Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Merceana / Santuário de Nossa Senhora da Piedade da Merceana
| IPA.00006246 |
Portugal, Lisboa, Alenquer, União das freguesias de Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha |
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Arquitetura religiosa, maneirista e barroca. Santuário formado por igreja de planta poligonal irregular composta por três naves, antecedidas por amplo nártex, capela-mor e vários anexos adossados. As naves estão a igual altura, com coberturas diferenciadas em abóbadas pintadas com quadraturas, representando os atributos da Paixão e, ao centro, a Coroação da Virgem, rodeada pelas Virtudes, sendo as figuras de trato erudito, com origem em desenhos italianizantes do pintor bolonhês Domenico Maria Francia. São iluminadas uniformemente por amplas janelas rasgadas durante as obras do séc. 18, envolvidas por molduras de talha tardo-barroca, as do lado do Evangelho desativadas pelo adossamento dos corpos laterais. Os tramos do corpo do templo estão separados por arcos de volta perfeita assentes em colunas, apontado para uma construção quinhentista, como o confirma a data na pilastra do arco triunfal. Este ostenta decoração renascentista, de grotesco, cuja aplicação numa data tão recuada só pode ser explicada pelas relações artísticas que se estabeleciam com Florença e Antuérpia, sendo possível que a influência também se fizesse sentir através dos trabalhos desenvolvidos pelos mestres estrangeiros a trabalhar em Coimbra. A capela-mor é de planta sensivelmente quadrada e com empena desalinhada relativamente às do corpo do templo, revelando o reaproveitamento da primitiva capela do séc. 14, apresentando-se interiormente revestida a talha, embutidos de pedra, azulejo e pintura, a da cobertura sobre madeira, em "trompe l'oeil"com recurso a grande número de elementos arquitetónicos que envolvem a representação central, da Assunção da Virgem, envolvida por motivos decorativos em "grisaille". As paredes possuem nichos de embutidos, e um primeiro registo de azulejo do período do Ciclo dos Mestres, a azul e branco, com a representação do Cântico dos Cânticos, inspirado nas gravuras seiscentistas dos "Pia Desideria", publicadas em Antuérpia, em Seiscentos, encimados por Passos da Paixão, em tela, envolvidos por talha barroca. A temática azulejar é complementada pelos painéis da nave, estes mais tardios, já neoclássicos, e com vários símbolos das Litanias marianas, que servem de espaldar os antigos bancos corridos. A decoração das paredes laterais da capela-mor converge para o retábulo, de talha dourada joanina, de planta côncava, com profusão decorativa de motivos fitomórficos e colunas salomónicas com espiras fitomórficas, que centram a pequena imagem da Senhora da Piedade, estilo que se repete na talha das capelas retabulares colaterais. A fachada principal é dupla, mantendo visível a empena da primitiva, com os vãos rasgados em eixo composto por portal e janelão, a que se adossa a atual fachada, do tipo harmónico, flanqueada por duas falsas torres sineiras, que abrem inferiormente em nártex profundo com acesso por amplos vãos de volta perfeita e sobre o qual se ergue o coro-alto. Esta solução de dupla fachada refletiu-se na estrutura do coro, com pequena abertura para a nave, aproveitando um antigo janelão, ligeiramente ampliado, destacando-se no conjunto a guarda em mísula de talha tardo-barroca. O coro-alto tem acesso pela Sala da Confraria e pela "loggia" que a antecede, esta de construção oitocentista, sob a qual foi construído, no antigo celeiro da Irmandade, um batistério modernista, que não interferindo diretamente no programa decorativo barroco do templo, por que independente, não deixa de constituir uma nota dissonante. A nave está seccionada por presbitério definido por teia de madeira torneada com acrotérios do tipo balaústre, em brecha da Arrábida, executadas em Seiscentos, contemporâneas do púlpito circular, assente em mísula e com guarda vazada, construído no mesmo material. As portas travessas da nave, rasgadas ao centro deste corpo, revelando as preocupações de simetria resultantes da sua reconstrução barroca, não existiriam inicialmente, pois encontram-se no enfiamento das colunas que seccionam os tramos. Na sacristia, mantém-se uma estrutura retabular do primitivo templo, assente sobre o arcaz, que alia elementos maneiristas com uma decoração exuberante ao centro, que resulta, claramente de um reaproveitamento. |
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Número IPA Antigo: PT031101020031 |
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Registo visualizado 4040 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja
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Descrição
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Planta retangular composta por três naves, capela-mor sensivelmente quadrada, anexos adossados ao lado esquerdo e duas torres sineiras a flanquear o nártex, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas, rematados em beiradas simples, sendo em terraço sobre o nártex e em coruchéu bolboso e vazado por óculos nas torres sineiras. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos salientes rebocados e pintados, exceto na principal com soco em cantaria, flanqueadas por cunhais em cantaria de calcário e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal virada a SO., a do nártex com remate em platibanda plena, contendo o escudo e coroa reais, tripartido e definido por duas ordens de pilastras toscanas, os laterais correspondentes aos corpos das falsas torres sineiras; cada um deles é rasgado por arco com fecho saliente e assente em pilastras toscanas, os laterais de volta perfeita e o central em arco em asa de cesto; estão encimados por janelas de sacada com guardas metálicas vazadas, para onde abrem portas-janelas com molduras recortadas, a central rematada em cornija de perfil curvo. As sineiras possuem quatro ventanas de volta perfeita, com fechos e impostas salientes, rematadas em frisos, cornijas e pináculos do tipo balaústre; lateralmente têm portas de acesso ao terraço sobre o nártex. Os arcos acedem, em conjunto com dois arcos de volta perfeita laterais, ao nártex, com coberturas em abóbadas de aresta e pavimento em lajeado. A fachada principal do templo remata em empena, sobrepujada por volutas e cruz latina, rasgada por portal de verga reta e moldura recortada e decorada por pingentes, que se dependuram da sobre-porta ornada por festões, figura híbrida e rematada em cornija. A fachada lateral esquerda é marcada pelo corpo do anexo, de dois pisos, rasgado, no centro do primeiro, por vão em arco de volta perfeita de acesso a pequeno nártex com cobertura em abóbada de aresta, que acede à porta travessa da igreja, à sacristia e ao batistério. Sobre este, uma "loggia" que liga as escadas e uma pequena dependência à casa da Irmandade, a qual é marcada por quatro arcos de volta perfeita, assentes em pilares, tendo, no interior, bailéus corridos. Esta zona central está ladeada por duas frestas e uma janela no piso inferior, surgindo, no superior, duas janelas em arcos abatidos com caixilharias de guilhotina. O corpo anexo à capela-mor é rasgado por duas janelas retilíneas, sendo o adossado à fachada posterior, cego. Fachada lateral direita rasgada por porta de verga reta com moldura recortada e remate em cornijas, encimado por duas janelas retilíneas, encimadas por áticas; o corpo da capela-mor tem janela retilínea, com ática em massa por cornija; o corpo anexo tem janela retilínea jacente. Fachada posterior marcada pelas três empenas de eixo desalinhado, a do arco triunfal rasgada por óculo circular, surgindo um segundo óculo no corpo adossado à capela-mor; o corpo da sacristia possui janela retilínea e óculo. Ao corpo adossado à capela-mor, adossa-se um corpo em meia-empena com ampla janela de peitoril. INTERIOR de três naves separadas por quatro arcos formeiros de volta perfeita, cujos intradorsos apresentam decoração pictórica vegetalista, descarregando em quatro colunas, as da parede fundeira embebidas no muro, de fustes lisos e capitéis coríntios dourados, assente em plintos paralelepipédicos, de faces almofadadas. Dão origem a quatro tramos, sendo o último elevado, criando um presbitério, separado por teia de madeira com acrotérios balaustrados em brecha da Arrábida. As paredes da nave são rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejo policromo, que criam um espaldar aos bancos corridos, exceto na zona do presbitério. As naves têm coberturas em falsas abóbadas de berço de madeira pintada, assentes em frisos e cornijas, a central reforçada por tirantes metálicos; pavimento em soalho. As janelas ostentam modinaturas de talha pintada de branco e dourado, recortadas e profusamente decoradas com motivos vegetalistas e rematadas por frontões de lanços, onde assentam anjos de vulto, dourados. As portas travessas possuem sanefas compostas por cornijas de lambrequins e espaldar centrado por fragmentos de frontão, encimados por anjos, formando cartela assimétrica e recortada, orlada por acantos e encanastrados, contendo medalhão circular central. O coro-alto, sobre o nártex, abre para o templo por arco de volta perfeita, pintado com decoração semelhante à dos arcos da nave; possui silhares de azulejo policromo e ampla guarda de talha pintada de branco e dourado, assente em quatro quarteirões, os exteriores com pequenos anjos, com guarda plena, encimada por balaústres, tendo a zona inferior decorada por cartelas, ladeadas por anjos. Possui um órgão positivo, bastante arruinado. Na base, o portal axial protegido por guarda-vento de madeira. Nas colunas fronteiras às portas travessas, surgem pias de água benta em forma de concha. No lado da Epístola, adossado à coluna do último tramo, surge o púlpito em brecha da Arrábida, circular com guarda em balaústres, tendo acesso por escadas do mesmo material, a partir do presbitério. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras dóricas, envolvido por moldura vegetalista, que se prolonga em arquivolta ornada por querubins, flanqueado por colunelos-balaústres, encimados por pináculos; assentam em plintos decorados por grotesco e o arco tem os seguintes ornados por medalhões; a estrutura remata em meia luneta com a representação relevada e pintada do milagre de Nossa Senhora Piedade. Está ladeado por capelas retabulares colaterais, dedicadas a Nossa Senhora da Conceição (Evangelho) e São José (Epístola). Capela-mor com coberta em falsa abóbada de berço com pintura ornamental, tendo dois registos decorativos nas paredes, o inferior com painéis de azulejo figurativo azul e branco, encimados por apainelados de talha, que envolvem painéis com pintura e envolvem duas janelas, a do lado do Evangelho desativada. Sobre supedâneo de três degraus centrais com estes e os maciços laterais com embutidos de pedra, o retábulo-mor de talha dourada, de planta côncava e três eixos definidos por quatro colunas, ornadas por pâmpanos e aves, assentes em consolas. Ao centro, ampla tribuna de volta perfeita, com a boca rendilhada e assente em duas pilastras com os fustes ornados por folhagem, com o interior decorado por apainelados vegetalistas e contendo trono expositivo com a imagem do orago, encimado por glória de anjos e querubins. A estrutura remata em fragmentos de frontão, encimados por anjos que sustentam atributos da Paixão (lança e vara do vinagre), que centram uma exuberante decoração de enrolamentos, concheados, festões que centram uma cartela encimada por cornija interrompida e ladeado por anjos. Assenta em banco de embutidos de pedra, formando elementos geométricos e vegetalistas, com altar paralelepipédico, encimado por sacrário em forma de caixa, rematado por domo. Confrontantes, dois nichos de embutidos, contendo credencias em cantaria. No lado da Epístola, nicho retilíneo, antiga porta entaipada, tendo, no lado oposto, a porta de acesso à SACRISTIA com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejo figurativo, azul e branco, com pavimento em quadrados de cantaria, formando um axadrezado, e teto plano dividido em caixotões almofadados com moldura salientes, pintado de azul, vermelho e dourado. Na parede, retábulo de talha e, em dependência no lado direito, com silhares de azulejo de figura avulsa, o lavabo em cantaria vermelha e branco, composto por espaldar flanqueado por aletas e rematado por cornija contracurva; possui duas bicas em forma de carranca, encimadas pelas iniciais "IHS" e que vertem para taça retilínea. O BATISTÉRIO tem as paredes rebocadas e pintadas de branco, com teto de madeira, pintado de azul e branco, e pavimento em ladrilho cerâmico com pequenas losetas de decoração geométrica. Ao centro e enquadrada por painel côncavo pintado, a representar o Salvador, ladeado por símbolos eucarísticos (parras e searas), a pia batismal em mármore e tronco-cónica invertida, encimada pela imagem de São João Baptista. |
Acessos
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Largo Luís de Camões; Rua da República (Rua Principal); Rua de Círio de Geraldes; Rua das Olarias |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997 |
Enquadramento
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Urbano, isolado, implantado no centro da povoação, em zona com ligeiríssimo declive a que se adapta, assente sobre uma linha de água. A fachada principal abre para um amplo largo, tendo, ao centro, um jardim retangular com chafariz em cantaria. Em frente à igreja, a estrada alarga-se, dando origem ao seu aproveitamento como zona de estacionamento. Está rodeada por casas de habitação unifamilares, maioritariamente de dois pisos, e edificações comerciais; fronteira, ergue-se a casa mortuária, que integra elementos quinhentistas. |
Descrição Complementar
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Os AZULEJOS DA NAVE formam silhares com fundos em pedra torta e rodapés monocromos, brancos, servindo de espaldar aos bancos que percorrem os três primeiros tramos do templo. Formam 14 painéis, cada um deles com moldura recortada superiormente, composta por rosetas, acantos e festões, com pequeno leão a azul e branco, e são individualizados por pilastras jónicas com o terço inferior marcado e encimadas por urnas, sobre friso inferior de acantos enrolados. Ao centro, dois leões sustentam medalhões envolvidos por torso de louro, estes a azul e branco, representando dois anjos que sustentam um medalhão interior, a representar os símbolos das Litanias Marianas. Os dois painéis do presbitério são de maiores dimensões, com o mesmo tipo de modinaturas e cenas a azul e branco que narram a lenda do aparecimento da imagem da Virgem, representando o touro, Marceano, ajoelhado junto à árvore em que aparece a Senhora, surgindo, no segundo, o reconhecimento pelos dirigentes locais do milagre, ao visitarem a árvore onde surge a Senhora. A COBERTURA DAS NAVES é de madeira pintada formando, na nave central, uma moldura com falsa guarda plena e galbada, onde aparecem várias figuras, nomeadamente as Virtudes, tendo, nos topos e ao centro, espaldares curvos decorados por albarradas e rematados por cartelas. Ao centro, amplo painel recortado e envolvido por moldura fitomórfica, representando a "Coroação da Virgem". As naves laterais possuem painéis menos exuberantes, mas com igual decoração fitomórfica, ostentando anjos que sustentam instrumentos da Paixão de Cristo. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, de talha dourada, de planta convexa e um eixo definido por duas colunas de fuste torso, salomónico, percorrido por espira fitomórfica, assente em consolas sustentadas por anjos atlantes. Ao centro, nicho de volta perfeita decorado por motivos vegetalistas e querubins, onde se ergue peanha com imaginária. A estrutura remata em frontão interrompido, encimado por anjos de vulto. Altar paralelepipédico encimado por sacrário com corpo cilíndrico, ladeado por colunas semelhantes às do corpo do retábulo, que sustentam remate em frontão triangular com a imagem de Deus Pai. A estrutura é flanqueada por duas pilastras decoradas por elementos fitomórficos, ladeada pelo revestimento da pilastra que sustenta o arco do último tramo da nave, decorado por atlantes, anjos, cartelas e querubins, tendo, na base, mísula com imaginária. No topo, espaldar formado por fragmentos de frontão com anjos de vulto, que centram espaldar com cornija angular e ornamentação de festões e querubins. A COBERTURA DA CAPELA-MOR ostenta quadraturas pintadas, compondo duas tribunas laterais com guardas balaustradas e cartela enrolada, ladeada por colunas de fustes lisos e capitéis coríntios, onde várias figuras assistem ao episódio narrado no painel central, a representar a "Assunção da Virgem", rodeado por moldura em "grisaille", formando cachorrada que sustenta quartos de luneta com anjos que sustentam símbolos marianos. As PAREDES DA CAPELA-MOR ostentam painéis de azulejo a azul e branco, envolvidas por molduras recortadas internamente por folhagem, com alto rodapé decorado por cartelas, enrolamentos e acantos, representando cenas do Cântico dos Cânticos, inspirados pelos "Pia Desideria". Sobre estes, PAINÉIS DE TALHA dourada que envolvem painéis pintados sobre tela, a representar "Caminho do Calvário" e "Crucificação" (Evangelho), surgindo, no lado oposto, a "Deposição de Cristo no túmulo" e a "Ressurreição". Os AZULEJOS DA SACRISTIA formam painéis azuis e brancos, com moldura recortada internamente, representando cenas da romaria a Nossa Senhora da Piedade. O espaço possui RETÁBULO de talha pintada de rosa e dourada, de planta reta e três eixos definidos por quatro colunas decoradas com brutesco e o terço inferior marcado, assentes em consolas de acantos. Ao centro, amplo baldaquino assente em quatro colunas semelhantes às anteriores, estas sobre duas consolas de enrolamentos, sobrepujadas por entablamento ornado por querubins, sobre o qual surge o remate, uma peanha de menores dimensões, rodeada por enrolamentos que a sustentam. Os eixos laterais formam nichos em abóbada de concha, encimados por painéis de folhagem. A estrutura remata em frontão interrompido por cartela enrolada com símbolos da Paixão (cravos e coroa de espinhos). Assenta sobre arcaz de pau-preto. |
Utilização Inicial
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Religiosa: igreja |
Utilização Actual
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Religiosa: santuário |
Propriedade
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Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa) |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 16 / 17 / 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Luís Cristino da Silva (1960). CERAMISTA: Eduardo Leite (1960). ENTALHADOR: Manuel de Brito (séc. 18). ESCULTOR: Leopoldo de Almeida (1960). PINTORES: António Pimenta Rolim (1746-1747); Brás de Oliveira Velho (atr., séc. 18); Francisco Pinto Pereira (1746-1747); Severo Portela Júnior (1960). PINTOR DE AZULEJO: Francisco de Paula e Oliveira (atr., 1800-1820). |
Cronologia
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1305 - possível construção da primitiva ermida de Nossa Senhora da Piedade, para albergar uma imagem que havia sido descoberta por um pastor que perseguia um touro tresmalhado *1; 1431 - a ermida deixa de ser local de peregrinação devido ao surto da peste negra; 1520 - fundação da atual igreja pela rainha D. Leonor, viúva de D. João II, no lugar da primitiva ermida; a antiga Confraria do Espírito Santo dá lugar à da Misericórdia; 1525 - continuação das obras da igreja, patrocinadas por D. João III; 1535, cerca - provável instituição da Real Casa de Nossa Senhora da Piedade, cujos estatutos foram outorgados por D. Catarina, mulher de D. João III; o património da Igreja passa a designar-se de "Real Casa de Nossa Senhora da Piedade da Merceana", a qual mantém as tradições da Confraria dos Touros da Merceana; 1535 - realização do arco triunfal, que tem inscrita a data numa das pilastras; 1574 - Damião de Góis declara ser "irmão" da Confraria da Merceana; 1594 - a igreja já tem "irmãos" no Cadaval, em Atouguia da Baleia, Peniche, Azambuja, Cartaxo, Vila Franca de Xira e Lourinhã; 1598 - 1621 - Filipe II determina que a Real Casa de Nossa Senhora da Piedade da Merceana fosse visitada periodicamente por juristas que transmitiam à Mesa da Confraria as recomendações reais; campanha de obras incluindo a realização de um retábulo de talha dourada para a capela-mor, atualmente na sacristia; aplicação de revestimento azulejar do tipo tapete e enxaquetado no edifício; 1639 - o visitador insurge-se contra o excesso de festas e contra o esbanjamento dos dinheiros da confraria; 1650 - 1660 - construção do púlpito e colocação da teia do presbitério; 1704 - construção da torre S.; 1707 - remodelação completa da fachada; segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a imagem é de pequenas dimensões, com menos de um palmo; 1740 - 1750 - campanha de decoração interna, designadamente com a realização do retábulo de talha e dos mármores florentinos do retábulo-mor, atribuível a Manuel de Brito, e dos retábulos laterais; colocação das telas e azulejos na capela-mor; feitura da maquineta de prata do orago; 1746 - 1747, maio - execução das pinturas da nave pelos pintores António Pimenta Rolim (c. 1689-1751) e terminadas por Francisco Pinto Pereira, segundo alguns autores conforme modelos delineados pelo pintor bolonhês Domenico Maria Francia (MENDONÇA, p. 190); 1755, 01 novembro - o terramoto provoca a queda da torre S., posteriormente reconstruída; 1758, 04 julho - nas Memórias Paroquiais, surge referida igreja, de três naves e três altares, o mor com o Santíssimo Sacramento, concessão do bispo de Lisboa, D. Tomás de Almeida; tem uma confraria composta pelo Provedor, D. Nuno da Silva Teles, o prior da freguesia, o beneficiado mais velho e dois eleitos, o procurador das obras e o procurador do monte; tem muitas rendas, que se estendem até ao Alentejo; tem grandes romagens e círios em várias datas; 1759 - um merceanense, morador no Rio de Janeiro, solicita ao rei D. José o alargamento da confraria a todo o estado do Brasil; 1761 - são enviadas, do Brasil, duas bandeiras para a confraria nova; 1776 - são vendidos ao prior da Ventosa (v. IPA.00011765), alguns azulejos seiscentistas de tapete da igreja; séc. 18, finais - reedificação do templo, com a reconstrução da fachada principal, coro, torre S., Sala das Sessões, e o celeiro, e campanha de nova decoração interna; para o efeito é trazido um guindaste emprestado, das obras do Convento de Mafra (v. IPA.00006381); pintura do teto perspetivado da capela-mor por Brás de Oliveira Velho; 1780 - a confraria aluga touros para serem corridos na Nazaré, em Bucelas e em Arruda dos Vinhos; 1782 - são novamente vendidos alguns azulejos para a Igreja de Arruda dos Vinhos (v. IPA.00006272); 1786 - a confraria possui uma manada de 71 cabeças de gado bovino, proveniente principalmente das esmolas vindas do Brasil; 1800 - 1820 - colocação de novos azulejos na nave, pintados por Francisco de Paula e Oliveira (MECO, p. 74); construção da torre S.; 1830 - provável construção da torre N.; 1834 - com a extinção das ordens religiosas e alienação dos bens da Igreja, a Confraria mantem a sua autonomia como Capela Real que era e mantém as tradicionais festas; 1856 - data em ex-voto; 1885 - data de um ex-voto; 1911 - a confraria perde parte dos seus bens, nomeadamente a manada de touros, sendo o seu nome mudado para Associação de Beneficência da Merceana; 1931 - o nome primitivo da Confraria é restabelecido; 1937 - são redigidos os estatutos da Confraria; 1960 - edificação do batistério, no primitivo celeiro anexo, obra e doação do arquiteto Luís Cristino da Silva (1896 - 1976), com a colaboração do escultor Leopoldo de Almeida (1898 - 1975), responsável pela feitura de São João Baptista, em bronze, do pintor Severo Portela (1898 - 1985), que pinta o "Batismo de Cristo", e do ceramista Eduardo Leite; 1969, fevereiro - novo abalo sísmico provoca danos no arco cruzeiro, na abóbada, na talha dourada e frescos da capela-mor, verificando-se a necessidade da sua urgente reparação; 1972, 05 fevereiro - um ciclone, provoca o derrube de bloco de pedra com cata-vento, que danifica o teto e forro de uma das naves; 1996, 17 maio - Despacho de homologação da classificação do edifício como Imóvel de Interesse Público, do Ministro da Cultura; 2014, fevereiro - construção de uma capela mortuária nas imediações, transferida do espaço do antigo batistério. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada; modinaturas, pavimentos, pilastras, colunas, arco triunfal, cruzes, lavabo, embutidos em cantaria de calcário; acrotérios e púlpito em brecha da Arrábida; pia batismal em mármore; silhares de azulejo tradicional; coberturas em madeira pintada; teia do presbitério, portas e pavimentos em madeira; pavimento do batistério cerâmico; arcaz em pau-santo; retábulos, sanefas das portas, molduras das janelas e guarda do coro-alto em talha dourada e pintada; cobertura em telha cerâmica; janelas com vidros simples. |
Bibliografia
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A Merceana na Literatura, na História e na Arte. Merceana: Tipografia Merceanense, 1960; ALMEIDA, José António Ferreira de (dir. de) - Tesouros Artísticos de Portugal. Lisboa: Seleções do Reader's Digest, 1980; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de -Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1962, vol. I; FALCÃO, José António - Documentos da Casa Real de Nossa Senhora da Piedade da Merceana. Santiago do Cacém: Real Sociedade Arqueológica Lusitana, 1986; HENRIQUES, Guilherme João Carlos - Alenquer e o seu Concelho. Lisboa: Câmara Municipal de Alenquer, 1873; MARIA, Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Officina de António Pedrozo Galram, 1707, vol. II; MARQUES, João (Padre) - O Santuário de Nª Sª da Piedade da Merceana. Merceana: s.n., 1981; Estatutos da Confraria da Real Casa de Nª Sª da Piedade da Merceana. Merceana: 1988; MECO, José - Azulejaria Portuguesa. Lisboa: Bertrand Editora, 1985; MELO, António de Oliveira C. - A Merceana - na Literatura, na História e na Arte. Merceana: 1960; MELO, António de Oliveira, GUAPO, António Rodrigues, MARTINS, José Eduardo - O Concelho de Alenquer. Subsídios para um Roteiro de Arte e Etnografia. 2.ª ed. Alenquer: Câmara Municipal de Alenquer, 1989, vol. 1; MENDONÇA, Isabel Mayer Godinho - «Domenico Francia: uma artista bolonhês no Portugal joanino». In Artistas e Artífices e a sua mobilidade no mundo de expressão portuguesa - Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte (2005). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2007, pp. 181-190; MONTEIRO, João Pedro - «Os "Pia Desideria", uma fonte iconográfica da azulejaria portuguesa do século XVIII» in Azulejo. Lisboa: Museu Nacional do Azulejo, 1999, n.º 3-7, pp. 61-70; REIS, Vítor Manuel Guerra dos - O Rapto do Observador: invenção, representação e percepção do espaço celestial na pintura de tectos em Portugal no século XVIII. Lisboa: s.n., 2006. Texto policopiado. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2 vols.; RIBEIRO, Luciano - «Uma Velha Manada de Toiros» in Vida Ribatejana. Vila Franca de Xira: março - abril 1952; SERRÃO, Vítor - História da Arte em Portugal - o Barroco. Barcarena: Editorial Presença, 2003. «Vária» in Monumentos. Lisboa: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 2002, n.º 16; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74189 [consultado em 8 agosto 2016]. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
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IHRU: PT DGEMN:DSID-001/011-0006-1678/6 |
Intervenção Realizada
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DGEMN / PARÓQUIA: 2000 / 2001 / 2002 - conclusão da beneficiação das coberturas, com revisão de madeiramentos, instalação de chapa isotérmica e substituição de telhas partidas; restauro do teto em caixotões e do altar da sacristia; 2002 - conservação e restauro dos rebocos em fachadas, caixilharias, cantarias em torres sineiras e galilé. |
Observações
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*1 - uma tradição oral, relata a existência de um boi, de nome Marciano, que todas as tardes se ausentava da manada, regressando sempre sem ser preciso procurá-lo; achando estranho, o pastor seguiu-o, indo dar com ele, ajoelhado, em frente a um carvalho e entre os ramos da árvore, uma imagem de Nossa Senhora da Piedade ou do Carvalheiro, que foi transportada pelas edilidades para a igreja local; a imagem desaparecia consecutivamente, sendo sempre encontrada no carvalho, local onde foi erguida uma ermida. A devoção e os milagres da Virgem em acontecimentos graves ligados a animais, espalhou-se rapidamente, até Lisboa, estabelecendo-se um círio de romeiros que vinham de Lisboa pelas festas do Espírito Santo até Alenquer e que depois prosseguiam para a Merceana em adoração a Nossa Senhora da Piedade. |
Autor e Data
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Paula Figueiredo 2014 (no âmbito da parceria IHRU / Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja) |
Actualização
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