral direita, virada a N., cega, tendo vestígios de um corpo adossado, pois não possui revestimento de cantaria no cunhal direito e parte do pano; o cunhal direito, na face menos destruída, possui frestas de arejamento. Face posterior, virada a O., com porta elevada, provavelmente a primitiva porta de acesso à torre, com moldura de cantaria bastante irregular, tendo vestígios de um corpo adossado em empena, visível no sulco que rasga o pano. O registo intermédio é igual em todas as faces, possuindo relógio circular, com o mostrador talhado na cantaria e ponteiros de bronze, flanqueados por duas almofadas curvilíneas. Separa-se do registo superior por cornija, que se alteia na zona central, dando origem a uma cornija angular, com fecho saliente, que se apoia em três pingentes de cada lado. O registo superior é marcado pelas quatro sineiras, em arco de volta perfeita, com moldura côncava e fecho saliente e estrido, flanqueada por pilastras toscanas, que sustentam friso dórico e frontão contracurvado e interrompido, contendo, no tímpano, uma folha de palma, um pâmpano e a tiara patriarcal, marcando a hierarquia do edifício a que pertencia. A cúpula de cobertura possui duplo bolbo separado por cornija, o inferior rasgado por óculo circular emoldurado, e o superior ornado por botão e encimado por esfera e galo de bronze; nos ângulos, surgem fogaréus, alguns já desaparecidos. INTERIOR com escadaria em caracol, com 80 degraus; junto ao 67.º degrau da escada, uma porta na face N. dá para o recinto onde está instalado o relógio; este tem a inscrição: "Joze da Silva Mafra. o fez no Anno de 1796"; tem uma enorme cavidada no lado S. para os pesos, em cuja base há uma porta para o exterior. |
Acessos
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Largo da Torre. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.708081; long.: -9.196486 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 33 587, DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 253 de 29 outubro 1959 *1 |
Enquadramento
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Urbano. Isolado, situada num amplo terreiro plano, pavimentado a alcatrão, situado a E. do Palácio Nacional da Ajuda (v. PT031106010025). Fronteiras à torre e em cota inferior, surgem algumas casas de piso térreo e habitação unifamiliar. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Religiosa: capela |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Secretaria de Estado da Cultura |
Época Construção
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Séc. 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITECTO: Francisco António de Sousa (1812-16); Manuel Caetano de Sousa (1792). ENTALHADOR: Félix Vicente de Almeida (1756); FUNDIDORES: F. Alves (1793); J. Graveiro (1793) e J. Lavache (1793). ORGANEIRO: Joaquim Peres Fontanes (1812-16). RELOJOEIRO: José da Silva Mafra (1796). |
Cronologia
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1755, 1 Novembro - a Patriarcal, junto ao Paço da Ribeira, onde funcionava a Capela Real *2, desapareceu com o terramoto; com a mudança da Família Real para a Ajuda, foi construída, na denominada Quinta de Cima, uma Capela junto à Real Barraca, sendo as cerimónias litúrgicas celebradas, durante a construção, na Igreja Paroquial da Ajuda; a construção destes edifícios de madeira estava a cargo de João Carlos Sicino Galbi Bibiena; 24 Novembro - inauguração da nova Capela Real, com uma tribuna, no lado da Epístola, destinada à Família Real e com acesso ao Paço; a imagem de Nossa Senhora da Ajuda foi tresladada da Paroquial para a nova Capela, ficando a rainha como juíza e protectora do culto, ornato e vestuário da mesma; no local, foi colocado um sacrário; 08 Dezembro - durante as cerimónias de celebração da Conceição, foi sentido novo abalo sísmico e D. José apela para que a Capela Real, anexa à Real Barraca, fosse rapidamente construída; 1756, 31 Janeiro - pagamento a Félix Vicente de Almeida pela obra do trono, sacrário, tocheiros e banquetas para a igreja; 5 Abril - pagamento ao mesmo pela execução do cofre, tocheiro do Círio pascal, candeeiro das Trevas, castiçais e arcaz da sacristia; 1758 - na Capela Real existia uma pia baptismal, que servia nas funções de Sábado de Aleluia e no Domingo de Pentecostes; 1759, 24 Agosto - breve de Clemente XI, dando à Capela Real foros de paróquia, competindo ao pároco assistir a todos os que serviam e residiam no Paço Real; 1760 - abertura da Calçada nova, mais tarde designada por Calçada da Ajuda; 1761, 20 Janeiro - sucede nas obras Elias Sebastião Pope; 1780 - 1789 - várias disputas entre o cura da Patriarcal na Capela Real, o beneficiado Padre Sebastião José de Gouveia e Melo, e o reitor da paroquial da Ajuda; 1792 - Março a Dezembro - várias obras na Capela Real para permitir instalar no local a Patriarcal, dirigidas por Manuel Caetano de Sousa e importando em 24:800$000; construção da torre, a única edificação em cantaria; 26 Maio - instalação da igreja Patriarcal de Lisboa na Capela Real da Ajuda; 1793, 25 Março - sagração dos oito sinos da torre, que eram dedicados e pesavam: Salvador do Mundo (287 arrobas), Nossa Senhora da Conceição (211 arrobas), São Tomé (118 arrobas), São Francisco de Borja (111 arrobas e 8 arratéis), São Vicente (90 arrobas e 24 arratéis), Santo André (64 arrobas e 24 arratéis), São Roque (48 arrobas e 12 arratéis) e Santa Bárbara (41 arrobas); foram excutados por J. Lavache, J. Graveiro e F. Alves; 1794, 10 Novembro - incêndio do Paço; 1796 - feitura do relógio por José da Silva Mafra; 1833, Setembro - a Patriarcal é retirada da Capela Real e incorporada na Sé de Lisboa; 1835 - a Capela Real deixou de funcionar; 1840, 15 Janeiro - o guarda-jóias da Casa Real, Paulo Martins de Almeida, solicitou consertos imediatos na Capela, que não se realizaram; 1843, 15 Julho - roubo dos tubos do órgão, já tendo desaparecido o chumbo que revestia os tectos; 29 Agosto - o ministro Costa Cabral mandou demolir o edifício, por proposta do Vedor da Casa Ral, D. Manuel de Portugal e Castro; a pia baptismal, após ter estado no Quartel de Infantaria 1, na Ajuda, deu entrada no Museu do Carmo, com o n.º 3826; 1864 - D. Luís doou o órgão à Paroquial de São Pedro de Alcântara, que o trocou pelo actual, indo o exemplar primitivo para Inglaterra. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista de calcário e tijolo; placas de revestimento, pináculos, pilastras, cornijas, friso, modinaturas, cobertua em cantaria de calcário lioz; grades das janelas em ferro forjado; caixilharias das janelas de madeira e vidro simples, com portadas de madeira; portas em chapa metálica; ponteiros dos mostradores do relógio, esfera e galo do remate em bronze. |
Bibliografia
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ATAÍDE, M. Maia, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa - Tomo III, Lisboa, 1988; CARVALHO, Ayres de, Os Três Arquitectos da Ajuda, Lisboa, 1979; Dar Futuro ao Passado, Lisboa, 1993; DIAS, Gabriel Palma, As Intervenções Joaninas nas Quintas de Belém à Ajuda, in Encontro dos Alvores do Barroco à Agonia do Rococó, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, 20 a 23 Junho 1994 (policopiado); DIAS, Gabriel Palma, Os Primeiros Projectos Para o Palácio da Ajuda - O Desenho e a Realização de Manoel Caetano de Souza, in Encontro dos Alvores do Barroco à Agonia do Rococó, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, 20 a 23 Junho 1994 (policopiado); FREITAS, Jordão de, A Capella Real e a Igreja Patriarchal na Ajuda, Lisboa, 1909; SILVA, Augusto Vieira da, Notícias Históricas das Freguesias de Lisboa, in Revista Municipal, Ano V, Nº 15, 1º trimestre 1943 e Nº 16, 2º trimestre 1943; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. I. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID-001/011-1314, p. 129, DGEMN/DSARH-010/125-0083/048 (não consultado), DGEMN/DSARH-010/125-0083/053 (não consultado), DGEMN/DSMN-0300/04 (não consultado), DGEMN/REOM-0015/02 (não consultado)
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Intervenção Realizada
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PROPRIETÁRIO: 1812 / 1813 / 1814 / 1815 / 1816 - arranjo nos telhados da Capela Real, na sacristia, nos armazéns anexos, no órgão e sino grande, estando as obras a cargo do arquitecto Francisco António de Sousa e o organeiro Joaquim Peres Fontanes; 1938 - reparação do relógio da torre. |
Observações
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*1 - DOF: Zona circundante do Palácio Nacional da Ajuda a saber: 1) o Jardim das Damas, com o seu mirante e outras obras arquitectónicas, único recinto ao ar livre que terá acesso directo do andar nobre do Palácio; 2) Sala de Física, pavilhão independente, do séc. 18, com obra de pintura, estuques, talha, etc.; 3) torre sineira, do séc. 18; 4) o chamado Paço Velho, ao N. do Jardim Botânico e com a frontaria para a Calçada da Ajuda. Contém quatro interessantes tectos, ricamente decorados, com pinturas e dourados que precisam de restauro; 5) o Jardim Botânico da Ajuda, com casas anexas ao S. (onde morou Brotero) e outra no ângulo SE.. *2 - a Capela Real nasceu em 1299, no Palácio da Alcáçova, criada pelo rei D. Dinis, tendo sido ampliada e com novo regimento por D. Duarte, em 1437; com D. Manuel I, foi transferida para o Paço da Ribeira, passando a estar, a partir deste momento, junto à residência régia; D. João III dotou-a com maior número de cantores; 1592 - promulgação de um novo regimento, com Filipe I, definindo que teria um mestre de canto, 24 cantores, 2 baixões, uma corneta, 2 organistas, 4 moços de estante e 18 meninos de coro; D. João V transforma a Capela Real em Patriarcal, aumentando a sua magnificência, com 4 organistas, 70 cantores e vários executantes de vários instrumentos. |
Autor e Data
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Teresa Vale e Carlos Gomes 1994 / Paula Figueiredo 2007 |
Actualização
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